• Nenhum resultado encontrado

O tema reforma tributária brasileira, conforme muito debatido neste trabalho, não é tarefa fácil, pois como visto, desde o ano de 1995 o legislador tenta reformar o sistema, sendo que todas as propostas apresentadas ao Congresso Nacional não obtiveram aprovação.

A única grande reforma realizada no Brasil foi sem sombra de dúvidas a de 1965, promovida pela Emenda Constitucional nº 18, a qual instituiu e, verdadeiramente organizou o sistema tributário brasileiro.

Diz-se que a EC 18/65 o organizou, considerando-se a situação de desordem, conflito de competência, bitributação e uma série de problemas originados na tributação desde os primórdios da história do Brasil.

Vale ressaltar que na época do Brasil Colonial não havia um sistema, e sim ordens emanadas da Coroa Portuguesa, a qual detinha todo o poder de tributar, arrecadar e de expropriar. Após, com o período Imperial e instituição de uma Constituição outorgada pelo Imperador Dom Pedro I, é que se teve as primeiras separações, outorgas de autonomia, mas mesmo assim, permaneciam confusas e complexas, como é o caso por exemplo, da tributação exercida pelo Poder Imperial e Poder Provincial.

Ou seja, há muitos anos o Brasil enfrenta este grande problema: o de exigir demasiadamente daquele que possui menos para sustentar aqueles que possuem mais.

Em que pese tenha ocorrido a mudança a estruturação do modelo de tributação com a ruptura entre o Estado e propriedade privada para formar o Estado Moderno, a tributação continuou, e, de forma a cobrar mais, pois afinal de contas, o Estado não gera riquezas ou renda, ficando a cargo do contribuinte tal responsabilidade. O Estado criou então todo um sistema,

regras, normas, legislações as quais formam a matriz tributária brasileira, que deveria ser progressiva, mas, como visto, é essencialmente regressiva.

Imperioso destacar a instituição dos princípios constitucionais tributários, os quais possuem essencial função no ordenamento tributário nacional, pois impõem barreiras, limites à tributação, considerando-se que o principio basilar é o da legalidade, e consequentemente, dá origem à todos os demais, especialmente o da capacidade contributiva, cujo intuito é de promover a justiça fiscal, respeitando aquele que verdadeiramente sustenta a máquina pública. Este princípio quer garantir ao contribuinte proteção contra a tributação excessiva, por isso impõe e exige que os impostos devem ter caráter pessoal, e devem ser graduados conforme a desigualdade de cada um.

Esta preocupação do Estado e do legislador está presente na primeira Constituição do Brasil a Imperial, em seu artigo 179, inciso XV com a redação de que “ninguém será exempto de contribuir para as despesas do Estado em proporção de seus haveres, ou seja, a ordem dada na época, remetida ao ente tributante, implicava na obrigação de aferir a possibilidade de contribuição.

Muito se discutiu sobre esta redação, hoje contemplada na Constituição Federal, em seu artigo 145, §1º, compreendendo em sentido contrário, pela impossibilidade. Porém, se for observada a graduação e a legislação própria de cada tipo tributário, haverá a possibilidade de aplicação eficaz do princípio, especialmente aos impostos aos quais a regra se destina, os chamados impostos pessoais e diretos.

Conforme demonstrado, os impostos sobre a renda, sobre veículos automotores, imposto predial e territorial urbano assim como o rural, a possibilidade é concreta. Os únicos os quais o legislador encontra dificuldade, sem sombra de dúvida são aqueles que recaem sobre as relações consumo.

E estes impostos são muitos e pior, são invisíveis, pois imperceptíveis aos olhos do consumidor final, como é o caso do ICMS, que não possui o detalhamento do quanto vale o produto ou serviço e mais o imposto no momento da compra. Outra situação, é que em função da impossibilidade de se conhecer todos os regulamentos próprios deste imposto, considerando-se que possui vinte e sete regulamentações distintas, o contribuinte não possui condições de saber o quanto paga de imposto no momento da compra do produto.

A situação de tributação demasiada também recai sobre o industrial, aquele que produz, industrializa, presta serviços, ou que comercializa a mercadoria, pois considerando-se a situação muitas vezes de não aplicabilidade do princípio da não cumulatividade, acaba pagando imposto sobre imposto, como é o caso do IPI e ICMS.

Ambas as situações geram a carga excessiva ao contribuinte, seja este pessoa física ou jurídica, sendo que ambas devem cumprir com sua obrigação de pagar, haja vista os meios coercitivos impostos pelo Estado, além de suas garantias e privilégios para satisfação do crédito tributário.

Neste sentido, vale-se dizer que embora haja o princípio constitucional tributário da vedação ao confisco, infelizmente ele está presente a todo momento quando é realizada uma operação de consumo, pois a tributação é invisível aos olhos do contribuinte, mas bem saliente aos do Estado, sendo que o consumidor final é quem paga esta conta.

Por isso, tem-se a revolta do contribuinte, a sonegação fiscal, crimes tributários e entre outras situações de não cumprimento à obrigação tributária, pois se o contribuinte não possui condições de prover a própria subsistência de forma digna, jamais poderá custear as despesas estatais, as quais não são poucas. E considerando-se o fato da corrupção que desonra o Brasil, solicitar o pagamento de tributo de modo impositivo e coercitivo sem que haja a contraprestação da prestação de serviço público estatal, é pedir demais.

Atualmente o tributo não desenvolve eficazmente sua função social, ele limita o cidadão, em especial o contribuinte. Embora haja a previsão Constitucional como princípio basilar da República brasileira da valorização do trabalho e da livre iniciativa, o excesso de tributação faz com que muitos não empreendam, ou trabalhem na informalidade, e também contribui para a sonegação em massa e inadimplência.

Assim, árdua é a tarefa do legislador em remodelar o sistema tributário. Trata-se de um esforço em que está sempre presente a necessidade de se pensar em conjunto em prol de uma tributação mais justa e aplicável, do contrário, continuar-se-á na mesma situação.

Ressalte-se que a carga tributária segundo os estudos apresentados neste trabalho, oscila entre 33,82% e 36% do produto interno bruto. Ou seja, muito alta. Trata-se de carga aplicada em países que estão em pleno desenvolvimento, e não um país emergente, que luta para sair do subdesenvolvimento, como o Brasil.

Debates acirrados salpicam no cenário tributário brasileiro, sendo uns contra e outros a favor da reforma tributária, especialmente sobre a questão da criação de Imposto Sobre Valor Agregado - IVA, agora denominado Imposto Sobre Bens e Serviços, IBS, discutido no Congresso Nacional em comissão própria recentemente instalada.

De todo o estudo realizado, tem-se a necessidade de harmonização entre os entes tributantes, e a necessidade de fazer valer de verdade a supremacia do interesse público, compreendida pelo interesse da coletividade e não da administração pública.

Para que haja a reforma do sistema, dois pontos são cruciais: entendimento sobre autonomia para tributar e como redistribuir a arrecadação. Se não houve tal entendimento, continuar-se-á a mesma novela brasileira tributária e carga cada vez mais alta.

A PEC nº 45 e PEC nº 110 são as propostas mais recentes, e felizmente o legislador já observou a necessidade de discussão em conjunto, de tentativa de harmonização a fim de evitar atrasos e pedidos de vista apenas protelatórios em função de interesses políticos.

Das hipóteses verificadas, como ainda se trabalha com suposições, haja vista o processo de apreciação dos projetos de EC, pode-se dizer que é possível sim a extinção de alguns impostos do ordenamento jurídico brasileiro, visando sua substituição por Imposto sobre Valor Agregado, haja vista que este modelo de imposto é utilizado mundialmente, e se for realizada apenas a tributação agregada ao produto ou serviço prestados, certamente trará benefícios ao contribuinte.

Sobre a hipótese verificada para retirar a autonomia da União, embora encontre um pouco de resistência em função da manutenção do pacto federativo e não alterar as disposições constitucionais, tem-se que a necessidade maior agora é reformar o sistema, então se houver a necessidade de harmonização entre os entes tributantes, em que haja o respeito à alíquotas, sem gerar guerra fiscal, com aplicação da tributação somente no destino, certamente será uma hipótese aplicável, que respeitará a capacidade contributiva.

No que se refere questão da concessão de incentivos fiscais, esta hipótese apresenta prós e contras. Todavia, se houver o respeito à Lei de Responsabilidade Fiscal, pode ser aplicável verificada as condições e requisitos essenciais à sua concessão. De outro modo, a concessão será danosa ao erário público e falsa ao contribuinte, porque é temporária e não vitalícia. Ao contrário da redução de alíquotas, na qual a tendência é perdurar por maior espaço de tempo.

Espera-se que, dentre as propostas apresentadas, sejam aprovadas aquelas voltadas para a simplificação da tributação, uma seletividade mais rígida sobre os impostos que recaem sobre bens e produtos, e uma aplicação da não-cumulatividade para evitar o efeito cascata. Não é muito, mas seria o suficiente para tornar o sistema mais hígido e eficaz.

Espera-se que desta vez, haja maior transparência e a transformação do sistema tributário brasileiro num sistema aplicável, mais justo e que equilibre as relações entre contribuinte e o ente tributante, afinal, um precisa do outro.