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Conforme se verificou no exercício da competência de cada ente tributante, tem-se a obrigatoriedade ao respeito da capacidade contributiva, para que se possa estabelecer a relação de harmonia entre autoridade tributante e o contribuinte, ou seja, a satisfação do cumprimento da obrigação e do dever de tributar, de maneira que se possa garantir ao contribuinte o respeito por sua situação econômica.

Seguindo esta linha do respeito ao princípio da capacidade contributiva, a administração deverá observar o que dispõe o §1° do artigo 145 da Constituição Federal, que estabelece que (...) sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal (…).

Ao que se observa, é que o legislador ao instituir o principio em questão, justamente na Constituição Federal, dispôs de forma à garantir a isonomia e proporcionalidade nas ações da autoridade administrativa, especialmente no que se refere ao poder de tributar, pois o princípio deve ser efetivamente cumprido, não retirando a

96 MOTA, Sérgio Ricardo Ferreira da. A imunidade do mínimo existencial omitida no sistema constitucional tributário

autonomia da autoridade tributante, mas sim, impondo-se ao poder atribuído o limite para que haja a razoabilidade na instituição e majoração dos impostos.

Há que se considerar que o princípio da capacidade contributiva, que está intimamente ligado ao princípio da proporcionalidade e razoabilidade, no sentido de não se poder exigir das pessoas, no caso o contribuinte, obrigações que não possam cumprir, tampouco instituir sanções desproporcionais e superiores àquelas estritamente necessárias ao atendimento do interesse público.

No caso em tela, não há como instituir impostos e majorar suas alíquotas de maneira desproporcional sem observar a capacidade de contribuição daquele que paga.

Regina Helena Costa97 obtempera e aduz que a capacidade contributiva significa que um sujeito é titular de direitos e obrigações com fundamento na legislação tributária vigente, que é quem vai definir aquela capacidade e seu âmbito.

A guisa de exemplo, pode-se imaginar tal situação na majoração de alíquotas, de maneira a chegar por exemplo, a praticamente 100% (cem por cento) da renda do contribuinte, ou equiparar-lhe ao valor do bem adquirido pelo contribuinte.

Ou seja, a majoração das alíquotas dos impostos deve respeitar a capacidade de pagamento do contribuinte, e as ações da autoridade tributante enquanto administração pública, devem agir no sentido de respeitar esta capacidade.

Assim, o cerne da questão é o respeito ao princípio, ante uma reforma tributária adequada, uma vez que atualmente o sistema tributário é extremamente complexo e aplica encargos altos ao contribuinte, especialmente no que refere-se aos impostos.

E ao que parece, pelo menos atualmente, o princípio passa despercebido pela autoridade administrativa tributante, uma vez que o contribuinte não consegue mais arcar com a carga tributaria, haja vista a majoração das alíquotas do impostos.

Observa-se a situação contraditória e altamente prejudicial para o contribuinte e para o Estado tributante, uma vez que compromete o cumprimento da obrigação tributária e por consequência a arrecadação necessária, que deveria retornar na forma da prestação de serviços públicos eficazes.

Desta forma, o princípio revela na sua essência uma forma de equilibrar e manter a relação autoridade tributante X contribuinte para que este consiga adimplir com sua

obrigação e o Estado atingir sua meta de arrecadação e aplicação das receitas de forma adequada.

Todavia, o que se observa é uma inversão drástica do princípio, uma vez que é o próprio contribuinte quem está de maneira árdua e a duras penas, adequando-se ao sistema, reinventando formas de manter sua capacidade apenas para sobreviver, deixando suas obrigações fiscais de lado. Já o fisco por sua vez, inerte à esta impossibilidade financeira do sujeito passivo, só faz aumentar a carga, desrespeitando a priori o princípio constitucional.

Assim, destaca-se a ideia de Manzoni, citado por José Marcos Domingues de Oliveira98 que dispõe que não pode subsistir imposição tributária na ausência de capacidade contributiva.

Ora, se não há como contribuir, como se exigir a cobrança de tributo? Muito óbvia e lógica a reflexão, todavia, o que transparece é que a autoridade tributante simplesmente não observa e aumenta cada vez mais a carga tributária.

Conforme verificado no item anterior, a autoridade tributante deverá observar se há capacidade contributiva, ou seja: primeiro diminuir da riqueza do contribuinte sua capacidade econômica, que compreendem as despesas básicas para seu próprio sustento e de seu patrimônio, para enfim, verificar se do produto final, há capacidade de contribuir para o sustento do Estado.

No mesmo sentido, Aliomar Baleeiro, citado por José Marcos Domingues de Oliveira99 entende que a capacidade contributiva é o atributo que deve qualificar alguém, aos olhos do legislador, para ser sujeito passivo da relação tributária.

No mesmo sentido, discorre Yoshiaki Ichihara100 que este princípio, além de ser o ingrediente fundamental na implementação do princípio da isonomia ou da igualdade, aparece como instrumento da realização da justiça fiscal, a qual, promoverá a justiça social.

Yoshiaki Ichihara entende ainda, que, se o Estado impor maior tributação àquele que possuir maior capacidade contributiva, estará encontrando a única forma de buscar a melhor distribuição de renda e diminuição da desigualdade social.

Ou seja, verifica-se claramente que o respeito ao princípio da capacidade contributiva é a mínima exigência de ética e justiça do poder legislativo em relação àquele que o sustenta.

98 OLIVEIRA, José Marcos Domingues de. Direito tributário: capacidade contributiva: conteúdo e eficácia do princípio. 2ª ed.

Rev. e atual. Rio de Janeiro: Renovar, 1998. pg. 16.

99OLIVEIRA, José Marcos Domingues de. Direito tributário: capacidade contributiva: conteúdo e eficácia do princípio. 2ª ed.

Rev. e atual. Rio de Janeiro: Renovar, 1998. Pg. 16.

100 ICHIHARA, Yoshiaki. Direito tributário: atualizado de acordo com a Emenda Constitucional 45.São Paulo: Atlas, 2006. pg