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Estrutura retórica de Pietro Bovati e Roland Meynet

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1.16 Estrutura retórica de Pietro Bovati e Roland Meynet

Já na introdução de seu livro, Pietro Bovati e Roland Meynet criticam certos comentários modernos, “atomísticos”, que, adotando o método da história das formas, não colocariam a questão da estrutura do livro.88 Estariam situados, nessa categoria, os comentários de James Luther Mays e Hans Walter Wolff. Ao primeiro autor reconheceram, entretanto, uma tentativa de assinalar um grande conjunto de ditos (cf. Am 1,3—6,14), distinto daquele das visões (cf. 7—9), e até mesmo alguns agrupamentos de oráculos em 3,1—6,14, mas, ao longo do comentário, James Luther Mays não adotou, segundo eles, as constatações gerais sobre a redação do livro, dividindo o texto de Amós em trinta e três unidades, em geral, breves. Quanto ao comentário de Hans Walter Wolff, Pietro Bovati e Roland Meynet reconhecem que suas vinte e três unidades são mais longas, mas, colocando-se, à parte, 1-2 e 7-8, o livro de Amós não passaria de uma coleção desorganizada de pequenas “formas”, ou

87 SPREAFICO, Amos: struttura formale e spunti per una interpretazione, p. 147-176. 88 BOVATI; MEYNET, Il Libro del Profeta Amos, p. 17.

seja, de unidades literárias diferentes.89 Excetuando-se a coleção primitiva dos oráculos contra as nações estrangeiras, das quais Hans Walter Wolff retirou os oráculos contra Tiro, Edom e Judá por considerá-los acréscimos tardios, ele não estudou nenhum grupo de oráculos como um conjunto coerente, nem mesmo Am 5,1-17, considerado uma unidade literária. Assim definiram a linha de Hans Walter Wolff:

O que lhe interessa, antes de tudo, é reencontrar a história do texto e, portanto, datar as pequenas unidades, ou formas, que a tradição teria recolhido no livro. Nem, ao menos, se imagina a possibilidade de um trabalho real de redação, isto é, de uma organização lógica do material.90 (tradução nossa).

Existe, inclusive, um pressuposto de que os textos bíblicos não sejam compilações, mais ou menos bem sucedidas, mas verdadeiras composições, semelhantes a obras compostas por um só autor. Em seu livro, Pietro Bovati e Roland Meynet procuraram verificar a respeito do livro de Amós se tal pressuposto seria apenas uma hipótese gratuita.91

Partindo da costumeira divisão em três partes (1-2; 3-6; 7-9), o comentário dos autores trata de problemas textuais e lexicográficos, da composição do texto, mostrando a coerência interna do mesmo, além de situar o texto no contexto bíblico e de interpretá-lo a partir dos resultados obtidos em sua análise. Como observou J. Arambarri92, o método adotado incidiu sobre a interpretação do sentido do texto. Típico é o exemplo sobre o oráculo contra Judá (cf. 2,4-5), agora não mais visto como acréscimo posterior:

De fato, o centro de uma construção é a chave de giro que mantém, juntas, todas as outras partes, dando-lhes coesão. Seu sentido não pode ser compreendido plenamente se não em sua articulação com o resto do texto; esse sentido permite entender a lógica de tudo o que ele articula.93 (tradução nossa).

89 BOVATI ; MEYNET, Il Libro del Profeta Amos, p. 17. 90 Ibid., p. 17-18.

91 Ibid., p. 437.

92 ARAMBARRI, resenha sobre BOVATI; MEYNET, Le livre du prophète Amos, p. 118.

93 Infatti il centro di una costruzione è la chiave di volta che tiene insieme tutte le altre parti e dà

loro coesione. Il suo senso non può essere pienamente compreso se non nelle sue relazioni con il resto del texto, ed è questo senso che permette di cogliere la logica del tutto che esso articola (BOVATI; MEYNET, Il Libro del Profeta Amos, p. 79).

Os autores apresentam uma estrutura retórica e três seções (A, B, C); por sua vez cada uma delas vem subdividida em seqüências:

1,1-2 O título do livro: Palavras de Amós, rugido do Senhor 1,3—2,16 A As nações e Israel sob o julgamento de Deus

1,3--2,3 A1 Oráculos contra seis nações estrangeiras 2,4-5 A2 Oráculo contra Judá

2,6-16 A3 Oráculo contra Israel

3,1—6,14 B Israel deverá atravessar a morte (estrutura concêntrica)94

3,1-8 B1 Uma armadilha para os filhos de Israel

3,9—4,3 B2 Multiplicar as riquezas não salvará os filhos de Israel

4,4-13 B3 Multiplicar os sacrifícios não salvará os filhos de Israel

5,1-17 B4 Lamentação fúnebre sobre a virgem de Israel

5,18-27 B5 Um culto corrompido não salvará a Casa de Israel

6,1-7 B6 Uma riqueza corrompida não salvará a Casa de Israel

6,8-14 B7 O veneno da Casa de Israel

7,1—9,15 C A visão do fim 7,1-6 C1 A intercessão do profeta suspende a destruição final 7,7—8,3 C2 A expulsão do profeta determina a destruição final 8,4-14 C3 O fim da profecia, última palavra do Senhor 9,1-10 C4 O Senhor ordena a destruição final 9,11-15 C5 O Senhor promete a restauração final Quanto à composição 1,3—2,16, os autores vêem a seção A estruturada concentricamente: Aos oráculos contra as seis nações da primeira seqüência corresponde o grande oráculo contra Israel que constitui a última

seqüência. No centro, o oráculo contra Judá, cuja função é a de ajuntar as duas outras seqüências.95 (tradução nossa).

Quanto à composição da seção 3,1—6,14, apresentada como uma grande unidade concêntrica, as seqüências B1 e B7 funcionam como introdução e conclusão.

B2 e B6 denunciam a corrupção da riqueza; as seqüências B3 e B5 denunciam a corrupção do culto. B4, no centro, articula a denúncia da corrupção da justiça e do culto, anunciando o fim para Israel.96

No final deste segundo capítulo, no debate sobre as estruturas do livro, dedicar-se-á uma atenção maior às seqüências B6 e B7 desta estrutura, analisando sua pertinência e seu valor retórico. Ainda segundo os autores97, a terceira seção 7,1— 9,15 compõe-se de cinco seqüências organizadas simetricamente.98 Observe-se que as seqüências extremas 7,1-6 e 9,11-15 são constituídas de uma só passagem, enquanto as outras três compreendem mais passagens. O que caracteriza a seção C são as visões, das quais as quatro primeiras (cf. 7,1; 7,4; 7,7; 8,1) começam com um formulário análogo: “Assim me fez ver o Senhor Deus: e eis [...]” O sujeito “o Senhor Deus” não ocorre explicitamente na terceira visão (cf. 7,7). Já a quinta visão (cf. 9,1) começa de modo diverso: “Vi o Senhor”.

1.17 Estrutura a partir do “eu” de Javé de acordo com Klaus

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