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A caracterização do esporte enquanto produto economicamente explorável em um sistema capitalista é uma realidade. Aqueles que resistem a esta máxima o fazem por aspectos meramente líricos, envoltos por uma paixão saudosista e anacrônica, que carece de qualquer faceta racional.

129 BRASIL. Art. 32, caput. Lei n° 14.193/2021. Disponível em www.planalto.gov.br. Acesso em 07/10/2021

130 Termo utilizado por Rodrigo R. Monteiro de Castro para se referir às transferências dos atletas formados pelo futebol brasileiro rumo à Europa no modelo atual.

Especificamente ao futebol, não é possível imaginá-lo separado das cifras bilionárias que a ele estão relacionadas com a negociação dos direitos de transmissão, contratos de patrocínio esportivo e transferências de atletas, por exemplo.

O papel do Estado, portanto, é criar mecanismos para que a evolução econômica do desporto opere de forma eficaz e nos alicerces da segurança jurídica, trazendo credibilidade ao mercado para atrair mais investimentos da iniciativa privada.

Nesse sentido, a Lei n° 14.193/2021 surge como um divisor de águas para o futebol brasileiro, pregando pela profissionalização dos agentes envolvidos na gestão do esporte, criação de um mercado para o futebol que atualmente é inexistente, reeducação financeira por meio dos institutos de governança, transparência e emancipação do Estado assistencialista, que muito contribui para a cultura de irresponsabilidade impregnada nos dirigentes das entidades de prática desportiva profissional.

Tal como se observa na concorrência capitalista em geral, é natural que o clube X venha a arrecadar mais do que o clube Y em virtude de diversos fatores, como, por exemplo – e principalmente -, a quantidade de adeptos.

Entretanto, se imagina que, apesar da discrepância atual existente entre o número de torcedores das equipes, a tendência é que, com a criação de um novo mercado, os investimentos sejam generalizados e, portanto, não realizados somente sob o enfoque de uma parcela mínima de clubes.

Deste modo, espera-se que a concorrência entre as equipes seja intensificada com a possibilidade de maiores investimentos no futebol brasileiro, elevando o nível das competições e tornando o produto ainda mais valorizado, podendo inclusive retomar a imagem de País do futebol que acabou por se deteriorar ao longo do tempo.

Quanto ao tema, é imprescindível apontar um dos principais exemplos recentes.

O futebol da Inglaterra, analisado em seção específica no presente estudo, é tido como o melhor do mundo em razão de todo o investimento que é feito nos clubes que integram o campeonato. Isto é, todos os clubes recebem grandes investimentos se comparados às agremiações do Brasil. Alguns dos clubes, no entanto, se destacam neste quesito arrecadando cifras bilionárias, e, não coincidentemente, são aqueles que normalmente disputam de forma mais acirrada a conquista do título.

Entretanto, eis que na temporada 2015/2016 surge o maior feito da história de um clube inglês: o modesto Leicester Football Club sagrou-se campeão da Premier League desbancando os gigantes investimentos de grandes clubes da Inglaterra como Arsenal, Tottenham, Manchester City e Manchester United (quatro dos integrantes do Big Six131).

É importante ressaltar que este feito não se deu em razão do alinhamento das estrelas em posições aleatórias, mas sim em virtude da reestruturação de uma empresa destinada à prática desportiva profissional do futebol, com a aquisição por parte de um novo investidor que fez aportes constantes na companhia e promoveu uma verdadeira transformação no tocante à profissionalização dos agentes envolvidos naquele ambiente.

Assim, conclui-se que para evolução do esporte no modelo político brasileiro atual é imprescindível a atuação do Estado na criação de um novo mercado capaz de fortalecer o produto futebol com incentivos atraentes à iniciativa privada, que tratará - assim como historicamente vem tratando - de criar mecanismos para a maximização dos investimentos advindos de diversos meios, sendo o principal dentre todos os outros a monetização da paixão pelo esporte.

131 Big Six, em tradução livre, significa “seis grandes”. A expressão é utilizada para se referir aos clubes Arsenal, Tottenham, Manchester City, Manchester United, Liverpool e Chelsea, todos da Inglaterra.

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