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A FS defende a modernização do sistema educativo e a sua adequação às demandas do mercado e do capital, para atender a uma “nova interação”.

Reproduz de forma clara o discurso dominante que vincula a educação às

demandas do mercado de trabalho. Sua defesa da formação integral

pressupõe a adequação de educação aos processos do mundo produtivo que

envolva a flexibilização e a maior aproximação entre a execução e a

concepção. Por isso deve ser oferecido ao trabalhador um sistema educativo

flexível e que seja capaz de acompanhar as mudanças do mercado. A FS,

assim como a CGT, alia a educação ao cálculo econômico, como mecanismo

para melhorar o padrão de qualidade e de competitividade e de

desenvolvimento.

Por uma perspectiva adaptativa do trabalhador frente ao conjunto de inovações, a FS e a CGT vão na mesma direção. Para a CGT, a saída é lutar para aumentar a empregabilidade do trabalhador colocando de forma fetichizada a educação e a qualificação. A FS, da mesma forma, fala da educação como um mecanismo para elevar a capacitação para melhorar as condições de competitividade do país e como mecanismo de adaptação dos trabalhadores ao novo cenário. Juntamente com a CGT, visualiza a educação de forma pragmática e instrumental descolada das possibilidades de emancipação humana e da construção da cidadania. Na verdade, esta decorreria da melhoria dos padrões de produtividade e competitividade do trabalho, que dependem dos processos educativos. É o próprio “mercado produtivo e competitivo, em patamar de elevado desenvolvimento científico e tecnológico, é o que garante a vida cidadã, já que estabelece novos padrões de sociabilidade” (Souza, 2002, p. 211).

A CUT entende que o processo de reestruturação produtiva coloca em pauta a discussão da educação e da educação profissional, mas faz uma leitura crítica da

visão empresarial do relacionamento entre a educação e o trabalho pelo viés econômico e tecnicista que faz da educação o obstáculo ou a alavanca da produtividade e também pela visão fetichizada que se vincula ao conceito de empregabilidade. De forma reflexiva, a CUT procura afastar-se, em sua proposta educacional, dos relacionamentos com as demandas do mercado de trabalho.

Ao mesmo tempo em que direciona seus esforços para a maior intervenção na esfera pública, participando de diferentes fóruns institucionais, que principalmente deliberam sobre o financiamento de políticas de emprego (Codefat, Sine, BNDS), a CUT vai modificando suas concepções iniciais sobre o campo educativo. Assim ela constrói inicialmente uma concepção de educação fundamentada no trabalho como princípio educativo e uma concepção de escola baseada na “escola unitária” pelo seu cunho humanista e integrado de formação pelo seu caráter público, gratuito e universal, contrário às concepções meramente técnica e instrumental. Porém, juntamente com o discurso da escola unitária, começa a fazer, a partir da segunda metade da década 90, a defesa dos Centros Públicos de Educação Profissional45.

Uma proposta que brota da participação mais efetiva da Central no âmbito do Codefat e que a conduziu a preocupar-se mais com a “empregabilidade” do trabalhador do que com a própria defesa da escola unitária. A CUT concebe os centros públicos sem deixar claro o tipo de relacionamento deste com a escola regular e com a própria concepção de escola unitária (Souza, 2002). Hoje, com o aprofundamento da participação na esfera pública, mesmo a idéia dos centros públicos foi ficando arrefecida. O discurso relativo à educação e à educação profissional aparece embutido no conceito de educação integral que, apesar de fundamentar-se nos princípios da escola unitária, fica restrito às experiências da Central no âmbito do Planfor.

Para a CGT e FS a questão da educação integral, que propõe a relação trabalho e educação, fica mal resolvida. Pois, defendem o sistema integrado mas propõe uma focalização dos conteúdos para as demandas do mercado, o que pode

45 “(...) com flexibilidade, possam atender às demandas específicas e permanentes de qualificação de milhares de jovens e adultos, empregados e desempregados. Estes centros não se restringiriam a adestramentos, mas ofereceriam atividades voltadas para o desenvolvimento humano mais geral (CUT, 1995, p.10) e “devidamente integrados ao sistema nacional de educação” (CUT apud Souza, 2002).

levar a um reducionismo instrumental da educação muito próximo do conceito de habilidades básicas.

Todas as três centrais defendem, no discurso, propostas de uma educação integrada, com poucas diferenciações semânticas (educação integral, formação integral ou ainda educação integrada) no entanto, no que se refere à sua interpretação pelo discurso, elas se mostram bastante diferenciadas. Para a CGT e a FS o foco no mercado restringe os conteúdos ao atendimento dos requisitos do campo produtivo e ao ideário da empregabilidade. A CUT, ainda que fundamentada nas bases da escola unitária e do trabalho como princípio educativo da emancipação, humanização e da cidadania, e se contrapondo ao adestramento, ela vai também ficando restrita ao âmbito do Planfor pelo desacoplamento da defesa histórica de maior “publicização” dos sistemas educativos.

O debate de natureza conceitual aproxima a CGT da FS precisamente no que se refere à adequação do trabalhador. A CGT, conforme já observado, vê uma estreita relação entre a educação e a economia e a necessidade de disseminar “comportamentos próprios da modernidade” ou, ainda, decifrar o código da modernidade, novos valores e atitudes por parte do trabalhador, que ficar ligado aos objetivos da empresa (proativo, contributivo) dado pela nova base tecnológica e organizacional da produção. Fala, por fim, de novas competências que devem ser propiciadas através da educação organizada por currículos flexíveis. A FS, na mesma direção, fala em aliar as habilidades operacionais com habilidades cognitivas para que o trabalhador possa atuar dentro da empresa na solução de problemas, comunicar-se com outros campos tecnológicos, planejar trabalhar em equipe e organizar o local de trabalho. Contudo, critica a idéia de empregabilidade dizendo que esse conceito escamoteia a rotatividade no trabalho, mas omite-se do debate ideológico da culpabilização do trabalhador pelo seu desemprego.

Para a CUT, muitos dos conceitos que permeiam o campo educativo estão carregados de ideologia. Os conceitos de empregabilidade e de formação por competências justificam-se no relacionamento da educação com o mercado de trabalho, e têm efeitos perversos pois remetem ao trabalhador, como indivíduo, a responsabilidade de manter-se empregado. Em seu esforço para situar o movimento sindical frente a essa nova categoria e fazer contraponto propõe a discussão em torno

da educação integral e a intervenção na classificação e reclassificação de cargos e funções no Cadastro Brasileiro de Ocupações (CBO).

O Planfor é entendido pelas centrais como uma política pública importante, uma vez que deu acesso à participação do movimento sindical, seja pela captação de recursos do FAT para ações de qualificação, ou também pela participação no seu direcionamento.

A CGT e a FS desenvolvem ações com características muito semelhantes com preocupações voltadas para as demandas do mercado de trabalho, cujo foco prioritário são os novos setores, principalmente na área de prestação de serviços, em muitos casos oriundos dos setores privatizados e de serviços pessoais. As ações destacam-se pelo privatismo na captação das demandas particularizadas e pela rede de instituições privadas que atuam na execução dos cursos. A FS começa a refletir sobre suas ações, com base em discussões em organismos internacionais e intercâmbios, e a pensar em novas propostas de formação aliando três dimensões da formação – geral, profissional e sindical.

A CUT participa do Planfor desde 1996 e desde o início preocupa-se, conforme pode-se observar no seu discurso, com o fortalecimento da institucionalidade do programa e, ao mesmo tempo, em promover “avanços conceituais e metodológicos”. Inicia fazendo uma intervenção mais setorial com os programas Integrar, da CNM, e outros voltadas para a institucionalidade, como o Programa Integral, para a formação de formadores e de conselheiros de comissões municipais e estaduais. A partir de 199946, quando unifica seus programas, estende ações de qualificação para novos

setores e mantém as suas estratégias e linhas formativas. O enfoque conceitual e metodológico da educação profissional, fica orientado para as demandas do setor produtivo mas, com preocupações voltadas ao exercício da cidadania, de elevação da qualidade de vida da população e de combate a exclusão social. Nessa linha incorpora ao seu discurso a temática do Desenvolvimento Sustentável Solidário cujo

46 O Plano Nacional de Qualificação da CUT envolveu ações de qualificação profissional para trabalhadores desempregados ou em risco de perda de emprego com elevação de escolaridade (ensinos fundamental e médio); ações de qualificação voltadas para o Desenvolvimento Sustentável e Solidário (DSS), incluindo a formação de gestores, dirigentes sindicais e educadores para as ações em DSS; preparo de dirigentes sindicais para a negociação da contratação coletiva da formação profissional frente a reestruturação produtiva; e preparação de agentes para atuar na gestão do sistema público de emprego (CUT, 2003).

objetivo é oferecer alternativas de geração de emprego e renda. Porém, a pergunta que fica é se essa não seria também, sob outro formato, uma solução adaptativa frente ao processo de desregulamentação, precarização do trabalho e do desemprego estrutural.

Todas as centrais destacam a importância da participação dos dirigentes sindicais da base, como articuladores locais, do programa de qualificação e da política pública de emprego de um modo geral. A CUT destaca a importância estratégica da rede de sindicatos filiados (inclui a rede de federações e confederações filiadas) uma vez que se encontram “mais sensíveis para a dinâmica do mercado de trabalho e do desenvolvimento local” (CUT, 2003, p. 65). No entanto, a CUT manifesta grande preocupação com a atuação desses “agentes locais” e por isso inclui o preparo técnico-instrumental como um dos focos estratégicos no âmbito do Planfor.

Tanto na CGT quanto na FS, o levantamento de demandas para as