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O presente trabalho teve como principal objetivo analisar o processo de inclusão da EDH na agenda da cidade de São Paulo durante a gestão do prefeito Fernando Haddad, assim como a construção da política municipal voltada para o tema entre 2013 e 2016.

Nossa pesquisa se insere no campo de políticas públicas de direitos humanos, especialmente aquelas voltadas para a EDH, dado o baixo número de trabalhos sobre o tema no Brasil. Como vimos anteriormente, a maior parte das pesquisas sobre EDH publicadas no país estão inseridas no campo educacional, sendo poucas delas voltadas para a análise dos processos de construção e implementação da EDH como política pública. Ademais, essa pesquisa é inovadora na medida em que se concentra no caso do município de São Paulo, maior cidade do país e uma das poucas onde foram desenvolvidas políticas voltadas para o tema e publicado um plano municipal de educação em direitos humanos. Por fim, o caso do município paulistano é de grande importância, pois se trata de um modelo para a aplicação da EDH em outras cidades brasileiras. Sobre a inclusão da EDH na agenda da cidade de São Paulo durante o período estudado, chegamos a algumas conclusões importantes. A primeira delas é que a eleição de Haddad abriu oportunidade para que a EDH fosse incluída na agenda da cidade, pois esse tinha proximidade com o tema desde sua atuação como ministro da educação no governo federal, o que permitiu que a EDH tivesse “eco” em seu governo. Sendo assim, acreditamos que nesse caso, o próprio Haddad era a “janela de oportunidade” para que a EDH entrasse na pauta do município.

Em segundo lugar, como vimos anteriormente, apenas a abertura de uma “janela de oportunidade”, ou seja a eleição de Haddad, não garantiria que a EDH entrasse na agenda política da cidade de São Paulo, mas para isso era necessário que pessoas atuassem de forma empreendedora a fim de aproveitar a oportunidade que surgia. Nesse sentido, Paulo Vannuchi foi identificado como principal empreendedor para a inclusão da EDH na agenda de governo de Haddad, pois não apenas aproveitou a janela de oportunidade como também contribuiu para sua criação na medida em que atuou na campanha do novo prefeito.

Rogerio Sottili foi outro ator fundamental nesse processo, pois desempenhou ação empreendedora na medida em que ao propor a nova Secretaria Municipal de Direitos

151 Humanos e Cidadania (SMDHC) extinguiu a estrutura institucional anterior, a qual se tratava de uma espécie de balcão para denúncias de violações de direitos na cidade. Com isso, Sottili redefiniu o entendimento sobre o papel do Estado para a garantia de direitos em São Paulo, excluindo a visão anterior de que esse deveria apenas reparar violações já cometidas e colocando no lugar a ideia de que o Estado deve ser agente de promoção de direitos humanos.

Ainda sobre o papel empreendedor de Paulo Vannuchi e Rogério Sottili, concluímos que a posição privilegiada desses atores nos campos em que atuavam foi determinante para o sucesso de suas ações, pois garantiu a eles dois recursos fundamentais: o acesso ao governante e confiança do mesmo e a capacidade de mobilização de outros atores(atrizes) em prol de seus objetivos.

Sendo assim, concluímos que a entrada da EDH na agenda da gestão Haddad em São Paulo não resultou da pressão de movimentos sociais, porém dependeu de um governante sensível à pauta e empreendedores(as) políticos(as) capazes de mobilizar recursos e aliados(as).

Em relação ao processo de construção da política, concluímos que essa foi resultado do engajamento de diversos(as) atores(atrizes) sociais como governo federal, outras secretarias municipais, organizações da sociedade civil, comunidade escolar etc. Esse movimento, o qual denominamos de coprodução de política pública, foi resultado de limitações da CEDH-SMDHC, como falta de recursos financeiros, humanos e incapacidade técnica.

Quatro fatores permitiram a realização da coprodução durante o processo de construção da política de EDH em São Paulo durante a gestão Haddad. O primeiro foi o fato da SMDHC ser uma secretaria nova, o que abriu espaço para a entrada de novos(as) atores(atrizes), assim como para ações inovadoras dos mesmos(as).

O segundo e terceiro fator foram, respectivamente, o alto grau de autonomia e papel empreendedor dos atores(atrizes) envolvidos(envolvidas). O empreendedorismo ocorreu na medida em que funcionários(as) da CEDH-SMDHC “recrutaram” pessoas de dentro e fora do governo para atuarem em favor da política de EDH na cidade e essas “vestiram a camisa”, muitas vezes “comprando a briga” para que o tema tivesse “eco” em outras secretarias da gestão. O papel empreendedor desses atores(atrizes), principalmente

152 aqueles(as) localizados dentro do governo, foi fundamental para a realização de uma política intersetorial, já que os incentivos para o trabalho entre secretarias e os mecanismos institucionais para a interlocução das mesmas eram baixos.

O quarto fator identificado como fundamental para a construção “coprodutiva” da política de EDH de São Paulo, foi a alta capacidade de escuta e diálogo da CEDH-SMDHC. Essa abertura da coordenação para a participação social foi chave para a entrada do governo nos territórios onde seus projetos foram implementados, o que nos leva a uma dimensão fundamental para o sucesso da mesma, sua adaptação territorial.

Apesar da política de EDH em São Paulo ter sido baseada no PNEDH e Diretrizes Nacionais para a EDH, houve um esforço da CEDH-SMDHC de traduzir seus projetos para as diferentes realidades da cidade. Os CEDHs representam muito bem esse processo, já que as políticas neles desenvolvidas refletiam às demandas locais, o que fez com que cada um deles tivesse identidade e dinâmica própria.

Finalmente, identificamos algumas limitações de nosso estudo, as quais valem a pena ser pontuadas porque abrem caminho para novas agendas de pesquisa no campo de políticas públicas voltadas para a EDH.

A primeira limitação refere-se ao fato de que nosso trabalho se restringiu à análise dos processos de entrada do tema na agenda e construção da política pública, porém uma importante agenda de pesquisa no caso paulistano seria a análise da implementação e, principalmente, avaliação dos resultados da política de EDH implementada entre 2013 e 2016 na cidade. Além disso, como afirmamos na introdução do presente trabalho, há limitações no recorte de pesquisa proposto, o qual se concentra em ciclos específicos de políticas públicas, pois esse recurso não reflete a realidade.

Ao longo do desenvolvimento do trabalho, notamos a grande dificuldade em separar, principalmente, a fase de construção e implementação de políticas públicas, pois na maior parte das vezes essas são formuladas e reformuladas a partir do resultado de sua implementação e avaliação, sendo esses o caso de muitos projetos que compuseram a política de EDH de São Paulo. Porém, mesmo tendo em mente as limitações impostas pela escolha do objeto, decidimos pela manutenção do recorte da pesquisa como uma escolha metodológica, a qual consideramos acertada, pois essa garantiu que mantivéssemos nosso olhar nas perguntas inicialmente propostas.

153 Outro limite de nosso trabalho baseia-se no fato de que não foram entrevistados(as) beneficiários da política como, por exemplo, professores(as), estudantes, funcionários(as) de unidades escolares e comunidades locais, que também participaram do processo de construção da política de EDH em São Paulo. Essa escolha se deu devido ao pouco tempo disponível para a realização da coleta e análise dos dados da pesquisa, a qual se insere no nível de mestrado. Diante de tal limitação, acreditamos que outra agenda de pesquisa, a qual traria grande contribuição ao completar nosso estudo, é a análise do processo de coprodução da política de EDH em São Paulo a partir do olhar desses atores(atrizes), beneficiários(as) diretos da mesma.

Por fim, não foi possível realizar uma análise aprofundada sobre o conteúdo de direitos humanos presente na política de EDH de São Paulo, o que acreditamos ser um importante tema de pesquisa para agendas futuras.

Sendo assim, acreditamos que esse trabalho preenche importantes lacunas para o estudo sobre políticas públicas de EDH no Brasil, principalmente àquelas voltadas para realidades municipais, assim como abre diversas agendas de pesquisa para pesquisadores(as) que se interessam pela promoção dos direitos humanos através de políticas educacionais.

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