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Políticas Públicas para o Esporte e Lazer: o direi to e as ações

Ao se discutir o tema de políticas públicas para esporte e lazer, antes de mais nada, se evidencia a esfera ou o papel do es- tado, ou ao que o estado se propõe, na promoção ou formulação de planos, ações e programas paras essas áreas. O lazer se inse- re, enquanto direito social, no artigo 6° da Constituição Federal de 198810. Mas é dentro do artigo 217 que mais se enfatiza e se

evidencia qual seria o papel do Estado no fomento às práticas de esporte e lazer. Destaca-se, no inciso II deste artigo, o compro- metimento do Estado na destinação de recursos públicos para a “promoção prioritária” do desporto educacional e, em casos específicos, para a do desporto de alto-rendimento. O parágrafo 3° deste mesmo artigo declara o papel do poder público no in- centivo ao lazer, como forma de promoção social.

Rodrigues (1997)11ao apresentar a experiência das polí-

ticas públicas para o lazer e o esporte em Porto Alegre, afirma

10. BRASIL. Constituição Federal. Brasília: Câmara dos Deputados, 1988. 11. Rodrigues, Rejane P. Lazer numa perspectiva cidadã – a experiência de Porto

um descomprometimento por parte dos governos no que diz respeito a ações nesses setores. Para a pesquisadora, as políticas voltadas para o setor do esporte, por exemplo, visam a busca permanente da seleção dos melhores, trabalhando a exclusão dos menos qualificados, sendo o esporte utilizado de maneira alienante, populista e eleitoreira. Nessa investigação, verificou -se que as poucas ações se concentram predominantemente no esporte de alto-rendimento ou da alta-competição (a exemplo do Bolsa Atleta) e mais raras, para a difusão do lazer e da prá- tica esportiva lúdica em outros espaços sociais12.

Há que considerar, ainda, como uma das situações con- junturais que reforçaram este direcionamento das ações, que o ano de 2007 teve como grande marco, a realização dos jo- gos Pan-Americanos, na cidade do Rio de Janeiro, evento que consumiu um grande montante de recursos públicos (das três esferas governamentais: federal, estadual e municipal) – e que inclusive no momento está em via de formalização de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para averiguação das contas, em razão de denúncias de superfaturamento financeiro. Num segundo momento, a decisão da FIFA (Federátion Inter- nationale Football Association) em sediar a Copa do Mundo de 2014 no Brasil, outro evento de maior porte, que provavelmente dependerá de mais investimentos públicos.

A definição de programas e ações voltados para a área do lazer pressupõe a idéia de que este é um direito social. Filho (1999)13 parte da compreensão que a discussão sobre o exercí-

cio de cidadania está diretamente relacionado à existência e o acesso às políticas públicas em todas as suas possibilidades de manifestações, incluindo também o lazer e o esporte. Vera Tel- les, ao discorrer sobre direitos sociais, pondera: “seria possível dizer que os direitos estabelecem uma forma de sociabilidade

12. Como o tema central volta-se para o lazer esportivo, as ações voltadas para outras manifestações do lazer não foram incluídas nesta análise.

13. Filho, José Ribamar P. Políticas Públicas nas áreas do lazer e do esporte, movimen-

regida pelo reconhecimento do outro como sujeito de interesses válidos, valores pertinentes e demandas legítimas” (1999: 138). Pensar em política pública e em suas formas de ação ou imple- mentação, que envolvem programas, projetos, ações educativas, é reconhecer, portanto, a necessidade de intervenção diante de alguma necessidade, reconhecer carência em algum setor. O la- zer, assim, entendido no âmbito de direito social, é percebido como demanda legítima de alguns segmentos.

Em relação a essa perspectiva, Zaluar (1994, p. 61)14 ob-

serva em suas pesquisas que em todas as localidades visitadas, as associações de moradores queriam e lutavam pela construção ou melhoria de uma área de lazer. E mais, nessas áreas, o esporte sempre ocupava um espaço privilegiado: “essa área de lazer qua- se que se confunde com a construção de uma quadra de espor- tes”. Essa constatação pressupõe o interesse e a intencionalidade de luta por espaços de lazer por segmentos da população mais carente, como um direito social a ser resgatado e garantido.

O que estes autores destacam é que a reflexão sobre a implementação de políticas públicas para o lazer, contribui para a percepção da necessidade de, cada vez mais, se buscar políti- cas pautadas numa perspectiva intersetorial. Neste sentido, Gu- tierrez (2001, p. 113) argumenta que “a melhoria da qualidade de vida da população, depende de uma política pública bem arti- culada, na qual seus diferentes aspectos sejam tratados de forma a que se auxiliem e se potencializem mutuamente, num efeito de sinergia cujo resultado final será maior que a soma das par- tes”. O autor aponta para a possibilidade de articulação entre lazer e segurança pública, por exemplo, observando, sobretudo, a questão da família:

“numa perspectiva um pouco menos tacanha, poderíamos acrescentar os ganhos nas dimensões familiar e comunitária. A desagregação da estrutura familiar acarreta efeitos per- versos nos mais diferentes aspectos da vida social, princi- palmente nos setores mais baixos da pirâmide econômica. 14. Zaluar, Alba. Cidadãos não vão ao paraíso. 1994.

Uma política de lazer devidamente direcionada e adequada às necessidades de seu público incentiva a manutenção de mecanismos de solidariedade que podem evitar, ou atenu- ar, os riscos de esgarçadura do tecido social, com todas as conseqüências nefastas que daí advém.”(Gutierrez, 2001, p.114).

Portanto, políticas públicas para o esporte e para o lazer devem ser pensadas, visando ações, cada vez mais, articuladas com questões prioritárias da vida social. Para tal, essas políticas podem e devem se orientar pelo potencial do lazer, da necessida- de de promoção ao seu acesso e da facilidade de relacioná-lo às demais esferas tais como: saúde, educação, segurança, trabalho.

Assim, pode-se pensar em duas maneiras de conceber o