• Nenhum resultado encontrado

Este trabalho tratou até aqui de estudar um caso específico de uma obra finalizada da construção civil em uma determinada empresa do ramo na Zona Leste de São Paulo. Foram apresentadas as características atuais do mercado imobiliário e da construção civil e seu macro ambiente, a economia brasileira nos últimos 10 anos até hoje. Em seguida foi apresentada a filosofia Lean para ilustrar um pensamento nascido em uma época similar de crise no Japão. Com isso, apresentou-se as particularidades e dificuldades de considerar obras de construção civil como cadeias produtivas.

Assim, introduziu-se o Lean Construction, provando a aplicabilidade do Lean ao setor referenciado anteriormente. A ferramenta chave do LC apresentada foi o Last Planner System, tendo como objetivo planejar e executar as fases de uma obra da construção civil eliminando tempos de espera e outras perdas e desperdícios. Como resultado mais atrativo às empresas do ramo, o LPS se prova eficaz na redução orçamentária de um empreendimento imobiliário, fato constatado pela análise dos dados da obra da Rua W frente aos fundamentos do LPS e do LC e por outros casos aqui citados.

Em resumo, os procedimentos apresentados avaliaram uma obra finalizada. Foram propostos métodos didáticos ensinando como proceder com a implantação do LPS. Vale salientar o objetivo do método e o fato de não haver sentido em elaborar planejamentos completos para uma obra já finalizada e entregue. Se um plano é executado referente a uma execução já feita, deixa de ser um plano e passa a ser um modelo a ser seguido.

Os planejamentos (semanal, antecipatório e mestre) possuem suas flexibilidades, devem ser alterados periodicamente, não devem ser feitos de uma só vez para valerem por todo o período de obra. Trata-se de planos alteráveis ao longo do tempo de execução. O Weekly Plan e o Look-ahead Plan são dependentes um do outro e feitos à medida que chegam as datas de antecedência previstas e alterados conforme as necessidades, respeitando as milestones – definidas no Plano Mestre – e o PPC – indicador de eficiência do Plano Semanal. Planos semanais relativos a acontecimentos anteriores perdem sua função de planejamento e passam a ser

considerados registros. Em vez disso, didaticamente foi estudado um empreendimento e realizado um pequeno modelo de plano ainda em período hábil de execução, a vistoria das unidades pela equipe de vendas.

Não se pôde executar um plano mestre por insuficiência de dados, por todos os materiais e atividades já terem ocorrido e a obra já ter sido entregue. Demonstrou- se como introduzir o LPS a uma região geográfica não conhecedora dos seus benefícios. Pôde-se demonstrar a lógica e o raciocínio envolvidos nesses planos por meio de pequenos modelos como os ilustrados.

Este trabalho possui caráter inédito, visto que na Zona Leste de São Paulo não foram encontradas informações atestando o uso do LC ou da ferramenta LPS por construtoras, incorporadoras nem imobiliárias da região.

A mudança de mentalidade que o Lean Construction propõe é crucial para a independência do mercado da construção civil frente ao cenário econômico instável que o Brasil atravessa. Não se pode gerir uma empresa esperando que o ambiente empreendedor melhore por ações de governos, deve-se estar preparado para qualquer desafio, principalmente quando as previsões otimistas não se cumprem e novos números de crescimento esperado são sempre rebaixados.

Ao observar o município de São Paulo, principalmente a Zona Leste, são observados muitos empreendimentos similares ao da Rua W. Assim, essa obra se mostra como um bom exemplo para a aplicação da ferramenta LPS. Muitos erros foram cometidos durante sua elaboração, resultando em muito a aprender; erros clássicos e em sua maioria reflexos da cultura da construção civil no Brasil. Essa cultura da falta de planejamento e da tomada de ações apenas quando o problema acontece deve ser substituída pelos princípios da mentalidade Lean para que o este setor evolua e passe a atuar com maior força e independência no mercado nacional.

Ao apontar problemas administrativos, de planejamento e de controle, o intuito é estudar um caso para compreender os problemas apresentados e assim resolvê-los de forma a não os repetir. A sociedade evoluiu à medida em que erros foram cometidos e registrados; em circunstâncias análogas, imprevistos, perdas e defeitos são evitados por previsão apenas possível perante um material já existente. Este padrão é o esperado quando se trata de um estudo de casos.

Ao longo dos séculos, o homem observou a importância do compartilhamento de informações e o quão vital se torna o reconhecimento dos próprios erros para não voltar a cometê-los. O conhecimento deve ser disseminado e não deve haver

vergonha em assumir falhas. É um ato de grandeza relatar o que não funciona aos que se encontram em circunstâncias similares, pois nesses momentos há oportunidade de crescimento e de aumento de eficiência.

Sob esses aspectos, registrou-se aqui a obra da Rua W. As perguntas previamente criadas no item “3. Metodologia de Pesquisa” podem então ser respondidas.

“Como as partes envolvidas caracterizariam o processo de execução da obra quanto ao seu prazo e seu orçamento? ”

Resumindo muitos dos relatos coletados durante as pesquisas de campo, pode-se afirmar que no geral, a equipe da construtora caracterizou a obra da Rua W como uma “boa obra”. Ao se depararem com os dados aqui apresentados, reconheceram o potencial de melhoria. O potencial de redução orçamentária foi notado primeiramente pelo Diretor; o de redução do prazo por melhor encadeamento de atividades, pelo Arquiteto responsável, pela Logística e pelo Engenheiro responsável.

“Como a obra poderia ter sido executada? ”

Antes de mostrados os resultados aqui presentes, a equipe não apontou muitos pontos significantes quanto às melhorias, exceto pela equipe de corretagem e vendas. Para eles, por estarem em contato mais íntimo com os clientes, muitos pontos visuais foram levantados. Ao explicar ferramentas como VOC, Supply-Input-Process-Output- Client (SIPOC) e FMEA, reagiram falando sobre a quantidade de demandas dos clientes que poderiam ter sido atendidas e da maior facilidade nas vendas. Com os resultados em mãos, os comentários foram sempre unânimes: a obra poderia ter sido muito melhor em muitos aspectos. Toda a equipe vislumbrou as múltiplas possibilidades de aplicação e o potencial de oportunidades que o LC pode proporcionar.

“Como a obra deveria ter sido frente aos fundamentos do LPS? “

O Diretor puxou para si a responsabilidade e afirmou em nome de todos que o controle e a cobrança seriam os fatores de maior mudança frente à pergunta anterior. Houve algumas divergências, a Logística afirmou sobre o aspecto de maior número de tarefas em cima de si mesmo e maior tranquilidade à medida que a obra se encaminharia ao seu período de entrega de chaves, pois “muitos incêndios foram apagados nos últimos meses”. A equipe de projetos respondeu de forma similar à Logística, muitas alterações de última hora teriam sido previstas com maior

antecedência, prevenindo erros cometidos por escassez de tempo e poupando valor orçamentário em cima de novas plotagens, novos pedidos de documentações, etc.

A mudança na cultura de empresas pequenas e médias se dá gradativamente. Os líderes dessas empresas enxergam com certo preconceito as ferramentas e procedimentos relativos à PCP e à qualidade do serviço prestado. Este trabalho mostrou através da simplicidade, um possível caminho para se alcançar maiores níveis de eficiência e constante crescimento. Trouxe para perto uma visão de grandes companhias aparentemente inalcançável aos olhos de quem comanda pequenas e médias empresas.

Com melhores resultados gerados gradativa e ciclicamente através das diretrizes do LC, a elevação do porte da empresa se torna natural. Com o passar dos anos um novo patamar de qualidade é alcançado independentemente das práticas adotadas pelos governos vigentes, o mercado deixa de ser fator determinante para o crescimento e os desafios deixam de serem as imposições circunstanciais econômicas e políticas e passam a ser as próprias limitações da companhia, podendo ser vencidas pela constante busca da perfeição guiada pela filosofia Lean.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AMORIN, R Ruim para quem vende… bom para quem compra. Revista IstoÉ, abril

2015. Disponível em:

<http://ricamconsultoria.com.br/news/artigos/palestra_oportunidades_no_mercado _imobiliario>. Acesso em 13 abril 2017.

Ballard, G. e Howell, G. Implementing Lean Construction: Understanding and Action. Proc. 6th Annual Conf. of the Int’l. Group for Lean Constr., IGLC-6, Guarujá, Brasil, 1998.

Ballard, G. The Last Planner System of Production Control. School of Civil Engineering, Faculty of Engineering, The University of Birmingham, 2000.

Ballard, G. The Last Planner. Spring Conference of the Northern California Construction, Institute, Monterey, CA, 1994.

BECKER, H. S. Métodos de pesquisa em ciências sociais. 4. ed. São Paulo: Hucitec, 1999.

BRASIL, Portal. IBGE: renda média do trabalhador cresce 20% em 5 anos e reduz

desigualdade, 28 set. 2014. Disponível em:

<http://www.brasil.gov.br/governo/2010/09/ibge-renda-media-do-trabalhador-resce- 20-em-5-anos-e-reduz-desigualdade>. Acesso em: 13 abril 2017.

FERREIRA, R. R. D. S. Lean Construction na Norlabor – Engenharia e Construção, S.A. 2010. Mestrado Integrado em Engenharia Industrial e Gestão - Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, Porto, 2010.

FORDELONE, Y. Bovespa se aproxima de recorde histórico. O Estado de São

Paulo, São Paulo, 07 nov. 2010. Disponível em:

<http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,bovespa-se-aproxima-de-recorde- historico,42247e>. Acesso em: 09 abr. 2017.

GRENHO, L. F. S. Last Planner System e Just-in-Time na Construção. 2009. Dissertação submetida para satisfação parcial dos requisitos do grau de Mestre em Engenharia Civil — Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, Porto, 2009.

Howell, G.A., What Is Lean Construction. In: Annual Conference of the International Group for Lean Construction, 7., Berkeley, USA, 26-28, 1999.

KOSKELA, L. An Exploration towards a Production Theory and its Application to Construction. Technical Research Centre of Finland ESPOO, 2000.

KOSKELA, L. Application of the new production philosophy to construction. CIFE Technical Report n. 72, Stanford University, Palo Alto, California, 1992.

MATIAS, B. S. et. al. Lean Construction: primeira temporada de minicursos. 2012. Disponível em: <www.petcivil.ufc.br/portal/?page_id=521>. Acesso em: 15 de abr. de 2018.

MOREIRA, Sónia Patrícia da Silva. Aplicação das Ferramentas Lean. Caso de Estudo. Mestrado em Engenharia Mecânica. Instituto Superior de Engenharia de Lisboa. 2011

NAPOLITANO, Giuliana. Vivemos uma bolha imobiliária no Brasil? EXAME, São Paulo, 15 jul. 2013. Disponível em: <https://exame.abril.com.br/revista- exame/vivemos-uma-bolha/>. Acesso em: 13 abr. 2017.

PETENATE, Marcelo. Como evitar os 8 desperdícios da produção. Escola EDTI, São Paulo, 2 junho 2016. Disponível em: <http://www.escolaedti.com.br/8- desperdicios-em-empresas/>. Acesso em: 07 jul. 2017.

PINTO, J. M. F. LEAN CONSTRUCTION Proposta de Metodologia de Avaliação de Projetos de Construção. 2012. Mestrado Integrado em Engenharia Civil - Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, Porto, 2012

POGGETTO, P. Brasil registra novo recorde de vendas de veículos, diz Fenabrave.

G1, São Paulo, 05 jan. 2011. Disponível em:

<http://g1.globo.com/carros/noticia/2011/01/brasil-registra-novo-recorde-de- vendas-de-veiculos-diz-fenabrave.html>. Acesso em: 09 abril 2017.

QUINTÃO, Chiara. Distratos de médio e alto padrão somaram R$7,5 bilhões em 2016. Valor Econômico, São Paulo, 25 abril 2017. Disponível em: <http://www.valor.com.br/empresas/4948232/distratos-de-medio-e-alto-padrao- somaram-r-75-bilhoes-em-2016>. Acesso em: 29 abr. 2017.

RIBEIRO, Raíssa Carolina Abraão. A filosofia lean construction, suas ferramentas e aplicabilidade. MBA Gerenciamento de Obras, Tecnologia & Qualidade da Construção Instituto de Pós-Graduação – IPOG Goiânia, Goiás, 19 de junho de 2015.

ROQUE, Leandro. O que houve com a economia brasileira? Instituto Ludwig Von

Mises Brasil, São Paulo, 26 out. 2014. Disponível em:

<http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1943>. Acesso em: 15 maio 2017.

SALEM, O., SOLOMON, J., GENAIDY, A., MINKARAH, I., Lean construction: From theory to implementation, Journal of Management in Engineering, Volume 22, Issue 4, 168-175, 2006.

Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas. CENÁRIOS PROSPECTIVOS: O setor de construção no Brasil, de 2016 a 2018. SEBRAE,

2018. Disponível em: <http://www.bibliotecas.sebrae.com.br

/chronus/ARQUIVOS_CHRONUS/bds/bds.nf/06c6fd6c070c9fc2128072f868de06cb /$File/7531.pdf>. Acesso em: 14 março 2018.

SIMONSEN, M. H. 30 anos de indexação. 1. ed. São Paulo: FGV, 1995.

VETORAZZO, Lucas. Investimentos seguem em queda no 2º tri; construção e indústria não reagem. Jornal Folha de São Paulo, Rio de Janeiro, 01 set. 2017. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2017/09/1914909- investimentos-seguem-em-queda-no-2-tri-construcao-e-industria-nao-

reagem.shtml>. Acesso em: 20 maio 2017.

WOMACK, J. P.; JONES, D. T.; ROOS, D. A máquina que

mudou o mundo. 14. ed. Rio de Janeiro: Campus, 1992.

WOMACK, J. P., Jones, D. T. Lean Thinking: Banish Waste and Create Wealth in Your Corporation. New York, EUA: Simon and Schuster, 2004

APÊNDICE

Documentos relacionados