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CAPÍTULO III DIREITO E VIOLÊNCIA NA ZONA DE INDETERMINAÇÃO DO BANDO NA CONTEMPORANEIDADE

CONSIDERAÇÕES FINAIS

“As folhas da escritura agem como um phármakon que expulsa ou atrai para fora da cidade aquele que dela nunca quis sair, mesmo no último momento, para escapar da cicuta”.265 O phármakon, que carrega como o sacer forças opostas

em sua constituição, é o modo de força – o antídoto – que regeu esse trabalho. De modo bastante geral, o presente texto pretende se inserir na necessidade premente de desobstrução do saturado campo da filosofia do direito e da teoria do estado em que se investiga a política separada da vida, em outras palavras, a intenção é a de que se possa pensar numa política em que a vida não seja mais separada e excepcionada das noções do ordenamento jurídico. Uma vida

em que o antídoto, composto do phármakon, não seja veneno.266

Com isso, almeja-se também, ao fundo, à revelação de uma crítica objetiva e de igual urgência da anterior, de contribuir para uma possível reversão do quadro histórico de impotência em que a democracia moderna esteve incrustada sempre que procurou discutir a noção do poder para que com efetividade consiga trazer novas conjecturas para os problemas

       265

DERRIDA, Jacques. A farmácia de Platão, 3 ed., São Paulo: Iluminuras, 2005, p. 75

266 Lembramos aqui também da interessantíssima noção de “estranho-familiar” (Das Unheimliche) de Freud. Segundo o autor: “A palavra alemã ‘unheimlich’ é obviamente o oposto de ‘heimlich’ [‘doméstica’], ‘heimisch‘ [‘nativo’] - o oposto do que é familiar; e somos tentados a concluir que aquilo que é ‘estranho’ é assustador precisamente porque não é conhecido e familiar. Naturalmente, contudo, nem tudo o que é novo e não familiar é assustador; a relação não pode ser invertida. Só podemos dizer que aquilo que é novo pode tornar-se facilmente assustador e estranho; algumas novidades são assustadoras, mas de modo algum todas elas. Algo tem de ser acrescentado ao que é novo e não familiar, para torná-lo estranho. [...] O que mais nos interessa nesse longo excerto é descobrir que entre os seus diferentes matizes de significado a palavra ‘heimlich‘ exibe um que é idêntico ao seu oposto, ‘unheimlich‘. Assim, o que é heimlich vem a ser unheimlich. (Cf. a citação de Gutzkow: ‘Nós os chamamos ‘unheimlich”; vocês o chamam “heimlich”.’) Em geral, somos lembrados de que a palavra ‘heimlich‘ não deixa de ser ambígua, mas pertence a dois conjuntos de idéias que, sem serem contraditórias, ainda assim são muito diferentes: por um lado significa o que é familiar e agradável e, por outro, o que está oculto e se mantém fora da vista. [...] Cf. FREUD, Sigmund. O estranho in Edição Standard Brasileira das obras psicológicas de Sigmund Freud, J. Strachey (org.) vol V, XVII, Rio de Janeiro: Imago editor, 1986. p. 240-241.

práticos da vida que, no direito, acabam de muitas maneiras relacionados ao tema da democracia numa banalização da discussão, por exemplo, dos direitos humanos.

Essas linhas gerais invocam a problematização do desafio proposto, convidando para se adentrar no jogo lúdico e estudioso de novas perspectivas para a pesquisa em direito. Ademais, estão traçadas no oferecimento de uma introdução à teoria política do direito, sob um novo olhar – que considera a alteridade necessária dentro de um conceito em essência paradoxal: isto é, a coexistência de forças opostas – como veneno e antídoto – e, necessariamente, complementares.

Antes de tudo, para entrar neste desafio, é preciso entender a crise em que o humano hoje se encontra. Roger Bastide, em seu famoso ensaio O sagrado selvagem, atinge a polêmica desta crise que afeta o homem moderno e que nada mais é do que a representação de uma crise sempre vivenciada pelos homens desde os primórdios mais rudimentares das relações sociais, qual seja, a crise reivindicada pela condição de nossa própria existência. Ocorre que, agora, esta crise se lança em projeção imaginária e não simplesmente no campo da memória e no entrecruzamento entre o sagrado selvagem das sociedades tradicionais e o sagrado selvagem da nossa civilização revela a tônica da discussão sociológica dos contornos históricos das relações humanas, portanto, relações que envolvem o direito e a política.267

Tudo isso demanda afinco metodológico e inclinação filosófica determinada. Por essa razão, o movimento proposto foi genealógico, apostando que, no regresso da gênese constitutiva e fundante da sociedade, e do processo civilizatório as pistas iniciais seriam encontradas e a partir delas, projetando a relação jurídico-política na história - e não procurando demarcar uma história da relação entre o direito e a política -, o feixe de irradiação

      

267 BASTIDE, Roger. O sagrado selvagem e outros ensaios, São Paulo: Cia das Letras, 2006, p. 251-252.

encontrado na busca genealógica projetasse a delimitação do caminho a ser percorrido.

Esse feixe está exatamente no entrecruzamento da transposição da matriz originária de débito e crédito nas comunidades primitivas para o conceito de bando das comunidades gentílicas, bem desenvolvido no arcaico direito germânico.

Por meio da perseguição de sua constatação e investigação de suas consequências, o projeto do processo de desenvolvimento civilizatório se revela completamente moldado por relações de dominação e poder, atos de força e violência instrumentalizados pelo direito.

A lógica que parece predominar em todo o percurso histórico é a figura violenta do proscrito, do abandonado. Ele é marca indelével do toda a trajetória do processo de civilização, pois é identificado nas comunidades gentílicas, está presente fortemente na figura do homo sacer e do sacrifício na idade antiga, projetando-se, dessa forma, pela idade média e moderna, e, nesta última, ganhando nuances especiais como na figura exemplificativa utilizada dos apátridas - dentre outras, como os ciganos e outros grupos de minorias étnicas – até a absurda e devastadora noção do Muselman, tão radical que nos impacta com a frustrante epifania de que todos nós, seres humanos, hoje, nos encontramos numa situação de exceção sem sequer nos darmos conta dela (sacratio).

A paradoxal lógica do incluído/excluído, além de ser a marca predominante do ambiente de forças ativas e reativas do processo civilizatório, apresenta-se paradigmaticamente na noção de proteção e negação da vida em que nos encontramos hoje, que na expressão da imunização – como a de uma vacina – pode proteger e prolongar a nossa vida somente ao provarmos continuamente a morte.

Esta antinomia atravessa toda a história e na modernidade todas as suas linguagens, levando-a a um resultado dissolutório, pois, atualmente,

em última instância, a imunidade é o limite interno que corta a noção de comunidade, reorganizando-a sobre si numa forma que resulta ao mesmo tempo constitutiva e destitutiva, que a constitui, ou reconstitui, ao destituí-la, e, nesse esquema dialético negativo, é que o direito assume papel de relevância como o dispositivo imunitário de todo sistema social e que inabalavelmente sempre trouxe em si essa característica.268

Exatamente neste papel que o direito revela o núcleo de violência que se encontra encravado nele mesmo, na sua própria gênese, no coração mesmo de seu funcionamento, num ponto complexo de conservação e exclusão da vida e da (con)vivência humana.

Com essas nuances, o trabalho se estruturou em três capítulos que procuraram dar cabo da proposta metodológica empreendida.

No primeiro capítulo, a abordagem centrou-se numa investigação de cunho antropológico e que pretendeu estruturar as bases da pesquisa, enfrentando o tema do poder e sua homogeneidade nos grupos primitivos e tomando como fio condutor de construção da análise o elemento mais primitivo do homem: o medo.

O resultado desta articulação teve o propósito especial de atingir tanto as noções jurídicas e de poder e violência no ambiente sociológico das comunidades primitivas, como as facetas psicológicas que conjuntamente, por óbvio, assumem forma e contribuem na própria constituição da forma das relações psicológicas, além de deixar clara a forma originária do apanágio da sociabilidade humana pela relação de troca e escambo - matriz de débito e crédito - ponto chave para entender o conceito de bando.

       268

Cf. ESPOSITO, Roberto. Immunitas, cit., p. 19 e GUERRA FILHO, Willis Santiago. Luhmann and Derrida: immunology and autopoiesis in Luhmann Observed: Radical Theoretical Encounters, A. la Cour and Philippopoulos-Mihalopoulos, Basingstoke: Palgrave, 2012.

Nesta ordem, o segundo capítulo se revela compondo a transposição da matriz de débito e crédito para o conceito de bando como originário das relações políticas.

A tratativa sobre o bando foi composta desde sua base nas organizações gentílicas à noção do abandono, do homo sacer e do sacrifício e, por fim, da lógica nele ancorada que fornece as bases do próprio Estado Moderno.

Em continuidade, surge o terceiro capítulo, ratificando a lógica do bando no Estado Moderno até os dias atuais e comprovando, ao fundo, a prevalência das relações de dominação e poder no processo civilizatório da humanidade. Isto faz crer na necessidade de verificar como o direito se manifestou durante todo esse tempo, renegando teses tradicionais, e como argumentação irrefutável da necessidade de se repensar o exercício do direito bem como o de suas formas na atualidade, entendendo que isso é possível, diante de um ambiente reflexivo de possibilidades escancaradas pela aposta em uma teoria político-jurídica do direito.

Enfim, dessa condensação apresentada, resta somente mostrar as conclusões oriundas do confrontamento das questões mencionadas do texto. Ei-las:

1) De maneira ampla, a pretensão que orbitou em todo o trabalho foi a de propor uma introdução a uma teoria política do direito, tendo como premente que o direito e a política são indissociáveis de tal forma a se reconhecer, na atualidade, uma zona de indeterminação entre os meandros da filosofia jurídica e da filosofia política, concluindo-se que, a rigor, sempre que se fala de questões políticas ou jurídicas está se falando em termos de um teoria político-jurídica.

2) Metodologicamente, regressamos ao sentido de gênese da sociedade e encontrarmos na matriz do surgimento do processo civilizatório um ponto de partida que guarnece um ambiente de investigação genealógica, com

cariz antropológico e etnológico, afastando-se de formas tradicionais históricas de análise dos conteúdos do direito.

3) Na dimensão da proposta metodológica, identificou-se a relação umbilical entre direito e poder e a faceta do direito e da violência como constitutivos do apanágio da sociabilidade e de todo o processo civilizatório que a determina. Com isso, pretendeu-se mostrar a trama indissociável entre direito e violência, direito e poder, que caracteriza a experiência ocidental de instrumentalização da força para instituição e aplicação do direito é que se encontra a discussão sobre a necessidade de superação, especificamente a ideia da instrumentalização da juridicização da violência sob a forma do princípio da soberania.

4) Foi estabelecido que o ponto de saída da investigação tem como base a matriz de débito e crédito encontradas nas relações de troca nas comunidades primitivas e a sua sequente transposição ao conceito de bando a procedência – pudenda origo – da política, que, nesse processo, está plenamente imbricada na matriz antropológica do processo civilizatório.

5) Tratamos da conexão entre os fenômenos jurídicos e religiosos a um momento anterior ao da formação da civilização moderna, a um momento em que se projeta o início do processo civilizatório, no qual, inclusive, os indivíduos prescindiam da crença abstrata de um ente superior, transcendente, mas nutriam um sentimento do divino e sobrenatural diferente, reconhecidamente um sentimento mágico, e não autenticamente religioso.

6) A noção de homogeneidade do poder nas comunidades primitivas foi apresentada pelo sincretismo normativo e o animismo que permite a constatação do que as define precisamente: nelas não, se pode isolar uma esfera política distinta da esfera social.

7) Buscamos encontrar a pista, em sentido psicológico, que funda todo o processo de desenvolvimento civilizatório, a primeira forma de explicação global e sua identificação com a causalidade da própria vontade

humana. E, nesse sentido, desenvolver, a partir do sentimento medo, como a interpretação de mundo primitiva tinha nele seu norteador fundamental, sendo esta uma questão, pois defendemos que a partir do medo é que sempre se coloca, historicamente, a questão indagativa sobre a nossa existência diante do mundo, fato que determina a nossa dimensão enquanto seres políticos.

8) Lançamos mão da aproximação de Augusto Comte, Sigmund Freud e Nietzsche como autores que fornecem a reflexão para o estudo do

medo nos molde propostos. Nos três autores mencionados, encontra-se, de

alguma forma, que a mais remota origem de todas as formas de espiritualidade humana sempre foi o medo e necessidade de domínio a ser alcançada sobre o mundo e si mesmo.

9) Conclusivamente, a par deste estudo, foi nosso intuito compreender que o homem é como o fruto bem elaborado de sua complexidade existencial, revelando aí já noções importantes da metodologia diferenciada utilizada na investigação, haja vista que os métodos tradicionais não se ocupam de interlocução do psicologismo dos homens no ambiente das esferas sociais, políticas e jurídicas.

10) Encontrar nos grupos gentílicos primitivos o paradigma mais adequado de análise para consecução dos interesses do trabalho, pois neles é que efetivamente encontra-se a ligação da indissociação do direito e da política no processo de se reconhecer o bando como uma transposição da matriz jurídico-obrigacional do débito e do crédito, e consequentemente evidenciar que a ideia de bando como relação política originária, refletida na modernidade, parece apresentar uma estreita relação de como pensar a vida é pensar as fronteiras da vida, e, portanto, neste sentido, o abandono, o exílio e a própria noção da biopolítica acabam sendo conceitos indiscerníveis.

11) Convém-nos entender, a partir do conceito totem, como uma classe de objetos materiais que um selvagem se liga com um respeito supersticioso, crendo que ali existe entre ele e cada membro de sua estirpe uma íntima e geral relação especial, a verificação tanto um sistema religioso,

quanto social. No sentido religioso, consiste em relações de mútuo respeito e proteção entre o homem e seu totem; no sentido social, consiste nas relações dos homens e do clã entre si e com membros de outros clãs.

12) Na extensão da análise do sistema totêmico, foi nosso objetivo analisar como a exogamia se liga ao conceito de totem e que ela corresponde originariamente ao fato de que pessoas com o mesmo totem não devem casar ou possuir relações sexuais entre si. O descumprimento de tais medidas podia levar a sérias punições que poderiam chegar até a morte, por isso, tentamos compreender a ideia mítica - freudiana que propõe o surgimento da religião, do direito e de tudo o mais que é da ordem da cultura, do humano e do simbólico, a partir da noção do incesto.

13) Para o trabalho, foi necessário entender que há, além de uma condição normativa básica nos primitivos - representada na proibição de incesto -, outras duas condições muito importantes que se fundamentam na ideia de solidariedade gentílica, a saber, a proibição de derramamento de sangue entre membros da tribo e a vingança de sangue em relação com outros membros de fora da tribo. Com isso, verifica-se a força do conceito de bando - e ainda mais da perplexidade do abandono – bem como a constatação de que a vingança de sangue é uma das mais antigas normas sociais.

14) Consequentemente, compreender que a quebra da solidariedade gentílica é o que gera a perda do direitos e a expulsão do bando. O membro expulso - abandonado - perde todos os direitos e passa a não possuir mais nenhuma obrigação decorrente da comunhão gentílica.

15) Compreender, ainda, na extensão do conceito de bando, o que o abandono, o exílio é o regime da vita nua e na esteira da relação entre Agamben e Nancy entender no bando a relação entre a norma e a exceção, que define o poder soberano.

16) com o estabelecimento desta noção, a intensão consequente é a de explorar figuras que no desenvolvimento histórica representem estas

noções. A primeira delas é a figura do homo sacer, conceito-limite do ordenamento social romano. Ademais, compreender que numa pretensa ambiguidade originária do sagrado, apoiada na noção etnológica de tabu, a

sacratio, apresenta-se como uma figura autônoma que permite lançar luz sobre

uma estrutura política originária, que se apresenta numa zona que precede a distinção entre sacro e profano, entre religioso e jurídico.

17) Desse modo, a partir da estrutura da sacratio, compreender a conjunção de dois aspectos, a saber: a impunidade da matança e a exclusão do sacrifício, entendendo que o que define realmente a condição do homo

sacer não é simplesmente a pretensa ambivalência originária da sacralidade,

que lhe é inerente, mas, acima de tudo, o caráter particular da dupla exclusão em que se encontra preso e da violência à qual se encontra exposto.

18) A partir de von Jhering, entender ainda a vinculação da

sacratio no antigo direito romano, de modo a associar o sacer romano e o friedlos germânico, ambos condenados a viver em estado de proscrição

religiosa e civil, completamente excluídos da comunidade humana e sujeitos à vingança divina.

19) Pareceu-nos fundamental trazer a este esquema paradoxal de incluído/excluído a noção de sacrifício como um aprofundamento dessa experiência paradoxal, em especial naquilo que representa a noção de um espaço sagrado e a sacralização do mundo, tanto na localização territorial quanto espiritual, fornecendo, assim, subsídio para a compreensão do vínculo ancestral entre violência, sacrifício e direito. Isto abre um campo fecundo de indagação sobre o mito fundador da soberania, que refaz inteiramente a interpretação hegemônica, na filosofia política e do direito, do clássico mitologema hobbesiano do contrato originário.

20) na dimensão desta crítica, de forma parelha ao todo desenvolvido, a partir de Nietzsche, identificar na relação entre a (pré)história da memória e a gênese da sociedade primitiva a aparência consequente do Estado e como essa relação não pode ser conduzida de acordo com a

suposição do modelo contratualista, pacificador, fundado na racionalidade de um pacto originário.

21) Por fim, concluímos que pela crítica à formação do Estado, da mesma forma, na projeção do Estado Moderno nós somos também atingidos, de forma determinante por relações de dominação e poder. Talvez, até mesmo com uma profundidade como nunca antes na história, pois nos tempos atuais, em especial no período pós segunda guerra mundial, a questão do biopoder e das formas do exercício da soberania são avassaladoras para as condições da vida. As possibilidades modernas de se exercer o biopoder ou a soberania remetem a noções de violência cuja base fundadora é confusa. A própria vida, a contingência e os perigos parecem funcionais aos interesses imperiais que permitem o desdobramento de toda a força coercitiva do Estado.

22) Para explorar a realidade mencionada no ponto anterior, o apátrida foi utilizado como a figura prototípica - juntamente com os demais que na condição como a dele se encontravam, como as minorias étnicas - do abandonado, do sintagma paradoxal incluído/excluído na modernidade, situação comprovada, pois a própria condição de criminoso era melhor que a de um apátrida, pois nesta condição é que se tornava possível a recuperação de certa igualdade humana.

23) Objetivamos entender que, além da configuração dos apátridas, há uma figura ainda mais complexa e avassaladora que é a do

Muselman, pela qual a dimensão da politização da vida é tão profunda que

uma das teses principais em que aposta é exatamente a de que campo de concentração é o paradigma político do Ocidente, e que o movimento interno/externo de suas práticas evidencia que, na medida em que seus habitantes foram despojados de todo o estatuto político e reduzidos integralmente à vida nua, o campo é também - em termos paradigmáticos - o mais absoluto espaço biopolítico que jamais tenha sido realizado, pois nele o poder não tem diante de si senão a pura vida sem qualquer mediação.

24) A partir de toda a exposição desenvolvida, tentamos retratar, por meio de um condão antropológico, a trajetória da civilização moderna a partir de relações de dominação e poder e como nos meandros da vida humana, esse desenvolvimento não demonstra um evolução, mas, sobretudo, a catástrofe da banalização geral da vida humana, na qual o direito, a política e a violência aparecem indissociáveis e com a necessidade latente de que se revisite suas formas e condições.

25) Especificamente quanto ao direito, foi intuito aproveitar a discussão para na relação entre soberania e nação premir uma crítica aos direitos humanos no ambiente da biopolítica.