• Nenhum resultado encontrado

OS CLS NAS LÍNGUAS ORAIS

No documento davivieiramedeiros (páginas 47-52)

Aikhenvald (2000) propõe uma classificação para os CLs nas línguas orais da seguinte forma: (i) CLs de nomes; (ii) CLs de número; (iii) CLs relacionais; (iv) CLs de possessivos; (v) CLs de verbos; (vi) CLs de locativos; e (vii) CLs de dêiticos11.

(i) Os CLs de nomes são CLs que categorizam o nome ao qual eles estão associados, o fazendo em relação à sua função, à sua natureza, às suas propriedades físicas, ou, ainda, à sua importância social. De acordo com Aikhenvald (2000), esses CLs não possuem nenhum tipo de dependência a outros elementos presentes no

10 As Figuras 1, 2 e 3 podem ser vistas na Introdução desta dissertação.

11 Para ver uma discussão mais aprofundada dos CLs nas línguas orais em comparação aos

sintagma nominal. Dixon (1982) apud Veloso (2008) apresenta um exemplo desse tipo de CL na língua yidiny, como pode ser visto em (1).

(1) Yidiny (DIXON, 1982 apud AIKHENVALD, 2000, p. 1) bama waguja

CL:person man ‘um homem’

(ii) Os CLs de números são CLs que se juntam a numerais e/ou a quantificadores e que ocorrem em contexto de quantificação. Conforme Aikhenvald (2000), de modo geral, esses CLs categorizam nomes em relação à animacidade, à forma e a demais propriedades inerentes.

Como aponta Yip (2008), os CLs de números são muito comuns no mandarim e no vietnamita. No mandarim, por exemplo, eles são divididos em: (ii.i) CLs de tipo e (ii.ii) CLs de medida, os primeiros, CLs que especificam os seus referentes, no que diz respeito ao tipo de entidade, e os segundos, CLs que especificam os seus referentes, no que diz respeito à quantidade. Ainda, sobre esses CLs, eles também podem ocorrer com demonstrativos e, em alguns casos, com adjetivos12. Exemplos

desses CLs podem ser vistos em (2a) e em (2b), bem como em (3).

(2) Mandarim (LYONS, 1977 apud YIP, 2008, p. 285) a. yi tiao xiangjiao

one CL banana ‘uma banana’

b. yi tong shui one CL water ‘um balde de água’

12 Ocasionalmente, os CLs de números formam constituintes com nomes, ao invés de assim

o fazerem com numerais. Outras vezes, esses CLs também podem ocorrer associados a modificadores dentro de construções com numerais. Por exemplo, o primeiro caso acontece em kana, uma língua da família kegboid falada na Nigéria; o segundo ocorre em Nauru (ou língua nauruana), uma língua austronésia falada na República de Nauru, na Oceania (AIKHENVALD, 2000).

(3) Japonês (HASADA 1995 apud VELOSO, 2008, p. 16) kyuuri hachi-hon

cucumber eight-CL:elongated ‘oito pepinos’

Ainda de acordo com Aikhenvald (2000), (iii) os CLs relacionais correspondem a CLs que categorizam o(s) modo(s) pelo(s) qual(is) um nome possuído se relaciona com o seu possuidor. Lichtenberk (1983 apud AIKHENVALD, 2000) traz um exemplo desse tipo de CL na língua fijian, como pode ser visto em (4).

(4) Fijian (LICHTENBERK, 1983 apud AIKHENVALD, 2000, p. 3)

na me-qu yaqona

ART CL:drinkable-my kava

‘a minha kava’ (que eu pretendo beber)

(iv) Os CLs de possessivos correspondem a um tipo de morfema especial, conforme Aikhenvald (2000), que, em uma construção possessiva, pode caracterizar um nome possuído. Como explica a autora, esses CLs, como em (5), no exemplo abaixo, não se confundem com os CLs relacionais, como em (4), no exemplo acima. Enquanto estes categorizam o tipo de relação possessiva, aqueles categorizam o nome possuído. Além disso, segundo a autora, CLs relacionais, além de não serem utilizados em línguas com múltiplos CLs, são utilizados apenas com posse alienável, como em (4); já os CLs de possessivos, podem ser utilizados em línguas com múltiplos CLs, além de poderem ser utilizados independentemente do tipo de posse, como em (5).

(5) Tariana (AIKHENVALD, 2000, p. 2) tʃinu nu-i-te

dog 1SG-CL:animate ‘meu cachorro’

(v) Os CLs de verbos são CLs que categorizam o referente de um argumento nominal, em relação à sua forma, ao seu tamanho ou, ainda, à sua posição. Esses

CLs, no entanto, aparecem afixados ou incorporados a verbos, como pode ser visto em (6).

(6) Waris (BROWN, 1981, p. 96)

as ka-m put-ra-ho-o

coconut I-DAT CL:round-get-benefact-imperative ‘dê-me o coco’

(vi) Os CLs de locativos correspondem a CLs que são associados a adposições locativas. Um exemplo desse tipo de CL pode ser visto em (7).

(7) Palikur (AIKHENVALD, 2000, p. 3) pi-wan min

2SG-arm on + vert ‘no seu braço’

Por fim, (vii) os CLs de dêiticos são CLs que se associam a dêiticos, bem como a artigos, em sintagmas que contêm determinantes. Exemplos desses CLs podem ser vistos em (8).

(8) Mandan (BARRON; SERZISKO, 1982 apud VELOSO, 2008, p. 18)

dɛ-màk dɛ-nak

this-CL:lying this-CL:sitting ‘este’ (em pé) ‘este’ (sentado)

Conforme aponta Veloso (2008), os CLs de verbos (conforme visto em (v)) foram considerados, por muito tempo, os CLs que mais se aproximavam das construções presentes em línguas de sinais. Seria interessante, pois, vermos alguns detalhes sobre a categorização realizada através desses tipos de CLs. Eles, conforme visto acima, em (6), categorizam o referente de seus argumentos, por exemplo, por sua forma, por seu tamanho, por sua estrutura, por sua posição, ou, ainda, por sua animacidade, podendo co-ocorrer com os argumentos verbais. Na realidade, esses CLs, em muitas línguas, são opcionais, sendo determinados pela função discursiva

de um nome e são utilizados em narrativas, com o objetivo de estabelecer a referência de determinado nome (AIKHENVALD, 2000).

Aikhenvald (2000) apresenta três processos pelos quais os CLs de verbos podem ser realizados, a saber: (i) processo de incorporação nominal; (ii) processo de afixação; e (iii) processo de seleção de raízes.

No processo de incorporação nominal, um nome é incorporado a um verbo para que um argumento interno desse verbo seja caracterizado, o que pode ser visto em (9a) e em (9b).

(9) Mayali (EVANS, 1996 apud AIKHENVALD (2000), p. 150)

a. ga-rrulk-di an-dubang

3SG-GEN.CL:tree-stand(NP) CLIII-ironwood.tree ‘uma árvore de pau-ferro está ali’

b. ga-yaw-garrm-e al-daluk

3SG-GEN.CL:baby-have-NP CLII-woman ‘ela tem uma menina’

No processo de afixação, os CLs se juntam a verbos, na forma de prefixos, de infixos ou de sufixos. Exemplos de CLs de verbos que ilustram esse tipo de processo podem ser vistos em (10) e em (11).

(10) Imonda (SEILER, 1985 apud AIKHENVALD (2000), p. 152)

sa ka-m põt-ai-h-u

coconut 1SG-goal CL:fruit-give-recipient-imperative ‘dê-me o coco’

(11) Terêna (EKDAHL; BUTLER, 1979 apud AIKHENVALD (2000, p. 152) oye-pu’i-co-ti

cook-CL:round-theme-progr

Finalmente, no processo de seleção de raízes, as propriedades do referente de um argumento verbal, seja ele interno, seja ele externo, condicionam a seleção de uma raiz, como pode ser visto em (12).

(12) Qiang (LAPOLLA, 2003 apud AIKHENVALD (2000, p. 155)

table-top-LOC:on book-one-CL exist:INANIM ‘há um livro em cima da mesa’

Os exemplos apresentados acima vão ao encontro do que afirma Allan (1977), que define os CLs, nas línguas orais, como sendo morfemas afixados a itens lexicais, os quais apresentam características semânticas da entidade à qual esses itens lexicais fazem referência.

No documento davivieiramedeiros (páginas 47-52)