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A TUTELA INTERNACIONAL DOS DIREITOS DE PROPRIEDADE INTELECTUAL: ESTUDO

5. Considerações Finais

Esta viagem permitiu-nos observar que os ordenamentos constitucionais do Brasil e de Portugal estão ao serviço da tutela da Propriedade Intelectual (direitos de autor e direitos industriais) como direitos fundamentais. A essência da Propriedade Intelectual encontra-se na Constituição e beneficia de um reforço geral da defesa dos direitos fundamentais, quer dos direitos, liberdades e garantias, quer dos direitos econômicos, sociais e culturais, a partir do conceito aberto da dignidade da pessoa humana.

Os direitos de Propriedade Intelectual constituem um tema internacional. Nessa medida, as mudanças significativas promovidas pela globalização da informação e da tecnologia, na medida em que promovem em particular uma expansão quase incontrolável da obra autoral, permitem-nos defender juridicamente o direito de autoral como um direito global.

66 Idem Ibidem.

67 Cfr. OLIVEIRA ASCENSÃO, Direito Civil Direito de Autor e Direitos Conexos, 2012, p.16. 68 Cfr. OLIVEIRA ASCENSÃO, Direito Civil Direito de Autor e Direitos Conexos, 2012, p. 17. 69 Idem, 16

70 Cfr. GOMES CANOTILHO, Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 2010, p. 1109. 71 Idem Ibidem.

A dimensão comparativa aqui apresentada oferece-nos no entanto a vantagem analítica de mostrar as diferenças constitucionais, permitindo-nos perceber como garantem os textos constitucionais, a independência e dignidade dos criadores e intérpretes intelectuais a par do domínio público dos bens intelectuais no ciberespaço.

Trata-se de uma matéria sensível, em parte dada a sua forte conexão com questões de ordem filosófica, cultural, social e econômica de cada país, mas também por constituir a Propriedade Intelectual um polo de confluência de interesses, muitas vezes divergentes, que em muito têm alimentado o debate doutrinário. Por um lado defendem-se perspetivas que salvaguardam a personalidade e protegem o patrimônio do autor, e por outro lado, se tenta alcançar os interesses da vida cultural em Sociedade, tarefa que cumpre ao Estado defender, e à qual o criador intelectual pertence e onde se inspira.

Esta constatação tem alimentado uma critica à sistemática da Constituição Federal Brasileira, por ser considerada uma matéria não merecedora de alçada ao nível de direito fundamental. Uma posição menos radical defende que os dispositivos sobre Propriedade Intelectual da Constituição, ainda que de natureza patrimonial, se encontram corretamente vinculados ao artigo 5º da CRF, mas integralmente submetidos às limitações das propriedades em geral, especialmente as do uso social, além das limitações típicas dos bens imateriais. Outras vozes defendem que a Propriedade Intelectual, em concreto dos direitos industriais deveriam ser inseridos na Constituição Econômica e não no capítulo dos direitos e garantias fundamentais dos cidadãos, onde aliás foi sistematicamente inserida desde a Constituição Imperial de 1824.

Em ambos os regimes jurídicos os direitos de autor pressupõem a existência de uma “obra”, resultado da “criação do espírito” ou “criação intelectual” do seu autor. Mas, paralelamente aos direitos de autor72, de onde se extrai a emanção da personalidade humana do artista criador, a propriedade

intelectual engloba também os direitos industriais os quais exprimem “um quadro de valores e interesses intimamente ligados à realidade empresarial”73, bem como vetores essenciais de política macroeconômica.

6. Referências

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72 A regra-geral da lei portuguesa para o prazo de proteção do direito do autor está previsto no artigo 31.º do CDADC e caduca 50 anos após a morte do criador da obra. Por via dos instrumentos internacionais caminhamos para uma uniformização deste prazo não obstante as críticas, em virtude do prazo ser demasiado longo.

[ 4 ] BOTILHO, André / et al., Os Direitos Autorais e os Museus: o Caso Brasileiro, Cadernos de Sociologia, 41, 2011: Questões interdisciplinares na Museologia, 85-132. In http://recil.grupolusofona.pt/ handle/10437/4522 [Consultado em 07.06.2014].

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COMO ESTÃO PROTEGIDAS AS MARCAS