• Nenhum resultado encontrado

5 Considerações finais

No documento Download/Open (páginas 154-165)

O presente capítulo procurou ser uma valorização e, ao mesmo tempo, um estudo dos grandes temas que têm marcado o acirrado debate em torno da redação final do livro de Amós.

Neste estudo, a questão da relação entre profecia e sabedoria abriu o debate. Gunther H. Wittenberg rejeitou a concepção de Robert B. Coote, segundo a qual Amós B refletiria os interesses da elite dirigente em Jerusalém. Também, ao atribuir a influência sapiencial ao “povo da terra”, o autor refutou a idéia de Robert B. Coote de que a sabedoria teria sido uma prerrogativa dos funcionários e administradores reais.

No que se refere ao debate sobre o processo redacional do livro de Amós, há de se ressaltar, antes de tudo, que Jörg Jeremias considerou de importância central, para a compreensão também das palavras isoladas dos profetas, o conhecimento das regras do discurso oral, reconhecendo, nesse âmbito, a decisiva contribuição de Hermann Gunkel. Para Jörg Jeremias, o livro de Amós, em todas as suas partes, já pressupõe a queda do Reino do Norte e, em passagens importantes, também aquela do Reino do Sul, Judá. Mas ponderou que qualquer tentativa para se chegar às camadas mais antigas do livro, para não se falar das próprias palavras atuais de Amós, é, uma tarefa que conta com um variável grau de incerteza. Contudo, A. Strawn mostrou algumas incoerências nas afirmações de Jörg Jeremias sobre o

processo redacional de Amós. Contudo, há um consenso de que materiais sociais sejam as palavras verdadeiras de Amós. Bruce E. Willoughby defendeu que existem três estágios no desenvolvimento do livro de Amós: as palavras originais de Amós incluindo os ditos, as narrativas em 1ª pessoa; a obra dos discípulos; uma edição tardia que colocou como apêndice o oráculo de esperança para concluir o livro. Segundo Hans Walter Wolff, para quem a atual apresentação do livro dificilmente estaria pronta antes do pós-exílio, teria havido uma longa história do crescimento literário do livro de Amós. Isso explicaria, como já foi exposto, uma série de fenômenos literários do livro.

No que se refere ao papel da profecia na história deuteronomística, Gunther H. Wittenberg contribuiu para ajudar na solução de um dos enigmas do Primeiro Testamento: a razão do silêncio sobre os profetas na história deuteronomística. Considerando a observação de Gerhard von Rad de que o corpus deuteronomisticus não apresenta, diretamente, nenhuma profecia contra os reis tardios, o autor perguntou, inteligentemente, por qual motivo os deuteronomistas não preencheram essa lacuna com oráculos de Amós e de Oséias. Refutando a solução proposta por Martin Noth e considerando não convincentes as explicações de Frank Crüsemann e de Klaus Koch, o autor se propôs indagar por uma situação pré-exílica da DtrH. Dado que a visão da história deuteronomística, proposta por alguns autores, como propaganda imperial, pareça suscitar mais perguntas do que respostas, o autor se propôs pesquisar o background da história do movimento deuteronomístico que teria levado à reforma de Josias. Seu ponto de partida foram os estudos de Bernhard Lang sobre a origem e o desenvolvimento do monoteísmo judaico, “somente Javé”, ressaltando-se aí a influência do livro de Oséias na segunda e na terceira etapas do movimento. Entretanto, o autor viu defeito no tratamento que Bernhard Lang fez do movimento ‘somente Javé’, considerando-o somente um movimento religioso. Estudando os grupos que estariam por detrás da reforma josiânica e lembrando que Gerhard von Rad havia defendido que a origem do Deuteronômio se encontrava entre a população livre do campo, o autor pergunta: por que a história deuteronomística, em estreita conexão com o

#ra ~[

, desaprovou Amós e Oséias, omitindo-os em sua história? Segundo o autor, um determinado setor do

#ra ~[

teria não só tirado vantagem do desenvolvimento social, mas também contribuído para a exploração dos concidadãos judaítas mais pobres. Diante de uma situação de

otimismo nacionalista, sobretudo na última parte do reinado de Josias, quando já estaria presumivelmente escrita a primeira edição da história deuteronomística, somado ao declínio do poder assírio e à restauração da antiga milícia do “povo da terra”, a mensagem radical de Amós não poderia mais ser tolerada. Esta seria a razão pela qual Amós teria sido excluído da história deuteronomística.

Algumas questões preliminares abriram o caminho para o debate em torno da redação dos oráculos contra as nações estrangeiras, contra Judá e Israel. Arvid S. Kapelrud, além de ter adotado a interpretação de Aage Bentzen, relativa às execrações das nações estrangeiras, ressaltou também o universalismo de Javé, em Amós, cuja origem se localizaria na influência que o profeta teria sofrido da religião cananéia do deus supremo El (‘Elyon). No que diz respeito à seqüência numérica, em Am 1-2, Meir Weiss, mesmo reconhecendo uso do modelo, lembrou que os estudiosos não entendem, de modo unívoco, o significado destes números em Amós. Mas segundo Hartmut N. Rösel, a maioria das explicações parece sugerir a totalidade dos crimes. Quanto à redação do título (cf.1,1), segundo Hans Walter Wolff, partes dele pertenceriam à antiga escola de Amós, partes pertenceriam à redação deuteronomística. Considerando o caráter mais desordenado e solto dos oráculos de mensageiro em Am 3-6, o autor viu a possibilidade de 1,3—2,16 e 7-9 corresponderem a um estágio mais tardio do processo redacional do livro. Também Hartmut N. Rösel e outros autores suspeitaram que o título não fosse peça única. Não menos discutível tem sido a questão do motto em Amós 1,2, examinado, neste trabalho, no contexto dos fragmentos hínicos, e colocados por Hans Walter Wolff em conexão com uma camada da interpretação de Betel datada por ele no tempo de Josias. Nesse sentido, o motto, em 1,2, provavelmente, teria sido empregado em retrospectiva pelos transmissores do livro, os quais teriam lançado mão desta tradição teofânica, para servir de abertura à leitura litúrgica da tradição de Amós. Por sua vez, Georg Fohrer entendeu os fragmentos hínicos como conclusões de coleções parciais. Mas Klaus Koch postulou a necessidade de se seguir alguns passos, como ver as conexões para as quais os fragmentos hínicos foram pensados, considerar seu papel, e, depois, analisar a ligação dos mesmos com o contexto. Em sua opinião, os fragmentos hínicos, tendo sido retomados da tradição dos Salmos, teriam uma função estrutural no contexto literário do livro de Amós. Para Otto Eissfeldt, poderia ter existido o desejo de realçar as ameaças precedentes por meio de um hino a Javé ou

até mesmo para substituí-las. Segundo James Luther Mays, os fragmentos hínicos teriam sido acrescentados para se adaptar o livro de Amós ao uso litúrgico. Autores como Robert Martin-Achard, Cullen I. K. Story deram sua contribuição a respeito. Para o primeiro, as fórmulas hínicas teriam sido inserida para enfatizar a magnitude temível do Deus que Israel deveria enfrentar. O segundo pesquisou as conexões internas entre hino e contexto e interpretou cada hino a partir dessas conexões. Na opinião de Milton Schwantes, o acréscimo de 1,2 teria sido feito pelos judeus, que teriam visto “o talhador de sicômoros de Técua” como um ferrenho opositor do templo. Em uma etapa redacional pós-exílica, os fragmentos hínicos teriam sido inseridos no livro de Amós, expressando a reação da comunidade à leitura do livro.

No que diz respeito às mudanças de consenso sobre o processo redacional de Am 1,3—2,16, um consenso mais antigo, associado a Hans Walter Wolff, Werner H. Schmidt, James Luther Mays, considerava os oráculos contra os povos como uma combinação de oráculos autênticos com material secundário (Tiro, Edom e Judá). Robert B. Coote considerou, como exílicos, estes últimos três oráculos. Mas, com John Priest e Shalom M. Paul, o consenso começou a mudar, defendendo-se a unidade e a autenticidade de todos os oráculos contra os povos. Em tempos recentes, apenas Volkmar Fritz rejeita a autenticidade dos oráculos contra Tiro e Edom. Entretanto, segundo Shalom M. Paul, os oráculos de Amós contra os povos seguem um modelo seqüencial, concatenado, resultado de unidades originalmente independentes, unidas por Amós ou por um editor tardio, ou resultado de uma única composição literária. Hartmut N. Rösel apresentou este modelo literário de concatenação nas estrofes dos oráculos contra os povos. Este autor afirmou que as seis profecias contra os povos (exceto os oráculos contra Judá e Israel) constituem uma unidade, da qual nenhum membro pode ser retirado. Contudo, John T. Strong refutou a apresentação de Shalom M. Paul, argumentando que as mencionadas concatenações não seriam assim tão fortes. Além disso, ele afirma que uma variação na forma não poderia indicar uma redação secundária. Mesmo a linguagem e a ideologia deuteronomísticas, na forma dos três oráculos, não seriam um argumento totalmente convincente. De modo radical, porém, considerando a forma, Volkmar Fritz observou que os oráculos contra os povos seriam uma composição, que, estruturalmente, não teria nenhum suporte nas palavras genuínas de Amós, se bem que diversos elementos teriam sido retomados delas. De outro lado, Gerhard Pfeifer

reitera que, dificilmente, se poderia retirar do monumental poema das nações a estrofe de Israel, ainda que, na verdade, na indicação da culpa e no anúncio de juízo esta estrofe poderia ter sido ampliada. O debate foi enriquecido com a contribuição de Werner H. Schmidt, que defendeu a presença deuteronomística nos oráculos contra as nações estrangeiras, contra Judá e Israel. No contexto da exegese elaborada a partir da realidade latino-americana, Haroldo Reimer comentou sobre a abrangência do quadro redacional, referente aos oráculos contra os povos, e perguntou quais os fragmentos textuais que deveriam ser considerados como acréscimos secundários para uma fixação básica. O autor admitiu, na pesquisa, não só o notório corte de 1,9-10.11-12; 2,4-5.10-12, mas também que o bloco textual das estrofes dos povos abrangeria 1,3--2,16 e que a estrofe de Israel deveria ser vista como parte constitutiva deste bloco textual. Em seu estimulante ensaio sobre Profecia e Organização, Milton Schwantes tratou de movimentos sociais em livros proféticos. Seus enfoques metodológicos a partir de 2,6-16 foram iluminadores para esta pesquisa. O autor, identificando as vítimas do sistema tributário, está convicto de que a denúncia profética esteja estreitamente ligada ao movimento organizado do campo. Em relação aos oráculos contra os povos, ele considerou Am 2,6-16 como ponto culminante desta unidade. Chamou tais coleções de panfletos proféticos, cujo fenômeno precisaria, segundo ele, ser estudado com mais afinco.

Quanto ao debate em torno das camadas redacionais em Am 3-6, Otto Eissfeldt reconheceu, nesta grande unidade literária, uma coleção de aproximadamente vinte e cinco ditos individuais, em sua maioria, formados de ameaças com ou sem motivo. Significativa foi a contribuição de Werner H. Schmidt, que, apoiando-se em aspectos do conteúdo, da linguagem e de considerações históricas, identificou, neste bloco literário das “palavras de Amós de Técua”, Am 3,1; 3,7 e 5,25-26 como textos deuteronomísticos. Também, segundo James Luther Mays, o livro de Amós é o resultado de um longo processo redacional. O autor classificou o material em três grupos: os ditos pronunciados pelo profeta, no cumprimento de seu encargo; as narrativas em primeira pessoa, feitas pelo profeta; a narrativa em terceira pessoa a respeito do profeta. O autor apontou como âmbitos da vida pública, denunciados por Amós, a administração da justiça nos tribunais (cf. 5,7.10.15; 6,12), a vida autoconfiante das classes abastadas (cf. 3,15; 5,11; 6,1.4- 6.13) e a adoração de Deus nos santuários (cf. 4,5; 5,1-23). Mesmo admitindo a

existência de algumas adições às próprias palavras do profeta, durante o processo de formação e utilização do livro, James Luther Mays admitiu que a maior parte dos ditos e os cinco relatos autobiográficos se encaixam, sem dificuldade, no contexto da atividade do profeta, em Israel no século VIII. Ainda que suas conclusões tenham recebido críticas, a contribuição de Hans Walter Wolff para o estudo das camadas redacionais, em Amós 3—6, é reconhecida por todos. Segundo o autor, a redação também de Am 3-6 teria passado por quatro etapas. À antiga escola de Amós, que teria atuado em Judá, pertenceriam 5,13.14-15; 6,2.6b; 6,10; alguns elementos de 5,5 e, eventualmente, 5,25-26. À interpretação de Betel, do tempo de Josias, pertenceriam as passagens consideradas deuteronomísticas em Am 3,14bα; 4,13; 5,5bβ; 5,8-9. A terceira etapa refere-se à redação deuteronomística, ocorrida na Palestina, no período exílico, à qual pertenceriam Am 3,1b; 3,7; 6,1aα; 6,1bβ. Do período pós-exílico, pertenceriam à quarta etapa, chamada de re-leitura da escatologia da salvação, as passagens em 5,11b; 5,22aα; 6,5. Todas as passagens que fazem parte da perícope 6,1-14, citadas neste processo redacional, deverão ser examinadas, com mais atenção no cap.3. Ainda em relação a Am 3-6, Jörg Jeremias apresentou algumas observações que, indubitavelmente, ajudarão muito na compreensão da perícope em 6,1-14. De acordo com sua hipótese, as doxologias e a redação deuteronomística seriam partes componentes de uma edição comum exílica do livro de Amós. No entanto, se distinguiriam desta edição exílica a edição final pós-exílica, responsável por 9,7-15, e a coleção mais antiga das “Palavras de Amós” (1,1) por meio dos discípulos do profeta. Julgo pertinente sua observação de que 4,6- 12 seja uma liturgia penitencial, mais recente, com a qual estaria relacionado o texto 4,4-5, que é uma crítica ao culto. A liturgia penitencial, em 4,6-12, não é, portanto, um início, mas uma oposição a 4,5b. O autor considera também improvável que 4,4- 5 seja uma continuação de 4,1-3, uma vez que 3,9—4,3 é um oráculo destinado somente aos habitantes da Samaria. O autor acrescenta ainda que, em Am 5, teria havido um re-ordenamento das palavras de Amós até então disponíveis. Indício disso seria a estrutura concêntrica em 5,1-17. A seguir, algumas comparações do autor sobre a estrutura desigual dos três apelos à escuta, em 3,1; 4,1; 5,1, ajudam a compreender a seção Am 3-5. Jörg Jeremias sugere que 4,1 seja uma introdução apenas da pequena unidade em 4,1-3. Com isso, a comparação fica somente entre 3,1 e 5,1. Para tanto, o autor comparou o texto hebraico com o da Septuaginta, incluindo

6,1.14, texto que entra no campo de nosso interesse. Da comparação resultou que Am 3,1 introduz a palavra de Deus, e Am 5,1, a palavra do profeta. Logo, Am 3-4 deve vir obrigatoriamente antes de 5-6. O lamento fúnebre do profeta é resposta à palavra de desgraça de Deus. O autor observou, com Hans Walter Wolff, que em3,1.12 e 4,5 se usa o conceito “israelita” (povo de Deus); já em 5,1.3.4.25; 6,1.14 se usa “casa de Israel” (Estado do Reino do Norte). Para Jörg Jeremias, 3,1-8, em geral, é o título para o bloco 3-4. Am 3,1a anuncia a Palavra de Deus, mas o v.2 é seu resumo temático. A passagem 3,3-8 legitima o profeta como proclamador desta Palavra, antes que ela seja atestada com as palavras isoladas de Amós em 3,9-15. Se, por um lado, a forma retórica de 3,3-8 pode remontar à pregação oral de Amós, por outro, tal anúncio oral não pode mais ser reconstituído. Assim, a perícope 3,3-8 não deve ser lida mais isoladamente, mas como uma palavra, indissoluvelmente, relacionada com o anúncio da visita (

dqP

) de Javé (cf. 3,2) e com a execução da mesma em 3,9-15. É neste contexto que fica definida a função do profeta. Portanto, as unidades contra a Samaria, em 3,9—4,3, refletiriam, muito provavelmente, o discurso oral direto do profeta; isso valeria, pelo menos, para 3,9-11 e 4,1-3. São discursos contra a elite dirigente, dona de palácios (cf. 3,11), que festeja sobre divãs luxuosos (cf. 3,12.15) e no prazer do vinho (cf. 4,1). No âmbito de Am 5-6, Jörg Jeremias observou que os textos 5,18-27 e 6,1-14 são estruturados de modo análogo. Ao grito “ai”, em sentido estrito (cf. 5,18-20; 6,1-7) segue-se, no discurso divino, a fundamentação objetiva com a nomeação daquilo a que Javé se opõe (“eu odeio...” 5,21-24; 6,8-11), para desembocar numa questão didática, que se situa fora da compreensão dos leitores (cf. 5,25; 6,12). Em 5,27 e 6,14, o próprio Javé descreve a execução da sentença de morte. Nesse sentido, as considerações de Jörg Jeremias readquirem enorme relevância para o estudo das unidades de sentido em Am 6,1-14, agora vistas num contexto mais amplo. Milton Schwantes, partindo da possibilidade da existência do fenômeno de autoria coletiva em alguns oráculos, realçou a importância especial de Am 3,8 à luz de seu contexto literário. Segundo ele, provavelmente, um antigo panfleto estaria por detrás da unidade 3,3—4,3, formado por cinco ditos proféticos: 3,3-8; 3,9-11; 3,12; 3,13-15; 4,1-3. A base para o conteúdo deste suposto panfleto é o texto 3,3-8, com seu ponto alto no v.8: “Um leão rugiu: quem não temerá? O Senhor Iahweh falou: quem não profetizará?” Defendendo a autenticidade de 3,9-11, Milton Schwantes mostrou a relevância desta perícope para o ciclo anti-Samaria,

considerando 3,9-10 como uma primeira denúncia, e o v.11 como uma ameaça, introduzida pela fórmula “Por isso assim falou o Senhor Iahweh”. A hipótese de Milton Schwantes é a de que, quando se formulou o suposto panfleto (cf. 3,3—4,3), teriam sido redigidos os v. 9-11, para servirem de denúncia e ameaça à Capital. Admitindo a idéia de uma autoria coletiva para o livro, o autor viu 3,9-11 como formulações dos contemporâneos do profeta, as quais teriam sido compartilhadas por ele. Tal análise do autor instiga a buscar, nas entrelinhas de Am 6,1-14, não só a fala do profeta, mas também as vozes do povo oprimido durante a prosperidade do reinado de Jeroboão II.

Quanto ao debate em torno das camadas redacionais de Amós 7-9, Arvid S. Kapelrud foi propenso à negação da autenticidade das promessas em Am 9,11-12.13- 15. Ressalvou, porém, que elas poderiam ter feito parte da esperança de Amós para o futuro, caso ele tivesse alguma. Otto Eissfeldt reconheceu a impossibilidade de se explicar a atual posição de 8,4-14 no contexto literário de Am 7-9. Estranhou ainda, ali, a colocação da ameaça, em 9,7-10, visto que ela se encontre ligada à quinta visão (cf. 9,1-4) através da peça hínica em 9,5-6. Segundo o autor, o relato de visão, em 9,1-4, teria sido inserido no meio de uma coleção de palavras de Amós (cf. 8,4-14; 9,7-10). Tais palavras teriam a função de justificar a visão que ameaça com destruição total. Para explicar o motivo segundo o qual as visões, que seriam do começo da atividade do profeta, ocorrem no fim do livro e não no começo, o autor citou o exemplo do livro de Isaías. Se o autor não duvidou da autenticidade das visões, o mesmo não se pode dizer das seções finais do livro. Ao menos, 9,7-8b seriam autênticos, mas 9,11-15 não passariam de acréscimos. Para Werner H. Schmidt, tais re-elaborações e acréscimos teriam tido como situação original a proclamação oral do profeta, cuja atividade teria começado com um ciclo de visões (cf. 7,1-8; 8,1-2), que atinge seu ápice no final. Convêm ressaltar, em função dos estudos no cap.3, as considerações de James Luther Mays sobre a fórmula de juramento em 8,7; 4,2; 6,8. Segundo ele, o essencial da mensagem transmitida ao mensageiro era que havia chegado o fim para Israel (cf. 8,2). O conteúdo da mensagem teria determinado as formas do discurso. Nos oráculos de Amós, predominaria a forma de anúncio de juízo, composto de acusação e proclamação de punição (cf. 7,16-17; 8,4-7). Em alguns ditos, ocorreria apenas o segundo elemento, os oráculos de desgraça (cf. 8,9-10.11-12; 9,9-10). O autor lembrou que o conflito

entre o mensageiro e seu auditório seria evidenciado pelos ditos de disputa (9,7; 3,3- 8; 5,18-20). Nesse caso, os relatos de visão constituiriam, provavelmente, um desagravo à sua mensagem radical. De modo retórico, o profeta teria incluído, em seus ditos, citações que seriam de seus próprios ouvintes (cf. 7,16; 8,5-6.14; 9,10). Quando se tem em vista Am 6,1-14, a análise de James Luther Mays adquire, certamente, uma nova importância. Em seus estudos, Hartmut N. Rösel tratou de Am 8,4-7 em conexão com 2,6-7. Remontando ao próprio profeta, 8,5 seria o núcleo do trecho. De acordo com Rösel, o compositor teria construído uma moldura em torno de 8,5, tendo o v. 4 como introdução, apoiando-se em 3,1; 4,1; 5,1, e tomando, depois, 2,6-7 como moldura. O autor viu muito material secundário em Am 8-9, como as fórmulas de ligação (cf. 8,9.11.13; 9,11.13), consideradas impróprias de Amós. Até mesmo as primeiras quatro visões seriam uma ressonância tardia da experiência pessoal do profeta. Predominaria, em Am 9, material secundário. Por razões formais e de conteúdo, a quinta visão (cf. 9,1-4) não pertenceria ao conjunto das quatro primeiras visões, mas formaria uma unidade independente. Na linha de Hans Walter Wolff, o autor viu em 9,7-10 um sedimento de uma discussão mais tardia sobre a quinta visão. Observou ainda que a passagem repentina de uma

No documento Download/Open (páginas 154-165)