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Encontrar o caminho para fazer frente à instabilidade que atualmente se verifica nos sistemas de montanha do Norte e Centro do País tem sido uma questão muito complexa, que se tem prolongado à custa da contínua degradação socioeconómica e ambiental destas regiões. Se a forma de gestão efetuada promover um uso sustentável do território, nas vertentes referidas, de forma integrada, atuar-se-á positivamente no sentido da desejada estabilidade do sistema.

Podemos procurar soluções a este nível olhando para o passado, e adaptando-as à realidade atual. Na história da presença humana nas montanhas portuguesas podem-se considerar dois períodos de estabilidade: um em que a ocupação humana ainda não tinha um impacto significativo nos ecossistemas e o período das sociedades agro-pastoris tradicionais.

No primeiro, os grandes modeladores da paisagem eram os grandes herbívoros, através da ação do pastoreio e pisoteio, sendo responsáveis pela criação e manutenção de pastagens naturais de herbáceas coexistentes com uma floresta dominada pelas folhosas autóctones. Criava-se, assim, um mosaico paisagístico de elevada biodiversidade. Os matos tinham uma baixa representatividade, porque ou evoluíam para floresta pela sucessão ecológica ou regrediam para comunidades de herbáceas pela pressão exercida por parte dos grandes herbívoros. O efeito da limpeza realizada por estes animais em conjunto com as características da vegetação então existente conferia a estas paisagens uma grande resistência aos incêndios, que seriam também de menor intensidade.

Num segundo período, a partir do Neolítico, o Homem domesticou gradualmente a paisagem, extinguiu os grandes herbívoros selvagens e causou a regressão das florestas, aumentando a área de matos para o pastoreio à custa das mesmas. O mosaico paisagístico era composto pelos matos, que eram geridos com recurso ao pastoreio, ao corte e a queimadas, por áreas agrícolas e pela floresta remanescente, obtendo-se uma paisagem na qual o fogo era de baixa intensidade e controlado pelo Homem. A biodiversidade e a fertilidade estabilizaram num nível mais baixo do que o pré-existente, e as atividades humanas mantiveram paisagens de grande valor cultural e natural, embora este inferior.

Atualmente o êxodo rural, que se deveu a alterações políticas e sociais ocorridas no último século, e a ausência de uma fauna capaz de exercer pressão significativa na vegetação, resultaram na acumulação de combustíveis e na homogeneização da paisagem, conduzindo a incêndios recorrentes, intensos e de grande dimensão, com consequências graves a nível

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social, económico e ambiental. De entre os vários problemas que afetam os espaços florestais, é este o mais preocupante, com tendência a agravar-se devido às alterações climáticas.

O atual sistema de prevenção e combate é dispendioso e ineficaz, contribuindo para a insustentabilidade económica da floresta, que é sobretudo privada, e para o desinteresse dos proprietários pela sua gestão, agravando o problema. É reconhecida a necessidade de uma maior aposta ao nível da prevenção, uma vez que os recursos que lhe são alocados correspondem apenas a um terço dos do combate, a principal linha de atuação. Contudo, a estratégia para a prevenção tem sido a gestão de combustíveis, principalmente com recurso ao corte mecânico, técnica bastante dispendiosa. Assiste-se atualmente a uma crescente utilização de fogo controlado, que implica menores custos. No entanto, ambas as técnicas exigem intervenções periódicas, de forma a manter as quantidades de combustível baixas. Deste modo, pode-se dizer que esta estratégia de prevenção consiste num combate interminável, e com resultados de curta duração, contra as tendências naturais dos ecossistemas. Não enfrentando a verdadeira raiz do problema, ou seja, o tipo de vegetação existente e a falta de atividades autossustentáveis que criem um mosaico paisagístico resistente ao fogo, favorece-se a perpetuação da situação atual e a necessidade de uma luta permanente contra os incêndios.

A sensibilização da população, outra estratégia ao nível da prevenção, exigiria para o seu sucesso, uma forte mudança cultural, visto a utilização do fogo estar intrinsecamente ligada ao modo de vida do homem desde tempos remotos. Por outro lado, o número de ignições será irrelevante quando está presente combustível com quantidade, continuidade e características favoráveis à ocorrência do fogo.

Desta forma o ideal seria conseguir uma prevenção com soluções que fossem duradouras e pouco dispendiosas, possuindo uma função integrada no sistema e com externalidades positivas, nas quais se incluem benefícios económicos.

Este cenário poderia ser alcançado através da expansão da floresta adulta de folhosas autóctones em locais estratégicos para o combate ao fogo ou mesmo substituindo formações vegetais de maior combustibilidade, como matos ou pinhais. A integração deste tipo de floresta na paisagem é uma mais-valia, contribuindo para o desenvolvimento sustentável das zonas rurais. Beneficia o sector florestal uma vez que promove o aumento da resistência da paisagem aos riscos bióticos e abióticos, especialmente doenças, pragas e incêndios. Para além de benefícios indiretos possui valores económicos tangíveis obtidos através da exploração de bens como cogumelos, caça, pastagens e outros que podem complementar a

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exploração de madeiras nobres, muito valiosas mas de crescimento lento. Seria do interesse dos proprietários a realização de cortes seletivos, mantendo a floresta num bom estado de maturação e saúde, fornecendo portanto mais serviços de ecossistema. A obtenção de rendimentos seria faseada e diversificada, permitindo uma maior estabilidade económica ao proprietário e uma maior defesa relativamente a imprevistos. Neste sentido, a gestão multifuncional desta floresta deve assegurar a sustentabilidade de todos os seus valores e funções através de medidas que as compatibilizem entre si. O ordenamento paisagístico é um fator essencial para assegurar o seu papel ao nível do aumento da resistência da paisagem contra os incêndios, minimizando os custos da prevenção e combate aos incêndios.

A expansão da floresta autóctone seria efetuada em conjunto com a aplicação de uma de duas soluções: a reintrodução dos grandes herbívoros, em situações sociais e ambientais adequadas, ou o fomento das atividades agrícolas tradicionais. Estas soluções contribuiriam para a gestão de combustíveis e para a criação e/ou manutenção de um mosaico paisagístico resistente ao fogo. As formas convencionais de gestão dos combustíveis deixariam de ser a principal aposta para passar a ter um papel complementar.

Estas soluções contribuem também para alcançar os objetivos de conservação das áreas protegidas no que respeita à preservação de valores naturais e culturais que estão a desaparecer, e para o fornecimento de importantes serviços de ecossistema à sociedade. Seriam também uma forma de minimizar os conflitos entre os objetivos das áreas protegidas e os seus habitantes, pois conciliam a criação de atividades económicas com a conservação da natureza e com valores culturais. Alguns baldios, pela sua dimensão e características, poderiam ser pioneiros no desenvolvimento de projetos neste âmbito, contribuindo para o desenvolvimento sustentável da região e para a divulgação destas práticas, tendo um carácter demonstrativo. Contudo esta ideia é de difícil implementação dado o cariz comunitário dos baldios, pelo que seria concretizável apenas em casos específicos e com recurso à participação pública.

Sendo o âmbito deste trabalho a realização do Plano de Gestão Florestal do Perímetro Florestal de Manteigas, no Parque Natural da Serra da Estrela, incorporaram-se nele algumas destas soluções ao nível da gestão, através da definição de objetivos e medidas a serem implementados de forma integrada. Desta forma, sugeriram-se os objetivos e medidas apresentados na tabela 29.

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Tabela 29. Objetivos e medidas propostos para o PGF

Objetivo 1. Compartimentar o espaço florestal de forma a estabelecer um mosaico paisagístico que potencie a biodiversidade, a qualidade da paisagem e a sua resistência a riscos bióticos e abióticos.

Medida 1.1. Fomentar povoamentos adultos de folhosas autóctones em linhas de água, nas cumeadas em que haja condições para a arborização, ao longo de caminhos e outras infra-estruturas, assim como nas encostas de maior declive e exposição Sul/Este. Estes locais estratégicos visam aumentar a resistência da paisagem aos incêndios. O aumento de biodiversidade e a compartimentação dos povoamentos puros concorrem para a diminuição dos riscos bióticos e para o enriquecimento do mosaico paisagístico.

Medida 1.2. Nas linhas de cumeada em que haja condições para a arborização, procurar implementar uma rearborização de baixa densidade, com espécies de baixa combustibilidade, de forma a permitir rugosidade no terreno que induza uma redução da velocidade do vento e, portanto, da propagação do fogo. A situação ideal seria conseguida se o subcoberto desta floresta fosse favorável ao pastoreio, uma forma eficiente de o gerir, resultando numa ocupação altamente eficaz na travagem da progressão do fogo.

Medida 1.3. Expansão do cultivo de centeio em zonas de matos, ancestralmente ocupadas por culturas cerealíferas, e cultivo em locais estratégicos do ponto de vista da prevenção contra incêndios.

Medida 1.4. Nas áreas de matos onde existam nas proximidades infra-estruturas e bioindicadores que apontem condições adequadas, promover a implantação de bosquetes de diversas folhosas autóctones que constituam a vegetação potencial nos locais de menor altitude, ou de pinheiro- silvestre e/ou de vidoeiro nas zonas de maior altitude.

Medida 1.5. Promover o corte sanitário nos povoamentos de castanheiros e tratamento dos seus despojos de modo a controlar os focos de cancro do castanheiro e da doença da tinta.

Medida 1.6. Condução dos castinçais em talhadia eliminando varas em excesso, tomando sempre as medidas necessárias para a desinfeção do material de corte utilizado e fazendo o tratamento dos sobrantes.

Objetivo 2. Promover a sustentabilidade dos povoamentos jovens, ou seja, de plantações recentes e de áreas de regeneração natural em área ardidas.

Medida 2.1. As rearborizações de quercíneas, em especial nas áreas percorridas por incêndios, devem ser objeto de acompanhamento conforme modelos de silvicultura.

Medida 2.2. Condução da eventual regeneração natural, através de limpezas do povoamento e desbastes. Caso não haja regeneração natural suficiente será ponderada a regeneração artificial com o mesmo tipo de ocupação conjugando na sua composição a vegetação potencial do local a intervir.

Objetivo 3. Implementar as ações DFCI.

Medida 3.1. Manutenção da rede primária de faixas de gestão de combustíveis e rede secundária segundo o estabelecido no PMDFCI de Manteigas.

Medida 3.2. Manutenção de rede terciária definida para o PGF de Manteigas.

Medida 3.3. Manutenção e/ou instalação de mosaico de parcelas de gestão de combustível definida para o Perímetro Florestal de Manteigas e a propor em PMDFCI de Manteigas.

Medida 3.4. Manutenção de rede viária florestal, através da regularização da plataforma e das infraestruturas hidráulicas.

Medida 3.5. Manutenção e/ou instalação de pontos de água estabelecidos no PMDFCI de Manteigas.

Objetivo 4. Manutenção de habitats classificados de grande valor natural.

Medida 4.1. Parcerias com pastores para manutenção do cervunal (pastoreio, condução e dispersão das águas pluviais e de escorrência, fogo controlado), dos prados psicroxerófilos (pastoreio) e para gestão dos matos (fogo controlado e pastoreio).

Medida 4.2. Os pontos de água que encerram habitats relevantes deverão ser objeto de controlo de acesso ao gado transumante, por forma a evitar o pisoteio das margens e resultante degradação da vegetação. Para evitar a perturbação desses habitats, procurar-se-á instalar bebedouros a jusante.

Medida 4.3. Preservação e incremento de bosquetes de teixo.

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de quercíneas.

Medida 4.5. Criação de bosquetes de pinheiro-silvestre (com material genético proveniente de povoamentos autóctones) nas zonas de maior altitude.

Medida 4.6. Criação/condução da regeneração de bosquetes de vidoeiro em depressões húmidas das zonas de planalto, de forma a melhorar o habitat e a criar barreiras à propagação do fogo.

Objetivo 5. Manutenção da diversidade genética dos povoamentos florestais.

Medida 5.1. Aumento da biodiversidade dos povoamentos através da plantação/fomento de espécies autóctones privilegiando espécies produtoras de frutos e bagas e espécies raras. Ex: aveleira (que se mostrava abundante nos diagramas polínicos em estudos realizados no planalto superior da Serra da Estrela, denotando o seu potencial), medronho, mostajeiro, teixo, azevinho, tramazeira, cerejeira, pilriteiro, sabugueiro, entre outras.

Medida 5.2. Preservação dos núcleos de espécies raras, como teixo ou azevinho e respetivos habitats.

Medida 5.3. Manutenção dos povoamentos selecionados no Catálogo Nacional de Materiais de Base como fornecedores de semente.

Objetivo 6. Realizar cortes de reconversão em povoamentos com densidade que corresponda ao seu termo de explorabilidade.

Medida 6.1. Corte de realização somente em povoamentos que estejam no seu termo de explorabilidade e que apresentem ou indiciem problemas sanitários e de acordo com o plano de cortes.

Objetivo 7. Recuperação de áreas ardidas.

Medida 7.1. Recuperação de infraestruturas afetadas, como a rede viária, troços de rede primária e seções de rede secundária de faixas de gestão de combustíveis (FGC), pontos de água, cercas de proteção dos povoamentos e substituição de sinalização danificada.

Medida 7.2. Controlo da erosão, tratamento e proteção das encostas, como a aquisição ou corte e processamento de resíduos orgânicos/florestais, instalação de barreiras de resíduos florestais, troncos e outros, abertura de regos segundo as curvas de nível; rompimento da camada de solo repelente à água e tratamento do solo para melhoria das suas características.

Medida 7.3. Prevenção da contaminação e assoreamento e recuperação das linhas de água, como a regularização do regime hidrológico das linhas de água e obras de correção torrencial de pequena dimensão.

Medida 7.4. Diminuição da perda de biodiversidade, como o aproveitamento da regeneração natural, rearborização através da instalação por sementeira ou plantação, instalação de elementos de descontinuidade, controlo de espécies invasoras, aquisição e instalação de proteções individuais de plantas e instalação de abrigos e comedouros para a fauna selvagem.

Objetivo 8. Promover a atividade silvopastoril como dinamizadora da gestão do espaço florestal, destacando o seu contributo para manutenção da biodiversidade, para a defesa dos povoamentos, e sobretudo para a preservação da identidade local e do património cultural. Medida 8.1. Parceria entre os pastores e o baldio na manutenção das redes de FGC e mosaicos de parcelas

de gestão de combustíveis, alargando-se o período entre as ações de gestão de combustível.

Medida 8.2. Parceria entre os pastores, o baldio e diferentes entidades com assento na CMDFCI de Manteigas no tratamento de áreas de pastagem utilizando a prescrição do fogo controlado e outras formas de gestão da vegetação arbustiva.

Medida 8.3. Promover a articulação entre as atividades de recreio dinamizadas na Serra da Estrela por inúmeras empresas e entidades privadas e públicas e as práticas tradicionais do pastoreio de percurso; com o objetivo de valorização das atividades tradicionais de pastoreio, em especial a transumância, associadas a toda uma cadeia de valor de produtos resultantes desta atividade milenar (como o queijo, o burel, os artefactos, o património construído e cultural).

Objetivo 9. Valorização ambiental dos espaços de recreio como miradouros, percursos pedestres, áreas de piquenique, e outros locais de interesse, através da manutenção de infraestruturas e melhoria da sua envolvente florística.

Medida 9.1. Aumento da biodiversidade dos povoamentos através da rearborização/fomento de espécies autóctones.

Medida 9.2. Requalificação e manutenção de espaços de visitação, através da gestão da vegetação promovendo o seu incremento ou a sua redução conforme o arranjo paisagístico que se pretende para o local e as suas características.

Medida 9.3. Promover a limpeza regular de resíduos, em especial nos picos de maior visitação, junto das entidades competentes.

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Objetivo 10. Identificar e aumentar o potencial produtivo e de recoleção de produtos não- lenhosos.

Medida 10.1. Identificação de frutos e bagas silvestres com interesse económico e dos respetivos mercados, como potencial para a diversificação de receitas e mais-valias financeiras.

Medida 10.2. Fomento da produção de cogumelos, através da condução dos povoamentos, fomento da vegetação potencial e regulação da recolha.

Medida 10.3. Fomento da apicultura, através da criação ou disponibilização de locais para instalação de apiários para os compartes, apoiando-se na ampla biodiversidade florística existente e fomentando-a.

Medida 10.4. Fomentar as espécies cinegéticas, através da vegetação potencial, de sementeiras de centeio, criação de marouços, postos de alimentação e bebedouros, da manutenção do mosaico paisagístico (através da pastorícia e gestão de combustíveis), e adequando os planos anuais de exploração cinegética em função das dinâmicas criadas e os efetivos existentes.

Medida 10.5. Fomento das espécies piscícolas nas bacias dos rios Mondego e Zêzere, através da beneficiação da vegetação ripícola, requalificando-se as margens degradadas de modo a aumentar a produção de alimento, refúgio e áreas de reprodução.

Objetivo 11. Manutenção de património.

Medida 11.1 Manter e/ou beneficiar infraestruturas tradicionais do pastoreio extensivo, como canadas, abrigos, fontes, passadiços entre outras.

Medida 11.2. Melhoria dos pontos de água existentes e criação de novos em função da presença de pastoreio.

Medida 11.3. Manutenção/recuperação de elementos com valor arquitetónico como pontes; socalcos; “barragens” (estruturas construídas em pedra ao longo das encostas para conter focos de erosão, onde a montante foram instaladas plantas); muro de correção torrencial ao longo de linhas de água e os caminhos florestais, em especial, nos troços onde o talude inferior e superior é suportado por alvenaria em pedra seca.

Objetivo 12. Dinamizar e divulgar práticas silvícolas demonstrativas de uma gestão adequada, visando a harmonização entre a conservação da natureza e as atividades económicas, prosseguindo os objetivos da Floresta Modelo.

Medida 12.1. Divulgação ao público em geral e a entidades de diferentes sectores que interagem no território das práticas de gestão do espaço florestal implementadas.

Medida 12.2. Dinamização de atividades tradicionais como a pastorícia, mostrando que se gerida de forma sustentável e apoiada pela sociedade poderá ser uma ferramenta para a gestão do espaço florestal e uma mais-valia para produção de recursos endógenos únicos, com implicações na redução da acumulação de combustível e sua continuidade, e consequente redução da área ardida, e a valorização da paisagem.

Medida 12.3. Preparar a gestão para a adoção dos critérios de certificação florestal tendo em conta que o Perímetro Florestal de Manteigas foi identificado como floresta modelo no PROF BIN.

Objetivo 13. Dinamizar estudos/investigação para melhorar os conhecimentos com vista à gestão dos valores naturais presentes.

Medida 13.1. Promover e apoiar estudos e investigação junto de entidades públicas e privadas com vista à valorização dos recursos existentes e/ou potenciais com vista ao retorno económico e social relevante para o local e a região.

Para a formulação destes objetivos e medidas foi necessário uma extensiva avaliação do Perímetro, conseguida através da elaboração de um SIG e de um inventário florestal que permitiram a caracterização do uso do solo, dos povoamentos e habitats presentes. Foi também realizado um inquérito com o objetivo de compreender quais os interesses da população em relação aos baldios.

A adoção das soluções advogadas foi limitada por diversas restrições, entre as quais algumas que não estão no campo de atuação da entidade responsável pela elaboração do PGF.

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Para possibilitar o desenvolvimento sustentável nas áreas protegidas de montanha são necessárias mudanças a vários níveis.

Torna-se necessária uma mudança de paradigma na forma como é encarada a conservação da natureza, reconhecendo o papel das populações locais na gestão e atribuindo- lhes maior capacidade de participação nas decisões tomadas. No entanto, uma gestão participada é hoje em dia difícil, porque as pessoas estão cada vez mais desligadas das formas de vida tradicional, cujas atividades eram compatíveis com os valores naturais, contribuindo para a sua preservação. A tendência atual é para o modo de vida urbano invadir o ambiente rural e a mentalidade dos habitantes. Esta realidade deve ser tida em consideração quando é feita a participação pública, devendo-se simultaneamente sensibilizar a população para os valores presentes e cativá-la para contribuir para a sua gestão. Para tal, seria muito importante a valorização dos produtos resultantes de atividades com externalidades positivas.

Ao nível dos órgãos estatais seria também necessário haver uma redução da burocracia, mais funcionários e mais financiamento. Estes fatores em conjunto com a centralização do poder, a existência de diversas instituições envolvidas, a sobreposição de vários instrumentos de ordenamento e gestão, tiram liberdade aos responsáveis para realizar uma gestão eficaz.

As soluções propostas apontam para uma atuação que se afasta da cultura predominante. Neste sentido, o desenvolvimento de projetos pioneiros que demonstrem estas formas de gestão e a sua eficácia seria útil para a mudança dos paradigmas que em muito

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