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42 Grifos nossos.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho teve como propósito analisar o discurso sindical frente ao cenário da reestruturação produtiva e das políticas neoliberais, acelerada em nosso país nos anos 90. Através das centrais sindicais (CUT, CGT e FS), buscou-se verificar as convergências de seu discurso com aquele emitido pelo Estado e com a lógica do capital, ou seja, as confluências do discurso das centrais com o ideário racionalmente planejado do Estado e do capital, que visa a inserção do País no jogo da competitividade internacional. Um discurso que norteia e participa da política pública de emprego, mais particularmente dentro do Plano Nacional de Qualificação do Trabalhador (Planfor), o qual permite a focalização do tema da educação e da educação profissional.

Não houve a preocupação em analisar os diferentes discursos do movimento sindical numa ordem cronológica, mas sim de maneira temática, compreendendo alguns aspectos como: a reestruturação produtiva, a educação e a educação profissional, as ações no âmbito do Planfor e a institucionalidade.

Sabemos, também, que o rol de temas não está prescrito apenas na esfera de cada uma das entidades, mas também em espaços internacionais onde tem assento, como a OIT e o Mercosul e nas diretrizes acordadas na esfera das organizações internacionais às quais as centrais são filiadas (Ciols e Orit), fundamentalmente no que se refere à gestão pública das políticas de emprego.

Contudo, nosso objetivo foi o de analisar o discurso e as diferentes interpretações diante dos imperativos da reestruturação produtiva e das políticas neoliberais no Brasil. Um processo que tem tendência fortemente anti-sindical, que promove a redução do seu peso representativo e poder de pressão. Ou seja, promove o isolamento político dos trabalhadores, fragmentando as bases sindicais pela introdução de um conjunto de “inovações” que fizeram deslanchar um processo de desproletarização de contingentes operários, assim como as propostas de desregulamentação, flexibilização, privatização acelerada e desindustrialização.

Este é um processo no qual o capital busca restabelecer sua hegemonia societal, o que significa promover a desestruturação das bases do Estado do bem- estar social e modificar o modo de regulação por uma regulação centrada no mercado. Conforme Santos (1996), fortalecer o princípio do mercado para se sobrepor ao princípio de Estado e da comunidade, cuja expressão é o Estado neoliberal, que se fortalece no estabelecimento de diretrizes econômicas e nas políticas de ajuste fiscal mas torna-se fraco na implementação de políticas públicas. E é justamente sobre a gestão destas que o Estado faz apelo ao princípio da comunidade “para obter cumplicidade e legitimação” através da esfera pública.

Porém, a esfera pública ampliada pressupõe atores sociais autônomos capazes de confrontar com os imperativos sistêmicos pelo fortalecimento de estruturas comunicativas (razão comunicativa) frente à penetração contundente dos sistemas e da razão instrumental para aprofundamento de processos democráticos. Nesse sentido é que se procurou dar destaque ao discurso que, na mesma perspectiva de Habermas (1983), tem relação com a memória e a experiência dos sujeitos (identidades reflexivas).

A própria trajetória do movimento sindical tem sua história marcada pelo forte vínculo com o aparelho estatal, tendo vivido momentos de repressão e de pouca organização nos locais de trabalho e meios de cooptação, e pela forte burocratização que, em momentos diferenciados do processo de acumulação do capital no Brasil, foram chamados a legitimar via o ideário da colaboração de classes. A estratégia preferencial sempre foi a da institucionalização e reconhecimento da reivindicação dos trabalhadores que, nesse contexto, é a que exige maior intervenção na política de emprego e no sistema de formação do trabalhador.

No entanto, quase que exclusivamente vinculada às políticas sociais, a esfera pública aparece sob a forma paritária a qual compatível e previsível os comportamentos dos diferentes interlocutores políticos e pode ser “entendida como um forte elemento de regulação social capaz de arrefecer ou amortecer conflitos” (Fidalgo, 1999, p. 157).

Mas há que se pensar também na efetividade desses espaços e nas possibilidades abertas de avanços relativos à democratização do Estado e à construção de alternativas ao modelo hegemônico a partir do controle social das

políticas públicas, pela participação do movimento sindical juntamente com outros movimentos sociais transclassistas (Santos, 1996; Leite, 2003).

Frente a essas possibilidades torna-se não menos importante observarmos também que é na década de 90, como decorrência dos processos de transferências de serviços sociais ao setor privado não-lucrativo, que se acirram, como observa Ianni (1996), processos de burocratização e de racionalização de instituições públicas, empresas, sindicatos, igrejas e ongs que passam a organizar-se cada vez mais com base na razão instrumental pela produtividade, lucratividade, da qualidade e da eficácia e da eficiência.

É diante de um cenário vasto e complexo que o discurso sindical, representado pela figura das centrais sindicais (CGT, FS e CUT), se inscreve de forma interpretativa e norteadora das ações.

O discurso relativo à reestruturação produtiva é mais crítico ao processo por parte da CGT e da CUT. A CGT acusa que a regulação pelo mercado afeta os valores sociais e agrava os problemas sociais em aspectos como o desemprego, a qualidade dos empregos e a renda dos trabalhadores. Essa também critica o processo de abertura econômica no Brasil cujo tripé estabilização-abertura-privatização é danoso para os trabalhadores. Os novos métodos de gestão e organização do trabalho trouxeram uma maior intensificação do trabalho e maiores ganhos de produtividade não compartilhados com os trabalhadores e o medo do desemprego enfraqueceu o movimento sindical. A CUT observa esses elementos e aponta para o agravamento da situação dos trabalhadores devido ao desemprego estrutural e para o desmonte dos serviços públicos do Estado pelo projeto neoliberal. A FS, por sua vez, vê esse processo de reestruturação produtiva de forma neutra e não analisa os impactos para o conjunto dos trabalhadores, naturalizando a terceirização, assim como as inovações tecnológicas e organizacionais como meios para a melhoria das condições de competitividade, produtividade e qualidade. Na mesma direção, como forma de adequar o País à competitividade internacional, faz a defesa aberta das privatizações e do Estado-mínimo em prol da “liberdade de mercado” (FS, 1993, p. 136).

A CGT entende que o movimento sindical deve ter uma atuação mais ampla, o que envolve, inclusive, atuar no campo educativo. Faz a defesa da uma educação integrada (educação e educação profissional), mas voltada para as demandas do

mercado de trabalho e da empregabilidade. Educação é entendida como chave para a modernidade, a forma pela qual se poderá decifrar o “código da modernidade” imprimido pela nova base tecnológica e organizacional” do trabalho. Isso implica atuar na promoção de cursos de forma conveniada a fim de participar das políticas públicas.

A FS defende a modernização do sistema educativo e a sua adequação