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2. CAPÍTULO 2: A ENTRADA DA EDH NA AGENDA DA CIDADE

2.2. A entrada da EDH na agenda do governo Haddad

2.2.3. Eco no governo: Haddad como oportunidade

Além de Paulo Vannuchi e Rogério Sottili, Fernando Haddad também foi peça fundamental para a entrada da EDH na agenda do município de São Paulo. Segundo os(as)entrevistados(as), o tema era de interesse do então prefeito desde a época em que

65 era Ministro da Educação, pois esse foi um ator fundamental para que o tema tivesse eco no Ministério durante aquele período. Sua proximidade com Vannuchi também foi chave para o avanço da temática em âmbito nacional, assim como em 2012 quando a EDH entrou em seu programa de governo. Além disso, é importante destacar que, conforme citação abaixo, Haddad tinha particular interesse de implementação da EDH desde a primeira infância, pois acreditava que é nessa fase que o ser humano está mais aberto a compreender o outro e ainda menos “arraigado” a preconceitos.

[...] no 09 de janeiro a minha conversa com o Fernando foi assim. Eu contei essas histórias da EDH, então EDH tem que ser muito com você, o que existe? O que não existe? O que pode? O que não pode? Por onde priorizar etc. [...] então (a ideia) era entrar com os padrões curriculares nacionais que começava no Ensino Médio [...] a posição nossa não era criar uma disciplina de direitos humanos, mas criar a interdisciplinaridade. E aí conversando com ele (Haddad) [...] eu lembro bem da frase dele, ele disse o seguinte: “Olha, eu acho que a gente tem que começar lá embaixo porque a gente também concebe muito EDH pensando na universidade” [...] Ele falou: “Olha se você vai para uma mesa de família com uma pessoa de 50 anos que é racista, machista, homofóbica, o processo educacional aí já está muito comprometido, então vamos lá para baixo”. E aí é verdade, eu comecei a conceber assim, mais ou menos o que ele estava dizendo era “pau que nasce torto morre torto” [...] no fundo, acho que o Fernando falou também, o jovem vai chegar em casa e começar a educar os pais. O pai vai falar viado comigo é na porrada [...] (e o filho vai dizer) pai isso não é certo, na escola a gente aprendeu diferente. Então é um pouco essa ideia (Entrevistado[a] 10)

Portanto, uma interpretação possível é que Fernando Haddad pode ter visto em sua eleição como prefeito da maior cidade do país, uma oportunidade de construir e implementar uma política de EDH que fosse voltada principalmente ao ensino infantil e fundamental, já que em termos de educação pública esses são responsabilidades da gestão municipal.

Então a partir desse plano de ação, incorporado nacionalmente (PNDH- III), surgem uma série de tópicos importantes, dentre eles a EDH. Aí a EDH que vai parar no colo do MEC, quem é o Ministro da Educação no governo seguinte? Haddad. Não é por casualidade, nada acontece por casualidade. Eu acredito que tudo tem uma explicação. Mas, enfim, repare então que é eleito depois para São Paulo um mandatário que tem passagem pelo MEC e que conhece o PNEDH e que conhece a necessidade de se estabelecer um plano de educação em direitos humanos. [...] então pronto, aí é evidente que há um nexo causal entre tudo isso e ele com certeza viu essa oportunidade como muito bem- vinda. (Entrevistado[a] 12)

66 Ademais, o perfil aberto de Haddad é destacado diversas vezes durante as entrevistas como um elemento importante não apenas para a entrada da EDH no programa de governo, mas para a manutenção do tema na agenda durante toda sua gestão. Sua trajetória como acadêmico, professor universitário e ministro da educação foi destacada pelos(as) entrevistados(as) como algo de extrema importância para que a EDH tivesse “eco no governo”. Como mencionado acima, Haddad conhecia o PNEDH e sabia da importância da EDH na educação formal, principalmente desde a primeira infância, e informal e por isso apoiava as ações desenvolvidas pela CEDH-SMDHC, muitas vezes, segundo um(a) dos(as) entrevistados(as), se fazendo presente nos eventos e atividades desenvolvidas pela coordenação.

Terceiro lugar, um perfil de governo capaz de ouvir e se sensibilizar. Em quarto lugar a sensibilidade do próprio governante. Não podemos esquecer que o ex-prefeito Fernando Haddad não só é um professor universitário, mas foi o ministro da educação durante 7 anos e foi o ministro que assinou o PNEDH, em coordenação com tantos outros atores, mas em especial à época o Paulo Vannuchi. Então não era estranho ao governante dizer que EDH tem que ser feita junto ao sistema de segurança e justiça e junto ao sistema de educação formal. (Entrevistado[a] 1)

[...] tem uma visão que acho que na gestão Haddad teve muito, que é uma gestão para a população e para alavancar as potencialidades, no caso da educação dos alunos, dos professores. Eu acho que essa preocupação sempre esteve presente, se não com o nome de EDH e com a temática totalmente focada, mas teve [...] acho que o Haddad tinha super sensibilidade para isso, a gestão Sottili muito, ele abraçou e topou uma série de ações nessa frente. (Entrevistado[a] 7)

A gente percebeu primeiro um compromisso do prefeito com as pautas de EDH, ele sempre apoiou os nossos eventos, ele estava nos nossos eventos, fazia questão de marcar presença, ele falava sobre as políticas de EDH [...] então, eu acho que o compromisso político da gestão em afirmar a EDH como um ponto fundamental para as políticas urbanas, isso fez da coordenação de EDH algo relevante no projeto de cidade. Então, a cidade que educa. Essa ideia da cidade que educa estava presente na gestão. (Entrevistado[a] 3)

O Haddad acompanhou quando era Ministro da Educação toda a discussão, penso eu, sobre EDH, daí esse ato que foi muito importante porque aqui em São Paulo havia uma Comissão e não Secretaria de Direitos Humanos [...] então, eu creio que o Haddad pela passagem no MEC é uma pessoa exatamente que compartilha dessa cultura e da importância da EDH. (Entrevistado[a] 8)

Assim, pôde ser notado ao longo desse capítulo que a entrada da EDH na agenda do município de São Paulo entre 2013 e 2016 foi resultado do interesse e da atuação de,

67 principalmente, três atores. Paulo Vannuchi, responsável por inserir o tema no programa de governo, Rogério Sottili, indicado como primeiro secretário da SMDHC e responsável por estruturar a nova secretaria, e Fernando Haddad, prefeito da cidade que tinha interesse e abertura ao tema, o que fez com que a EDH tivesse “eco no governo” durante toda sua gestão.

Então, pelo fato de ter sido o Paulo Vannuchi que coordenou o programa de governo de Haddad, por ter sido ele quem indicou para o prefeito Fernando Haddad o Rogerio Sottili como secretário e pôr o Rogerio Sottili ter essa clareza de que a EDH é chave, então tinha essa conjuntura dentro da secretaria de que esse tema era central, por um lado. Por outro, o prefeito era o ex-Ministro da Educação que então também tinha abertura e afinidade para a agenda de educação. Então, acho que entre Rogerio Sottili, Paulo Vannuchi, Fernando Haddad, o fato do Haddad ter sido ministro, o fato do Vanuchi valorizar tanto [a EDH], essa conjuntura foi o que posicionou a EDH na agenda. (Entrevistado[a] 2)

Visto à importância dos(as) atores(atrizes) para a entrada da EDH na agenda do município de São Paulo entre 2013 e 2016, na próxima seção analisaremos os dados expostos acima à luz das teorias apresentadas na primeira parte do presente capítulo.

2.3. A entrada da EDH na agenda da gestão Haddad à luz dos modelos de Múltiplos