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O projeto neoliberal, adotado por Collor e Itamar, segundo a Central, visaram o desmonte do Estado em fazer uma “modernização produtiva

4.3. O DISCURSO DA FORÇA SINDICAL (FS)

4.3.1. O cenário geral da reestruturação produtiva

A Força Sindical entende que está ocorrendo uma verdadeira revolução associada às transformações igualmente profundas na organização da produção e nos processos de trabalho. Segundo esta Central,

“[...] no novo paradigma de produção, a liderança entre os produtores não é mais dada somente pelo desenvolvimento e qualidade do produto e/ou serviço, mas também pela eficácia do processo de produzi-lo. Assim, à medida que as atividades econômicas se desenvolvem a produtividade e a qualidade atingem patamares mais altos, verifica-se uma tendência à industrialização gradativa dos serviços e da atividade agrícola, ao lado de uma terceirização no interior da fábrica” (Força Sindical, 1993, p. 483).

Conforme o documento, dentro das unidades produtivas vem ocorrendo mudanças na organização do trabalho, onde a “verticalização vem sendo substituída pela divisão de trabalho entre as unidades produtivas distintas, provocando um avassalador processo de terceirização, com a proliferação de pequenas e médias empresas prestadoras de serviços” (Força Sindical, 1993, p. 483). Seguindo a mesma linha, acrescenta que o declínio da indústria e o crescimento dos serviços “pode ser considerado ilusório, pois a agricultura e os serviços cada vez mais se industrializam e a metodologia industrial, renovada a partir de novos conceitos de fábrica, fabricação, manutenção e de relações de trabalho, espalha-se a todas as atividades” (FS, 1993, p 484).

O que está ocorrendo, de acordo com a FS (1993), é uma substituição do paradigma taylorista-fordista de organização do trabalho, que se utilizava da divisão técnica do trabalho no interior do processo produtivo, no qual os níveis hierárquicos davam garantias, por meio de supervisores, da boa execução das tarefas. “Separava- se, pois, o planejamento da execução” (FS, 1993, p. 484).

Segundo a FS, o novo paradigma, ao contrário do anterior, focaliza as atividades da empresa ao seu negócio principal, sendo que as

“[...] demais atividades de apoio devem ser, à medida do possível, repassadas a outras empresas ou prestadores de serviço. As hierarquias são diminuídas. Os campos de atuação tecnológica dos trabalhadores são ampliados. Os trabalhadores são agregados, por exemplo, em células de manufatura, em ilhas de produção. O compromisso da produtividade e da garantia de qualidade é obtido pela participação dos trabalhadores nas decisões e no planejamento. Surgem novas formas de pagamento, por exemplo, prêmio por produtividade do grupo ou salário por aprendizagem, em que o trabalhador recebe um incremento real

no salário a cada nova competência adquirida” (Força Sindical, 1993, p. 485).

O processo de reestruturação produtiva e os novos mecanismos de dominação do capital sobre o trabalhador são naturalizados, no discurso da Central, em favor da produtividade, da qualidade, da terceirização e das formas individualizadas de remuneração pela aquisição de competências. A reestruturação produtiva, entendida como um “novo paradigma produtivo”, tem provocado uma radical reestruturação na organização da produção e nos processos de trabalho, induzindo as empresas a reformularem o papel do trabalho na produção e a recuperarem o papel da inteligência na produção, que “[...] passa a ser visto [mais] como um recurso, uma fonte de conhecimentos para o aperfeiçoamento do processo produtivo, do que como um simples componente de custo” (FS, 1993, p. 355).

A FS entende que as novas técnicas de gestão e organização do trabalho são técnicas que visam a implantação de sistemas de produção flexíveis, que, por sua vez, requisitam dos trabalhadores uma formação capaz de adaptar-se a elas. Do mesmo modo, a Central reforça a idéia de que a qualificação eleva os salários dos trabalhadores: “Como o just-in-time, kanban, arranjo do local de trabalho, engenharia simultânea, entre outras, que preparam a empresa para sistemas flexíveis de produção[...]”, o novo processo, prosseguindo, requisita dos trabalhadores uma “[...] robusta educação geral e profissional, sendo que o processo de implantação vem acompanhado de elevação salarial [...]”. Assim, dentro dos novos esquemas de organização e gestão da produção, o trabalhador deixa de ser visto apenas como “[...] um componente do custo e passa a ser visto mais como um recurso, uma fonte de conhecimento para aperfeiçoamento do processo produtivo” (Força Sindical, 1993, p. 485).

Na análise da FS o Brasil, no contexto dos anos 90, estaria diante de dois desafios: o primeiro seria o da consolidação da transição democrática e o segundo seria vencer o colapso do modelo de desenvolvimento consolidado no pós-guerra (FS, 1993, p. 27).

“Em razão da natureza estrutural da crise brasileira e das aceleradas mudanças que se verificam nas relações econômicas e políticas no plano internacional, o Brasil encontra-se diante de uma disjuntiva incontornavél: ou vence o desafio da modernidade ou corre o risco de involuir, tanto do ponto de vista das instituições políticas como do sistema produtivo” (FS, 1993, p. 27).

A FS destaca que o cenário da crise brasileira é contemporâneo de um rearranjo de relações econômicas e políticas internacionais baseadas numa verdadeira revolução tecnológica, “que traz consigo modificações substanciais na base técnica da produção e nas concepções de como organizá-la e geri-la [...]”. Essa revolução tecnológica vem integrando os mercados, “internacionalizando a economia capitalista em escala jamais vista” (FS, 1993, p. 36).

Frente ao cenário da crise brasileira, a FS advoga a necessidade do estabelecimento de novos parâmetros para o desenvolvimento do país os quais poderiam vir a ser viabilizados através do entendimento e da união “de setores significativos da sociedade. É deste consenso em torno de novas regras estáveis que poderá surgir o novo modelo do qual falamos” (FS, 1993, p. 36).

A FS defende um projeto de desenvolvimento que restabeleça o “cidadão como finalidade e objetivo últimos da produção e do progresso seja ele material ou cultural. Um projeto no qual a voluntária aliança da ciência, do capital e do trabalho poderão ser os meios de alcançar o bem-estar individual e coletivo” (FS, 1993, p. 39). Assim, a FS coloca novamente em pauta o velho ideário da conciliação de classes sempre defendido pelos setores conservadores da sociedade propondo uma “mudança de

mentalidade”42 e um papel propositivo a ser desempenhado pelo sindicato e pelo

trabalhador, agora visto como um recurso da produção e do desenvolvimento do país. A FS aposta na inserção do Brasil no cenário da economia globalizada, o que inclui a modernização do aparelho estatal ao receituário neoliberal.

“Essa mudança de mentalidade – que implica numa verdadeira revolução moral e cultural – envolve também o abandono da política de confronto sistemático entre capital e trabalho, a implementação da nova forma de gestão e o desmonte de todo