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(1) .

(2) UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS DA RELIGIÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO. DEBATE EM TORNO DA REDAÇÃO E COMPOSIÇÃO DO LIVRO DE AMÓS: PROPOSTAS FUNDAMENTAIS PARA A TEORIA DA CRIAÇÃO COLETIVA A PARTIR DE AMÓS 6,1-14. Por. ALZIR SALES COIMBRA. SÃO BERNARDO DO CAMPO DEZEMBRO DE 2007.

(3) UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS DA RELIGIÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO. DEBATE EM TORNO DA REDAÇÃO E COMPOSIÇÃO DO LIVRO DE AMÓS: PROPOSTAS FUNDAMENTAIS PARA A TEORIA DA CRIAÇÃO COLETIVA A PARTIR DE AMÓS 6,1-14. Por ALZIR SALES COIMBRA. Orientador: Prof. Dr. Milton Schwantes Tese de Doutorado apresentada em cumprimento às exigências do curso de Pós-Graduação em Ciências da Religião para obtenção do Grau de Doutor.. SÃO BERNARDO DO CAMPO DEZEMBRO DE 2007.

(4) FICHA CATALOGRÁFICA C665d Coimbra, Alzir Sales Debate em torno da redação e composição do livro de Amós : propostas fundamentais para a teoria da criação coletiva a partir de Amós 6,1-14, / Alzir Sales Coimbra.-- São Bernardo do Campo, 2007. 427fl. Tese (doutorado em Ciências da Religião) Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de Filosofia e Ciências da Religião Orientação de: Milton Schwantes 1.Bíblia – A.T. – Amós - Crítica e interpretação I. Título CDD 224.807.

(5) BANCA EXAMINADORA.

(6) AGRADECIMENTOS ESPECIAIS À minha querida e dedicada mãe, Terezinha Sales Coimbra, por todo o amor e por suas constantes orações, com alegrias e sofrimentos, à minha querida e inesquecível irmã, Ângela Maria Coimbra (in memoriam), e a meu sobrinho João Pedro de Coimbra Ribeiro pelo carinho, compreensão e cooperação, à família de Maria del Pilar Martinez Alfaro Okomura, por toda a amizade, acolhida fraterna em sua residência e pelo apoio em meus estudos em São Bernardo do Campo, às Dioceses da Campanha, de Guaxupé, e à Arquidiocese de Pouso Alegre, pela bolsa de estudo para o Doutorado em Ciências da Religião, aos Professores e às Professoras do Curso de Pós-Graduação em Ciências da Religião da Universidade Metodista de São Paulo, em especial ao Prof. Dr. Milton Schwantes, por suas orientações essenciais, incentivo à pesquisa e grande amizade, ao Prof. Dr. Renatus Porath, que, com sua serenidade e competência me auxiliou nos estudos num momento de preocupação, ao Prof. Dr. Tércio Machado Siqueira, pelas orientações e pela amizade fraterna, aos Professores Dr. Paulo Augusto de Souza Nogueira, Dr. Leonildo Silveira Campos, Dr. Antônio Carlos de Melo Magalhães, Dr. Dario Paulo Roberto pelos belos colóquios e pelas sábias orientações nos seminários, aos funcionários e às funcionárias da Universidade Metodista de São Paulo, a Sirlene Antoni, da Bibliografia Bíblica Latino-Americana, e às bibliotecárias da UMESP, à Faculdade Católica de Pouso Alegre, aos amigos Wendelin Backes e seus familiares de Sotzweiler-Tholey, em Saarland, à família de Nelson Batista Silveira, amigo e colaborador da aprazível cidade mineira de Careaçu -MG..

(7) Omnem meditandis Scripturis operam dedi, atque inter observantiam disciplinae regularis et quotidianam cantandi in ecclesia curam, semper aut discere, aut docere, aut scribere dulce habui. S. Beda.

(8) COIMBRA, Alzir Sales. Debate em torno da redação e composição do livro de Amós: Propostas fundamentais para a teoria da criação coletiva a partir de Amós 6,1-14, Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo, 2007. 427 f.. SINTESE. Debate em torno da redação e composição do livro de Amós: Propostas fundamentais para a teoria da criação coletiva a partir de Amós 6,1-14 Esta pesquisa se dedica ao debate em torno da redação e composição do livro de Amós, e pretende, primeiramente, apresentar e criticar algumas hipóteses sobre as camadas literárias, que poderiam pertencer ao próprio profeta, e os acréscimos tardios. Como primeiro passo para uma abordagem do problema redacional, este estudo examina algumas contribuições de especialistas estrangeiros e de estudiosos brasileiros, e tenta fazer um julgamento crítico de suas hipóteses sobre a redação do livro de Amós. A questão do processo redacional do livro de Amós tem sido, na verdade, objeto de uma animada discussão entre muitos estudiosos. Em segundo lugar, a leitura diacrônica é complementada com o estudo sincrônico do livro, isto é, com o debate em torno da estrutura não só da composição em Amós 6,1-14, mas também do livro todo. Em terceiro lugar, a partir da avaliação do resultado da pesquisa e com a utilização do método histórico-crítico, a composição em Amós 6,1-14 é analisada como uma unidade literária de sentido. Para tal análise são, indubitavelmente, relevantes algumas considerações prévias sobre o gênero literário da lamentação, a denúncia profética da injustiça social e a instituição do banquete do marzeah. Em seqüência, esta tese analisa o fenômeno literário dos panfletos proféticos e da organização social, que poderia estar por detrás de sua autoria. Por isso, e levando em conta o desafio de novas propostas metodológicas, esta pesquisa visa dar uma contribuição específica ao estudo de Amós. Ela se empenha em demonstrar que, em relação a Amós 6,1-14, o leitor está diante de uma criação coletiva. De fato, a mencionada composição é o resultado não só da pregação oral do próprio profeta, mas também, em razão de sua forma compósita, das vozes proféticas de pessoas oprimidas, que, impulsionadas pelo Espírito, confirmaram a denúncia severa de Amós e até a completaram com suas próprias experiências e sofrimentos. Finalmente, um despretensioso excursus examina o livro de Amós em um contexto literário mais amplo, para dar uma visão geral do debate em torno do processo redacional do Livro dos Doze Profetas, particularmente a partir de sua perspectiva escatológica mediante a categoria teológica do Dia do Senhor. Palavras-chave: Debate, Amós, redação, composição, panfletos, estrutura, denúncia, criação coletiva..

(9) COIMBRA, Alzir Sales. Debate entorno de la redacción y composición del libro de Amós: Propuestas fundamentales para la teoría de la elaboración colectiva a partir de Amós 6,1-14. São Bernardo do Campo: Universidade Metodista de São Paulo, outubro de 2007. 427 f.. RESUMEN. Debate entorno de la redacción y composición del libro de Amós: Propuestas fundamentales para la teoría de la elaboración colectiva a partir de Amós 6,1-14 Esta investigación se destina a debatir el entorno de la redacción y composición del libro de Amós, y pretende, en primer lugar, presentar y criticar algunas hipótesis sobre las camadas literarias, que podrían pertenecer al propio profeta, y las añadiduras tardías. Como primer paso para un abordaje del problema redaccional, esta investigación estudia algunas contribuciones de especialistas extranjeros y de estudiosos brasileños, e intenta hacer una critica de sus hipótesis sobre la redacción última del libro de Amós. Sin duda, la pregunta sobre el proceso de redacción del libro de Amós ha sido objeto de una acalorada discusión entre muchos estudiosos. En segundo lugar, la lectura diacrónica es complementada con el estudio sincrónico del libro, o sea, con el debate entorno de la estructura no solamente de la composición en Am 6,1-14, pero también en todo el libro. En tercer lugar, empezando por el valor del resultado de la investigación y con la utilización del método histórico-crítico, la composición en Am 6,1-14 es analizada como una unidad literaria de sentido. Para tal análisis, indudablemente, son importantes algunas consideraciones preliminares sobre el género literario de la lamentación, la denuncia profética de la injusticia social y la institución del banquete del marzeah. A continuación, esta tesis presenta el fenómeno literario de los panfletos proféticos y de la organización social, que podría estar detrás de su autoría. Por eso, y llevando en cuenta el desafio de nuevas propuestas metodológicas, esta investigación tiene por objetivo dar una contribuición específica sobre el estúdio de Amós. Ella se empeña en demostrar que en relación a Am 6,1-14, el lector está delante de una elaboración colectiva. Sin embargo, esta tesis pretende enseñar que la mencionada composición es el resultado no solo de la predicación oral del própio profeta, pero también, en razón de su forma compuesta, de las vozes proféticas de las personas oprimidas, que, movidas por el Espíritu, dieron fé a la denúncia severa de Amós y hasta la completaron con sus própias experiencias y sufrimientos. Finalizando, un excursus sin mucha pretensión analiza el libro de Amós en un contexto literario más amplio, para tener una idea general del debate entorno del procedimiento de redacción del Libro de los Doce Profetas, particularmente a partir de su perspectiva escatológica mediante la categoría teológica del Día del Señor. Palabras-clave: debate, Amós, redacción, composición, estructura, panfletos, acusación, elaboración colectiva..

(10) SALES COIMBRA, Alzir. Debate about the writing and the composition of Amos’ Book: Basic proposals for the theory of the collective creation from Amos 6:1-14. Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo, 2007. 427 p.. ABSTRACT Debate about the writing and the composition of Amos’ Book: Basic proposals for the theory of the collective creation from Amos 6:1-14. This research is concerned with the scientific discussion about the writing and composition of Amos’ Book and aims primarily to present and criticize some hypotheses about the literary layers, which could belong to the prophet himself, and the later additions. As a first step, in order to approach on the writing problem, this study examines some contributions of both foreign experts and Brazilian scholars, and attempts to criticize their hypotheses concerning the final writing of Amos’ Book. The writing question of Amos’ Book has been indeed subject of an exciting discussion among many scholars. Secondly, the diachronic reading is fulfilled with the synchronic study of Amos’ Book, namely with the debate about the structure not only of the composition at Amos 6,1-14, but also of the whole book. Then, from the evaluation of the outcome of the investigation, this study employs the historicalcritical method and analyses the composition at Amos 6,1-14 as a meaningful literary unit. For such analysis, some previous considerations concerning the literary gender of lamentation, the prophetic indictment of the social injustice, and the institution of the marzeah feast are undoubtedly very important. So forth, an analysis of the literary phenomenon of the prophetic pamphlets and of the social organization, which could be behind their authorship, is made as well. Therefore, and considering the challenge of the recent methodological proposals, this research aims at giving an specific contribution to the study of Amos. It strives to demonstrate that in respect to Am 6,1-14 the reader is in front of a collective creation. In fact, the above-mentioned composition results not only from the oral preaching of Amos himself but also on the grounds of its composite form from the prophetic voices of the people, which on the impulse of the Spirit have confirmed Amos’ severe indictment and even have fulfilled it with their own experiences and sufferings. Finally an unpretentious excursus examines Amos’ Book in a wider literary context, in order to give a survey of the debate about the writing process of the Book of the Twelve as a whole, particularly from its eschatological perspective through the theological category of the Day of the Lord. Key Words: Debate, Amos, final and composite writing, pamphlets, indictment, structure, collective creation..

(11) COIMBRA, Alzir Sales. Diskussion über Redaktion und Komposition des Amosbuches: Grundlegende Vorschläge für die Theorie der gemeinschaftlichen Schöpfung anhand von Amos 6,1-14, São Bernardo do Campo: Universidade Metodista de São Paulo, Oktober 2007. 427 S.. ZUSAMMENFASSUNG. Diskussion über Redaktion und Komposition des Amosbuches: Grundlegende Vorschläge für die Theorie der gemeinschaftlichen Schöpfung anhand von Amos 6,1-14 Diese Forschung bezieht sich auf die wissenschaftliche Diskussion über Komposition und Redaktion des Amosbuches und beabsichtigt, zunächst einige Hypothesen auf literarischer Ebenen zur Debatte zu stellen, um zu wissen welche Sprüche Amos angehören, und welche spätere Zusätze sind. Diese Debatte wird präsentiert und in Frage gestellt. Als ein erster Schritt auf dem Weg einer Analyse des redaktionellen Problems, betrachtet diese meine Analyse einige Beiträge, sowohl von den ausländischen Sachverständigern, als auch von den brasilianischen Gelehrten, und versucht ihre Hypothesen bezüglich der Redaktion des Amosbuches zu kritisieren. In Wahrheit ist das redaktionelle Problem Gegenstand einer heftigen Aussprache unter vielen Gelehrten. Dann wird, an zweiter Stelle, die diachronische Lektüre des Amosbuches mit einigen synchronischen Beobachtungen vervollständigt, und zwar mit der Debatte über die Struktur nicht nur des Abschnitts in Amos 6,1-14, sondern auch des ganzen Amosbuches. Aus der Abschätzung dieses Forschungsergebnisses und mit der Anwendung der historisch-kritischen Methode wird, an dritter Stelle, der Abschnitt in Amos 6,1-14 als eine bedeutungsvolle literarische Einheit analysiert. In der Folge wird auch eine Betrachtung über das literarische Phänomen der prophetischen Pamphleten und die gesellschaftliche Organisation, die die Urheber der Sammlung sein könnte, gemacht. Deshalb zieht diese Forschung die Herausforderung der jüngsten methodischen Vorschläge in Betracht und beabsichtigt dem Studium von Amos 6,1-14 einen eigenständigen Beitrag zu geben. Sie bemüht sich darzulegen, dass sich der Leser bezüglich des Abschnittes Amos 6,114 vor einer gemeinschaftlichen Schöpfung befindet. Der erwähnte Abschnitt ergibt sich tatsächlich nicht nur aus den mündlichen Sprüchen des Amos selbst, sondern auch aufgrund von seiner zusammengesetzten Gattung aus den prophetischen Stimmen von unterdrückten Leuten, die vom Heiligen Geiste angetrieben das strenge Denunzieren von Amos bestätigt und ja sogar mit ihren eigenen Erfahrungen und Leiden es vervollständigt haben. Ein bescheidener Exkurs beobachtet endlich das Amosbuch in einem weiteren literarischen Zusammenhang, um einen Anblick der Debatte über die redaktionelle Bearbeitung des Zwölfprophetenbuches im Ganzen, besonders aus seiner eschatologischen Perspektive mit der theologischen Kategorie vom Tag Jahwes, zu geben. Schlüsselworte: Debatte, Amos, gemeinschaftliche Schöpfung.. Kompositiom,. Redaktion,. Pamphlete,. Anklage,.

(12) SUMÁRIO. INTRODUÇÃO ___________________________________________________ 14 Capítulo 1 O debate em torno da redação final de Amós _____________________ 22  1 O processo redacional do livro de Amós e o papel da profecia na história deuteronomística __________________________________________________ 26  1.1 Relação entre profecia e sabedoria _______________________________ 26  1.2 O processo redacional do livro de Amós __________________________ 33  1.3 O papel da profecia na história deuteronomística ____________________ 38  2 Os oráculos contra as nações estrangeiras, contra Judá e Israel ____________ 46  2.1 Considerações preliminares ____________________________________ 46  2.1.1 A interpretação de Aage Bentzen à luz dos textos egípcios _______ 46  2.1.2 A questão do modelo de seqüência numérica __________________ 47  2.1.3 O título em Amós 1,1 ____________________________________ 51  2.1.4 O motto em Amós 1,2 visto no contexto dos fragmentos hínicos___ 54  2.2 Mudanças de consenso e debate em torno da redação de Amós 1,3-2,16 ______________________________________________________________ 62  3 As palavras de Amós de Técua (Amós 3-6)____________________________ 87 .

(13) 3.1 O debate em torno das camadas redacionais de Amós 3-6 _____________ 87  3.1.1 Amós 3-6: uma coleção de ditos ____________________________ 88  3.1.2 As camadas deuteronomísticas em Amós 3-6 __________________ 89  3.1.3 Amós: resultado de um longo processo redacional ______________ 93  3.1.4 As camadas redacionais em Amós 3-6 _______________________ 95  3.1.4.1 A atuação da antiga escola de Amós __________________ 95  3.1.4.2 A interpretação de Betel ___________________________ 98  3.1.4.3 A camada deuteronomística _______________________ 101  3.1.4.4 A re-leitura da escatologia da salvação _______________ 102  3.1.5 Do discurso oral do profeta às palavras dos discípulos __________ 103  3.1.6 A questão da autoria coletiva _____________________________ 115  4 Visões, relato e ditos (Amós 7-9) ___________________________________ 120  4.1 O debate em torno das camadas redacionais em Amós 7-9 ___________ 120  4.1.1 A questão da autenticidade das promessas ___________________ 121  4.1.2 A autenticidade das visões _______________________________ 121  4.1.3 A proclamação oral como situação original __________________ 123  4.1.4 “Chegou o fim para o meu povo Israel” (Amós 8,2) ___________ 124  4.1.5 Elementos originais e secundários em Amós 8-9 ______________ 125  4.1.6 As camadas redacionais em Amós 7-9 ______________________ 129  4.1.6.1 A atuação da antiga escola de Amós _________________ 130  4.1.6.2 A interpretação de Betel __________________________ 131  4.1.6.3 A redação deuteronomística _______________________ 131  4.1.6.4 A re-leitura da escatologia da salvação _______________ 132  4.1.7 O “não” absoluto de Amós _______________________________ 134  4.1.8 A importância dos redatores na confecção final do livro ________ 137  4.2 O relato em Amós 7,10-17: um debate dentro do debate _____________ 141 .

(14) 5 Considerações finais ____________________________________________ 151  Capítulo 2 A estrutura do livro de Amós ________________________________ 162  1 Propostas de estruturas gerais de Amós 1,1-9,15 _______________________ 165  1.1 A contribuição dos estudos de Otto Eissfeldt ______________________ 166  1.2 Estrutura proposta por James Luther Mays________________________ 167  1.3 Amós em três partes segundo Wilhelm Rudolph ___________________ 168  1.4 Elementos estruturais a partir dos estudos de J. Vermeylen ___________ 168  1.5 Análise formal de Ambrogio Spreafico __________________________ 169  1.6 Estrutura setenária de James Limburg ___________________________ 175  1.7 Estrutura a partir do conteúdo e das palavras de ligação _____________ 177  1.8 Estrutura não unitária em oito estrofes proposta por Volkmar Fritz_____ 179  1.9 Estrutura em sete partes apresentada por David Allan Hubbard________ 180  1.10 Estrutura retórica segundo David A. Dorsey _____________________ 181  1.11 Estrutura em três partes proposta por Werner Hans Schmidt _________ 184  1.12 Estrutura global segundo Adri van der Wal ______________________ 186  1.13 Elementos estruturais a partir dos estudos de Jörg Jeremias _________ 189  1.14 Elementos estruturais a partir dos estudos de Haroldo Reimer _______ 190  1.15 Estrutura em três partes proposta por Robert Martin-Achard _________ 191  1.16 Estrutura retórica de Pietro Bovati e Roland Meynet _______________ 192  1.17 Estrutura a partir do “eu” de Javé de acordo com Klaus Limburg _____ 195  1.18 Elementos estruturais a partir dos estudos de Milton Schwantes ______ 196  2 O debate em torno da estrutura de Amós 6,1-14 _______________________ 199  3 Considerações finais_____________________________________________ 219  Capítulo 3 Estudo de Amós 6,1-14: Uma contribuição ao debate _____________ 222  1 Constituição do texto ____________________________________________ 226  1.1 A delimitação de Amós 6,1-14: contextos literários distantes e próximos 226 .

(15) 1.1.1 Contexto literário antecedente mais próximo (5,18-27) _________ 226  1.1.2 Contexto literário antecedente mais distante (5,1-17) ___________ 228  1.1.3 Contexto literário seguinte mais próximo (7,1-3) ______________ 231  1.1.4 Contexto literário seguinte mais distante (7,4-6) ______________ 233  1.2 Crítica textual e tradução literal interlinear________________________ 234  1.3 Proposta de tradução _________________________________________ 247  2 Visão de conjunto do texto Amós 6,1-14 _____________________________ 248  3 Considerações preliminares e estudo do texto _________________________ 251  3.1 O gênero literário, a denúncia social e o marzeah __________________ 252  3.1.1 O gênero literário hôy e seu emprego em Amós _______________ 252  3.1.2 A denúncia da injustiça social na profecia de Amós ____________ 260  3.1.3 O background cultural do marzeah _________________________ 274  3.2 Estudo das unidades literárias __________________________________ 279  3.2.1 As unidades literárias em Amós 6,1.2.3.4-7.8-11.12.13-14 ______ 279  3.2.1.1 “Ai dos que estão despreocupados em Sião ...” (6,1) ____ 279  3.2.1.2 “Passai por Calne....” (6,2) _________________________ 288  3.2.1.3 “Os que afastam o dia da desgraça...” (6,3) ____________ 294  3.2.1.4 “Os que ficam deitados sobre camas de marfim ...” (6,4-7) 301  3.2.1.5 “O Senhor Javé jurou por si mesmo...” (6,8-11) ________ 312  3.2.1.6 “Acaso cavalos galopam sobre rocha ...” (6,12) ________ 319  3.2.1.7 “Os que estão satisfeitos com Lo-Dabar..” (6,13-14) ____ 323  4 Observações finais ______________________________________________ 328  Capítulo 4 Uma contribuição ao debate a partir de novas propostas metodológicas338  1 A abordagem apocalíptica em Amós 6,1-14 __________________________ 340  2 A fala de Amós de Técua e o memorial ou panfleto ____________________ 345  2.1 A fala de Amós de Técua _____________________________________ 345 .

(16) 2.2 O memorial ou panfleto ______________________________________ 346  3 A questão da criação coletiva vista a partir do dinamismo da palavra profética e dos movimentos sociais____________________________________________ 350  3.1 A criação coletiva em Amós 6,1-14 _____________________________ 352  3.2 Profecia e organização social __________________________________ 358  4 Considerações finais_____________________________________________ 365  Excursus sobre a redação do Livro dos Doze Profetas ______________________ 368  CONCLUSÃO ____________________________________________________ 385  Referências bibliográficas ____________________________________________ 399  Apêndice A _______________________________________________________ 420  Apêndice B _______________________________________________________ 423  Anexo A _________________________________________________________ 426  Anexo B _________________________________________________________ 427 .

(17) INTRODUÇÃO. O livro de Amós tem sido um dos campos mais explorados da exegese do Primeiro Testamento. As implicações da mensagem deste profeta do século VIII, nas questões da justiça social ou até mesmo da religiosidade de um culto desvinculado da vida e dos compromissos concretos com Deus, têm sido, freqüentemente, tratadas, seja em livros de autores interessados no tema, seja em artigos de revistas estrangeiras e nacionais. O enorme interesse pelos escritos de Amós é justificado, como bem ressaltou Haroldo Reimer: Amós é disputado entre os intérpretes. Afinal, este profeta radical foi um precursor. Abriu caminho para um novo jeito de ser da profecia e do ser-profeta nos tempos do antigo Israel. Nesse sentido, este profeta é paradigmático. Por isso a interpretação de suas palavras é tão disputada.1. Mas, com exceção de alguns autores latino-americanos, cujas contribuições serão também discutidas, nesta tese, os resultados da pesquisa em torno da redação final de Amós e dos demais Profetas Menores têm sido apresentados, em língua portuguesa, de forma ainda fragmentária, em razão da complexidade do assunto como se deduz da vasta bibliografia em línguas estrangeiras. 1. REIMER, Haroldo. Amós: profeta de juízo e justiça. Revista de Interpretação Bíblica Latinoamericana, Petrópolis, v. 35/36, p.171, 2000..

(18) 15. O nosso interesse pelo processo redacional de Amós, por aqueles supostos ditos que poderiam remontar às ipsissima vox prophetae2 ou aos círculos relacionados com ele3, não se deve somente ao desejo de dar nossa contribuição ao debate, de forma clara e sistemática. Pretendemos também dar prosseguimento aos estudos bíblicos realizados na Universidade Metodista de São Paulo, quinze anos depois da conclusão de Mestrado em Ciências Bíblicas, no Pontifício Instituto Bíblico de Roma, com a abordagem de Eclo 51,1-12. Mas, afinal, por que a pesquisa em torno da redação final de Amós? Em razão do atual questionamento em torno do paradigma do método histórico-crítico, surgem, entre outros, os da leitura canônica e retórica da Bíblia, resultando numa crescente diversidade de hipóteses relativas ao processo redacional do livro de Amós e dos Doze Profetas Menores. Seria possível intertextualizar e sistematizar todos esses saberes, formular e demonstrar algumas hipóteses sobre esses paradigmas, levandose em conta as dimensões epistemológicas, metodológicas, da interdisciplinaridade e da complexidade no estudo dos fenômenos religiosos pelas ciências humanas e sociais? É o que se pretende nesse trabalho, para que dele resulte um estudo claro e sistemático, visando dar uma nova contribuição aos estudos bíblicos em língua portuguesa. Ao lado da mensagem incisiva e engajada do profeta de Técua, com os oráculos de julgamento sobre as nações estrangeiras, sobre Judá e, particularmente sobre Israel, encontramos, igualmente com a questão relativa à releitura da obra, uma mensagem de esperança messiânica (cf. Am 9,11-15). O presente estudo limitar-se-á ao tratamento do problema da redação final do livro de Amós em sua globalidade, detendo-se, porém, no estudo exegético da composição Am 6,1-14, particularmente na questão do panfleto, das organizações sociais e da criação coletiva. Esta tese não visa, portanto, comentar, exegeticamente, o livro de Amós, em seu todo, mas partirá dos resultados obtidos recentemente pelos estudiosos mencionados, quando for necessário, para o tratamento do problema da redação do livro. Muitas contribuições, algumas até significativas, já foram dadas, nas últimas décadas, particularmente no âmbito das exegeses alemã, francesa, italiana, norte-. 2. 3. GOTTWALD, Norman K. Introdução socioliterária à Bíblia Hebraica. 2. ed. São Paulo: Paulus, 1988. p. 337. REIMER, Amós: profeta de juízo e justiça, p.173..

(19) 16. americana, africana e latino-americana, não só a respeito das formas literárias do livro, mas também – que é o caso de que se ocupará esta pesquisa - da redação final de Amós. Metodologicamente, trata-se de um estudo que, embora se circunscrevendo, transversalmente, no âmbito das Ciências Sociais, pretende, primariamente, apresentar a complexidade de uma pesquisa científica em torno da redação final de Amós no âmbito das Ciências da Religião. Sabe-se que foi Joachim Wach (18981955) quem conferiu um sentido peculiar à expressão Religionswissenschaft4, mas esta já tinha sido divulgada, em 1867, pelo historiador das religiões Max Müller. Autor de numerosas obras como Essays on the History of Religion (1868) e Four Introductory on the Science of Religion (1870-71), “Müller representou o primeiro esforço abrindo a entrada da ciência no domínio da religião”.5 Como assevera Arnaldo Nesti, Joachim Wach “admite que a sociologia da religião seja uma das disciplinas empíricas que aplica o próprio método ao estudo da realidade complexa constituída pelo fenômeno religioso”.6 Para encontrar os pontos de contato entre religião e sociedade, Joachim Wach estabelece como primeiro requisito, por meio de um exame da multiplicidade de inter-relações entre os fenômenos sociais e a religião, a necessidade de uma análise da amplitude e da variedade da experiência religiosa.7 O segundo requisito para um estudo sociológico da religião diz respeito à necessidade de se compreender e avaliar a natureza e o significado destes fenômenos religiosos.8 Considerando o fato de que Ciência da Religião seja uma ciência autônoma, ao lado de outras ciências sociais, mas que se apóia sobre os fundamentos das demais Ciências Sociais, há evidentemente uma necessidade metodológica de um estudo interdisciplinar do fenômeno religioso, como sugere Joachim Wach.9 Mas, trata-se de um estudo de natureza científica, uma vez que por ciência se entende um complexo sistematizado de conhecimentos, que se acumulam sobre um dado objeto, a partir de uma série de métodos que possibilitaram sua realização, sistematização e verificação. A sistematicidade de tal conhecimento é garantida por um conjunto 4. 5 6. 7 8 9. ROLIM, Cartaxo F. Religião numa sociedade em transformação. Petrópolis: Editora Vozes, 1997. p. 110. Ibid., p. 111. NESTI, Arnaldo. A perspectiva fenomenológica. In: F. FERRAROTTI et al. Sociologia da Religião. São Paulo: Edições Paulinas, 1990. p. 270-271. Ibid., p. 15 e 19. Ibid., p. 21. Ibid., p. 22..

(20) 17. orgânico de referências, teorias e hipóteses, fontes de informações e quadros explicativos das propriedades relacionais. Como se sabe, é graças a essa prática do espírito científico, com suas diversas características, que a ciência se constitui como tal. Uma vez que, em Ciências da Religião, a pesquisa opera num contexto de complexidade, a construção do conhecimento científico pressupõe, portanto, a necessidade da transdisciplinaridade. Daí, na última década, a repercussão positiva dos estudos de Edgar Morin para a construção do conhecimento científico em geral e para a pesquisa da compreensão do fenômeno religioso. “O pensamento complexo, longe de substituir a idéia de desordem por aquela de ordem, visa colocar em diálogo a ordem, a desordem e a organização.”10 Por conseguinte, as características do pensamento complexo são também a incerteza e a capacidade de contextualizar, globalizar e reconhecer o singular, o individual e o concreto.11 Nesse sentido, Abreu Junior reconheceu que “entrar no cenário da complexidade implica compreender que o conhecimento, qualquer que seja ele, é limitado e não oferece garantia absoluta da compreensão completa e definitiva da realidade”.12 Além disso, a necessidade da interdisciplinaridade se tornou evidente diante da constatação de que a atual fragmentação do conhecimento, acentuada depois do princípio de separação de Descartes, impõe exigências de superação mediante um processo de religação dos saberes.13 Foi bem lembrada por Edgar Morin14 a afirmação lapidar de Blaise Pascal na seção Pensamentos sobre o espírito e o estilo: E assim, dado que todas as coisas são causadas e causantes, ajudadas e coadjuvantes, mediatas e imediatas, e todas se mantêm mutuamente por um laço natural e imperceptível que liga entre si as mais afastadas e diferentes, parece-me impossível conhecer as partes sem conhecer o todo, do mesmo modo que é impossível conhecer o todo sem conhecer particularmente as partes.15. 10. 11 12. 13. 14 15. MORIN, Edgar. A Inteligência da Complexidade. 2. ed. São Paulo: Editora Fundação Peirópolis, 2000. p. 199. Ibid., p. 207. ABREU JUNIOR, Laerthe. Conhecimento interdisciplinar: o cenário epistemológico da complexidade. Piracicaba: Editora da UNIMPE, 1996. p. 39. MORIN, Edgar. Os desafios da complexidade. In: MORIN, Edgar (org.). A religação dos saberes: o desafio do século XXI. Rio de Janeiro: Editora Bertrand do Brasil, 2001. p. 562. Id. A Inteligência da Complexidade, p. 563. PASCAL, Blaise. Pensamentos: texto integral. São Paulo: Editora Martin Claret, 2003. p. 68..

(21) 18. A fim de se complementar os resultados obtidos com o método diacrônico e para se responder à função social e religiosa dos textos de Amós, far-se-á, no final desta tese, uma tentativa de abordagem canônica com a apresentação de um excursus sobre a redação dos Doze Profetas Menores. Além disso, devido à sua concepção globalizante em relação aos fatos sociais, o funcionalismo se prestaria também ao presente objeto de estudo, pois, nesse quadro de referência, cada fato social “é englobado num conjunto integrado de natureza teleológica”.16 Contrariamente à abordagem compreensiva, interessada nos fenômenos em sua singularidade, o funcionalismo “estuda as formas duráveis da vida social e cultural, produtos de uma institucionalização: os papéis, as organizações, as normas, etc.”.17 Quanto ao livro de Amós, os fatos sociais, vistos em seu conjunto, estariam intimamente relacionados com as instituições de Israel: monarquia, templo, exército. Sob este enfoque, haveria possibilidade de aplicação deste quadro de referência ao estudo dos conflitos sociais, econômicos e religiosos, que abalaram o Reino de Israel nos anos de Jeroboão II. Para uma análise das estruturas econômicas e sociais na sociedade de Samaria e de Betel, no século VIII a.C., o Estado tributário, sustentado pela ideologia do templo e pelo exército, pode ser visto sob uma nova ótica a partir das formulações de Paul de Bruyne et al.: Recorrendo a uma analogia entre a vida social e a vida orgânica, o funcionalismo apreende cada instituição em sua função, em sua contribuição à manutenção do sistema. A instituição é essencialmente a resposta a uma necessidade da sociedade, é uma condição útil a seu funcionamento.18. Para a interpretação da passagem, em Am 7,10-17, relativa ao conflito entre o sacerdote oficial de Betel, Amasias, e o profeta Amós, também são valiosas as considerações sociológicas de Max Weber19, ao tratar dos tipos de comunidade religiosa (questão do universalismo monoteísta), do mago, do sacerdote, da concepção de Deus, da ética religiosa, do profeta (particularmente no Judaísmo). Sabe-se que, de acordo com as teorias sociológicas e antropológicas, todos os 16. 17 18 19. BRUYNE, Paul de; HERMAN, Jacques; SCHOUTHEETE, Marc de. Dinâmica da Pesquisa em Ciências Sociais: os pólos da prática metodológica. 2. ed. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1982. p. 143. BRUYNE; HERMAN; SCHOUTHEETE, loc. cit. BRUYNE; HERMAN; SCHOUTHEETE, loc. cit. WEBER, Max. Sociología de la religión. In: Economia y Sociedad: esbozo de Sociología comprensiva, I. México: Fondo de Cultura Economica, 1969. p. 342-376..

(22) 19. elementos, numa dada sociedade, estão em permanente processo de interação. Mesmo no que se refere ao livro de Amós, “um elemento social deveria sempre ser considerado em relação a outros elementos, abrangendo o todo. Para o próprio Amós sua relação pessoal com Javé determinou todas as outras”.20 A pesquisa procurará colocar as seguintes perguntas e responder por sua pertinência ou não na questão da redação final de Amós. Nos oráculos contra as nações estrangeiras, poder-se-ia separar o material genuíno do material secundário? A partir dos variados consensos que se formaram em torno de Hans Walter Wolff, Wilhelm Rudolph, James Luther Mays, Werner Hans Schmidt, Shalom M. Paul, que oráculos deveriam ser atribuídos ou não ao profeta histórico? Quais teriam sido os critérios ou motivos para o estabelecimento de tais consensos? No chamado “ciclo anti-Samaria” (cf. Am 3,3-4.3), o que se pode concluir de seu processo redacional, considerando-se a atual organização literária dos ditos de Amós? Seria um antigo agrupamento de ditos? A pequena coleção Am 4,611.12, vista como uma “pequena coleção” seria tardia? Qual o estado da pesquisa redacional em torno do conjunto Am 5-6? Am 6,1-14 constituiria também uma pequena coleção? Que elementos formais possibilitariam essa delimitação? O que se poderia dizer de sua autenticidade? Por que Amós, um judaíta, foi enviado ao norte para falar contra os líderes da monarquia de Israel e contra o culto em Betel? A pequena coletânea de ditos, em Am 8,4-14, poderia ser considerada como acréscimo? Que conseqüências, para a interpretação de Amós, resultariam do fato de se admitir que certas passagens do livro devam ser consideradas genuínas ou secundárias? A pré-compreensão dos estudiosos acerca da pessoa e da vocação do profeta de Técua tem exercido alguma influência no posicionamento deles sobre o processo da redação final do livro? Há probabilidade de que os oráculos contra os povos e o ciclo das visões (cf. Am 1-2; 7-9) tenham servido de matriz para a confecção dos textos finais? Em relação a esses ciclos, o que a seção central (cf. Am 3-6) poderia apresentar de novo em seus elementos formais? Na seção, Am 9,1-4, que tipo de futuro Amós teria vislumbrado para Israel? Os oráculos de esperança expressariam a visão do próprio profeta? O que a teologia do Êxodo, vivenciada pelos contemporâneos de Amós, teria a ver com esses versículos? Estes versículos constituiriam uma seção. 20. HEYNS, Dalene. A social historical perspective on Amos’s prophecies against Israel. Old Testament Essays, Pretoria, v. 3, p. 304, 1990..

(23) 20. particular na estrutura de 9,1-10? A interpretação de que um resto sobreviveria colocaria em jogo a autenticidade da palavra de Amós em relação à esperança? A interpretação de Am 9,10, que veria o povo, em sua totalidade, como pecador, reforçaria o argumento dos que defendem a autenticidade da passagem? A passagem em Am 9,8b-9, que parece contradizer o anúncio de Amós de destruição total para Israel, pertenceria às suas palavras “autênticas”? Em resumo, pode-se atribuir expressões de esperança ao Amós histórico? Como conciliar a linguagem escatologizante de Am 9,11-15 com as ameaças do Amós do século VIII? O que teria levado os profetas a serem portadores de determinada mensagem ou os redatores a acrescentarem certas passagens aos textos recebidos? Qual teria sido a função social e religiosa dos acréscimos? Na questão da mudança de paradigmas na pesquisa profética, que objetivo os profetas queriam atingir com sua mensagem? Que significado teria o anúncio de julgamento profético no Primeiro Testamento? Por que a história deuteronomística omitiu as profecias de Amós?. Por que na história. deuteronomística nenhum profeta anunciou o exílio? Haveria alguma ligação entre a tradição de Amós e os escribas da corte de Josias? No que se refere especificamente a Am 6,1-14, haveria a possibilidade de existir uma criação coletiva por detrás dos chamados panfletos proféticos? Existiria aí uma organização social por detrás das vítimas do sistema tributarista opressor? As denúncias e as ameaças proféticas, em Am 6,1-14. teriam uma origem grupal como demonstrou Milton Schwantes em outras passagens? Esta tese, constando de quatro capítulos fundamentais, relativos à redação final de Amós, é seguida de um excursus sobre a redação dos Doze Profetas, de dois apêndices relativos aos textos bíblicos da Setenta e da Nova Vulgata, com suas traduções, e de dois anexos, sendo um referente ao fragmento Am 6,4.6(?) MUR 88, e outro, à reconstrução do desenvolvimento do Livro dos Doze. O primeiro capítulo, mais extenso, tratará da debatida questão da redação final de Amós, passando-se em resenha as várias opiniões sobre a formação do livro de Amós, bem como os textos que remontariam ao profeta e os acréscimos que lhes teriam sido feitos no decorrer da transmissão de sua mensagem. O segundo capítulo é dedicado aos vários estudos sobre a estrutura geral do livro de Amós e, em particular, ao debate em torno da estruturação de Am 6,1-14. No capítulo terceiro, com o estudo de Am 6,1-14, o autor procura dar uma contribuição mais pessoal ao debate sobre os.

(24) 21. estudos de Amós a partir da análise textual e da interpretação da mencionada composição, ressaltando os elementos que remontariam ao profeta e as passagens que poderiam ter sido, posteriormente, agregadas ao texto. Para esta abordagem, o tratamento de questões como a do gênero literário, da temática da injustiça social e do background cultural do marzeah é visto como pressuposto indispensável para a interpretação da composição. Tendo em vista as várias propostas metodológicas que têm surgido para a interpretação de Amós, o autor dedica o quarto capítulo não só à questão da interpretação apocalíptica, sondando sua possibilidade e seus limites, mas também à questão do panfleto. A contribuição específica do autor, em relação aos trabalhos pioneiros já feitos nessa área, por Milton Schwantes e Carlos Mario Vásquez Gutiérrez, diz respeito, por um lado, à aplicação da metodologia de Schwantes a um novo texto de Amós, e por outro lado, em relação a Vásquez Gutiérrez, a uma análise mais acurada dos elementos formais, não levados em devida conta na tese do último autor, que chegou a afirmar: Nesta empreitada, somos cientes de que fizemos opções metodológicas que limitaram o estudo, O nosso interesse pela experiência de vida, pelo grupo social como portador e conservador da memória profética, e pela caracterização social da linguagem implicou em não dar toda a atenção devida ao estudo dos diversos níveis de sentido do texto bíblico (nível literário, figurativo, filológico, retórico, histórico, simbólico.21. Ciente de suas limitações, a presente tese não tem a pretensão de encerrar o longo debate em torno da redação final de Amós. Nem de ter explorado exaustivamente as promissoras possibilidades de se vislumbrar, nos textos proféticos, a participação grupal, emblemática, daqueles e daquelas que ousaram fazer da mensagem profética seu instrumento para a construção das bases de uma nova sociedade, de modo que “o direito corra como a água e a justiça como um rio caudaloso” (Am 5,24). Certamente, outras contribuições serão muito bem-vindas ao debate.. 21. VÁSQUEZ GUTIÉRREZ, Carlos Mario. Dito, panfleto e memória: uma abordagem a partir de Amós 3-6. Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo, 2002. f. 185..

(25) CAPÍTULO 1 O debate em torno da redação final de Amós. O presente capítulo tratará de várias discussões, todas relacionadas com o debate em torno do processo redacional do livro de Amós. No tópico 1, o debate é introduzido com três questões fundamentais, que constituem uma porta de entrada para esta tese doutoral. A primeira questão diz respeito à relação entre profecia e sabedoria. Dado que se admitem releituras deuteronomísticas no processo redacional de Amós, convém analisar o papel da profecia na história deuteronomística. Sob este prisma, a contribuição de Robert B. Coote sobre as três fases do processo redacional do livro de Amós ganha relevância e desperta oposições, sobretudo da parte de Gunther H. Wittenberg, uma vez que, para o primeiro autor, a influência da corrente sapiencial estaria relacionada com o estágio B da redação do livro na época do rei Josias. A segunda questão trata do debate, em si, em torno do processo redacional de Amós. Ganham destaque as palavras de Jörg Jeremias quanto à dificuldade para se extrair a autocompreensão dos profetas a partir da analise crítica da redação e da tradição, ainda que tenha havido um significativo progresso na pesquisa, prestando-se atenção às regras do discurso oral, para se chegar à “vox viva” dos profetas. Entretanto, autores, como A. Strawn, contestaram certas posições de Jörg Jeremias. Também Hans Walter Wolff admitiu uma longa história do crescimento literário do livro de Amós. Embora rejeitada em vários aspectos, sua obra continua uma referência para o estudo redacional do livro de.

(26) 23. Amós. Relacionada com a primeira questão introdutória, a terceira refere-se ao papel da profecia na história deuteronomística. Nessa questão de fundo, Gunther H. Wittenberg procurou dar sua contribuição para ajudar a resolver um dos enigmas do Antigo Testamento: o porquê do silêncio sobre os profetas na história deuteronomística. Este autor pergunta por qual motivo os deuteronomistas não quiseram preencher essa lacuna com oráculos provenientes de Amós e de Oséias. Várias propostas são apresentadas para se tentar resolver esse dilema. O tópico 2, relativo aos oráculos contra as nações estrangeiras, contra Judá e Israel, abre-se com quatro considerações preliminares. A primeira mostra como Arvid S. Kapelrud adotou, para Am 1,2—2,16, a interpretação de Aage Bentzen, relativa às execrações das nações estrangeiras, cujo modelo teria sido extraído do culto, como nos textos egípcios de execração. Esta questão relaciona-se com a história das religiões. A próxima questão trata do modelo da seqüência numérica nos oráculos em Am 1-2. Esta questão relaciona-se com um traço característico da poesia bíblica e com escritos do Antigo Oriente Próximo, portanto, um dado literário. Fica evidente o desacordo entre os estudiosos no que diz respeito ao significado destes números em Amos. A terceira questão já coloca o leitor no limiar do livro de Amós, procurando esclarecer a complexa redação de seu primeiro versículo, o título em 1,1, para o qual confluem elementos literários, não só originários da antiga escola de Amós, mas também da corrente deuteronomística. Aqui, destaca-se o elemento da historiografia israelita. A última questão preliminar, inserindo-se no contexto das peças doxológicas, cuja datação e função têm sido muito debatidas pelos estudiosos, diz respeito ao motto em Am 1,2. No tópico 2.2, ainda relativo aos oráculos contra as nações estrangeiras, Judá e Israel, é oportuno rever a questão das mudanças de consenso, e do debate em torno da redação de Am 1,3—2,16. Um consenso mais antigo considerava os oráculos contra as nações estrangeiras como uma combinação de material autêntico com material secundário. Mas uma mudança de consenso defende a unidade de todos os oráculos contra as nações, atribuindo-os a Amós. Entretanto, o debate não pára aí, pois o problema da autenticidade de algumas passagens é sempre colocado em pauta. Argumentos. de. ordem. lingüística. (elementos. formais),. ideológica. (deuteronomística), estilístico (palavras de ligação), histórica (fatos acontecidos) e.

(27) 24. política (movimentos sociais) são apresentados em favor da autenticidade de uns oráculos ou do caráter secundário de outros. O tópico 3, relativo às palavras de Amós de Técua, abre o debate em torno das camadas redacionais em Am 3-6, ressaltando-se as contribuições sobretudo de Werner H. Schmidt, Hans Walter Wolff e Milton Schwantes. O primeiro dedica-se à busca das camadas deuteromomísticas, ainda que seu estudo se restrinja a Am 3-6. Hans Walter Wolff apresenta um estudo de quatro camadas redacionais em Amós, sempre precedido de uma crítica textual, e levando ainda em conta a situação histórica e a respectiva interpretação das passagens. Milton Schwantes, na pesquisa pela autoria coletiva do livro de Amós, abre excelentes perspectivas para o estudo das unidades literárias em Am 6,1-14. Sob este ângulo, as considerações de Jörg Jeremias sobre a transição do discurso oral do profeta às palavras dos discípulos revestem-se de importância singular, ainda que o autor esteja convicto das limitações da pesquisa nesse campo da exegese do Antigo Testamento. O tópico 4 trata do processo redacional das visões, do relato sobre o conflito com Amasias e sobre alguns ditos inseridos em Am 7-9. O debate se abre, nesta seção, com as considerações de Arvid S. Kapelrud sobre a questão da autenticidade das promessas em Am 9,11-15. O segundo item apresenta a contribuição de Otto Eissfeldt sobre a autenticidade das visões. Deve-se ressaltar, em função do estudo em Am 6,1-14, a contribuição de Werner H. Schmidt, que abordou a proclamação oral do profeta como situação original, depois da qual teriam ocorrido uma série de redações com suas releituras e acréscimos. Não menos importante para o debate, nessa seção do livro de Amós, foi a contribuição de Hartmut N. Rösel, que comparou a forma literária, que acolheu a experiência pessoal do profeta, com uma ‘camisa de força’. As primeiras quatro visões representariam um eco tardio desta experiência pessoal do profeta. Também para Am 7-9, Hans Walter Wolff apresentou as quatro camadas redacionais, caracterizando a forma típica das visões como memorabilia autobiográfica. Nesse acirrado debate, não poderiam ter faltado as incisivas observações de Paul R. Noble sobre o “não” absoluto de Amós. Essa questão coloca em jogo a autenticidade ou não das passagens relativas às promessas. De um lado, partindo da posição de um grupo minoritário, cuja figura emblemática seria Rudolf Smend, e de outro lado, da argumentação de autores como John H. Hayes, Klaus Koch, Bernard A. Asen, Shalom M. Paul e outros, Paul R. Noble tira suas próprias.

(28) 25. conclusões a partir do exame da estrutura literária de 9,1-10. Em seu estudo de Am 7-9, Milton Schwantes mostra como as cinco visões se correlacionam, formando um único ciclo. O autor destaca o papel relevante dos redatores na confecção final do livro. Sua abordagem de 8,4-8 mostra a necessidade de uma análise atenta que leve em conta os aspectos da denúncia e da ameaça nos oráculos proféticos. Segundo ele, para se explicar o aspecto do caráter composicional da denúncia e da ameaça, não basta somente atribuir a perícope aos discípulos, mas vê-la surgir do meio dos sofrimentos reais do povo. A percepção do autor de que existam grupos sociais, na origem de textos e de conjuntos literários, agregados ao profeta, é de suma importância para o estudo de Am 6,1-14. O debate em torno da redação final de Amós se encerra, no cap.1, com a discussão sobre relato em Am 7,10-17, a respeito do qual muito já se escreveu e talvez, ainda se escreverá. Além da posição clássica de Hans Walter Wolff, vem apresentada a interpretação de vários autores, destacando-se aquela de Jürgen von Werlitz, que aborda alguns aspectos sobre a formação e a intenção do relato profético em 7,10-17, e a de Gerhard Pfeifer, que examina alguns aspectos do relato sobre a intimação que o sacerdote Amasias, de Betel, teria feito a Amós, para que fugisse para o país de Judá, para ganhar ali seu sustento e trabalhar como profeta. Concluindo o capítulo, apresentamos duas interpretações interessantes sobre o mencionado relato. A primeira é a de Dalene Heyns, que trata da discutida questão se Amós teria sido um profeta cúltico ou se teria ocupado uma função profética antes de ter sido chamado por Javé. A segunda de Milton Schwantes, que, em suas considerações sobre as coleções de Amós, como memoriais ou panfletos, destaca a importância não só do dito do profeta, mas também da opinião dos ouvintes sobre o dito, os quais se reencontram no dito e se sintonizam com ele. O cap.1 não pretende exaurir todo o debate em torno do processo redacional do livro de Amós, mas se propõe valorizar e destacar os principais autores que participam da discussão, abrindo caminho para o exame das estruturas do livro de Amós (cap.2), para o estudo exegético de Am 6,1-14 (cap.3) e para a questão da criação coletiva de Am 6,1-14. (cap.4) como nova contribuição desta tese à pesquisa..

(29) 26. 1 O processo redacional do livro de Amós e o papel da profecia na história deuteronomística Neste primeiro tópico, serão apresentadas três questões introdutórias, que se fazem necessárias, antes da abordagem da redação dos oráculos contra as nações: a relação entre profecia e sabedoria, o debate sobre o processo redacional do livro de Amós e o papel da profecia na história deuteronomística.. 1.1 A relação entre profecia e sabedoria Em seu estudo, A fresh look at Amos and Wisdom, Gunther H. Wittenberg1 se propõe a debater com Robert B. Coote2 a respeito da relação entre profecia e sabedoria, relembrando que estudiosos do passado não levaram a sério esta questão. Segundo Gunther H. Wittenberg, tais estudiosos, ou teriam definido esta relação como antitética3, ou teriam pretendido que a sabedoria tivesse sofrido uma influência direta da profecia.4 Todavia, interessa a esta pesquisa, antes de tudo, a tese de Robert B. Coote, segundo a qual o processo redacional do livro de Amós teria ocorrido em três fases, que ele classifica em A, B e C, sendo que apenas a fase A derivaria do profeta Amós. “Este estrato não apresenta nenhuma influência da sabedoria. Esta influência se encontra na fase B, que poderia ser localizada no tempo de Josias na corte de Jerusalém”.5 Ainda que concordando com o argumento de Robert B. Coote, quanto à influência da sabedoria, principalmente, na fase B, Gunther H. Wittenberg questionou sua conexão estreita com a corte, e sugeriu que a influência do povo judaíta da terra (#ra-~[) deveria ser explorada.6 Embora o interesse de Robert B. Coote tenha privilegiado a relação entre Amós e sabedoria (fase B da redação), interessa, sobremaneira, a este trabalho a visão geral de Robert B. Coote relativa às. 1 2 3. 5 6. WITTENBERG, Gunther H. A fresh look at Amos and wisdom. Old Testament Essays, Pretoria, v. 4, p. 7-18, 1991. COOTE, Robert B. Amos among the Prophets: Composition and Theology. Eugene, OR: Wipf and Stock Publishers, 1981. Em relação a Isaías, cf. Fichtner, J. Isaiah among the wise. In: CRENSHAW, James L. (ed.). Studies in ancient Israelite wisdom. New York: Ktav Publishing House, 1976. p. 429-438; McKANE, W. Prophets and wise men. Naperville: Allenson, 1965. 4 Em relação a Amós, cf. WOLFF, Hans Walter. Amos the Prophet: the man and his background. Philadelphia: Fortress Press, 1973. WITTENBERG, op. cit., p. 7. WITTENBERG, loc. cit..

(30) 27. três fases do processo redacional de Amós.7 Seguindo a sugestão de Hans Walter Wolff de que o livro de Amós teria sofrido várias redações, Robert B. Coote as reduziu a três fases maiores. A fase B conteria todos os oráculos da fase original A de Amós. Por outro lado, a fase B conteria o material, acrescentado pelo redator, e que diria respeito a temas importantes para o seu tempo: Enquanto os oráculos de Amós foram transmitidos oralmente, a fase B foi uma composição escrita, do mesmo modo que a primeira maior redação do livro de Amós. A ordem de seu material foi fixada. A fase B foi destinada a ser lida, exatamente, como tinha sido composta.8 (tradução nossa).. Amós estaria preocupado com o pobre oprimido pela elite dirigente da Samaria; por sua vez, o editor da fase B estaria preocupado com o culto de Betel e com a oposição deste a Jerusalém. De fato, a centralização do culto era parte constitutiva da reforma deuteronomística. A destruição dos santuários cúlticos marcou o ponto alto da reforma de Josias, inclusive a destruição de Betel como parte dessa reforma político-religiosa. É na fase B de Amós, na opinião de Gunther H. Wittenberg, e não nos oráculos do próprio Amós, que se encontrariam quase todas as formas características da tradição sapiencial descritas no livro Amos the Prophet The man and his background, de Hans Walter Wolff. Gunther H. Wittenberg apontou para o interesse de muitos estudiosos recentes pela relação da sabedoria com a tradição deuteronomística. Esse interesse não é estranho, considerando-se que, na fase B, tanto a sabedoria quanto a tradição deuteronomística derivariam, em sua forma atual, dos círculos de escribas da elite urbana, dirigente em Jerusalém, já próxima do final do período monárquico, quando já se praticavam a arte de escrever e a literatura. Assim, para Robert B. Coote, a profecia é encontrada somente nos oráculos da fase A, os quais não apresentariam nenhum traço de influência sapiencial. Já a fase B, embora dependente da tradição de Amós, teria um objetivo ideológico diferente. O escriba erudito, que teria composto o Livro de Amós, teria escrito para a elite dirigente de Jerusalém, a fim de dar, em conexão com a destruição do altar de Betel, legitimação ao único papel de Jerusalém como o centro do culto. A 7 8. Sobre os estudos de Robert B. Coote, aqui nos limitamos à explanação já feita por WITTENBERG, A fresh look at Amos and wisdom, p. 10-11. Whereas the oracles of Amos were originally delivered orally, the B stage – as the first major redaction of the Book of Amos – was a written composition. The order of its material was fixed. It was intended to be read exactly as it had been composed (WITTENBERG, op. cit., p.10); cf. COOTE, Amos among the Prophets, p. 47 e 63 et seq..

(31) 28. influência da sabedoria, na fase B, seria, para Robert B. Coote, uma prova suficiente de que a elite dirigente, visando seus objetivos ideológicos, teria se apropriado da tradição de Amós. Nesse caso, o documento preservaria a tradição de Amós “para justificar as prerrogativas exclusivas da elite dirigente de Jerusalém e seu culto”, ao mesmo tempo, mantendo-as “responsáveis por sua professada lealdade aos princípios da justiça javística”. “Pretendendo fundamentar o poder na justiça”, o documento estaria fundamentando “a justiça no poder”. A conclusão referente a essa história traditiva não deixa de ser irônica: “o mesmo grupo social que Amós teria condenado, na Samaria, está agora, em Jerusalém, patrocinando a preservação de seus oráculos”9 (tradução nossa). Entretanto, Gunther H. Wittenberg, ainda que reconhecendo uma plausível coerência na apresentação que Robert B. Coote faz do processo redacional de Amós, questionou a concepção de que o re-ordenamento dos oráculos de Amos B representaria “mais um procedimento de controle social disponível e utilizado pela elite dirigente”.10 Além disso, Gunther H. Wittenberg criticou as suposições de Robert B. Coote, segundo as quais os escribas teriam constituído uma classe profissional, servindo, primariamente, aos interesses da corte e da elite dirigente. De acordo com essa visão, os sábios teriam sido altos funcionários da corte.11 Gunther H. Wittenberg colocou a questão se essa suposição seria sustentável em relação à composição de Amós B. Em contrapartida, Gunther H. Wittenberg ponderou que, considerando a dicotomia entre o mundo da sabedoria e a profecia, seria factível que um escriba da corte, em Jerusalém, devesse não só ter coletado os oráculos de Amós, mas também teria visto a rejeição da advertência profética como a transgressão fundamental do Reino do Norte. Gunther H. Wittenberg perguntou ainda: Como os oráculos da fase A, dirigidos à Samaria, no século VIII a.C, chegaram ao escriba em Jerusalém no século VII ? Não seria necessário postular círculos proféticos que estariam preservando. 9 10 11. The very social group that Amos condemned in Samaria is now, in Jerusalem, sponsoring the preservation of his oracles (COOTE, Amos among the Prophets, p. 100). one more procedure of social control available to and utilized by the ruling elite (COOTE, op. cit., p. 101). Esta é também a visão de FICHTNER, J. Isaiah among the wise, p. 429-438. cf. ainda McKANE, W. Prophets and wise men. Naperville: Allenson, 1965. p. 44..

(32) 29. oráculos de Amós, talvez uma Escola de Amós, como defendeu Wolff?12 (tradução nossa).. Pouco se sabe, porém, de círculos proféticos, em Judá, no século VII a.C. Caso se levasse em conta 2Rs 21,16, qual seria - perguntou apropriadamente Gunther H. Wittenberg - a relação daqueles círculos proféticos opositores ao rei Manassés com o redator de Amós B? Outra crítica de Gunther H. Wittenberg a Robert B. Coote refere-se à suposição de que o programa de centralização do culto fosse basicamente um resultado de política de poder. A elite dirigente jerusalemitana teria desejado estender seu controle às áreas subjacentes de Judá, onde a população campesina israelita, remanescente em suas terras, depois da queda da Samaria, estaria ainda freqüentando as suas festas costumeiras no antigo santuário de Betel. Além do elemento religioso, Robert B. Coote teria sugerido outro, o de enfoque econômico: A aplicação de uma tecnologia de irrigação rural às regiões desertas de Judá oriental, durante o século sétimo teria levado à desobstrução da terra, antes improdutiva, outra indicação do influxo do campesinato.13 (tradução nossa).. A respeito da composição de Amós B, Robert B. Coote afirmou: O estágio B foi composto em Jerusalém, tardiamente, no século sétimo por um escriba adjunto à elite dirigente, que, mediante a escrita e a arte literária, teria expressado e preservado, em nome da elite dirigente, o desejo de manter o status e o poder de Jerusalém como um centro sócio-político, e a motivação para utilizar este poder em um programa de reforma dos costumes e do direito.14 (tradução nossa).. 12. 13. 14. How did A stage oracles directed at Samaria in the eighth century reach the seventh-centry scribe in Jerusalem? Is it necessary to postulate prophetic circles who were preserving Amos’ oracles, perhaps an ‘Amos School, as Wolff has claimed? (WITTENBERG, A fresh look at Amos and wisdom, p. 12. Cf. WOLFF, Hans Walter. Dodekapropheton 2: Joel und Amos. Neukirchen: Neukirchener, 1969. p.131). The application of floodwater farming technology to the desert regions of eastern Judah during the seventh century led to the opening up of previously unproductive land, another indication of the influx of peasantry (COOTE, Amos among the Prophets, p. 97). The B stage, then, was composed in Jerusalem late in the seventh century by a scribal adjunct to the ruling elite; through writing and the art of literature, he expresses and preserves on behalf of the ruling elite the desire to maintain the status and power of Jerusalem as a sociopolitical center, and the motivation to put this power to use in a program of customary and judicial reform (Ibid., p.102-103)..

(33) 30. Na ótica de Gunther H. Wittenberg, ainda que, certamente, não se possa discutir o fato de que uma característica importante do programa do rei Josias tivesse sido a centralização do poder e da autoridade no Templo de Jerusalém, a questão central aqui é se a interpretação de Robert B. Coote seria realmente adequada15: Uma nova elite samaritana mantinha o culto de Betel para ajudar a legitimar não só seu controle sócio-econômico sobre o campo, mas também sua imposição de política imperialista assíria.16 (tradução nossa).. Uma vez que se trata da oposição ao culto em Betel, pelo redator de Amós B, é de bom alvitre levar em conta este contexto. Na linha de Hermann Spiekermann17, Gunther H. Wittenberg afirmou que, no século VII a.C., a religião cananéia, em Judá, não estaria em discussão, porque a verdadeira ameaça ao Javismo proviria dos deuses do império assírio. Baal e Astarte eram denominações, visando disfarçar os deuses imperiais Ashur e Ishtar. A propósito, o próprio Robert B. Coote relembrou a contribuição de M. M. Eisman18, para quem, depois de 721 a.C., o significado do Templo de Jerusalém, como centro animador da fé mosaica, teria sido de grande relevância para o movimento de resistência ao imperialismo assírio. Segundo Gunther H. Wittenberg, em vista disto, o santuário de Betel não seria olhado apenas como um rival, mas como um santuário do culto estatal assírio. Nesse caso, a adoração a Javé não passaria de uma fachada. Javé não seria mais o Deus libertador da escravidão do Egito, mas o garantidor da dominação assíria.19 Gunther H. Wittenberg criticou ainda a suposição de Robert B. Coote, que, aceitando a visão de comentaristas como M. Weinfeld20 e J. A. Emerton21, teria considerado a ligação estreita entre a tradição deuteronomística e a sabedoria como devedora do fato de que o Deuteronômio e os escritos deutenomísticos derivariam de 15 16. 17 18 19 20 21. WITTENBERG, A fresh look at Amos and wisdom, p. 12. The new Samarian elite maintained the cult of Bethel to help legitimate not only their socioeconomic control over the countryside but also their enforcement of Assyrian imperial policies (COOTE, Robert B. Amos among the Prophets, p. 50). Para mais detalhes sobre as estratégias da política da dominação assíria sobre os territórios ocupados, cf. SPIECKERMANN, Hermann. Juda unter Assur in der Sargonidenzeit. Göttingen: Vandenhoeck, 1982. p. 307. SPIECKERMANN, op. cit., p. 217. EISMAN, M. M. A tale of three cities. The Biblical Archaeologist, v. 41, p. 47-60, 1978, apud COOTE, op. cit., p. 97. WITTENBERG, A fresh look at Amos and wisdom, p. 13. WEINFELD, Moshe. Deuteronomy and the Deuteronomic School. Oxford: Clarendon Press, 1972, p. 158-171, apud WITTENBERG, op. cit., p. 16 e 18. EMERTON, J. A. Wisdom. In: ANDERSON, W. (ed.). Tradition and interpretation: essays by members of the Society for Old Testament Study. Oxford: Clarendon Press, 1979. p. 214-237..

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