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CONSIDERAÇÕES FINAIS

No documento Tiago Lopes de Oliveira (páginas 137-141)

Estudou-se nesta pesquisa o desenvolvimento da Psicologia no campo da Educação. A tese central desta pesquisa é a de que, por influência da racionalidade tecnológica e da ideologia a ela imanente, predominam no campo da educação teorias psicológicas que não consideram em suas análises os aspectos sociais e históricos do processo educativo. Por isso, procurou-se responder as seguintes perguntas: como a psicologia tem se desenvolvido no campo educacional? E: Quais são as teorias psicológicas predominantes nas pesquisas que relacionam psicologia e educação?

A fim de responder o referido questionamento, realizaram-se as seguintes etapas: a) análise da estrutura da sociedade industrial; b) discussão sobre os conceitos de ciência e tecnologia; c) análise histórica das relações estabelecidas entre a psicologia e a educação ao longo do tempo; d) síntese das principais correntes teóricas que estão na base da relação estabelecida entre a psicologia e a educação; e) levantamento junto ao Banco de Teses da Central de Aperfeiçoamento de Pessoal do Ensino Superior – CAPES; f) apontamentos sobre a psicologia como ciência ou como tecnologia na educação.

Para isso, como base teórica para as reflexões, foram utilizados os estudos realizados pelos autores da teoria crítica da sociedade, particularmente as discussões que tratam do impacto da racionalidade tecnológica no desenvolvimento das disciplinas científicas. Tal investigação pressupõe uma análise conceitual sobre a relação entre ciência, tecnologia e ideologia. Entende-se que na sociedade industrial atual a ideologia da racionalidade tecnológica pode influenciar o desenvolvimento do conhecimento e, em consequência, fazer prevalecer, em certas áreas de estudos, teorias que tendem a não considerar os elementos sociais e históricos em suas análises e que se preocupam primordialmente com os aspectos individuais que contribuem para essa adaptação

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imediata às condições estabelecidas e para a máxima eficiência por parte do indivíduo em atender aos ditames do aparato.

A investigação sobre a estrutura objetiva da sociedade e sobre o padrão de pensamento a ela concernente foi importante na medida em que indicou como, com o capitalismo, a produção passou a ser orientada de acordo com interesses privados, inclusive as produções artísticas e científicas. Também foi possível perceber como a sociedade atual utiliza o aparato à sua disposição para comprovar e perpetuar as condições de vida existentes. Observou-se que o desenvolvimento da racionalidade tecnológica está associado a essas condições objetivas, em especial, ao progresso da indústria moderna e de sua tecnologia. Apontou-se a relação entre a tecnologia e um padrão de pensamento a ela associado, bem como a ampliação desse padrão de pensamento para todas as esferas da sociedade. A investigação sobre a transformação da razão individualista em razão tecnológica apontou que o novo tipo de racionalidade é consequência do incremento do processo de mercadorias da indústria moderna. Essa racionalidade tecnológica caracteriza um modo difundido de pensamento que estabelece padrões de julgamento e fomenta atitudes que predispõem os homens a aceitar e introjetar os ditames sociais estabelecidos. Concluiu-se que a sociedade industrial é causa e consequência de um padrão de pensamento que sustenta e repõe a ordem a social. Procurou-se investigar qual a influência desse padrão de pensamento no que diz respeito ao desenvolvimento da psicologia no campo da educação.

Verificou-se também que, ao longo da história, as relações estabelecidas entre a psicologia e a educação sempre estiveram marcadas por uma perspectiva individualista em detrimento de uma perspectiva histórica e social. As origens da chamada psicologia da educação têm como base correntes teóricas predominantemente desenvolvimentistas e cognitivistas. Além disso, o campo educacional também sempre esteve marcado pela

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forte presença dos testes psicológicos. Recorrer às origens históricas da psicologia na educação foi interessante, pois auxiliou a compreender por que determinadas teorias ou abordagens predominavam nessa área de estudo. No entanto, esse mesmo resgate histórico apontou que, nessa mesma área, dos anos 2000 em diante, uma nova perspectiva começou a se fortalecer, e teorias que antes se faziam pouco presentes agora parecem ocupar a maior parte do terreno da psicologia na educação.

O levantamento das teses de doutorado defendidas no período de 2009 a 2011, junto ao Banco de Teses da CAPES, apontou que: a) a psicologia no campo da educação está marcada por uma forte presença dos estudos com base em referências que estão presentes no campo da Psicologia Social; b) na educação, a psicologia começa a mostrar uma tendência de predominância das teorias histórico-sociais em detrimento das teorias comportamentais e desenvolvimentistas.

A forte presença na educação de teorias psicológicas com abordagens históricas e sociais atende aos apontamentos que denunciavam uma marca fortemente individualista e biologicista nesse campo de atuação. É importante mencionar que a primazia de tais teorias com perspectivas mais sociais e históricas não é garantia de que a psicologia na educação vai estar sempre a favor do desenvolvimento do pensamento crítico e das necessárias transformações nas atuais condições de vida.

Por fim, as indicações sobre a definição das teorias psicológicas como ciência ou tecnologia, ao apontarem como deve proceder uma investigação que mereça o nome de ciência, colaboram com as futuras análises que pretendem fazer da psicologia no campo da educação uma disciplina voltada aos reais interesses dos indivíduos e que adota como horizonte a realização de um mundo livre.

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Espera-se que esta pesquisa possa suscitar novos desdobramentos no que se refere às investigações sobre as contribuições da psicologia para a formação dos sujeitos no campo da educação.

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No documento Tiago Lopes de Oliveira (páginas 137-141)