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OU ACOLHIMENTO EFETIVAÇÃO DA CONSULTA,

5 RELATO, DISCUSSÃO E AVALIAÇÃO DA PRÁTICA EDUCATIVA E ASSISTENCIAL

5.4 Prática assistencial voltada às gestantes

5.4.6 Sala de Espera

Quando nos comprometemos com o desenvolvimento de uma prática assistencial e, principalmente, educativa na ULS, logo presumimos que iríamos utilizar o marco teórico escolhido também nas atividades com os usuários. Segundo informações coletadas com os trabalhadores e com nossa supervisora, a sala de espera seria um ambiente rico para tal atuação.

Para promover educação na sala de espera, inicialmente procuramos eleger um horário e dia da semana para desenvolvê-la, com o intuito de execução de um melhor planejamento das atividades e ainda para manter um dia definido, para que os usuários tivessem uma referência de quando iriam acontecer as atividades.

Confeccionamos um cartaz, posteriormente afixado na sala de espera da unidade, que convidava os usuários a opinar sobre os assuntos a serem debatidos e informava o dia da semana e hora em que ocorriam as conversas: terças-feiras às 19 horas. O horário foi escolhido devido a demanda da unidade a partir das 17 horas, pois são atendidos usuários, não só da área de abrangência da ULS, mas de todo o sul da ilha, aumentando o número de pessoas que aguardam atendimento na sala de espera.

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Foi colocada, próxima ao cartaz, uma caixa colorida juntamente com folhetos a serem preenchidos pelos usuários, nos quais era pedido que deixassem sugestões de temas a serem abordados na sala de espera, além de seu nome e telefone se desejassem comparecer no dia em que seria abordado o tema de sua escolha. Infelizmente não obtivemos o resultado esperado com a caixa de sugestões, sendo necessário assim, mudar a estratégia.

Planejamos, assim, para a primeira atividade de Sala de Espera uma conversa informal com os presentes, a fim de fazer levantamento dos pontos-chave a serem discutidos nas salas de espera posteriores.

Porém, nos deparamos com alguns percalços ao longo da trajetória planejada. Na primeira terça-feira programada para o desenvolvimento desta atividade, nossa supervisora, por motivos pessoais, não pôde comparecer e, por conseqüência, acompanhar nossas atividades no dia, pedindo que as transferíssemos. Na terça-feira seguinte, o médico do período noturno não compareceu ao trabalho, não havendo público para a realização de oficinas.

Enfim, na semana seguinte, conseguimos desenvolver a primeira atividade planejada. Devido ao horário escolhido, havia grande rotatividade de pessoas presentes na sala de espera da unidade. Então, decidimos fazer uma abordagem individual, já que o levantamento de problemas-chave é uma percepção pessoal. Além disso, facilitaria o diálogo com as pessoas que não gostam de expressar opinião em público.

Inicialmente, os acadêmicos se apresentavam e explicavam o motivo de estarem promovendo esta atividade. Era questionado aos presentes quais assuntos, relacionados a realidade vivenciada pela comunidade, poderíamos estar abordando nas próximas salas de espera. A sugestão também poderia ser de algum tema de interesse pessoal, sobre os quais gostariam de aprender um pouco mais ou tirarem duvidas. As sugestões foram levantadas por 4 dos 7 entrevistados. Os demais presentes não quiseram opinar.

A princípio, as pessoas não se expressavam muito, porém após a insistência dos acadêmicos, algumas deram sugestões e outras se manifestaram dizendo que não tinham nenhuma idéia. Um dos usuários sugeriu que o tema fosse acerca de Saúde Mental, pois acreditava que isto praticamente não era abordado na unidade.

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Outro tema levantado foi Violência Infantil, levantado por uma mulher que convivia com crianças. Ela comentou que isto é grave e que conhece casos ocorridos na comunidade. Acredita que [...] todos precisam ser informados que isto é crime .

A prevenção de todo o tipo foi sugerida como um aspecto importante a ser discutido por todos, pois a entrevistada acreditava que [...] os indivíduos deveriam se prevenir durante

toda a vida para que na velhice tivesse qualidade de vida .

Um outro problema ficou definido através da indignação de um outro usuário, ficando demonstrada na fala [...] a falta de funcionário deveria ser assunto a ser discutido, pois

além de sobrecarregar os funcionários da unidade, acaba conturbando a rotina daqui e dificulta com que a gente seja atendido [...] .

Após o levantamento dos pontos-chave, elegemos violência infantil como assunto do próximo encontro, onde seria feita a teorização. Porém, aconteceram alguns outros problemas relacionados à rotina da unidade, dificultando assim, mais uma vez, nossa atuação. Na semana subseqüente, houve greve realizada pelos motoristas e cobradores de ônibus, impossibilitando a presença de alguns funcionários, como por exemplo o vigia, que no período noturno é fundamental para uma maior segurança tanto dos funcionários quanto dos usuários que ali freqüentam. Então a ULS foi fechada depois das 17 horas. Uma semana depois, também na terça-feira, outro transtorno ocorrido, que impossibilitou de estarmos atuando em sala de espera, foi a greve dos servidores públicos municipais. Como os funcionários da unidade aderiram a greve, as portas da ULS foram fechada.

Por estarmos envolvidos com outras atividades prioritárias, como os encontros com os trabalhadores, deixamos de nos dedicar mais cuidadosamente ao planejamento de alternativas para outras formas de desenvolvimento de educação em salas de espera para os usuários. Como os impasses ocorridos nas terças-feiras sempre nos pegavam de surpresa, acabávamos transferindo a atividade planejada para a próxima semana, no mesmo dia em que havíamos nos comprometido com os usuários, segundo cartaz exposto na sala de espera da unidade.

Então, como tínhamos um planejamento flexível, modificamos nossa estratégia inicial, podendo assim, dar ênfase a um fato observado e considerado relevante por nós. Após uma

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conversa, resolvemos dar uma nova perspectiva à Sala de Espera : realização de atividades educativas as mulheres grávidas que não compareciam ao grupo de gestantes, como uma tentativa de resgatá-las.

Estabelecido nosso novo objetivo em sala de espera, partimos para a prática fazendo uso dos problemas-chave anteriormente levantados durante os grupos de gestantes. Então, foram realizadas, nos mesmos dias em que aconteceram os II Grupo de Gestantes , atividades em sala de espera sobre o mesmo assunto abordado nos grupos. Iniciaram aproximadamente às 16 horas, momento que percebemos que havia um maior número de gestantes aguardando as consultas.

Após nossa breve apresentação, iniciamos um diálogo informal a respeito de Parto, explicando o motivo de abordarmos tal temática. Logo em seguida transmitimos o vídeo O Sagrado . Este despertou um grande interesse tanto nas gestantes presentes como nos demais usuários que ali se encontravam. Muitos expressaram certo desconforto com algumas cenas visualizadas, até mesmo espanto, por ser algo desconhecido e novo. Todos prestaram atenção, assim como o ocorrido durante a passagem nos grupos.

Com o término do filme, muitas pessoas se mostraram surpresas, questionando a respeito. Duvidas com relação a dor, presença de acompanhante no momento do parto, o melhor local para que este aconteça, o que levar e o momento exato de ir para a maternidade. Todas as dúvidas levantadas foram sanadas, assim como uma pequena teorização quanto aos sinais e sintomas, necessidade de permanecer tranqüila, e que elas são inteiramente responsáveis pelo ato do nascimento, cabendo aos profissionais o papel de assistencialistas, visando sempre o melhor para a mãe e filho.

Para finalizar, convidamos as gestantes presentes a participar no grupo que é oferecido no inicio da tarde no mesmo dia das consultas, mostrando lhes a importância deste momento de trocas de experiências, conhecimentos e dúvidas, que proporciona um ambiente para amenizar as angustias e estresses vivenciados no período.

Aproveitamos a oportunidade para convidá-las para o Sábado da Gestante , enfatizando os temas que seriam abordados, na tentativa de motivá-las a participarem.

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Parte do resultado das atividades de sala de espera para gestantes foi obtido no Sábado da Gestante , onde pudemos contar com a presença de algumas das mulheres convidadas durante a atividade realizada. Não houve possibilidade de observarmos se o resultado esperado foi obtido por completo, pois nosso período de estágio se concluiu antes da realização do próximo grupo de gestantes.

Considerando o ocorrido, avaliamos que cumprimos parte dos objetivos propostos se observarmos apenas o comprometimento com o projeto inicial. Em contrapartida, ao vivenciarmos a atividade proposta no dia a dia, percebemos que a experiência prática acontece em um ritmo diferente do que imaginávamos. Então, ao mudarmos o foco de atenção, e utilizarmos os problemas-chave já levantados no grupo de gestantes para trabalhar em um novo arco, no qual foi possível desenvolver um fechamento, acreditamos que atingimos por completo nosso objetivo. Percebemos que a sala de espera propicia ao profissional de saúde um ambiente que, ao utilizar as ferramentas certas, possibilita acolher aos usuários, sanar dúvidas, promover saúde, informar, transmitir confiança, enfim, contribuir para a construção de educação em saúde.

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