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CONSIDERAÇÕES FINAIS DO CAPÍTULO

No documento davivieiramedeiros (páginas 44-47)

De modo geral, a arbitrariedade e a iconicidade vêm sendo discutidas por pesquisadores nos estudos linguísticos envolvendo as línguas de sinais, e ambas as noções são relevantes para as discussões que, por um lado, retomam, e, por outro lado, reforçam, o status linguístico dessas línguas.

Um caminho que tem sido tomado nessas discussões é o que faz uma problematização de ambas as noções e, por conseguinte, de suas implicações ao status linguístico das línguas de sinais (por exemplo, Taub (2001) e Frydrych (2012)). Seguindo esse caminho, poderíamos entender a arbitrariedade como um princípio aplicável a todos os signos linguísticos, seja de línguas de modalidade gesto-visual, seja de línguas de modalidade vocal-auditiva, quer tenham algum tipo de motivação em seu significante, quer não. E, inclusive, como aponta Frydrych (2012), entender a arbitrariedade enquanto um princípio caracterizador dos sistemas linguísticos, e suas implicações nos estudos linguísticos envolvendo línguas de sinais, bem como considerar a modalidade gesto-visual dessas línguas, abre portas para que outros princípios sejam estabelecidos.

8 Um exemplo clássico de sinal em Libras incompatível com os critérios apresentados por

Goldin-Meadow e Brentari (2015) é o sinal referente à casa (veja a Figura 2 na Introdução desta dissertação).

9 Os autores explicam que, por exemplo, em Língua de Sinais Italiana uma sentença

equivalente a “este copo de vinho está cheio, mas você ainda pode derramar um pouco mais” não seria gramatical, já que o sinal referente a cheio representa, iconicamente, a ideia de que o copo está cheio até o máximo. Vale mencionar que o mesmo ocorreria em Libras.

Outro caminho que também tem sido tomado nas teorizações e nas discussões sobre a arbitrariedade e a iconicidade nas línguas de sinais é o que faz menção à Linguística Cognitiva, como podemos ver em Sherman Wilcox (2004), em que o autor apresenta uma visão cognitivista para definir a iconicidade (iconicidade cognitiva).

Ainda, talvez, outro caminho que possa ser tomado nas teorizações acerca da arbitrariedade e da iconicidade nos estudos linguísticos envolvendo línguas de sinais, seja um caminho traçado por um viés psicolinguístico. Haveria alguma diferença significativa, no que diz respeito ao custo de processamento de sinais icônicos e de sinais não icônicos, que conduzisse os falantes dessas línguas à preferência daqueles, em comparação a estes? Em outras palavras, seriam os sinais icônicos processados com menor custo, se comparado aos sinais não icônicos, considerando que, frequentemente, surdos e ouvintes falantes de línguas de sinais tendem, de certa forma, a considerar sinais tipicamente vistos como não icônicos como sinais “escuros” e sinais tipicamente vistos como icônicos como sinais “mais claros” e “mais de acordo” com as línguas sinalizadas?

De todo modo, apresentamos questões no capítulo 1 desta dissertação, para as quais buscamos respostas. E, vale destacar, pensamos em algumas hipóteses que, de certa forma, as responderiam (ou pelo menos a algumas delas).

Em primeiro lugar, também acreditamos que a arbitrariedade e a iconicidade não se opõem uma a outra (em outras palavras, elas não são noções contrárias), e o motivo é o seguinte: a arbitrariedade constitui um princípio linguístico (princípio interno e sistêmico do signo) essencial para a constituição de qualquer língua, independentemente da modalidade de realização linguística a ser considerada; já a iconicidade não se trata de um princípio linguístico, mas, sim, de um aspecto formal de determinadas línguas (e vimos aqui que as línguas de sinais se destacam, nesse sentido).

Em segundo lugar, não acreditamos que motivação e imotivação sejam conceitos sinônimos de icônico e de arbitrário, mas, sim, que sejam conceitos relacionados. E o motivo é o seguinte: nem todo sinal motivado é icônico. O fato de um sinal apresentar algum tipo de motivação não significa que ela conferirá iconicidade a ele, em sua realização, ou, dito de outro modo, de que haverá uma relação estabelecida, a partir de representações visuais mentais, entre significante e significado. Podemos tomar como exemplo as inicializações: quando consideramos o sinal correspondente à flor, em Libras, concordamos que o fato de o sinal ser feito

com a configuração de mão (CM) referente à letra ‘F’ está relacionado ao fato de a palavra se iniciar com essa letra, porém, essa CM específica não apresenta relação, por exemplo, com o(s) significado(s) evocado(s) por esse significante. Ainda que o significante seja motivado, isso não torna o seu signo icônico.

Em terceiro lugar, acreditamos que, sim, um mesmo sinal pode apresentar mais de uma motivação, inclusive, de diferentes tipos. Não obstante, pensamos não ser tão simples afirmar que um sinal com mais de uma motivação (sendo elas do mesmo tipo ou não) seja mais icônico que um sinal com apenas uma motivação, haja vista, por exemplo, (i) a natureza dessas motivações, (ii) o fato de algumas motivações não serem, necessariamente icônicas, (iii) de esse sinal ser articulado por uma ou pelas duas mãos, e (iv) de ele poder apresentar em sua morfologia mais de um sinal.

Consideramos, assim, neste trabalho, que todo sinal, apresentando algum tipo de motivação ou não, é arbitrário. No entanto, nem todo sinal é icônico. Portanto, pretendemos discutir e analisar as possíveis naturezas dessas motivações, na Libras, bem como refletir sobre a possibilidade de algumas delas serem mais icônicas que outras, de modo a pensar em certa gradação de iconicidade. Portanto, acreditamos ser incoerente afirmar que a maioria dos sinais da Libras não possui algum tipo de motivação, como fazem Strobel e Fernandes (1998).

3 CLS NAS LÍNGUAS NATURAIS

Apresentamos, no capítulo 1 desta dissertação, a proposta de divisão do léxico na ASL e na Libras, de Brentari e Padden (2001) e de Quadros e Karnopp (2004), respectivamente. A partir dessas propostas, vimos que os CLs compõem o léxico nativo das línguas sinalizadas. Citamos os CLs, também, ao apontar a divisão da iconicidade na LSF apresentada por Cuxac e Sallandre (2007), no caso, (i) estruturas altamente icônicas, (ii) iconicidade degenerativa de sinais congelados, e (iii) iconicidade diagramática, uma vez que os autores os relacionam a (i) e a (ii). Retomamos, aqui, pois, as Figuras 1, 2 e 310, apresentadas no capítulo 1 do presente

texto, todas elas formadas a partir do uso de CLs, cujos tipos serão mais detalhados nas subseções deste capítulo. Observamos, assim, a importância, bem como o caráter imagético, desses elementos nas línguas de sinais.

Os CLs estão presentes em algumas línguas orais, como o mandarim, o japonês, o vietnamita e o yidiny, como detalharemos a seguir (VELOSO, 2008; RODERO-TAKAHIRA, 2015). No entanto, eles são bastante comuns nas línguas de sinais, fazendo parte, inclusive, do léxico nativo dessas línguas (BRENTARI; PADDEN, 2001; QUADROS; KARNOPP, 2004). O objetivo deste capítulo é apresentar algumas definições presentes na literatura, envolvendo esses elementos linguísticos, a fim de mostrar a complexidade, bem como a produtividade que eles apresentam, principalmente nas línguas de sinais.

No documento davivieiramedeiros (páginas 44-47)