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Duas dificuldades no estudo das companhias familiares repousam em sua própria definição e no meticuloso e demorado trabalho demandado para a coleta das informações necessárias para uma análise quantitativa. Como observado na seção 2.3.1, existem diversas maneiras – na sua maioria muito plausíveis – de definir a empresa familiar. Em muitos casos estas definições tratam de fatores difíceis de serem observados a partir de dados secundários, como por exemplo, “a intenção de transmitir a empresa a gerações futuras” ou se “os membros da família aceitam ou concordam que são responsáveis por sua própria empresa”. Sob o ponto de vista quantitativo, Villalonga e Amit (2004) propõem dez definições distintas, englobando a participação no quadro de diretores, o maior acionista, o maior acionista com direito a voto, o controle nas mãos de membros com laços de sangue, indivíduos da família sendo os controladores e detendo direito a pelo menos 20% dos votos e assim por diante. As diferentes definições podem levar a resultados finais contraditórios.

Este trabalho buscou evitar a discussão de uma miríade de possíveis definições mantendo o foco exclusivamente no controle, individual ou em bloco, por um grupo de pessoas físicas, que podem ou não ter laços de sangue. Isso, se por um lado empobrece o resultado do estudo do desempenho da empresa familiar, por outro viabiliza a obtenção de dados palpáveis e permitem o avanço do debate. Tal tratamento parece consistente, a partir da suposição de que com a manutenção do controle, as famílias ou indivíduos de alguma forma fazem com que suas vontades se manifestem na empresa, independentemente de sua presença no conselho administrativo ou em outras esferas administrativas da empresa. Neste sentido, o foco permaneceu na dimensão “poder” descrita por Klein et al. (2005). Especificamente para a participação na administração, a presença do CEO “familiar”, ao menos em sua primeira geração, é observado nos conjuntos de modelos econométricos aqui discutidos.

Outro aspecto relevante neste campo do desempenho de companhias familiares é a existência de poucas contribuições teóricas disponíveis, inclusive que fizeram com que esta pesquisa tivesse caráter exploratório. A acachapante maioria dos trabalhos disponíveis tem caráter empírico e tendem a conter uma boa carga de especulação.

Com relação aos resultados propriamente ditos, observou-se que a quantidade de companhias abertas listadas na BM&FBOVESPA e que são controladas por famílias ou grupos de indivíduos é significativa. Também o é o número famílias controladoras que fundaram as

próprias companhias e que as mantém. Por sua vez, a análise quantitativa mostrou-se menos significante (sob o ponto de vista estatístico) que os trabalhos realizados pelos autores estrangeiros na Europa Ocidental e Estados Unidos, que sugerem que a empresa familiar é uma forma eficiente de estrutura. No caso nacional concluiu-se que existe um ligeiro (mas não significante) prêmio no valor para as companhias familiares, mas que por outro lado existe prejuízo (significante) ao desempenho contábil. Maury (2006) sugere que o “family ownership

may be more beneficial in legal environments where shareholders are protected24”(p.324) e Anderson e Reeb (2003) “our results imply that in well-regulated and transparent markets

family ownership in public firms reduces agency problems without leading to severe losses in decision making efficiency25”(p.1324).

Este estudo é incipiente para a empresa familiar nacional e pode ser enriquecido e complementado de várias formas. Entre elas a avaliação contínua do percentual de controle familiar, transformando as variáveis dicotômicas “familiar-não familiar” ou “familiar majoritário-não familiar” em variáveis contínuas permitiria investigar a existência de percentuais ótimos para o controle familiar. Resultados mais ricos ainda poderiam advir do tratamento das companhias familiares como proposta por Klein et al. (2005), cujo proposta “quantifica” o quão familiar é uma organização, incluído questões culturais e a experiência (seção 2.3.1). Também a análise do desempenho dos descendentes comparados com as primeiras gerações no controle foi realizado em alguns dos trabalhos consultados e trazem resultados interessantes. Cabe mencionar ainda que o controle exercido por um único indivíduo versus vários e por uma família versus várias também poderia trazer resultados distintos e aumentar a compreensão sobre o tema.

Com relação ao desempenho propriamente dito, as diferenças nos resultados do desempenho de mercado em relação ao operacional (medido pelo retorno contábil) levam a algumas possíveis especulações. Se for considerado que o mercado precifica a empresa baseado nas expectativas futuras, os agentes poderiam estar associando o mau despenho operacional à investimentos em retornos futuros. Um estudo de eventos em companhias onde ocorre

24 Tradução livre: a propriedade familiar deve ser mais benéfica em ambientes nos quais os acionistas tem proteção legal

25 Tradução livre: nossos resultados implicam que, em mercados transparentes e bem regulados, a propriedade familiar reduz os problemas de agência sem causar problemas de eficiência no processo decisório.

transição entre o status controle individual ou familiar para o status não familiar e não individual (e vice-versa) poderia trazer outras informações interessantes para o entendimento desta aparente inconsistência desempenho de mercado – desempenho operacional.

Vale alertar, contudo, que todas estas análises esbarrarão no fator restritivo da coleta de dados para o estudo da organização familiar sob o ponto de vista quantitativo. Ou, nas palavras de Klein et al. (2005), as companhias familiares sempre têm seu lado secreto e intransponível ao olhar externo.

Sobre o desempenho do CEO, os resultados de que as companhias sob seu comando tendem a um desempenho de mercado superior à de seus pares administradas por CEO “profissionais” podem ser do interesse de investidores, conselhos de administração - que terão que em algum momento encontrar sucessores para estes CEOs - e dos próprios CEOs, para seus planos de sucessão. A existência de tamanhos e idades “ótimas” das companhias administradas sugere que este trabalho também possa ser enriquecido à luz das teorias administrativas relativas ao ciclo de vida das organizações. A permanência do CEO por tempo excessivo ou a sua manutenção no cargo para companhias que se agigantam pode levar à erosão do valor adicionado pelo CEO fundador.