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Diante do exposto, no presente capítulo é evidente a exis- tência de uma vinculação do esporte com a mídia, em especial ,com a televisão. Os argumentos e teorias aqui apresentados in- dicam que os fenômenos esporte e mídia são indissociáveis.

A televisão constitui um tipo especial de mídia que expõe e converte o esporte espetáculo em telespetáculo, o que contri- bui para o alcance e significação social de competições esporti- vas, jogos e grandes eventos mundiais junto às massas.

Nesta perspectiva, constituem referenciais de análise o processo de globalização e a retomada da concepção de Indús- tria Cultural, onde o esporte é inserido na lógica de mercado. Nesse caso, é apresentado na TV como um produto capaz de divulgar marcas, produtos e é, por si próprio, um produto que é vendido para telespectadores, sob a forma de passatempo, di- vertimento e cultura.

Não há como abstrair da mídia televisiva o interesse no fenômeno esportivo, vez que este confere uma audiência mas- siva que se traduz em rentável fonte de lucros. Afinal, hoje, não existe apenas a televisão convencional cotidiana, mas também a TV a cabo. As transmissões de grandes eventos mundiais como Copa do Mundo e Jogos Olímpicos é o grande indicador de que o esporte interessa a pessoas no mundo inteiro.

Nas entrelinhas de algumas teorias debatidas ao longo do texto, sugere-se uma atitude crítica e reflexiva acerca da redu- ção do esporte à lógica econômica, ao simulacro e ao poder da globalização. Essas posturas críticas constituem um alerta aos educadores físicos que lidam com o esporte na escola, no sentido de levarem em conta o caráter contraditório, com que a mídia televisiva veicula as mensagens esportivas, de modo a não contaminar a cultura escolar com os apelos do mercado e da transmissão ideológica por intermédio de imagens e discursos contrários à formação de educandos para a vida.

É fato que o esporte de rendimento (ou de alto-rendimen- to) é dotado de grande poder econômico, tem a televisão como

ção de capital. Nessa lógica de acumulação, criaram-se diversos heróis ou mitos do esporte, tidos como modelos de comporta- mento, de ascensão social, “garoto pobre que saiu da favela e tornou-se ídolo do esporte, ganhou muito dinheiro, ficou rico”. Isso é explorado pela mídia como uma das grandes caracterís- ticas do esporte, porém, a história do garoto pobre que após diversas frustrações e decepções em busca do sonho de ser um grande jogador, abandona o esporte e torna-se vítima do tráfico de drogas, fica restrita a reportagens isoladas, parecendo isso ser a exceção e não a regra.

Cabe ressaltar, ainda, que o esporte está entre os diversos bens e produtos culturais que, com a globalização, tem sua ex- pansão na ordem mundial e, conseqüentemente, a sua diminu- ição de fronteiras. Possui uma linguagem simples e uma cena pronta, o que facilita o seu entendimento. Com isso, este fenô- meno incorpora-se, com certa facilidade, a lógica do mercado.

Hoje, o mercado do futebol movimenta mundialmente grandes cifras nas suas diversas transações comerciais. Jogado- res de futebol brasileiros são comercializados por diversos times pelo mundo afora, passando pela Europa, Japão, Oriente Médio entre outras localidades. O comércio de jogadores, como se fos- sem mercadoria, tornou-se “normal”.

Transações milionárias de grandes jogadores de futebol comumente veiculadas pela mídia, falseiam uma realidade nada “glamorosa” de outros que saem do país com a falsa promessa de jogar e ganhar muito dinheiro lá fora, porém, ao chegar em alguns paises, percebem que a realidade é outra, condições subumanas de trabalho e excesso de treinamento, salários baixos, ou ainda quando não são abandonados e tendo que viver em condições de miséria em um local estranho a sua cultura e a sua origem.

A máscara de globalização faz com que tudo seja belo, que a sociedade em ordem mundial só teria a ganhar com a expansão do mercado e da economia mundial. Nesta lógica, o consumismo se incorpora de forma crescente. O esporte se

fenômeno visto e praticado por multidões em todo o mundo, aproveita-se dessa popularidade e além de se tornar mercadoria, é utilizado para venda de produtos, pois sua imagem é associada à saúde, à beleza, à competência, ao divertimento, e a outras virtudes diversas.

Finalmente, o estudo aqui apresentado não teve a preten- são de esgotar ou dar uma palavra final à relação entre a mídia e o esporte. Trata-se, apenas, de uma análise que levou em conta alguns pontos de vista teóricos, os quais servem como contri- buição a estudos e debates sobre o campo esportivo e campo midiático, ou, antes, apontar elementos iniciais a serem consi- derados na atuação da mídia esportiva.

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