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4. Os espaços florestais de montanha na atualidade

4.2. A situação atual da floresta

A floresta nacional apresenta uma importância inquestionável nas vertentes económica, social e ambiental. As três principais espécies florestais no país são o eucalipto (Eucalyptus globulus), que representa 27% da superfície florestal, o pinheiro-bravo (Pinus

pinaster) (23%) e o sobreiro (Quercus suber) (23%), sendo estas a base das três principais

fileiras industriais desenvolvidas. O setor florestal representa cerca de 10% das exportações nacionais e 2% do Valor Acrescentado Bruto, e é responsável pela criação de 100 mil postos de trabalho, ou seja, 4% do emprego nacional. Apresenta, assim, grande importância económica e social, particularmente nas zonas rurais (ENF, 2015).

Contudo, os problemas que têm afetado a floresta portuguesa, principalmente o agudizar de pragas e doenças e a extensão e recorrência de incêndios, repercutem‑ se na sustentabilidade da gestão florestal (ENF, 2015). A frequência e severidade da ocorrência dos incêndios florestais em Portugal, cujas causas foram anteriormente expostas, traduzem-se em prejuízos acentuados, principalmente nas fileiras do pinheiro-bravo e eucalipto, quer pela destruição do património florestal em si quando se trata de incêndios com maior severidade, quer pela grande influência que estes exercem no aparecimento de pragas e doenças que encontram condições especialmente favoráveis em povoamentos parcialmente queimados ou com árvores ardidas (Torres et al., 2011). Entre os diversos fatores responsáveis pelo estabelecimento de pragas e doenças, este juntamente com o tipo de gestão realizado, têm particular relevância. Em 2011 Portugal registava a maior proporção de floresta com danos deste tipo na Europa (20% da área florestal) (POSF, 2014).

No caso das montanhas do interior Norte e Centro, o nemátodo do pinheiro (Bursaphelenchus xylophilus) é o agente patogénico mais preocupante, uma vez que ataca severamente esta espécie florestal provocando graves danos económicos e ambientais. Para além desta praga, são também importantes a processionária (Thaumetopoea pityocampa), os escolitídeos, entre outras. Outra espécie bastante afetada por agentes bióticos nocivos é o castanheiro (Castanea sativa), sendo de destacar a doença da tinta (Phytophthora spp.) e o cancro do castanheiro (Cryphonectria parasitica) (POSF, 2014; ENF, 2015).

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As plantas invasoras constituem um grande problema ambiental, pelas graves consequências que têm na conservação da biodiversidade e na estrutura e função dos ecossistemas, limitando a quantidade e qualidade de serviços que estes fornecem à sociedade. A invasora de maior importância nas zonas de montanha é a mimosa (Acacia dealbata) (Marchante & Marchante, 2007), que quase duplicou a sua área de ocupação entre 1995 e 2010 (ENF, 2015). No vale do Rio Gerês, por exemplo, foram plantados no início do século passado 1256 pés desta espécie. Em 1989 ocorreu um incêndio que facilitou a dispersão da mimosa, que ocupa hoje cerca de 300 hectares cobrindo a encosta oeste do vale. As ações de controlo e de recuperação dos habitats naturais aí desenvolvidas não têm atingido os objetivos pretendidos (Fernandes, 2008).

Esta espécie, de grande potencial invasor, produz muitas sementes que permanecem viáveis no solo durante anos, rebenta vigorosamente de touça e raiz, e forma povoamentos muito densos, impedindo o desenvolvimento da vegetação nativa. Diminui também o fluxo das linhas de água e aumenta a erosão (Marchante et al., 2014). A sua presença aumenta a probabilidade de ocorrência, a facilidade de propagação e a intensidade do fogo, devido à grande acumulação de combustível e baixo teor de humidade desta espécie (Marchante & Marchante, 2007). Coloniza sobretudo zonas perturbadas como espaços agrícolas abandonados, áreas ardidas ou bermas de estrada, mas também florestas já estabelecidas que tenham sido afetadas por atividades humanas. A perturbação dos ecossistemas a grande escala (Sanz Elorza et al., 2004), a falta de aplicação de ações de controlo e o elevado insucesso das realizadas são responsáveis pela extensão que a mimosa ocupa atualmente (Marchante & Marchante, 2007). A circulação global de bens e pessoas acrescem às ameaças à sanidade da floresta, uma vez que o risco de importação de novos agentes patogénicos e espécies invasoras é aumentado (ENF, 2015).

Na matriz estruturante do valor das florestas apresentada na Estratégia Nacional para as Florestas, o valor total das externalidades negativas associadas aos incêndios é de 378 milhões de euros e aos agentes bióticos nocivos e invasoras é de 16 milhões de euros, perfazendo cerca de um terço do valor económico total da floresta nacional (ENF, 2015)

Como minorar estas perdas?

No período 2005 a 2012 o valor investido em prevenção contra incêndios foi, em média, próximo de 1/3 do investimento em combate (3,4 euros/ha de prevenção e 9,8 euros/ha em combate). O valor de prevenção e combate correspondeu a 1544 euros/ha de área ardida

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(povoamentos ou matos). Os custos associados às perdas de bens e serviços e à recuperação de áreas ardidas foram, em média, de 5,1 milhares de euros/ha de povoamento florestal ardido (ENF, 2015).

A ENF (2015) reconhece que a aposta nos mecanismos de supressão não é sustentável, e que é necessário uma maior aposta na prevenção. Esta constitui dois dos cinco eixos do Plano Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios (PNDFCI, 2006): o “Aumento da resiliência do território aos incêndios florestais” e a “Redução da incidência dos incêndios”. Ao nível do primeiro eixo, tem-se apostado sobretudo na gestão de combustíveis (principalmente na criação e manutenção das redes de defesa da floresta contra incêndio (DFCI)) para aumentar a descontinuidade da vegetação pirofítica e facilitar o combate (Fernandes, 2007). Tal tem sido conseguido maioritariamente através de intervenções unicamente com essa finalidade, como o corte ou um método mais económico, mas ainda não muito utilizado, o fogo controlado. No entanto, segundo a ENF (2015), o intervalo de tempo mais usual para a manutenção de elementos de descontinuidade situa-se entre 3 e 6 anos, o que implica custos de manutenção muitas vezes apontados como condicionantes à sua execução. Ambos os documentos enfatizam a necessidade de fomentar atividades com produção de riqueza associada, como a pastorícia extensiva (que implica o uso do fogo para renovação das pastagens), atividades agrícolas, a resinagem ou a recolha de biomassa para energia. No entanto, pouco tem sido feito neste sentido. Ao nível do segundo eixo prevê-se a sensibilização das populações, a melhoria do conhecimento sobre as causas dos incêndios e o aumento da capacidade de dissuasão e fiscalização. Isto tem como objetivo a diminuição do número de ignições, o que só por si não será eficaz, sendo necessário também aumentar a resistência da paisagem aos incêndios florestais, como contemplado no primeiro eixo. De outra forma, a redução do número de ignições contribuirá para a acumulação de combustível que, juntamente com paisagens homogéneas, facilitarão a ocorrência de incêndios destrutivos de grande intensidade e extensão.

Para melhorar o estado sanitário dos ecossistemas florestais, o Plano Operacional de Sanidade Florestal (2014) reconhece a necessidade de atuação ao nível dos fatores de desequilíbrio (não considerando contudo a inerente vulnerabilidade da maioria das plantações presentes devido à sua baixa biodiversidade) e de implementação de novas formas de gestão. Neste sentido, este documento preconiza a tomada de ações nas áreas da prevenção, monitorização e combate. Relativamente às invasoras, não existe um plano oficial para

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contrariar a sua tendência de expansão. As ações de controlo que têm vindo a ser realizadas não têm tido os resultados pretendidos (Fernandes, 2008).

A internalização dos custos de combate e prevenção (tanto dos incêndios como dos agentes bióticos nocivos, e combate a invasoras) afetam negativamente a rentabilidade do sector florestal, fazendo com que haja uma perda de vitalidade no mesmo. O investimento na floresta diminui, desincentivando a sua gestão, o que agrava os problemas daí decorrentes, entrando-se assim num círculo vicioso. É necessário investir em formas de gestão e escolhas ao nível do uso do solo que promovam um espaço florestal que seja por si mesmo resistente e resiliente a todos estes fatores e fornecedor de serviços de ecossistema aos proprietários e à sociedade em geral, e não dependente de repetidas intervenções dispendiosas que procuram combater indefinidamente e com resultados de curta duração as tendências naturais dos ecossistemas. Não enfrentando a verdadeira origem destes problemas, conduz-se à sua perpetuação. Uma forma de os abordar seria promover estratégias de gestão florestal que conduzam à estabilidade dos ecossistemas (Fernandes et al., 2010; Proença et al., 2010). No ponto 5.2 serão apresentadas algumas formas de alcançar esta estabilidade.

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