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O COMPORTAMENTISMO E A PSICOLOGIA FISIOLÓGICA

No documento Tiago Lopes de Oliveira (páginas 83-97)

RACIONALIDADE TECNOLÓGICA

B) O COMPORTAMENTISMO E A PSICOLOGIA FISIOLÓGICA

A autora alerta que a Psicologia Experimental está ligada à evolução da Biologia e utiliza como método os mesmos procedimentos utilizados nas ciências biológicas. Além disso, enfatiza o caráter fisiológico dos elementos que investiga. Já a Psicometria exerceu de modo mais marcante sua influência sobre a educação, e vale lembrar que os testes de inteligência surgiram exatamente de uma necessidade educacional e ofereceram uma explicação “científica” para o insucesso escolar. Ainda conforme a autora, deve-se descortinar o caráter ideológico da apropriação da Psicometria pela escola, ao reconhecermos que ela veio para justificar a divisão de classes, ao evidenciar que os mais bem dotados eram realmente os que pertenciam aos grupos socioeconômicos mais elevados (classe dominante). Com isso, a Psicometria contribuiu não só para reproduzir na escola a estrutura social mais ampla, mas, sobretudo, para perpetuar essa estrutura. E ela, ao apregoar a objetividade da medida psicológica e supervalorizar a Estatística aplicada às ciências humanas, abriu espaço para as medidas educacionais na escola. Assim, a avaliação educacional, visando o máximo de objetividade, tem também um sentido oculto, que é o controle do comportamento.

Por fim, Goulart (1987, p. 34) observa que:

Respeitadas as limitações da Psicologia Experimental e da Psicometria, principalmente quando se analisa seu caráter ideológico, ambas as tendências e, de modo singular, a Psicometria, tiveram lugar de destaque na educação, despertaram para as diferenças individuais e grupais e ainda constituíram, durante certo período, o que se convencionou chamar Psicologia da Educação.

B) O COMPORTAMENTISMO E A PSICOLOGIA FISIOLÓGICA

Para entendermos a influência das teorias psicológicas comportamentais na educação, faz-se necessário um resgate do percurso histórico da própria ciência

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psicológica e sua relação com preceitos ligados ao desenvolvimento do Positivismo e da fisiologia.

De acordo com Goulart (1987), a chamada Psicologia Científica do século XIX derivou-se, em especial, do surgimento da teoria positivista da ciência. E também foi no século XIX que surgiu a psicologia fisiológica, que reunia dados da clínica, do laboratório e da mesa de dissecção.

A autora aponta que, apoiados na doutrina positivista de Comte, alguns cientistas da época, pretenderam fazer algo diferente no domínio da psicologia. Entre esses cientistas pode-se destacar Herbart, que procurou aplicar a matemática à psicologia, mas sem sucesso, pois não conseguiu realizar experiências sistemáticas em laboratório. E, no que diz respeito à influência da fisiologia, foram os fisiologistas E. H. Weber e W. Fechner os primeiros a estabelecer relações mais próximas entre esse ramo do conhecimento e a psicologia, ao promoverem investigações sobre sensações táteis e visuais.

No entanto, Goulart (1987) alerta que foi somente em 1879, com a criação do primeiro laboratório de psicologia por W. Wundt, que se admite o nascimento da psicologia fisiológica. O método utilizado deveria ser aquele denominado como experimental, que considerava que o sujeito era treinado para comunicar ao psicólogo suas impressões, e este se transformava em mero observador de comportamentos expressos.

Goulart (1987) chama a atenção para o fato de que a Psicologia, em seu processo de constituição e na busca por autenticidade, sofreu dois grandes cortes epistemológicos. Nas palavras da autora:

84 (...) o primeiro ocorreu quando, não pretendendo dedicar-se à tarefa do conhecimento abstrato e reflexivo, procurou romper o cordão umbilical que a ligava à Filosofia. O segundo corte decorre do primeiro – quando a Psicologia, no século XIX, aliou-se a uma perspectiva chamada científica, constituída pelo âmbito das ciências físicas, biológicas ou psicoquímicas, cujo estatuto de cientificidade era reconhecido por todos (Goulart, 1987, p. 38).

Assim, para escapar do imperialismo filosófico, a psicologia buscava apoio no imperialismo das ciências físico-químicas e biológicas.

Segundo Goulart (1987), a psicologia científica surgiu em um clima intelectual banhado pelo Positivismo comtiano. Auguste Comte (1789-1857) é o autor do termo positivismo. Pretendeu organizar a sociedade de modo mais racional e viu na ciência o recurso mais adequado para atingir esse objetivo. De forma geral, o Positivismo representa um movimento intelectual que se caracterizava pela tentativa de aplicar aos problemas humanos os métodos das ciências naturais. Goulart (1987) assevera que foi no século XIX que a influência do Positivismo sobre a ciência humana ganhou maior aceitação, com destaque para a publicação de “A origem das espécies” de C. Darwin, que diminuiu a distância entre o homem e o animal e que possibilitou o enquadramento daquele como objeto pertencente ao rol das ciências biológicas, além de fornecer precedentes para a base experimental em que posteriormente se assentou a psicologia.

Ainda de acordo com Goulart (1987), o Positivismo comtiano quis delimitar as fronteiras da ciência contra toda e qualquer incursão possível da metafísica e fixar os princípios e os métodos das ciências, com base nos métodos da física e da química. Dessa forma, não era desejável manter a psicologia como uma disciplina intelectual com características metafísicas, o interesse era reduzir a psicologia empírica a simples fisiologia animal. No entanto, foi somente a partir de 1920, com a formação do Círculo de Viena, que se tornou realmente imperativa a intenção de reformar a psicologia e expurgá-la da metafísica. Essa intenção culminou na eliminação drástica das questões

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metafísicas ou de valor e moralidade, quando se investigava o discurso humano. Essas questões passaram a ser consideradas não científicas.

Conforme a exposição de Goulart (1987), o rompimento entre a ciência e o mundo dos valores teve um efeito desastroso sobre a cultura intelectual, uma vez que levava os cientistas a desconsiderar os aspectos morais de sua pesquisa. No tocante à psicologia, passou-se a rejeitar a introspecção e admitiu-se que a ciência deve se concentrar na busca de fatos elementares, sobre os quais não há discordância entre os observadores, ou seja, o enunciado científico deve ser igual ao método empregado para verificar as suas partes constituintes. Trata-se do operacionismo, que se apresenta, em psicologia, como uma tendência a definir uma operação psicológica pelas operações usadas para medi-la. Também é importante mencionar outra tendência que exerceu influência no desenvolvimento da psicologia, o fisicalismo. Este partia do princípio de que todos os enunciados de uma ciência devem ser reduzidos a proposições mais simples que descrevam o comportamento físico dos corpos, o que acarreta um reducionismo que pretendia que a psicologia, ao alcançar sua maturidade, fosse absorvida pela ciência universal da física; e, com isso, todo comportamento humano deveria ser explicado somente pelo funcionamento do sistema nervoso.

Ao pensar sobre a presença das teorias comportamentistas, bem como sobre sua influência no campo da educação, Goulart (1987) também destaca o ambientalismo americano do século XIX, que considerava o meio ambiente o grande responsável pela natureza humana. De acordo com a autora, o ambientalismo teve seu primeiro e grande representante em J. B. Watson, que afirmava ser capaz de, por meio do controle de suas experiências (meio ambiente) criar e treinar crianças para que elas fossem aquilo que queriam ser (médico, advogado, artista, etc.). Com a força dada aos efeitos do ambiente, Watson lançava o behaviorismo e transformava o estudo da aprendizagem,

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que era concebida como a modificação do comportamento a partir do resultado da experiência, no tópico principal da psicologia americana durante três décadas.

Goulart (1987) indica que, a partir de 1960, ocorreram mudanças drásticas nas atitudes das ciências sociais nos Estados Unidos, que podem ser associadas a algumas forças sociais; entre todas, destaca, como fundamentais, a grande depressão da década de 1930 e a redução da importância dada à religião, que implicaram em um afastamento significativo em relação ao individualismo e uma preocupação crescente com a responsabilidade social pelos desfavorecidos. A autora afirma ainda que, junto com essa mudança, estava o reconhecimento de que os indivíduos nem sempre são responsáveis por seu próprio destino e que forças alheias ao seu controle podem determinar o comportamento das pessoas. Nesse momento, a influência dos fatores genéticos sobre o comportamento dos homens passou a merecer atenção especial e foi seguida de um grande desenvolvimento da biologia e da fisiologia experimental. Esse reconhecimento trouxe à tona outra consideração importante: o papel das limitações humanas impostas de fora, ou seja, o controle.

Goulart (1897) também relata que, ao final da década de 1950 e começo da década seguinte, por conta de uma série de conflitos sociais, a sociedade voltou-se para a psicologia com o intuito de obter auxílio para resolver problemas com a educação e problemas relacionados a uma atuação mais eficaz do governo na promoção de um tratamento igualitário aos cidadãos, bem como a compreensão da liberdade humana e de seus limites. Nessa época, foi desataque a obra de B. F. Skinner, que, ao pensar sobre a teoria da aprendizagem, considerou-a a partir de uma abordagem do comportamento humano frente aos diferentes agentes controladores (governo, família, religião, cultura) e analisou os fundamentos da liberdade e da dignidade humanas. A psicologia, então,

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precisou assimilar essa mudança de preocupação das ciências sociais e se deparou com um novo questionamento, agora a respeito de sua relevância.

B’) O BEHAVIORISMO

De acordo com Goulart (1987), a melhor maneira para compreender a posição de B. F. Skinner consiste em situá-lo dentro do sistema behaviorista. Segundo a autora, a psicologia, como qualquer outra ciência, está situada na tela mais ampla da história intelectual; em consequência, qualquer sistema psicológico será um sistema de pensamento. Vale mencionar que a noção de sistema está implicada com três funções a serem desempenhadas, a saber: i) organizar os fenômenos (classificação ou taxonomia dos fenômenos); ii) explicar a ocorrência dos fenômenos (papel da teoria); iii) estabelecer padrões descritivos que permitam avaliações não ambíguas da organização e explicação adotadas (metodologia)11.

Para Goulart (1987), o behaviorismo deve ser considerado na psicologia, mais do que uma escola de pensamento ou sistema; é, uma espécie de hábito de raciocínio. A autora afirma que há um ponto de concordância entre todos os behavioristas de qualquer época, que é o desejo de parcimônia explicativa e uma inclinação decididamente pragmática, aliadas a uma grande fé na análise reducionista da conduta animal e humana. Todos têm em comum a adesão a uma psicologia associacionista e hedonista, que aspira encontrar explicações para todo tipo de conduta animal e humana, sem recorrer a qualquer consideração que exceda “o reforço”. Para melhor entendermos o

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sistema behaviorista e sua influência na educação, é interessante a apresentação da proposta teórica de dois grandes behavioristas, J. B. Watson e B. F. Skinner.

Segundo Goulart (1987), três pontos fundamentais destacam-se no pensamento de Watson: a rejeição da introspecção, a crença de que o ambiente, mais do que a hereditariedade, determina o comportamento humano e a afirmativa de que o efeito desse ambiente se dá principalmente através de um processo de condicionamento de reflexos. Watson, ao rejeitar a introspecção como fonte insatisfatória de dados, admitia que a ciência deveria ignorar a consciência privada e lidar apenas com os fatos que são acessíveis a todos, o que implicava uma distinção entre subjetivo e objetivo. Para a autora (Goulart), a crença extrema no ambiente era produto de uma noção de homem e sociedade, e Watson considerava que a hereditariedade quase não exercia influência na determinação do comportamento. Para Goulart (1987, p. 147), dois fatores influenciaram esse posicionamento:

(...) o primeiro, a tradição da Psicologia Ortodoxa, que se orientava nessa direção – o conhecimento do mundo externo nos vem através dos sentidos e, assim, a maioria dos conteúdos da vida mental só poderia ser adquirida através da aprendizagem. O segundo fator consiste em que quaisquer explicações das ações de um animal (ou homem), em termos de sua experiência passada, têm a vantagem de serem dadas em termos que podem ser observados.

Já Skinner, aponta Goulart (1987), rejeitava totalmente o estudo de quaisquer tendências inobserváveis e supervalorizava o valor da recompensa a fim de produzir aprendizagem permanente. Skinner chamou a atenção para a regularidade da recompensa e propôs que se estendesse aos seres humanos o conjunto de regras obtido na pesquisa com animais.

Conforme a exposição de Goulart (1987), graças à publicação das principais obras da teoria evolucionista de Darwin, o início do século XX assistiu a uma nova

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orientação da metodologia científica – anularam-se as fronteiras entre o humano e o animal, e a Psicologia passou a ser considerada como o estudo do observável externamente no comportamento dos organismos, sem preocupar-se com a introspecção ou com o estudo do passado. Entre todas importantes obras de B. F. Skinner, vale mencionar uma publicação de 1968, intitulada “A tecnologia do ensino”, na qual o autor deixa mais evidente seu ponto de vista sobre as práticas escolares, bem como a influência dessa corrente teórica na educação. Goulart (1987) afirma que Skinner, ao criticar as práticas tradicionais, apontava as vantagens do ensino programado e das máquinas de ensinar por ele desenvolvidos. Realizada por máquinas de ensinar, a programação do ensino consiste em uma meticulosa divisão do assunto em pequenos passos, que o aluno percorre individualmente e que são acompanhados do “reforço” quando o aluno acerta cada questão abordada em um passo. Para Skinner, desse modo é possível programar o ensino de qualquer disciplina ou de qualquer comportamento, incluindo nisto o pensamento crítico e a criatividade.

Goulart (1987) também aponta que, durante muitos anos, o individualismo dominou o pensamento filosófico, ou seja, acreditava-se que uma pessoa percebe o mundo em torno de si, seleciona os aspectos que lhe interessa, discrimina-os, julga-os bons ou maus, muda-os para torná-los melhor e pode ser responsabilizado por sua ação e punido por suas consequências. A autora indica que a proposta de Skinner, baseada na análise científica do comportamento, consiste numa mudança radical nesse modo tradicional de pensar. Não existe nenhum grau de autodeterminação, autossuficiência ou autoconfiança capazes de nos tornar indivíduos, a não ser como simples membros da espécie humana. Assim, Skinner passa de uma filosofia que dá ênfase ao indivíduo para outra que dá ênfase à cultura ou ao grupo. No mais amplo sentido, a cultura se compõe de todas as variáveis que afetam o indivíduo e que são dispostas por outras pessoas. A

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análise experimental do comportamento proposta por Skinner transfere a determinação do comportamento do homem autônomo para o ambiente. No entanto, para Skinner, o homem não é uma vítima ou um observador passivo do que lhe acontece, pois ele é controlado por um ambiente que é, em parte, construído por ele mesmo. O ponto fulcral de toda a obra de Skinner é sua preocupação com a evidência de que a ciência tem aumentado o poder do homem de influenciar, modificar, modelar, ou, em uma palavra, controlar o comportamento humano (ele pretendia controlar variáveis que podem ser diretamente manipuláveis). Ainda de acordo com Goulart (1987), Skinner escolheu três amplas áreas do comportamento humano para fornecer exemplos sobre o controle: a área do controle pessoal, que inclui as relações interpessoais na família, nos grupos sociais e de trabalho, no aconselhamento e na psicoterapia; a área da educação; e a do governo.

Segundo Goulart (1987), uma crítica à teoria skinneriana é, a um só tempo, um questionamento ao pensamento positivista que constitui sua base e ao behaviorismo. Da fundamentação positivista, a teoria manteve a descrição mecanicista de homem, ser considerado passivo e cujo comportamento é totalmente explicável segundo um modelo simplista de causa e efeito que faz lembrar o modelo científico da Física do século XIX, hoje abandonado até por esta ciência. A primeira crítica que se faz, então, vem recolocar a questão metafísica de determinismo versus livre-arbítrio. Para a autora, Skinner pensava uma ciência que deve limitar-se a estabelecer relações funcionais entre classes de fenômenos, tendo o cuidado de eliminar, de um lado, qualquer recurso a um fim e, de outro, qualquer vínculo material entre causa e efeito. Tomando o modelo da física, o behaviorismo pretende abolir a oposição entre interioridade mental e exterioridade objetiva, ao descrever todo o tipo de ação e pensando o real numa só dimensão, ou seja, considerando-o como aquilo que é manipulável.

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Goulart (1987) também aponta que outra crítica que se faz ao positivismo, enquanto base do sistema behaviorista, diz respeito ao uso do método. Sob a influência do positivismo, os psicólogos tentaram reduzir o estudo da vida humana a uma situação de laboratório. No entanto, é uma falácia admitir que a explicação da psicologia humana possa ser reduzida a um modelo de concepção mecanicista de causalidade, a uma relação entre eventos antecedentes e consequentes. A noção behaviorista do estímulo supõe que um evento tenha efeito uniforme sobre todos os indivíduos a ele submetidos. Ainda segundo a autora, o pressuposto behaviorista é o de que não se pode ter um conhecimento fidedigno da experiência de outrem; se essa afirmativa for tomada em toda sua amplitude, não pode haver ciência, pois todas as observações feitas pelo cientista são parte de sua experiência.

De acordo com os apontamentos de Goulart (1987), Skinner atraiu um grande número de discípulos que vêm invadindo todos os ramos da psicologia aplicada e aplicando seus princípios a qualquer área da atividade humana em que se considere desejável o controle do comportamento. A autora destaca que podemos entender a teoria behaviorista como uma tecnologia para levar as pessoas a fazerem o que queremos que elas façam. Para a autora:

A ideia básica subentendida na tecnologia é que o comportamento é modelado e mantido por suas consequências. Logo, a tarefa do modificador (seja ele educador, psicólogo, pai ou outro representante da sociedade) consiste em estruturar o ambiente do organismo de modo que ele emita o comportamento adequado e desejável. (Goulart, 1987, p. 61).

Os sentidos das palavras “adequado” e “desejável” suscitam uma questão moral e política. Goulart (1987) alerta que, quando consultados sobre o sentido dessas palavras, os skinnerianos costumam admitir que suas definições de comportamento desejável é inspirada nas normas da sociedade atual, o que significa assimilar conceitos

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como normal, convencional, respeitável. A autora também enfatiza que tudo o que se considera é o comportamento manifesto e se está ou não de acordo com os padrões autoritários do modificador, ficando aí implícita a questão do poder. A fronteira entre o comportamento delinquente e o protesto político é, em certos casos, definida apenas pelo julgamento dos que detêm o poder. O perigo da abordagem científica desses problemas sociais é que seu conteúdo político e moral permanecem escondidos por trás de uma metodologia técnica supostamente livre de valores. E é óbvio que a predição e o controle do comportamento de algumas pessoas por outras não podem ser livres de valores. É por isso que os críticos admitem que a psicologia skinneriana seja a essência da psicologia alienada, na prática. O behaviorismo rejeita a visão totalizante do sujeito e toma as formas elementares do comportamento para construir, passo a passo, as figuras mais complexas do espírito. Tudo se resumiria em saber quais as variáveis experimentais responsáveis por qualquer conduta. Goulart (1987, p. 62) destaca que:

Constituindo um sistema de reforços generalizados, a cultura apresenta-se para Skinner como o repositório das experiências passadas, imprimindo ao mundo um roteiro determinado. A liberdade e a dignidade humanas não teriam lugar nessa perspectiva; elas devem ser substituídas pela tecnologia mais avançada.

Goulart (1987) assevera que, ao definirmos, em termos positivistas, a psicologia como previsão e controle do comportamento, teremos algumas questões, tradicionalmente políticas, como: para que fins devam se dirigir o controle? Quem fará o controle e quem será controlado? Conclui ela que o pensamento positivista requer que as pessoas sejam tratadas como máquinas ou meros organismos e, sobretudo, que se pensem como tais. A máquina tecnológica aspira ao nivelamento das possibilidades humanas, transformando os homens em objetos, ou em simples organismos emissores de comportamento. Não foi por acidente que o behaviorismo nasceu contemporâneo do

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sistema capitalista de produção mais avançado do mundo e no mesmo solo que ele (EUA). É importante lembrar que esse caráter apolítico e supra-histórico que o positivismo tenta conferir à ciência contribuiu, entre outros fatos, para a ascensão do fascismo e para justificar as relutâncias desses intelectuais, incluindo os cientistas, em tomar partido nas lutas políticas. Deve-se mencionar o caráter ideológico da psicologia positivista, em primeiro lugar, pela promoção da negação humana, pela negação do significado e pela supressão da dimensão social nas descrições dos problemas humanos e, em segundo lugar, por supor que os homens são agora o que sempre foram no passado e também serão assim no futuro; essa crença desencoraja de pensar no que o homem poderia ser, ou seja, explorar seu potencial de homem e sua capacidade para

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