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MÉRITO PROCESSUAL NAS AÇÕES COLETIVAS

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A formação participada do mérito processual pressupõe inicialmente compreender, analisar e construir reflexões críticas acerca do conceito de mérito adotado no modelo de processo civil proposto pelo CPC/1973, que se limita, muitas vezes, à matéria ou às questões de mérito e a própria noção de lide, legitimando autocraticamente o magistrado na delimitação unilateral dos pontos controversos da demanda. O que se constata é que não existe, por parte da doutrina consultada, o cuidado necessário para diferenciar o mérito processual de outros institutos a ele correlatos, tais como, a pretensão, a demanda, a lide, a causa de pedir (próxima e remota) e a própria noção sobre o que são as questões de mérito no contexto do direito processual civil está limitada às questões suscitadas pelas partes no âmbito processual.

Toda teorização do mérito no contexto do processo civil decorre de uma visão individual e liberal do próprio direito processual, haja vista que a decisão ou o julgamento do mérito da pretensão pelo magistrado deverá ocorrer nos limites daquilo que as partes (demandante e demandado) alegaram e provaram ao longo do processo, ressaltando-se que na perspectiva do CPC/1973 o julgador poderá definir unilateralmente quais questões controversas são por ele consideradas relevantes na análise do mérito, não se obrigando a analisar todos os pontos suscitados pelas partes. Em contrapartida, o CPC/2015, a partir dos princípios do contraditório (paridade de armas), isonomia processual material e primazia do mérito, legitima as partes interessadas na construção discursiva do mérito, determinando que o magistrado analise racionalmente na sentença todos os pontos controversos da demanda (artigo 489).

A noção de mérito processual não pode ficar adstrita ao pedido, à matéria ou às questões de mérito. Isso não significa dizer que os pedidos, a matéria ou as questões de mérito não integram o próprio conceito de mérito. O mérito processual deve ser visto como um procedimento bifásico, em que na primeira fase do procedimento todas as partes legitimadas e interessadas na pretensão inicialmente deduzida em juízo têm a possibilidade de participar da definição da matéria de mérito, apresentando todas as questões consideradas relevantes e conexas ao que foi inicialmente alegado pelo autor da ação. Na segunda fase do procedimento todas as partes interessadas, inclusive o magistrado, terão a legitimidade de discutirem amplamente todas as questões e as matérias de mérito suscitadas na primeira etapa do procedimento. Não se pretende aqui excluir a participação do magistrado na formação do mérito processual. O que é

demonstrado ao longo de toda a pesquisa é que a construção do próprio conceito de mérito e do julgamento do mérito não é um tema que fica adstrito à manifestação exclusiva e unilateral do magistrado, até porque todos os sujeitos juridicamente interessados na pretensão inicialmente deduzida em juízo detêm a legitimidade de participar da definição, da análise e da discussão de todas as questões de mérito propostas.

Nesse contexto, pode-se afirmar que o mérito processual seria resultado de um procedimento bifásico em que num primeiro momento as partes interessadas definem livremente as questões de mérito para, num segundo momento, poderem debater e discutir amplamente todas essas questões, juntamente com o julgador. Ao magistrado cabe o direito de participar ativamente dessas duas fases do procedimento, manifestando-se, sempre de forma fundamentada, quanto à definição e a análise das questões de mérito trazidas aos autos. Isso implica dizer que ao juiz cabe o dever de analisar, apreciar, discutir, se posicionar e esclarecer, de forma juridicamente fundamentada, quais serão as questões de mérito relevantes para o caso concreto e como essas questões de mérito consideradas relevantes ao caso concreto deverão ser decididas.

A aplicabilidade da teoria das ações coletivas como ações temáticas democratiza a construção participada do provimento final no processo coletivo, no momento em que legitima todos os interessados (difusos e coletivos) apresentarem os pontos controversos da demanda e terem suas alegações racionalmente apreciadas pelo magistrado na sentença de mérito. Tal teoria dialoga diretamente com as proposições trazidas pelo CPC/2015, uma vez que a fundamentação principiológica trazida por esse diploma legislativo obriga o julgador a analisar todos os pontos controversos de demanda, além de legitimar a participação dos interessados na construção participada do provimento meritório, fundado na teoria do processo constitucional democrático.

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