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Conclusões e recomendações

5.3 Considerações finais

O sucesso que as universidades privadas de massa brasileiras experimentaram nas últimas décadas, evidenciado pelo seu enorme crescimento e pela geração de vultosas receitas, pode levar à conclusão de que elas têm pouco a modificar em seu modelo de negócio e na sua estratégia. Porém, a análise apresentada neste trabalho nos leva a não aceitar essa premissa de forma incontestável.

De um modo geral, essas instituições foram criadas e se desenvolveram sob a direção de um empreendedor, que normalmente já atuava no ramo da educação privada e percebeu a oportunidade que havia na educação superior, devido à incapacidade do governo de atender à demanda reprimida nesse nível de educação. Esse fato fica claro quando se contrapõe, até hoje, o número de alunos inscritos no vestibular das escolas estatais com o número de vagas oferecidas.

Nessa estrutura de mercado, esses empresários criaram verdadeiros impérios, com enormes prédios escolares que muitas vezes lembram shopping centers, com praças de alimentação, áreas de convivência e lojas que oferecem produtos e serviços que nem sempre são complementares aos serviços educacionais, tudo isso com a finalidade de oferecer uma percepção favorável de tangibilidade à comercialização de seu principal produto percebido pelo seu público, que é o status de universitário e o título no final do curso.

Essas empresas prosperaram principalmente devido ao fato de que, no Brasil, a maioria das pessoas que procuram uma escola de ensino superior têm a noção de que a titulação obtida ao final do curso lhes abrirá as portas para um emprego mais qualificado e a uma melhor condição social. Porém, o mercado de trabalho vai se ajustando a esse influxo de novos graduados. Apesar de ainda haver a necessidade de profissionais de nível superior nas empresas, as ofertas de vagas e de salários não são tão atraentes quanto os alunos formados nessas instituições esperavam. (Há empresas, no entanto, que preferem contratar formandos dessas universidades de massa, com baixo custo salarial, para selecioná-los no próprio ambiente de trabalho e moldá-los aos valores da organização.)

Esse fenômeno repete, de certo modo, o que aconteceu em outra época e contexto, na década de 1970, com os exames de madureza. Havia uma enorme demanda de titulação de primeiro e segundo graus, por pessoas com idade mais avançada, demanda essa atendida pelos antigos cursos de madureza e depois pelos cursos supletivos. Um desses cursos chegou a abrigar mais de 15 mil alunos. Com o passar do tempo, no entanto, a concorrência aumentou e a demanda arrefeceu, por que os interessados começaram a perceber que a titulação em um curso supletivo não lhes abriria todas as portas que esperavam. Por isso, esses cursos perderam a lucratividade.

Evidentemente, a observação desses fatos tem conduzido alguns desses empreendedores que criaram e conduzem as universidades de massa, em particular o sócio H

da Universidade A, a questionarem sua postura com respeito aos modelos de negócio adotados por suas instituições. O desafio é achar uma nova fórmula de sucesso na nova situação.

Também em decorrência do passar do tempo, esses mesmos empresários estão envelhecendo, ocorrendo com isso a necessidade de pensarem na sua sucessão, algumas vezes sem herdeiros interessados, como ocorreu com a Universidade Anhembi-Morumbi de São Paulo, cujo controle foi adquirido pelo grupo norte-americano Laureate Education Inc. – com escolas em 15 países –, outras vezes com herdeiros que pensam de forma diferente.

Outro fato relevante é o fechamento de unidades escolares por força da concorrência acirrada na mesma região, o que obriga os dirigentes das instituições a pensarem mais intensamente na adoção de estratégias com foco mais direcionado para a diferenciação, apesar do decorrente acréscimo nos custos.

Acreditamos que, principalmente nas regiões com maior desenvolvimento econômico do país, como a região Sudeste, a necessidade de mudança se mostre necessária em um espaço de tempo mais curto, porque é onde a concorrência tem se mostrado mais relevante, ao passo que, nas regiões menos aquinhoadas economicamente, o processo de evolução das universidades de massa baseadas unicamente em estratégias de preço talvez se mantenha por um tempo maior.

Uma possível evolução do mercado das universidades de massa seria a subdivisão da oferta em dois sub-mercados, um, estagnado ou declinante, constituído pelas universidades que seguiriam o atual modelo, focado em preços baixos e sustentado pelo crédito educativo, e um outro, crescente e sinalizado pela compra da Anhembi-Morumbi pela Laureate Education Inc., focado em uma melhor qualidade, com uso racional dos recursos.

A utilização da concepção de modelo de negócio neste trabalho foi de grande ajuda, ao permitir a estruturação da comparação entre as universidades. O modelo permitiu visualizar as peculiaridades das fontes de valor nas diversas instituições, além de proporcionar também a contraposição dessas fontes com as forças externas que as influenciam, o que é fundamental para se entender, nos detalhes, a estratégia adotada pelas empresas.

Como exemplo da utilidade estratégica da comparação entre modelos de negócio, podemos citar a percepção da importância de cada um dos fatores de valor no funding das

universidades, segundo a ótica dos captores desses fatores. Por exemplo, o prestígio das universidades, que em geral advém de uma estratégia de diferenciação, alavanca em geral os outros fatores de valor. Outro fator de valor que pode ser citado é a produção de conhecimento, o qual, na universidade confessional e na universidade pública analisadas, é transmitido e utilizado na sua forma mais completa, assumindo inclusive um papel de destaque como fonte de receitas, ao passo que nas universidades de massa tem um uso restrito, limitando-se a ser transmitido na sua forma explícita, ou codificada.

Finalizando, cabe mencionar que, caso a Universidade A, ou outra universidade de massa, decida alterar a atual estratégia, ela irá enfrentar as limitações decorrentes do estilo centralizador do dono-empresário. Este tipo de estrutura, por um lado, pode dar à organização agilidade para adaptar-se a novas circunstâncias, mas, por outro lado, representa um risco elevado em um ambiente complexo e diversificado como essas universidades estão enfrentando, ambiente esse que exige respostas sofisticadas e grande articulação entre seus dirigentes. Talvez o melhor arranjo fosse o afastamento de H do comando operacional da instituição.

O presente estudo exploratório é um primeiro passo na compreensão do fenômeno constituído pelo surgimento e extraordinário crescimento das universidades de massa no Brasil. O tema tem sido pouco abordado na literatura existente e poderia ser aprofundado por meio de mais esforços de pesquisa a partir deste primeiro passo.

Anexos

6.1 Anexo I

Perguntas a serem formuladas aos dirigentes de instituições privadas de ensino

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