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Este Trabalho de Conclusão de Curso teve como objetivo fazer uma análise comparativa entre a atuação da Liga das Nações e da ONU no que tange a manutenção da paz mundial.

Para tanto, num primeiro momento, procurou-se aproximar o leitor do contexto das Relações Internacionais. Identificou-se que essas representam, primordialmente, as interações sociais que ultrapassam as barreiras nacionais e que, além da predominância dos Estados nessas relações, outros atores vêm conquistando espaço na Sociedade Internacional, entre eles as Organizações Internacionais.

A criação dessas instituições é um fenômeno recente, derivado da evolução das relações bilaterais e multilaterais. Primeiramente elaboradas para intervir, basicamente, em questões de caráter técnico-administrativo, com a eclosão da Primeira Guerra Mundial houve uma comoção para que essas passassem a atuar em outras áreas, principalmente em razão da manutenção da paz mundial.

Foi fundada, então, em 1919, a Liga das Nações, organização essa que representou pela primeira vez a superação dos limites da cooperação técnica, para que se priorizasse a segurança mundial. Tal organismo, entretanto, não conseguiu cumprir com o seu dever de assegurar a paz no mundo devido ao início da Segunda Guerra Mundial.

Vários foram os motivos apontados para o fracasso da Liga, entre eles alguns motivos inerentes à Organização e outros externos a mesma. No primeiro caso tem-se: a falta de mecanismos coercitivos para a intervenção em casos de agressões, a ausência de grandes potências como os Estados Unidos, Alemanha e URSS e a regra da unanimidade para as decisões tomadas pelo Conselho; já no segundo caso pode-se citar: a crise de 1929 e o surgimento do nazifascismo.

A Segunda Guerra Mundial atingiu o mundo em 1939 e com ela a Liga deixou de exercer suas funções até 1945 quando foi sucedida por uma nova Organização: a ONU. Assim como a Liga as Nações Unidas surgiram com o objetivo de tornar o cenário internacional num ambiente pacífico, Essa nova Organização apoiou-se nas experiências passadas da Liga para constituir uma instituição ainda mais imperativa.

A ONU, logo após o início de suas atividades passou a sofrer com os reflexos das divergências entre os Estados Unidos e a URSS durante o período da Guerra Fria. O uso exacerbado do poder de veto no Conselho de Segurança fez com que as decisões nesse órgão

ficassem estagnadas, até que, em 1950, foi elaborada a Resolução 377, conhecida como Uniting for Peace. Esse mecanismo foi um marco na história da Organização, pois ao contrário do que se passou na Liga, a ONU, quando teve as suas ações limitadas desenvolveu a capacidade de adaptação, permitindo que sua Assembleia Geral intervisse em caso de inoperância do Conselho. A Resolução Uniting for Peace deixou como legado o principal mecanismo de pacificação praticado até hoje na ONU: as missões de manutenção da paz.

A legitimidade da Resolução 377, no entanto, foi muito questionada por alguns Estados membros da Organização que afirmavam que a autorização para as missões deveria ser de autoridade exclusiva do Conselho de Segurança. Essa situação contribuiu, em parte, com a crise financeira que se abateu na ONU entre 1964 e 1965, quando a URSS e a França não aceitaram contribuir com os gastos das missões de paz que foram instituídas no período, a UNEF e a ONUC. Por essa razão a Uniting for Peace caiu em desuso e com o Fim da Guerra Fria o Conselho de Segurança voltou a operar normalmente, o que contribuiu para um crescente aumento nas missões de paz. É válido relembrar, que nesse momento, as missões deixaram de ter apenas o papel de manutenção e passaram a também contribuir para a construção da paz.

A Guerra do Golfo que se passou de 1990 a 1991, também, representou um fato histórico para as operações de manutenção da paz, pois a publicação An Agenda for Peace propôs que esses instrumentos impusessem uma vontade internacional, desconsiderando a vontade das partes (que é um dos princípios básicos das missões de paz). Tal medida, todavia, não funcionou como o esperado nas outras missões que vieram em seguida, fazendo com que a ONU publicasse a Supplement to an Agenda for Peace, que reafirmava os princípios básicos das operações, inclusive o referente ao consentimento das partes.

É importante ressaltar que essas propostas não apenas abriram espaço para discussões sobre as missões, mas também para uma possível reforma na ONU.

Em 2000, o Relatório Brahimi, afirmou que as Nações Unidas não fazem guerra e que essa ação seria eventual, e reafirmou também os princípios básicos das missões de paz: imparcialidade, consentimento e legítima defesa. Desde então houve um novo surto de operações de manutenção da paz.

No que tange a análise comparativa entre as duas Organizações destaca-se a questão da militarização. O Pacto da Liga das Nações foi baseado nos ideais ingleses, que se apoiavam no princípio da boa fé e vontade dos Estados atribuindo à Liga competências insuficientes para manter a paz no mundo. Já a ONU, baseada nas experiências de sua antecessora, foi constituída para agir de forma mais energética nas questões de agressão.

Outra característica em que divergem as duas Organizações é a questão do veto. Na Liga, qualquer Estado que tivesse assento no Conselho, seja permanente se temporário, tinha poder de veto, pois adotava a regra da unanimidade, situação que acabou por impedir a atuação da Liga. No caso do Conselho de Segurança da ONU, a Carta de São Francisco, inspirada no Pacto da Liga, atribuiu o direito de veto apenas aos membros permanentes.

É interessante notar que em situação de inoperância, no Conselho de Segurança, a ONU se mostrou mais flexível e disposta a adaptar-se (veja-se pelo caso da Resolução Uniting for Peace), condição, essa, que não se passou na Liga.

A participação das grandes potências na ONU também foi fundamental para garantir que essa conseguisse cumprir com seus objetivos de manutenção da paz e obtivesse credibilidade no cenário internacional. Ao contrário do que aconteceu na Liga, na qual potências como os Estados Unidos, a Alemanha e a URSS ficaram ausentes.

Por fim, pode-se citar a questão da universalidade, na qual a ONU foi mais beneficiada que a Liga devido ao processo de descolonização. Enquanto a primeira conta hoje com 193 Estados membros a Liga teve no máximo 60 Estados associados.

Independente dos sucessos e fracassos dessas organizações é importante reconhecer que ambas foram criadas em momentos conturbados do cenário internacional e representam o esforço de líderes mundiais para criar um laço de união entre os Estados de forma garantir o respeito mútuo e estabelecer a paz mundial.

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