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Análise comparativa entre a atuação da liga das nações e da Organização das Nações Unidas na manutenção da paz mundial

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA BRUNA DE ARAÚJO DECHEN

ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE A ATUAÇÃO DA LIGA DAS NAÇÕES E DA ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS NA MANUTENÇÃO DA PAZ MUNDIAL

Florianópolis 2012

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BRUNA DE ARAÚJO DECHEN

ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE A ATUAÇÃO DA LIGA DAS NAÇÕES E DA ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS NA MANUTENÇÃO DA PAZ MUNDIAL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de graduação em Relações Internacionais, da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Relações Internacionais.

Orientadora: Profª Larissa M. da Silveira, Msc.

Florianópolis 2012

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BRUNA DE ARAÚJO DECHEN

ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE A ATUAÇÃO DA LIGA DAS NAÇÕES E DA ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS NA MANUTENÇÃO DA PAZ MUNDIAL

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado adequado à obtenção do título de Bacharel em Relações Internacionais e aprovado em sua forma final pelo Curso de Graduação em Relações Internacionais, da Universidade do Sul de Santa Catarina.

Florianópolis, 22 de novembro de 2012.

___________________________________________________ Profª. Larissa M. da Silveira, Msc.

Universidade do Sul de Santa Catarina

___________________________________________________ Prof º. João Batista da Silva, Msc.

Universidade do Sul de Santa Catarina

___________________________________________________ Profª. Letícia C. B. Barbosa, Msc.

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Dedico este Trabalho de Conclusão de Curso aos meus pais, à minha irmã, à minha família, aos meus amigos e colegas, à todos os meus professores e funcionário da Unisul, em especial à minha professora orientadora Profª Larissa M. da Silveira, Msc.

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AGRADEDIMENTOS

Agradeço a todas as pessoas, que de alguma forma, apoiaram-me e contribuíram para a construção deste trabalho. Destaco aqueles a quem devo agradecimento especial:

Primeiramente aos meus pais, Denise e Otacílio, pelo amor incondicional. Por me ensinarem tudo aquilo que não aprendi na escola, estando sempre ao meu lado me guiando com seus valores e princípios. Por encher meu coração de força e coragem nos momentos de dificuldades.

À minha irmã, Vanessa, que em seu papel de irmã mais nova sempre me apoiou das maneiras mais inusitadas, pela sua paciência com os meus erros de português e os muitos doces que me forneceu durante essa caminhada.

À toda a minha família, que mesmo distante sempre esteve comigo nos momentos mais especiais. Proporcionando-me muita alegria e acreditando em mim.

Agradecimento especial à minha avó, que infelizmente nos deixou ano passado, mas nunca deixou de estar presente nos meus valores e ensinamentos.

Às minhas amigas de Arujá, que mesmo distantes, sempre me acolheram de braços abertos com muito carinho e risadas.

Aos meus amigos do colégio, ainda que cada um em seu caminho sempre tiveram um tempinho reservado para reencontros cheios de descontrações, pelo companheirismo e a amizade incondicional.

Aos meus amigos de intercâmbio, que compartilharam comigo experiências e emoções inesquecíveis. Pelo carinho e a “família” que formamos.

Aos amigos da faculdade, que fizeram toda a diferença em minha vida nos últimos anos, aos quais devo muito do meu aprendizado e diversão. Sentirei muitas saudades.

À todos os professores que passaram pela minha vida, sempre compartilhando os seus conhecimentos. Obrigada pela minha formação profissional e educacional.

Em especial à minha professora orientadora, Profª Larissa M. da Silveira, pela qual tenho grande admiração. Agradeço a sua disponibilidade em me atender, sempre receptiva e dedicada. Orientou-me de forma a ampliar o meu conhecimento, ajudando a me preparar para a próxima etapa de minha vida.

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“A esperança ajudará você. Mas será de mais ajuda ter confiança em seu próprio poder de levar seus sonhos à prática” (FLORENCE, 2002).

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RESUMO

O presente Trabalho de Conclusão de Curso tem como objetivo realizar uma análise comparativa entre a atuação da Liga das Nações e a Organização das Nações Unidas na manutenção da paz mundial. Para tanto foi feita uma pesquisa de natureza pura, de caráter exploratório, com base em pesquisas documentais e bibliográficas, predominantemente qualitativa. Num primeiro momento procura-se apresentar noções básicas sobre a Sociedade Internacional. Identifica-se que não apenas os Estados fazem partes das interações sociais supranacionais, mas existem, também, outras instituições competentes, como as Organizações Internacionais. Tais organismos são o objeto de estudo do capítulo seguinte que busca entender melhor o seu contexto. Essas são um fenômeno recente no cenário internacional e que desempenham múltiplas funcionalidades, entre elas a de manutenção da paz. Os dois capítulos posteriores são destinados às duas Organizações Internacionais que nasceram com o objetivo de promover a segurança e a paz no mundo no pós-guerra: a Liga das Nações e a ONU. Apesar de semelhanças em seus escopos essas possuem diferenças fundamentais. O capítulo 6 é destinado a apresentar tais divergências, de forma a atingir o objetivo de pesquisa. São elas as questões: de militarização, da presença de potências mundiais como Estados membros, do poder de veto, da capacidade de adaptação e da universalização. Por fim as considerações finais fazem um apanhado geral de tudo àquilo que foi estudado ao longo da pesquisa. Percebe-se que apesar das diferenças intrínsecas a cada uma das Organizações essas representam um esforço inédito dos Estados para criar um “laço” que garantisse o respeito mútuo e a paz mundial.

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ABSTRACT

The following project aims at conducting a comparative analysis of the performance of the League of Nations and the United Nations in maintaining world peace. Therefore, it was made a pure nature survey with exploratory character, predominantly qualitative, and based on documents and bibliography. It is first introduced basics of International Society and it is possible to notice that not only the Estates made part of the supranational social interactions, but there are also other relevant institutions such as the International Organizations. This institutions are the object of study in the next chapter, which was elaborated to understand its context better. These recent phenomena in the international are performing multiple functions, including the maintenance of peace. The two subsequent chapters aim at analyzing two international organizations that were born with the objective of promoting peace and security in the postwar world: the League of Nations and the United Nations. Despite the similarities in their scopes, they have fundamental differences. Chapter 6 is intended to exhibit such differences in order to achieve the research goal. The main differences are militarization, the presence of world powers like United States, the veto power, the adaptability and universality. Finally the concluding remarks are an overview of all what has been studied during the research. It is noticed that despite differences, these organizations represent an unprecedented effort by the states to create a "loop" that would guarantee world peace and mutual respect.

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LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 - MISSÕES DE OPERAÇÃO DA PAZ DA ONU EM CURSO ... 64 QUADRO 2 - QUADRO-RESUMO DA ANÁLISE COMPARATIVA ... 69 QUADRO 3 - QUADRO-RESUMO DA ANÁLISE COMPARATIVA (CONTINUAÇÃO) 70

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 12

1.1 EXPOSIÇÃODOTEMAEDOPROBLEMA ... 12

1.2 OBJETIVOS ... 13

1.1.1 Objetivo geral ... 13

1.1.2 Objetivos específicos ... 13

1.3 JUSTIFICATIVA ... 14

1.4 PROCEDIMENTOSMETODOLÓGICOS ... 15

1.4.1 Classificação da pesquisa segundo a sua natureza ... 15

1.4.2 Classificação da pesquisa segundo os seus objetivos ... 16

1.4.3 Classificação da pesquisa segundo os procedimentos ... 16

1.4.4 Classificação da pesquisa segundo a abordagem do problema ... 17

1.5 ESTRUTURADAPESQUISA ... 18

2 SOCIEDADE INTERNACIONAL ... 19

2.1 ATORESDOCENÁRIOINTERNACIONAL ... 20

2.2 RELAÇÕESINTERNACIONAIS ... 21 2.3 POLÍTICAINTERNACIONAL ... 22 2.3.1 Política Externa ... 23 3 ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS ... 25 3.1 DEFINIÇÕES ... 25 3.2 CONTEXTOHISTÓRICO ... 26

3.3 CLASSIFICAÇÃOEASÁREASDEATUAÇÃO ... 29

3.3.1 Segurança Coletiva ... 31

4 LIGA DAS NAÇÕES ... 33

4.1 CONTEXTOHISTÓRICO ... 33

4.2 OBJETIVOS ... 35

4.3 ESTADOS-MEMBROS ... 37

4.4 ESTRUTURAINSTITUCIONAL ... 39

4.5 MANUTENÇÃODAPAZESEGURANÇAMUNDIAL ... 41

5 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU) ... 46

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5.2 OBJETIVOS ... 49

5.3 ESTADOS-MEMBROS ... 50

5.4 AESTRUTURAINSTITUCIONAL ... 51

5.4.1 Assembleia Geral ... 52

5.4.2 Conselho de Segurança ... 53

5.4.3 Conselho Econômico e Social (ECOSOC) ... 55

5.4.4 Conselho de Tutela ... 55

5.4.5 Corte Internacional de Justiça ... 56

5.4.6 Secretariado ... 56

5.5 MANUTENÇÃODAPAZESEGURANÇAMUNDIAL ... 57

5.5.1 Missão de Manutenção da Paz: conceito e princípios ... 57

5.5.2 Contextualização histórica ... 59

6 ANÁLISE COMPARATIVA ... 66

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 72

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1 INTRODUÇÃO

O surgimento das primeiras Organizações Internacionais, no seu sentido moderno, teve origem no final das guerras napoleônicas e no momento anterior a eclosão da Primeira Guerra Mundial, ou seja, de 1815 a 1914. Foi a partir das conferências internacionais desse período, em especial as Conferências de Paz de La Haia, de 1899 e 1907, que foi construído um importante ponto de referência com relação à evolução das Organizações Internacionais, pois marca a tendência de periodicidade e universalidade das organizações ao tempo que desenharam as primeiras instituições jurídicas internacionais (DIEZ DE VELASCO, 2010).

Das duas grandes guerras que abateram o mundo, em 1914 e 1939, emerge o desejo dos Estados em criar mecanismos que trouxessem mais segurança ao ambiente internacional. Em 1919, ao fim da Primeira Guerra Mundial, na mesma Conferência de Paz que determinou o fim do conflito foi adotado por unanimidade, entre os Estados presentes, o projeto que criou a Liga das Nações (STEINFUS, 2005). Tal Organização Internacional perdurou até a eclosão da Segunda Guerra Mundial, que por não conseguir cumprir com seu objetivo principal – a manutenção da paz mundial –, em 1945, foi sucedida pela Organização das Nações Unidas, que atua até hoje no cenário internacional.

O presente trabalho de conclusão de curso tem como objetivo investigar e fazer comparações entre o desempenho da Liga das Nações e da Organização das Nações Unidas na manutenção da paz no mundo. Para tanto, foram abordados quatro grandes temas: Sociedade Internacional, Organizações Internacionais, Liga das Nações e Organização das Nações Unidas; sem seguida são feitas as análises comparativas e por fim as considerações finais sobre a pesquisa.

1.1 EXPOSIÇÃO DO TEMA E DO PROBLEMA

Em razão do trauma causado pela Primeira Guerra Mundial, a mesma Conferência de Paz que pôs fim a guerra, adotou, por unanimidade, o projeto que criou a primeira Organização Internacional de caráter universal: a Liga das Nações (SEITENFUS, 2000). Tal organização teria como objetivo, segundo Herz e Hoffmann (2004, p. 87), garantir “a independência e a integridade territorial de todos os Estados”. Entretanto, a com eclosão da

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Segunda Guerra Mundial a Liga se mostrou um mecanismo ineficaz na manutenção da paz mundial e como afirma Seitenfus (2000, p. 09) “a Liga das Nações nasceu com a guerra e pela guerra foi morta”.

Ao findar da Segunda Grande Guerra, entretanto, o mundo novamente é tomado pelo sentimento de necessidade de cooperação mundial para a manutenção de um ambiente internacional pacífico, assim, foi criada a Organização das Nações Unidas (ONU). Essa organização, por sua vez, foi munida com medidas que a diferenciariam da Liga das Nações, de forma a fortalecer e creditá-la frente à Sociedade Internacional.

Apesar do mecanismo de segurança previsto pela ONU não ter funcionado como o esperado, devido a Guerra Fria, essa organização desenvolveu a capacidade de adaptar-se e, em 1956, criou o principal instrumento de pacificação até hoje usado pela Organização: as operações de manutenção da paz (UZIEL, 2010)

Nesse contexto, este trabalho busca responder a seguinte questão: Como se deu o desempenho da Liga das Nações e da Organização das Nações Unidas na manutenção da paz Mundial?

1.2 OBJETIVOS

O objetivo geral e os objetivos específicos propostos por esse trabalho são apresentados a seguir.

1.1.1 Objetivo geral

O objetivo geral desse projeto é fazer uma comparação entre o desempenho da Liga das Nações e da Organização das Nações Unidas na manutenção da paz no mundo.

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Para que se fosse alcançado o objetivo geral desta pesquisa, esse foi subdivido em cinco objetivos específicos:

 Apresentar noções básicas sobre Sociedade Internacional;  Verificar o contexto das Organizações Internacionais;  Contextualizar sobre a Liga das Nações;

 Analisar a conjuntura da Organização das Nações Unidas,

 Realizar uma análise comparativa entre a Liga das Nações e a ONU no que tange a manutenção da paz mundial;

1.3 JUSTIFICATIVA

De acordo com Herz e Hoffmann (2004, p.9), “as Organizações Internacionais são hoje parte central da política internacional e da vida social em diferentes partes do mundo. A prática profissional, a compreensão do mundo que nos cerca e o exercício da cidadania exigem atenção ao tema”.

A presente pesquisa é pertinente, pois trata de duas Organizações Internacionais de grande alcance no contexto mundial. Tanto a Liga das Nações como a Organização das Nações Unidas (ONU), foram criadas como instrumentos de cooperação para pacificação do contexto mundial, a primeira chegou a ter 60 Estados-Membros, em 1934, e a segunda possui hoje 193 Estados-Membros. Segundo Lafer (apud GARCIA, 2000, p. 7), “a Liga representou uma inovadora proposta de estruturar o funcionamento do sistema internacional”, já a ONU constitui, de acordo com Corrêa (1995, p. 13), “sob qualquer ponto de vista (...) desde a sua fundação, em 1945, o ponto de referência central do processo de Relações Internacionais”.

Aquém dos seus valores pacifistas e do grande número de Estados-Membros, essas, todavia, possuem diferenças fundamentais. Como sucessora da Liga das Nações, a ONU é reflexo do amadurecimento dos fundamentos da Liga, de forma a torná-la uma organização mais bem preparada para enfrentar a diversidade do ambiente internacional.

Autores como Mello e Silva (1998), Garcia (2000), Herz e Hoffmann (2004), Steinfus (2005), Cretella Neto (2007), Gama (2009), Diez de Velasco (2010) entre outros abordam temas que englobam a importância da atuação da Liga das Nações e da ONU no seu contexto histórico. Sendo assim, a pesquisadora deste trabalho acadêmico faz uso desses

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autores de forma a buscar maior conhecimento na área, pois é um assunto de seu interesse profissional.

Esta pesquisa também é uma forma de sistematizar e analisar o tema, para que, no futuro, o mesmo, sirva como parâmetro para novos estudos, com maior profundidade, na área, tanto para a autora como para outros estudantes.

1.4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Conforme Gil (1996, p.19), “pode-se definir pesquisa como procedimento racional e sistemático que tem como objetivo proporcionar respostas aos problemas que são propostos”.

A metodologia da pesquisa consiste em identificar os caminhos usados para a geração da pesquisa. Ou seja, segundo Lakatos e Marconi (1996 apud PISSAROLLO, 2009, p.40), metodologia “é o conjunto das atividades sistemáticas e racionais que permitem alcançar conhecimentos válidos e verdadeiros que são seus objetivos, com maior segurança e economia”. Sendo assim, este tópico tem como objetivo definir a pesquisa em questão de acordo com: a sua natureza, os seus objetivos, os procedimentos adotados e a sua abordagem do problema.

1.4.1 Classificação da pesquisa segundo a sua natureza

De acordo Ciribelli (2003, p.53), uma pesquisa pura “amplia os horizontes do conhecimento, desenvolve teorias, caracteriza novos princípios, realiza amplas generalizações, mas que não se preocupa com a aplicação prática dos novos informes coletados”, como acontece na pesquisa aplicada. Sendo assim, a natureza desta pesquisa pode ser identificada como pura, pois faz um estudo generalizado sobre um tema específico, o qual não se tem a intenção de coloca-lo em prática.

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1.4.2 Classificação da pesquisa segundo os seus objetivos

Ao classificar essa pesquisa de acordo com os seus objetivos, segundo Santos (2004), essa pode ser considerada como exploratória. Esse tipo de pesquisa proporciona uma primeira aproximação do pesquisador com o tema e visa criar mais familiaridade com um fato, fenômeno ou processo. É frequentemente realizada na forma de levantamento bibliográfico, entrevistas com especialistas que estudam/atuam na área, pesquisas em websites, etc. (SANTOS, 2004).

Mattar (1999, p. 80) acrescenta que a pesquisa exploratória “visa prover o pesquisador de um conhecimento sobre o tema ou problema de pesquisa em perspectiva”. Para Gil (1996, p.45), este tipo de pesquisa é usado “no momento em que o pesquisador entra em contato com as fontes de coleta de dados, alcançando com isso maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a construir hipóteses”. Sendo assim a pesquisa proposta por esse trabalho pode ser classificada como exploratória por familiarizar o tema ao pesquisador.

Além da caracterização pelos objetivos, o estudo também pode ser classificado conforme o procedimento de coleta de dados, conforme apresentado a seguir.

1.4.3 Classificação da pesquisa segundo os procedimentos

Os procedimentos utilizados para a realização desta pesquisa foram: pesquisa bibliográfica e documental. Segundo Almeida (2011), a pesquisa bibliográfica é realizada para dar suporte ao objetivo da pesquisa, desta forma, foram usados livros e artigos que trouxessem conceitos, ideias e características para criar uma fundamentação teórica sobre o tema.

São fontes bibliográficas: livros, periódicos, fitas gravadas em áudio e vídeo, websites, relatórios de simpósios/seminários, anais de congressos, etc. Segundo Santos (2004), a utilização total o parcial de quaisquer desses mecanismos de pesquisa faz do estudo uma pesquisa bibliográfica

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Já a pesquisa documental foi feita para aproximar da realidade o que foi investigado na pesquisa bibliográfica, isto aconteceu a partir de documentos divulgados por instituições governamentais e não governamentais, servindo de parâmetro entre o teórico e o prático (ALMEIDA, 2011).

Conforme Santos (2004, p.30), são fontes documentais todas as informações bibliográfica que ainda não receberam organização, tratamento analítico e publicação. Ainda conforme o autor, são fontes documentais: “tabelas estatísticas, relatórios de empresas, documentos informativos arquivados em repartições públicas, associações, igrejas, hospitais, sindicatos, fotografias, etc.”

Por tratar-se de uma pesquisa que envolve fatos históricos e Organizações Internacionais, as fontes de dados e informações usadas nessa foram em sua totalidade pesquisa bibliográfica e documental, ou seja, dados secundários. Para Zanella (2006, p.99) dados secundários “são aqueles que foram coletados, tabulados ordenados e, algumas vezes, já analisados: publicações (...), relatórios e manuais da organização (...), pesquisas já desenvolvidas e outras”.

1.4.4 Classificação da pesquisa segundo a abordagem do problema

Segundo Santos e Clos (1998 apud TEIXERA, 2009, p.133),

A opção pelo método e técnica de pesquisas depende da natureza do problema que preocupa o investigador, ou do objeto que se deseja conhecer ou estudar. A utilização de técnicas qualitativas e quantitativas depende, também, do domínio que o pesquisador tem no emprego dessas técnicas. Inexiste superioridade entre ambas desde que haja correção nas utilizações e adequações metodológicas.

Ao contrário da preocupação do método quantitativo em mensurar os dados, o método qualitativo não emprega a teoria estatística para medir ou enumerar os fatos estudados. Esse método procura conhecer a perspectiva dos sujeitos participantes quanto ao tema estudado (ZANELLA, 2006).

Para Teixera (2005), a pesquisa qualitativa tem as seguintes características: (a) o pesquisador observa os fatos sob a ótica de alguém; (b) a pesquisa busca uma profunda compreensão do contexto da situação; (c) a pesquisa enfatiza o processo dos acontecimentos;

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(d) o enfoque da pesquisa é mais desestruturado, isto é, confere a pesquisa bastante flexibilidade; e (e) a pesquisa emprega mais de uma fonte de dados.

Esse trabalho pode ser categorizado, portanto, como uma pesquisa qualitativa, pois o pesquisador procura “reduzir a distância entre a teoria e os dados, entre o contexto e a ação, usando a lógica da análise fenomenológica, isto é, da compreensão dos fenômenos pela sua descrição e interpretação” (TEIXERA, 2009, p. 137).

A seguir será exposto o estudo que foi realizado conforme os procedimentos metodológicos expostos neste capítulo.

1.5 ESTRUTURA DA PESQUISA

A presente pesquisa foi estruturada de forma a fornecer ao leitor uma ordem lógica para se responder a pergunta de pesquisa: como se deu o desempenho da Liga das Nações e da Organização das Nações Unidas na manutenção da paz Mundial?

Sendo assim, iniciam-se os estudos com noções básicas sobre Sociedade Internacional, onde são abordados: os atores do cenário internacional, alguns conceitos de Relações Internacionais e definições de Política Internacional. Em seguida, para compreender melhor o contexto das Organizações Internacionais, o capítulo 3 é dedicado especialmente a essas instituições e se preocupa em aprofundar o conhecimento do leitor com relação: as suas definições, ao contexto histórico do seu surgimento e as suas classificações e áreas de atuação.

Os capítulos 4 e 5 abordam, especificadamente, as Organizações Internacionais: Liga das Nações e Organização das Nações Unidas (ONU), respectivamente. Tem o objetivo de aproximar o leitor dessas instituições tratando de assuntos como: o contexto histórico de sua criação, os seus objetivos, os Estados membros, a sua estrutura institucional e a sua relação com a manutenção da paz e segurança mundial. Esses capítulos são responsáveis, ainda, por criar bases para o capítulo 6 que realiza, de fato, a análise comparativa proposta pelo problema de pesquisa com base no que foi previamente apresentado.

Por fim, o último capítulo faz as Considerações Finais pertinentes à pesquisa relembrando os objetivos, geral e específicos, de forma a relacioná-los aos fatos estudados.

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2 SOCIEDADE INTERNACIONAL

Ao contrário do que se passa nas Sociedades Nacionais, que são organizadas sob forma de Estados; a Sociedade Internacional é descentralizada, ou seja, os Estados são organizados horizontalmente, não existindo, assim, uma autoridade ou milícia superior (REZEK, 1993).

A Sociedade Internacional, segundo Strenger (1998, p.22), pode ser definida como “uma sociedade interestatal; – pois – do ponto de vista de sua estrutura, ela aparece como uma justa posição de entidades soberanas e iguais entre si, excluindo todo poder político organizado e superposto aos seus componentes.”

Para Silva (2008) é possível atribuir sentidos ao termo Sociedade Internacional conforme algumas vertentes: realismo, transnacionalismo e homogeneidade.

1. No ‘realismo’, usado por Martin Wight e Hedley Bull, (...) Sociedade Internacional refere-se à relação entre os Estados, baseada em normas compartilhadas e entendimentos;

2. O ‘transnacionalismo’, desenvolvido por Evan Luard e Michael Featherstone (...) se refere à emergência de laços não estatais de economia, de política, de associação, de cultura e de ideologia que transcendem as fronteiras dos Estados e constituem, em maior ou menor medida, uma sociedade que vai além dessas mesmas fronteiras; 3. A ‘homogeneidade’, utilizado por Karl Marx e Francis Fukuyama, (...) indica uma relação entre a estrutura interna das sociedades e a da Sociedade Internacional, investigando de que maneira, como resultado das pressões internacionais, os Estados são compelidos a conformarem seus arranjos internos aos demais. É um conceito que se refere tanto ao desenvolvimento interno quanto às relações internacionais, já que o funcionamento interno do Estado tanto influencia como é influenciado pelos processos internacionais.” (SILVA, 2008 p.39)

Em razão de seu caráter de descentralizado, na sociedade internacional o Estado soberano não é jurisdicionável perante corte alguma, por consequência o sistema de sanções nesse ambiente é mais precário e deficiente do que no interior da maioria dos Estados (REZEK,1993).

Atualmente, a Sociedade Internacional não envolve apenas as relações interestaduais, existem outros atores competentes nesse cenário. Tanto os Estados como esses novos atores serão tratados a seguir.

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2.1 ATORES DO CENÁRIO INTERNACIONAL

Tradicionalmente, de acordo com Gonçalves (2008), tanto para a visão realista clássica como para o senso comum, quando se fala em Relações Internacionais, essas representam nada mais que as relações que os Estados estabelecem entre si. Todavia, atualmente, Segundo Moreira e Lech (2004, p.11),

em consequência de uma evolução constante que conduziu a um certo reconhecimento internacional do indivíduo e a criação e multiplicação de organizações internacionais, a sociedade internacional deixou de ser interestatal, embora os Estados continuem a desempenhar o papel principal na vida internacional pela influência determinante que exerce a noção de soberania, característica essencial do Estado, sobre o conjunto do Direito Internacional1

Complementando o que foi dito por Moreira e Lech (2004), Silva (2008, p. 12) afirma que “a Sociedade Internacional é formada pelos destinatários diretos do Direito Internacional, isto é, pelas entidades as quais as normas jurídicas internacionais atribuem direitos e impõem obrigações”.

São considerados sujeitos da Sociedade Internacional, conforme Silva (2008): o Estado, as Organizações Internacionais e a Pessoa Humana. O primeiro é considerado, pela maior parte dos autores, como o membro originário e principal sujeito da Sociedade Internacional. Já as Organizações Internacionais são

associações voluntárias de sujeitos de Direito Internacional, criada para desenvolver da melhor maneira possível as relações entre os Estados, permitido-lhes cumprir em conjunto funções que não poderiam realizar separadamente, uma vez que existem certos problemas que só podem ser resolvidos com a colaboração dos demais membros da Sociedade Internacional (SILVA, 2008, p. 12-13).

No que tange as Organizações Internacionais, Gonçalves (2008) faz a distinção entre duas categorias: as intergovernamentais e as ONGs (organizações não governamentais). A primeira abrange organizações como a Liga das Nações, ONU, FMI, Otan, etc. Já a

1 De acordo com Herz e Hoffmann (2004, p.22) o Direito Internacional pode ser entendido como ”o conjunto de normas e princípios encontrados nos tratados e convenções internacionais e oriundos do costume”. Dessa forma, segundo Seitenfus (2000, p.23) “o Direito Internacional, codificando o costume e estabelecendo princípios e regras básicas para a convivência entre Estados, lança as primeiras – portanto, rudimentares – bases de organização da Sociedade Internacional.

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segunda pertence a organizações como: Greenpeace, igrejas, partidos políticos, anistia internacional, etc.

Por fim, a Pessoa Humana também é considerada um sujeito na Sociedade Internacional, apesar de ter seus direitos limitados, pois somente tem acesso livre às Cortes de Direitos Humanos. Em outros casos os indivíduos devem recorrer ao seu Estado ou as Organizações Internacionais (SILVA, 2008).

É importante ressaltar neste momento que as empresas transnacionais, apesar de estarem presentes, não são atores na Sociedade Internacional, pois, segundo Silva (2008, p. 40-41), essas empresas “não possuem personalidade jurídica de Direito Internacional – portanto – não podem ser responsabilizadas internacionalmente por seus atos, sendo apenas pessoas de direito interno”.

A dinâmica entre esses atores acontece por meio das relações internacionais e para entender melhor o que são tais relações o tópico seguinte aborda o seu conceito.

2.2 RELAÇÕES INTERNACIONAIS

De acordo com Sousa (2005, p. 159), as Relações Internacionais podem ser definidas como o “conjunto das relações e comunicações que se estabelecem entre vários grupos sociais, atravessando as fronteiras”.

O campo de estudo das Relações Internacionais, segundo Nicholson (1998 apud GONÇALVES, 2012, p. 5-6), é responsável por observar as “interações sociais em contextos onde não existe poder soberano para intrometer-se ou mediar e que está fora de qualquer jurisdição governamental” (NICHOLSON, 1998 apud GONÇALVES, 2012, p. 5-6). Collard (1999 apud GONÇALVES, 2012, p. 6) complementa afirmando que os estudos nessa área abrangem: “as relações pacíficas ou belicosas entre Estados, o papel das Organizações Internacionais, a influência das forças transnacionais e o conjunto das trocas ou das atividades que cruzam as fronteiras dos Estados”.

Segundo Oliveira (2004), os conceitos de Relações Internacionais podem ser agrupados de acordo com distintos critérios: o tradicional, dos atores, de internacionalidade e de Sociedade Internacional. O primeiro deles, apresentado pelo realismo político, preocupa-se com a questão do poder, pois diferentemente do que acontece nos demais tipos de relações, a violência e uso da força exercem função primordial nas Relações Internacionais. O segundo

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critério concentra-se nos atores que fazem parte desse processo, seja em relações de conflito ou de cooperação. O critério de internacionalidade corresponde àqueles que expressam relações imediatas entre os Estados, ou influenciam direta ou indiretamente nessas relações, ou são influenciadas por elas. Por fim, o último critério tenta superar as perspectivas anteriores, abarca várias noções, entre elas a categoria de classe social na Sociedade Internacional.

É valido ressaltar que, conforme Rodrigues (2003), não se deve confundir Relações Internacionais com Relações Exteriores. Quando se fala de Relações Internacionais, o sentido é amplo, ou seja, está-se falando das relações entre os diversos atores internacionais. Já quando se fala em Relações Exteriores, o ambiente é mais restrito, pois sempre se estará falando, apenas, das relações de um Estado para com outro Estado.

2.3 POLÍTICA INTERNACIONAL

O termo Política Internacional, segundo Alburqueque (2005), é usado como forma de distinguir as relações políticas entre os Estados, daquelas que acontecem dentro de uma comunidade, ou seja, da política doméstica.

Esse termo, todavia, também não deve ser confundido com o conceito de Relações Internacionais, pois esse vai além do da Política Internacional. As Relações Internacionais englobam todas as formas de interações políticas ou não políticas, já a Política Internacional preocupa-se com os fenômenos ou relações que têm impacto direto nas interações intergovernamentais (SOUSA, 2005). Ou seja, a Política Internacional está inserida nas Relações Internacionais.

A Política Internacional, conforme Saba (2002), pode ser entendida como um esforço de compatibilizar as necessidades internas com as possibilidades externas, já que as primeiras não podem ser alcançadas em isolamento autárquico2.

De acordo com Sousa (2005, p. 145), esse tipo de política determina “o interesse nacional e o bem coletivo, interessa-se pelo funcionamento das Relações Internacionais, pela

2

Autarquia: “s.f. Regime econômico de um Estado que procura bastar-se a si mesmo” (DICIO, 2012)

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evolução do sistema, manutenção da paz e segurança internacionais, pelos desafios planetários e relações entre as potências”.

O termo Política Internacional, também, não deve ser equalizado ao termo Política Externa, apesar de esta distinção ser mais acadêmica do que real, sumariamente apresenta diferenças entre objetivos e ações (HOLSTI, 1995 apud SOUSA, 2005, p. 145). Para entender melhor a divergência entre os dois termos, o tópico a seguir será destinado a identificar as suas diferenças e a definir Política Externa.

2.3.1 Política Externa

Conforme Seitenfus (2004, p.84), não se deve fazer confusão entre Política Externa e Política Internacional:

a primeira é consequência da existência do próprio Estado, que o obriga a manter relações externas. Ao contrário, a segunda decorre da capacidade de agir externamente, ou seja, do nível de potência do qual ele dispõe. Por conseguinte somente um número reduzido de Estados participa da política internacional, enquanto todos praticam política externa.

Holsti (1995, apud SOUSA, 2005, p. 145) diz ainda que quando se analisa a constituição das ações de um Estado conforme o ambiente externo e as suas condições – geralmente domésticas – observa-se essencialmente uma política externa, todavia, “quem entende essas ações como apenas uma parte do conjunto de ações de um Estado e reações ou respostas de outros está a olhar para a política internacional”.

De forma objetiva e direta, de acordo com Sousa (2005, p.144), a política externa pode ser definida como “a atividade pela qual os Estados agem, reagem e interagem” (SOUSA, 2005, p. 144).

Já Seitenfus (2004, p. 85) faz uma definição mais complexa, para o autor a Política Externa define-se como:

o processo de percepção, avaliação, decisão, ação e prospecção estatais, inclusive aquelas iniciativas tomadas no âmbito interno que possuam uma incidência além-fronteiras. Ela decorre, de um lado, as aspirações internas traduzidas pelo interesse nacional e os instrumentos de que o Estado dispõe para promovê-lo e, de outro, as oportunidades e limitações oferecidas pelo sistema internacional. Portanto, a política externa pode ser considerada como o resultante entre as necessidades internas e os constrangimentos externos.

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Percebe-se a partir de tais definições que a interação entre os Estados é fundamental, se não a base, para a Política Externa – e consequentemente para a Política Internacional. Para tanto, atualmente, com a evolução das Relações Internacionais, surgem outros atores competentes no cenário internacional, sendo um deles de grande interesse para esse estudo: as Organizações Internacionais, que serão tratadas com mais a finco a seguir.

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3 ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS

Esse capítulo faz uma contextualização sobre as Organizações Internacionais, para um melhor entendimento do leitor a respeito do que são essas, como surgiram e quais suas áreas de atuação e classificações.

3.1 DEFINIÇÕES

Existem inúmeras propostas de definições para Organizações Internacionais, entretanto, cada uma possui suas peculiaridades.

Segundo a Comissão de Direito Internacional (apud CRETELLA NETO, 2007, p. 41), como: “uma associação de Estados estabelecida por meio de tratado3

, dotada de uma constituição e de órgãos comuns, possuindo personalidade jurídica distinta da dos seus Estados-Membros”.

Já Diez de Velasco (2010, p. 43) enfatiza a questão da voluntariedade dos participantes na instituição e do caráter permanente de seus órgãos, assim, para o autor as Organizações Internacionais em seu sentido moderno, são “associações voluntárias de Estados estabelecidas por acordo internacional, dotadas de órgãos permanentes, próprios e independentes, encarregadas de gerir interesses coletivos e capazes de expressar uma vontade juridicamente distinta da vontade de seus membros”.

Seitenfus (2000, p.27), por sua vez, ressalta ainda, em sua definição, a importância da cooperação para atingir um objetivo comum dizendo que estas instituições compõem: “uma sociedade entre Estados, constituída através de um tratado, com a finalidade de buscar interesses comuns através de uma permanente cooperação entre seus membros”.

É importante, neste momento, destacar, conforme Cretella Neto (2007, p.43), que as definições merecem ressalva, pois

3

Conforme Cretella Neto (2007, p. 10) ”tratado significa um acordo internacional celebrado por escrito entre Estados e regido pelo Direito Internacional, quer conste de um instrumento único, quer de dois ou mais instrumentos conexos , qualquer que seja sua denominação particular”.

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não apenas Estados podem criar e ser membros de Organizações Internacionais: elas próprias, bem como uniões aduaneiras e sujeitos peculiares do Direito Internacional – como a Santa Sé e a Soberana Ordem de Malta – possuem capacidade para celebrar tratados constitutivos de Organizações Internacionais, de ser membros originários e de aceder a estas.

Uma característica fundamental das Organizações Internacionais que pode ser observadas em suas definições e que deve ser sobressaltada é que essas conforme afirma Moreira e Lech (2004, p. 97), possuem “uma personalidade jurídica distinta e derivada dos Estados membros”. Ainda conforme os autores, também, deve-se observar que a personalidade dessas organizações é “limitada a missão que lhe foi confiada”.

A seguir será exposta uma breve resenha sobre o contexto histórico do surgimento dessas organizações.

3.2 CONTEXTO HISTÓRICO

Antigamente, “a Sociedade Internacional era unissubjeva, isto é, composta apenas por Estados, únicos sujeitos do Direito Internacional reconhecidos como tal, situação que perdurou até as últimas décadas do século XIX” (CRETELLA NETO, 2007, p.1).

O surgimentos das primeiras Organizações Internacionais, de acordo com Cretella Neto (2007, p.73), não se deu

por obra de uma ação estratégica e planejada dos Estados, e sim para atender às novas necessidades da comunidade internacional, provocadas por uma combinação de fatores diversos: desenvolvimento tecnológico acelerado, ampliação do poder destrutivo dos armamentos empregados na guerra, deslocamento de populações, poluição do meio ambiente, eclosão de epidemias, violação de Direitos Humanos, exploração de novos espaços etc.

Historicamente, existem sinais de cooperação entre grupos humanos desde tempos antigos. Com contam Herz e Hoffmann (2004, p.31):

a Liga de Delos (478 a.C. – 338 a.C.), criada para facilitar a cooperação militar entre as cidades-Estado gregas e a Liga Hanseática, uma associação de cidades do norte da Europa que facilitou a cooperação no campo comercial entre o século XI e XVII, podem ser consideradas congêneres de períodos anteriores.

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As relações bilaterais e, em pequena escala, as relações multilaterais entre Estados, segundo Cretella Neto (2007), existem há longa data, por outro lado, o surgimento das Organizações Internacionais é recente, pois é fruto da lenta evolução dessas interações. Araujo (2002, p.4) afirma que no mundo atual “nenhum Estado é independente”, pois todos estão entrelaçados entre si e precisam manter-se em harmonia e uniformidade como condição para coexistirem.

Quando as relações bilaterais baseadas na existência de relações diplomáticas ou missões se revelaram inadequadas para lidar com situações mais complexas, derivadas de problemas que afetavam não apenas dois, mas muitos Estados, uma solução precisava ser encontrada para representar, no mesmo foro, os interesses comuns de todos os Estados. Assim se chegou à Conferência Internacional (CRETELLA NETO, 2007, p.18-19).

A Paz de Vestfália de 1648 foi resultado de uma dessas conferências (CRETELLA NETO, 2007) e representou o iniciou de uma nova fase histórica na política mundial (PERINI, 2003).

Perante aos Tratados de Vestfália, os Estados, passaram a possuir igualdade jurídica o que os elevou ao patamar de únicos atores nas políticas internacionais, eliminando o poder da Igreja nas relações entre os mesmos e conferindo aos mais diversos Estados o direito de escolher seu próprio caminho econômico, político ou religioso (PERINI, 2003). E como complementa Cretella Neto (2007) possibilitou a legalização de constituição formal de novos Estados soberanos.

Segundo Amaral Junior (2006), a Ordem Internacional de Vestfália predominou nas Relações Internacionais até a segunda metade do século XVII, nela prevaleciam à diplomacia secreta4 e os tratados bilaterais, que eram discutidos em conferências diplomáticas. Em tempos de crises os principais Estados – na época – se reuniam e deliberavam sobre formas de ações, todavia com o passar do tempo estes perceberam que conferências diplomáticas já não eram suficientes para atender as suas necessidades nas Relações Internacionais. Na segunda metade do século XIX a consciência dos Estados de que se tornavam cada vez mais interdependentes – seja pelo avanço tecnológico, a integração dos transportes, etc. – contribuiu para o surgimento das primeiras Organizações Internacionais (AMARAL JUNIOR, 2006).

4

Diplomacia secreta: “é o termo utilizado para se referir a uma espécie de entendimento diplomático entre dois ou mais países praticado intencionalmente de modo sigiloso, para acobertar determinadas políticas que seus autores desejam ver postas em prática” (SANTIAGO, 2012).

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As Conferências Internacionais, conforme Diez de Velasco (2010), permeiam o surgimento das Organizações Internacionais, pois tiram de cena a diplomacia secreta e trazem consigo a diplomacia parlamentarista5 e a utilização de um novo instrumento jurídico: o tratado multilateral.

A inexistência de órgãos próprios e permanentes dotados de competências particulares e a falta de periodicidade das reuniões não conferiam caráter de instituição às Conferências Internacionais. Como forma de suprir tais carências criou-se as Organizações Internacionais (DIEZ DE VELASCO, 2010). A cooperação internacional deixou de ser predominantemente bilateral para se tornar multilateral (SEITENFUS, 2000).

Conforme Cretella Neto (2007, p.20), a “primeira entidade que pode ser enquadrada na noção contemporânea de Organizações Internacionais” foi a Administração Geral de Concessão da Navegação do Rio Reno, que foi celebrada pela França e o Santo Império Romano-Germanico, em 1804. Tal entidade de caráter técninco-administrativo foi elevada à condição de Comissão Central para a Navegação de Reno em 1815. Segundo Diez de Velasco (2010), em tal processo histórico, percebe-se por um lado à cooperação multilateral e por outro a criação de estruturas orgânicas, o que possibilitou a transição do uso da técnica de conferências internacionais para o das Organizações Internacionais.

Outros instrumentos de cooperação de caráter técnico-administrativo foram criados posteriormente: Comissão do Danúbio em 1856, União Telegráfica em 1865, União Postatal Universal em 1874, União para a Proteção da Propriedade Intelectual em 1883, a União das Ferrovias em1890 (SEITENFUS, 2000).

Ao longo do tempo as Organizações Internacionais foram ganhando espaço no cenário internacional e o coeficiente de poder do Estado soberano não era mais um determinante exclusivo (AMARAL JUNIOR, 2006).

Com o mundo abalado pela Primeira Guerra Mundial, segundo Herz e Hoffman (2004), a criação de um sistema de segurança coletiva, no início do século XX, foi o empreendimento de cooperação internacional mais audacioso elaborado até então. “O sistema é baseado na ideia da criação de um mecanismo internacional que conjuga compromissos de Estados nacionais para evitar, ou até suprimir, a agressão de um Estado contra outro” (HERZ; HOFFMAN, 2004, p.83). A Liga das Nações, foi fundada ao fim da Primeira Guerra Mundial, tratava-se da primeira organização internacional de caráter universal e permanente, baseada

5

Diplomacia parlamentar, segundo Rusk (1955 apud NOGUEIRA 2011, p. 2): “aplicava-se às negociações que ocorriam no seio das organizações internacionais, pois, percebia-se àquela época, uma premência pela evolução para novas formas de relacionamento entre os Estados Nacionais que disponibilizassem novos canais de entendimento e negociações”.

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nos princípios da segurança coletiva e da igualdade entre os Estados soberanos (SEITENFUS, 2000, p.89).

A Liga das Nações existiu juridicamente de 1919 a 1946, quando por não conseguir impedir a da eclosão da Segunda Guerra Mundial, foi, sucedida por uma nova organização internacional, a Organização das Nações Unidas (ONU) (HERZ; HOFFMAN, 2004). Ao longo deste estudo tanto a Liga das Nações como a ONU serão foco de uma análise mais aprofundada a fim de responder o problema de pesquisa, para tanto, primeiramente é importante compreender em que áreas essas instituições atuam e como podem ser classificadas.

3.3 CLASSIFICAÇÃO E AS ÁREAS DE ATUAÇÃO

Existem alguns fatores catalisadores para a criação das Organizações Internacionais, pode-se apontar a: resolução de problemas comuns, segurança coletiva, proteção dos direitos humanos, cooperação, estabilidade, Governança Global, entre outros. Como se pode observar, algumas Organizações Internacionais tem funções específicas já outras lidam com questões mais amplas (HERZ; HOFFMAN, 2004)

De acordo com Herz e Hoffman (2004), essa variação na atuação das organizações interacionais possibilita a classificação dessas entidades em razão de diversas características.

Cretella Neto (2007) propõe alguns critérios para a classificação das Organizações Internacionais. (1) O primeiro deles é o da extensão do campo de atividade que as classifica como de vocação geral, sendo algumas universais (como a Liga das Nações e a ONU) outras regionais (como o Mercosul), ou de vocação especial (como o FMI que tem caráter econômico-financeiro). (2) O segundo critério considera a extensão da função que lhe é cometida, dividindo-as entre organizações de cooperação e de integração. (3) Como terceiro critério tem-se a característica de dependência dessas entidades dividindo-as em dependentes (como a União Postal Universal que é submetida à supervisão do Governo da Suíça) e independentes. (4) O quarto critério trata da participação, classificando-as entre universal (que envolve todos os países que queiram participar) e restrita (que limita-se a um número determinado de países). (5) O quinto critério, por sua vez, preocupa-se com a competência das Organizações Internacionais, separando-as em geral ou especiais, a primeira delas prevê em

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seu tratado constitutivo tantas questões quantas se entenda necessário, ou seja, não possui limitações, já no segundo tipo é estabelecido especificadamente quais serão as possibilidades de atuação da organização. (6) O sexto critério de classificação é o dos métodos de cooperação onde as organizações são subdivididas em quatro tipos: de controle (preocupa-se com supervisão e cumprimento de tratados), de coordenação (responsável por orientar e harmonizar o comportamento dos Estados-membros), de integração (possuem autoridade para desempenhar funções antes exercidas apenas pelo Estado) e operacionais (atuam por meios próprios). (7) O sétimo critério partilha as Organizações Internacionais conforme a sua natureza, sendo elas ou de natureza política, que tem a como objetivo a manutenção da segurança e paz mundial e regional, ou de natureza técnica, o tem a finalidade de promover a cooperação em áreas específicas. E por fim, (8) o último critério reparte essas instituições entre tradicionais ou supranacionais, este conceito é mais recente, no primeiro caso, das tradicionais, o Estado ainda retêm algum tipo de poder sobre a organização, já no segundo, a transferência de soberania para a organização internacional é bem mais acentuada.

É possível ainda classificar esses organismos internacionais conforme a sua geração, a primeira delas é a das organizações de caráter técnico-administrativas, como a Comissão Central para a Navegação de Reno mencionada anteriormente; a segundo geração fica a cargo daquelas que incorporam a seu funcionamento cooperação política e econômica, como é o caso da Liga das Nações, criada em 1919; e a terceira geração composta por instituições internacionais responsáveis por gerir o patrimônio comum da humanidade, por exemplo a Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos, fundada em 1994 (DIEZ DE VELASCO, 2010).

O tópico seguinte é, exclusivamente, destinado à definição e à contextualização da Segurança Coletiva, uma vez que é uma das áreas de atuação das Organizações Internacionais (HERZ; HOFFMANN, 2004) e o principal foco de atuação tanto da Liga das Nações como da ONU.

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3.3.1 Segurança Coletiva

Segundo Nye (2009), anteriormente a Primeira Guerra Mundial, predominava no cenário internacional as políticas de balança de poder6. Essa prática preserva os Estados soberanos e, sendo assim, permite que esses atuem de forma a impedir que qualquer Estado se torne preponderante. Levam em consideração as guerras e atos de violação da autodeterminação, portanto não priorizam nem democracia nem paz.

As consequências caóticas da Primeira Guerra Mundial fizeram o mundo refletir sobre o uso da guerra como meio para preservar o equilíbrio de poder e isso motivou a criação de um mecanismo que pudesse vir a substituí-lo (UZIEL, 2010).

A proposta do presidente norte-americano Widroow Wilson, em 1918, de que “os Estados soberanos não poderiam ser absolvidos (...), mas a força poderia ser regulada pela lei e pelas instituições assim como no plano interno” (NYE, 2009, p. 108) serviu como inspiração para a origem da primeira Organização Internacional voltada para a manutenção da paz no mundo.

Sendo assim, o sistema de segurança coletiva adquiriu raízes com a constituição do Pacto da Liga das Nações (DINSTEIN, 2004), que tinha como objetivo garantir a independência e a integridade territorial de todos os Estados (HERZ; HOFFMAN, 2004). De acordo com Seitenfus (2000, p. 94), essa nova organização “advogava que a segurança de um é a segurança de todos”.

Apesar de Uziel (2010, p. 24) afirmar que “não há um consenso sobre o conceito de segurança coletiva”, Herz e Hoffmann (2004, p.83) descrevem esse instrumento de pacificação, da seguinte forma:

é baseado na ideia da criação de um mecanismo internacional que conjuga compromissos de Estados nacionais para evitar, ou até suprimir, a agressão de um Estado contra outro. Ao engendrar uma ameaça crível de que uma reação coletiva, através de boicotes, de pressões econômicas e de intervenção militar, seria produzida em qualquer hipótese de agressão, o sistema deveria deter atores dispostos a iniciar uma empreitada militar.

Já Inis Claude Jr (1993 apud UZIEL, 2010, p. 26) diz de forma mais simplista que esse “se trata de um fenômeno conectado às Organizações Internacionais e que tem por

6

A balança de poder, segundo Herz e Hoffmann (2004, p. 21) é um “ sistema flexível de alianças entre Estados designado a evitar a preponderância de um determinado Estado. A sua base é a expectativa comum de que, quando as relações de poder mudam, os Estados irão continuamente mudas suas alianças para manter um equilibro e evitar a gestão de um sistema hegemônico ou de um império”.

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objetivos reduzir o ‘abuso de poder’, desencorajando a competição violenta e promover a paz”. A autora coloca, ainda, a segurança coletiva em oposição direta ao equilíbrio de poder,

Nessa mesma linha de raciocínio Sousa (2005) afirma que a Teoria da Segurança Coletiva apóia-se na ideia de que a os conflitos internacionais estão enraizados na insegurança e incerteza das políticas de poder. Diz também que, esse mecanismo defende que a agressão pode ser mais bem contida ou limitada em caso de reação coletiva.

Segundo Uziel (2010), o sistema de segurança coletiva não deve ser confundido com a autodefesa. Segundo Inis Claude Jr (1993 apud UZIEL, 2010, p. 26), “deveria haver não só um compromisso de todos os Estados com o sistema, mas também as idéias de uma paz indivisível e de uma submissão do interesse nacional ao coletivo”.

Esse mecanismo, segundo Ney (2009, p. 109), possui três diferenças fundamentais do equilíbrio de poder:

Primeiro, na segurança coletiva o foco recai sobre políticas agressivas de um Estado e não em sua capacidade (...). Segundo, ao contrário do sistema de equilíbrio de poder, no qual as coalizões eram formadas antecipadamente, no sistema de segurança coletiva as coalizões poderiam não ser predeterminadas, porque não se sabia quais Estados seriam agressores. Terceiro, a segurança coletiva foi criada para ser mundial e universal (...).

Também são três as principais características e as condições para o sucesso do sistema de segurança coletiva. No caso das características, segundo Uziel (2010), pode-se apontar: (1) a paz como objetivo último, (2) composição quase universal da agencia organizadora do sistema e (3) a responsabilidade de órgão coletivos em decidir sobre as ações à serem empreendidas. Já no caso do sucesso desse sistema é possível apontar: (1) a semelhança de dimensão dos Estados, não podendo um ser preponderante a outro; (2) a disposição dos Estados em assumir custos e responsabilidades; e (3) necessidade de haver um organismo internacional com capacidade moral e militar de atuar se necessário (SOUSA, 2005).

Os próximos capítulos são destinados às duas Organizações Internacionais, de segunda geração, que surgiram ao final das duas grandes guerras mundiais com o objetivo de promover a paz no mundo fazendo uso, principalmente, de mecanismos de Segurança Coletiva.

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4 LIGA DAS NAÇÕES

A Liga das Nações foi à primeira tentativa de constitucionalizar o Direito Internacional, ou seja, representou uma inovadora proposta de estruturar o funcionamento do sistema internacional (LAFER, 1995). Essa, conforme Garcia (2000, p.21), foi responsável por abrir o desafio “ao tradicional sistema de Estados soberanos, descentralizado e hierárquico, cuja idéia de estabilidade e de ordem, baseada na política de poder, costuma se fundamentar em precários equilíbrios de força”.

Este tópico propõe uma revisão teórica que trate: do contexto histórico do seu surgimento, dos Estados-Membros, da estrutura institucional e da atuação da Liga das Nações na manutenção da paz.

4.1 CONTEXTO HISTÓRICO

A Liga das Nações teve como cenário de seu surgimento o findar da Primeira Guerra Mundial. Como observa Marie-Claude Smouts (apud SILVA et al., 2012, p. 149), in verbis, “até a Primeira Guerra Mundial, o direito foi essencialmente um direito de coexistência”.

O trauma causado pela Primeira Guerra Mundial seja pelas cidades devastadas ou pela morte de milhares de civis, aliada as pressões exercidas pela opinião pública com medo de novas ações militares impulsionou os Estados a criarem novas Organizações Internacionais, “capazes de atuar no plano internacional com a finalidade de assegurar meios pacíficos de solução de controvérsias” (CRETELLA NETO, 2007, p. 27).

Em janeiro de 1918, o presidente norte-americano, Woodrow Wilson, fez seu famoso discurso ao Senado norte-americano, no qual propôs quatorze pontos para garantir a paz mundial, sendo o último deles uma referência à criação da Liga das Nações, “que garantiria a independência e integridade territorial de todos os Estados” (HERZ; HOFFMAN, 2004, p. 87).

O sentimento pacifista traduzido pelo presidente Wilson em seu discurso, incentivou a criação de comitês, tanto na Inglaterra como na França, com o propósito de elaboração de uma organização internacional que servisse como um mecanismo para auxiliar na solução de litígios. Os projetos apresentados pelos ingleses e franceses, entretanto,

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continham profundas divergências. A proposta francesa defendia uma organização militarizada e imperativa, que servisse como instrumento de constrangimento em casos de eventuais agressões. Já a proposta britânica, apoiada pelos Estados Unidos, baseava-se no princípio da boa-fé e vontade dos Estados-Membros, descartando uma organização com capacidade militar supranacional e dotada de poder coercitivo (SEITENFUS, 2000).

Segundo Seitenfus (2000, p.90), “os dois projetos deixam transparecer visões contraditórias (...) a França pretendia fazer da Liga das Nações uma controladora da possível revanche de Berlim, enquanto a Inglaterra, separada do Continente, supunha estar protegida”.

Na Conferência de Paz de Versalles, em 1919, foi, então, ratificado o Tratado de Versalles, que encerrou definitivamente o conflito mundial, e em seu anexo adotou-se o Pacto da Liga das Nações (GARCIA, 2000). O projeto britânico, apoiado pelos Estados Unidos e America Latina, foi o aprovado (SEITENFUS, 2000) e sendo assim, foi fundada em 28 de junho de 1919, a Liga das Nações que adotou em seu Pacto o seguinte preâmbulo:

As altas partes contratantes,

considerando que, para o desenvolvimento da cooperação entre as nações e para a garantia da paz e da segurança internacionais,importa:

aceitar certas obrigações de não recorrer a guerra,

manter abertamente Relações Internacionais fundadas sobre a justiça e a honra, observar rigorosamente as prescrições do direito internacional, reconhecidas doravante como norma efetiva de procedimento dos governos,

fazer reinar a justiça e respeitar escrupulosamente todas as obrigações dos tratados nas relações mútuas dos povos organizados

adotam o presente Pacto, que institui a Liga das Nações. (GARCIA, 2000, p. 153)

Nesse primeiro momento de criação da Liga, alguns fatos foram marcantes e determinantes para a sua trajetória e fracasso com a eclosão da 2ª Guerra Mundial.

Seguindo a proposta inglesa, que se baseia no princípio da boa-fé, nota-se, que os Estados contratantes do Pacto da Liga das Nações limitaram-se a “aceitar certas obrigações de não recorrer a guerra” o que não instigue a utilização de métodos armados à solução de controvérsias (CRETELLA NETO, 2007).

É de extrema importância ressaltar, ainda que apesar da Liga ter sido confeccionada, em grande parte, pelos ideais propostos pelo presidente norte-americano, Woodrow Wilson, o Congresso deste país recusou-se a aderir a tal organização (MIYAMOTO; CARVALHO, 2003). Segundo Araújo (2002, p. 16), o Partido Republicano, opositor ao presidente Wilson, afirmando que a aprovação do Pacto implicaria na “revogação

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da Doutrina Monroe7 e levaria, em consequência, os Estados Unidos a participarem de todos os conflitos estranhos ao continente americano”, foi vitorioso no Congresso, impossibilitando a aderência dos Estados Unidos ao Pacto da Liga.

Ainda, em relação à ausência dos Estados Unidos na Liga, segundo Herz e Hoffmann (2004, p. 96), a não participação deste Estado

impediu que o sistema adquirisse um caráter universal o que comprometeu a sua credibilidade e operacionalidade. No caso da imposição de sanções econômicas, em particular, a universalidade da coalização é fundamental, tanto na geração dos efeitos desejáveis, quanto para a socialização dos custos. (...) Assim o sistema não pode ser considerado universal.

Hobsbawn (1995, 42) ressalta, ainda, a exclusão de duas potências europeias, a URSS e a Alemanha, afirmando que “assim que uma ou as duas reentrasse em cena, um acordo de paz baseado apenas na Grã Bretanha e na França (...) não poderia durar”.

Com essas ressalvas, foi instaurada, assim, a primeira organização internacional de segunda geração (CRETELLA NETO, 2007), sendo esta, de acordo com Seitenfus (2000, p. 89), “uma organização intergovernamental, de caráter permanente, com vocação universal baseada nos princípios da segurança coletiva”.

Conforme Cretella Neto (2007, p.29),

do ponto de vista das Organizações Internacionais e das Relações Internacionais, reconhece-se que a criação da Liga das Nações representa, pela primeira vez, a superação dos estreitos limites de uma cooperação técnica, ficando patente a vontade política dos Estados fundadores de organizar a sociedade internacional, de forma prudente e reservada, é certo, mas manifestada com clareza.

A Liga das Nações surge, portanto, como um mecanismo de pacificação de esfera global. Os seus principais objetivos são apresentados na sequência.

4.2 OBJETIVOS

Segundo Baracuhy (2006), “a Liga das Nações foi, até o momento de sua criação, a mais elaborada tentativa de organizar racionalmente as Relações Internacionais a partir de uma instituição multilateral”.

7

Segundo Cretella Neto (2007, p. 27) a Doutrina Monroe foi proclamada em 21 de dezembro de 1823 e “dirigia-se a ingerência das potências européias nos negócios internos dos Estados latino-americanos que acabavam de se tornar independentes (...). Tem por fundamento o princípio da não-intervenção (...)”.

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A Liga foi o “primeiro grande experimento visando aglutinar os povos do mundo para tentar resolver os problemas globais, ordenando o mundo em torno de princípios básicos de respeito mútuo” (MIYAMOTO; CARVALHO, 2003, p. 50)

Para Seitenfus (2000, p.89), com a criação da Liga das Nações “tem-se (...) uma verdadeira Organização Internacional com o objetivo específico de manter a paz através de mecanismos jurídicos (...)”. De acordo com o mesmo autor, a Liga das Nações baseava-se nos princípios da segurança coletiva e da igualdade entre os Estados soberanos, desta forma, surgiu com três funções essenciais: (1) ratificação do Tratado de Versalles, (2) a promoção da segurança; e (3) a cooperação econômica, social e humanitária.

De acordo com Araújo (2002, p. 17),

No preâmbulo da ata de sua constituição foram fixados os objetivos principais da Liga: garantir a paz e a segurança internacional; a cooperação entre as nações, a integridade territorial e a independência política de seus membros por meio de compromissos de jamais recorrerem à guerra.

Em seu seio, a proposta para a manutenção da paz mundial repousava sobre o princípio da segurança coletiva. A Liga “advogava que a segurança de um é a segurança de todos” (SEITENFUS, 2000, p. 94).

Herz e Hoffman (2004, p. 91) afirmam que “a proposta de criação de um sistema de segurança coletiva representava uma ruptura dramática com a lógica da balança de poder que havia regido as relações entre as potências europeias até então”. Ainda de acordo com as autoras, o projeto de segurança coletiva vai além do equilíbrio de poder, pois “a agressão era o objeto do sistema, e a paz era tomada como indivisível. Uma ameaça localizada deveria ser tratada como uma ameaça a paz mundial”

Como forma de controle, os redatores do Pacto propunham em seu texto que os Estados membros deveriam informar sobre o seu nível de força e armamento militares, navais e aéreos. Este controle, todavia, consistia numa simples recomendação. O mesmo acontecia com a solução pacífica de litígios, questão em que o Pacto invocava a arbitragem que fazia apenas recomendações para a solução das controvérsias (SEITENFUS, 2000).

Segundo Seitenfus (2000, p. 95),

Os mecanismos de manutenção da paz previstos pelo Pacto dependiam da existência de boa-fé dos Estados-Membros. O sucesso da atuação da Liga das Nações repousaria na existência de um nível de confiança recíproca e na atuação, como força de pressão, da opinião pública internacional. Nestas condições vê-se que a nova organização terá sucesso em questões menores, surgidas no entre-guerra, mas será

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incapaz de opor-se à agressão das grandes potências, conduzindo o mundo a um novo conflito generalizado.

O plano recomendatório em que se situavam as decisões da Liga, portanto, não evitou o conjunto de conflitos e a corrida armamentista que precederam a Segunda Guerra Mundial, sendo o sistema de segurança coletiva foi considerado um fracasso (HERZ; HOFFMANN, 2004).

4.3 ESTADOS-MEMBROS

Segundo o anexo referido no artigo 1º do Pacto da Sociedade das Nações (1919), são membros fundadores do tratado os seguintes membros aliados da Primeira Guerra Mundial: Estados Unidos da América, Bélgica, Bolívia, Brasil, Império Britânico, Canadá, Austrália, África do Sul, Nova Zelândia, Índia, China, Cuba, Equador, França, Grécia, Guatemala, Haiti, Hedjaz, Honduras, Itália, Japão, Libéria, Nicarágua, Panamá, Peru, Polônia, Portugal, Romênia, Estado Sérvio – Croata – Esloveno, Sião, Tcheco. Eslováquia, Uruguai (GARCIA, 2000).

Ainda de acordo com o anexo, os Estados convidados, que se mantiveram neutros durante os confrontos, a aderirem ao Pacto logo após a sua fundação foram: Argentina, Chile, Colômbia, Dinamarca, Espanha, Noruega, Paraguai, Holanda, Pérsia, Salvador, Suécia, Suíça, Venezuela (GARCIA, 2000).

Segundo Seitenfus (2000, p. 108),

Ao excluir os países derrotados na guerra e, sendo parte integrante do Tratado de Versalhes, o Pacto foi, antes de mais nada, uma aliança militar entre os vencedores, com o objetivo de impor uma situação aos vencidos. Nota-se, então, a dicotomia entre o princípio da construção de um novo sistema internacional e a prática da excludência – oriunda da visão conservadora do acordo.

Contava-se ao todo, num primeiro momento da sua criação, 45 Estados-Membros. Nos termos do Pacto – artigo 1º, inciso 2º. Esse número, entretanto, era passível de oscilação, pois

todo o Estado, Domínio ou Colônia que governe livremente e não esteja designado no Anexo – relação de Estados já aderentes listados acima – pode tornar-se Membro da Sociedade, se sua admissão for aceita por dois terços da Assembleia contanto que dê garantias efetivas de sua sincera intenção de observar seus compromissos

Referências

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