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Este trabalho insere-se na linha de pesquisa de Educação em Saúde e Educação Permanente e tem como referencial a Metodologia Problematizadora de Paulo Freire, fundamentado no Método do Arco de Charles Maguerez. O direcionamento de nossa pratica assistencial, proposta para a disciplina da VIII Unidade Curricular do curso de graduação em Enfermagem, voltou-se à uma prática educativa em saúde direcionada aos trabalhadores e, conseqüentemente, aos usuários.

A partir da construção do planejamento das atividades práticas, programamos uma série de ações. Durante o período de trabalho, observamos fatos que enriqueceram nossa visão e desta forma, extravasaram os objetivos propostos inicialmente, adicionando informações relevantes ao se trabalhar educação na prática assistencial.

Fato como o desconhecimento dos trabalhadores de saúde sobre a portaria 198/04 do Ministério da Saúde não passaram despercebidos por nós. Segundo Backes et al (2004), trata- se de uma conquista para a saúde pública a partir do momento que cria em todo território nacional Pólos de Capacitação de Educação Permanente dirigida aos profissionais dos serviços de saúde, assim como busca fortalecer a Atenção Básica de Saúde, inclui a formação profissional e o controle social à consolidação do SUS. O assunto em questão foi explanado para os profissionais no I Encontro para o Diálogo e discutido coletivamente a fim de atentá-los à esta importante temática.

Ao vivenciarmos a realidade, percebemos que ainda existe uma série de percalços na implementação da Educação Permanente no serviço. Além disso, nos deparamos com a dupla jornada de trabalho de grande parte dos trabalhadores, déficit de recursos humanos no serviço

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e o pouco tempo disponível para se dedicarem a atividades de Educação Permanente. Segundo Villa:

Diante do arsenal de afazeres do profissional, constatamos que a função educativa fica, em algumas situações, relegada a segundo plano...[...] A sobrecarga de trabalho é outro motivo apontado para o não desempenho da função educativa, pelo profissional...[...] A falta de recursos humanos e materiais, comprometem a assistência, inviabilizando um desempenho de qualidade. (2002, p. 146-7)

A receptividade do grupo para conosco frente nossa proposta de trabalho foi um impulso na realização das atividades com dedicação e apreço. Nossa supervisora e orientadora foram parceiras presentes em todas as atividades. O auxílio concebido motivou-nos ao uso lúdico e criativo nas oficinas, exercendo papel fundamental na construção deste trabalho e facilitou nosso vínculo com os profissionais e usuários. Segundo Freire (apud SOUSA, 1998, p.91), o professor [...] pode comprometer-se com o pensar certo, exercendo como ser

humano a irrecusável prática de inteligir, desafiar o educando com quem se comunica,

produzir sua compreensão do que vem sendo comunicado .

Os recursos utilizados durante as atividades, de fato, vieram aoencontro dos objetivos propostos inicialmente: envolver os participantes nas discussões a fim de entrelaçar teoria e prática. Segundo Berbel apud Tacla (2002, p.68), a metodologia da problematização [...] mobiliza o potencial social, político e ético dos profissionais...[...] e proporciona a estes amplas condições de relação teoria-prática e estimula o trabalho junto a outras pessoas da comunidade [...] . O planejamento de atividades foi flexível, o que possibilitou realizar as atividades de acordo com a realidade na qual nos deparamos. Isto nos permitiu alcançar os objetivos propostos com mérito.

O uso de um marco teórico, como o escolhido, com as idéias inovadoras de Paulo Freire permitiu um enriquecedor aprendizado. Encontramos certa dificuldade em relacionarmos a teoria e a prática, mas isto não foi empecilho para que nos dedicássemos ao estudo de sua metodologia e conseguíssemos utilizá-la num exercício de contínuas aproximações ao preconizado. Este aprendizado, paralelo ao uso do arco da problematização de Charles Maguerez certamente guiará nossas atividades na vida profissional, como enfermeiros e educadores que somos.

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Durante a realização das oficinas de Educação Permanente com os trabalhadores tínhamos o intuito de promover reflexão, discussão dos temas e proporcionar aos trabalhadores momentos de descontração, sempre relacionando ao marco teórico escolhido. Tentamos despertar a reflexão e atentar que o processo de emersão dos resultados da

Educação Permanente é lento e gradual, porém pode levar a libertação crítica a partir da

tomada de consciência de cada indivíduo. A participação foi a tônica em todas as iniciativas.

Já na prática assistencial e educativa proposta para as gestantes, tivemos oportunidade de fazer consulta de enfermagem sob a luz de Paulo Freire. Durante todo o trabalho, houve constante aprendizado por parte dos envolvidos: de um lado, a educação disponibilizada nos atendimentos com os clientes; do outro, nossa força de vontade em aprender, buscar, questionar, entender para aplicar. Por fim, refletir.

Criado um ambiente de trocas de experiências e de comunicação dialógica, desenvolvemos a metodologia problematizadora com auxílio dos participantes. Dada necessidade da Unidade Local de Saúde em trabalhar com as gestantes, voltamos nossas atividades da sala de espera para este grupo de atenção. Criamos um folder de orientações sobre os trimestres de gestação, com as necessidades levantas pelas participantes. Os resultados obtidos a partir da nossa avaliação, bem como dos envolvidos, foram satisfatórios e trouxeram benefícios para a comunidade.

Também promovemos, com auxilio dos trabalhadores da ULS, o Sábado da Gestante , com a certeza que traria resultados para aproximação das gestantes com as atividades da ULS, além de enriquecedor momento de educação em saúde e dinamizador de

cidadania.

Podemos ao final deste trabalho mencionar que os conceitos eleitos para sustentar teoricamente nossa trajetória, literalmente animaram e foram animados no transcorrer de todas as nossas experiências, tanto no processo que dinamizamos quanto no processo de orientação e supervisão que vivenciamos. As concepções de educação, educação permanente, educação em saúde, trabalhadores de saúde, participação, comunicação dialógica, cidadania, comunidade, enfermeiro, relação educando-educador e ser humano encontraram eco em nossas ações e marcarão nossa atuação profissional pela incorporação do referencial freireano,

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pois apostamos nele como estratégia diferencial para uma práxis transformadora na saúde e na educação.

Por fim, agora com o caminho percorrido, temos a satisfação de saber que experenciamos momentos de discussão e reflexão enriquecedores. Aprendemos que [...] não somos um grupo superior, ensinando a um grupo a uma pessoa ignorante. Somos porta-vozes de um saber relativo para outros que possuem outro saber relativo. (FREIRE apud VILLA et al., 2002, p.139). Fica a certeza de que alcançamos os objetivos propostos e acreditamos que pudemos fortalecer a idéia da importância da Educação Permanente na atenção básica, inserindo o papel do (a) enfermeiro (a) neste contexto.

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