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Nas principais ligas de futebol do mundo os clubes são constituídos como empresas, em detrimento da predominância do modelo de associação civil sem fins lucrativos adotado no Brasil, que, conforme exposto em capítulo anterior, comporta poucas exceções.

Cada um dos países analisados terá um modelo próprio de clube-empresa, entretanto, cumpre apontar que em todos eles há uma característica em comum: a busca pelo lucro, intrínseco à atividade empresarial.

De todo modo, se verá que o modelo alemão é aquele que menos se aproxima dos demais, sendo atribuído ao esporte um viés mais social, com imposições que limitam (e muito) o desenvolvimento do esporte como atividade eminentemente empresarial na Alemanha.

O modelo inglês, berço do futebol, é o mais bem sucedido, com todos os clubes da primeira e segunda divisão do campeonato (mas não só eles) adotando um modelo de sociedade empresária. O sucesso da liga inglesa (Premier League) se mede a partir do expressivo número de adeptos (torcedores) dos clubes e das cifras milionárias - em libras esterlinas - movimentadas anualmente, com contratações de atletas de renome, contratos de patrocínios firmados e direitos de transmissão das partidas vendidas para todo o mundo.

O futebol na Espanha é também um modelo de inegável sucesso. De todo modo, a particularidade que enseja em sua menção no presente estudo é o fato peculiar de que os dois maiores clubes, Real Madrid Clúb de Fútbol e Futbol Club Barcelona, são constituídos enquanto associações civis sem fins lucrativos.

Por fim, quanto à organização no futebol português, os clubes são organizados na forma de uma Sociedade Anônima Desportiva (SAD), modelo criado pela Lei para

atender exclusivamente ao esporte, assim como se pretendeu com a Lei n°

14.193/2021 no Brasil, que será adiante esmiuçada.

3.1 Inglaterra.

A Premier League, primeira divisão do campeonato inglês de futebol, vai muito além de partidas com 22 atletas correndo atrás de uma bola buscando um objetivo em comum. É um fenômeno mundial, à frente de todas as outras ligas de expressão da Europa e do mundo enquanto produto economicamente explorável.

Na Inglaterra os clubes já são estruturados enquanto sociedades empresárias há mais de 100 anos. A ideia, inclusive, já nasce com a criação do esporte em solo bretão, sendo aprimorada com o passar dos anos até chegar ao modelo atual de sucesso, que só começou a ser efetivamente desenvolvido no início da década de 90 por iniciativa da emissora ITV em conjunto com dirigentes dos clubes denominados

“big five” à época (Arsenal, Everton, Manchester United, Liverpool e Tottenham), com marco inicial em uma reunião para traçar mecanismos de valorização do esporte enquanto produto. 61

A valorização do negócio foi alavancada pela adoção de estratégias empresariais mais sofisticadas na gestão dos clubes. Na Inglaterra, foi estimulada a transformação dos principais times em sociedades anônimas com o capital aberto na Bolsa de Londres. Posteriormente, o mesmo caminho foi seguido em outros países da Europa. Evidentemente, empresas com capital aberto precisam demonstrar um desempenho financeiro positivo para seus acionistas.62

Neste meio tempo, os clubes adotaram mais de um modelo empresarial, tendo o Tottenham Hotspur Football Club sido o mais inovador do planeta ao abrir seu capital para ser negociado em bolsa de valores na década de 80.

61 Dinheiro em Jogo: #69 – A Liga: os bastidores da fundação da Premier League contados em um novo livro. Rodrigo Capelo. Entrevistados: Flávio Zveiter e Carlos Eduardo Mansur. Globoesporte, 2020.

Podcast. Disponível em: www.spotify.com/episode/3fEuNXi8vC9NR5l2jNBtJw?si=aa897ad641ed4498.

Acesso em: 22/05/2021.

62 LIBANIO, João Pedro Marchiore; PRONI, Marcelo Weishaupt. O futebol brasileiro na Bolsa de Valores?. Texto para Discussão. Unicamp. IE, Campinas, n. 274, jun. 2016.

Entretanto, a ocorrência de maior pertinência acerca de clubes de futebol em processo de abertura de capital para negociação de ações em bolsa de valores aconteceu somente na década seguinte, quando os ativos do Manchester United aderiram à London Stock Exchange.

O primeiro time de futebol a listar ações foi o Tottenham, de Londres, que abriu seu capital em 1983 na London Stock Exchange, mas na época o futebol inglês era deficitário. O principal caso de sucesso associado à abertura de capitais por um time é o do Manchester United, que ocorreu em 1991. A valorização das ações foi espantosa, deixando clara a estreita relação entre o desempenho acionário e o esportivo.63

Nesse contexto, o caso de maior peculiaridade talvez seja o do famoso time Manchester United, que se lançou na bolsa de Londres para obter recursos com o fim de reformar seu estádio, o Old Trafford, atendendo a demanda do Governo inglês de modernização dos estádios (...).64

Antes da reformulação proposta, o futebol inglês passava por um período de crise em virtude de condições precárias para a prática profissional e de parte dos torcedores (denominados hooligans), que praticavam condutas violentas justificadas pela paixão por um clube em detrimento de outro.

Isto é, as estruturas destinadas ao futebol na Inglaterra eram as mesmas desde a sua criação e disseminação no final do século XIX. Com a evolução do desporto e a popularização do produto, faziam-se necessárias adaptações para viabilizar as novas tendências.

A deterioração dos estádios de futebol, inclusive, foi responsável por inúmeras tragédias que tiraram vidas de torcedores, principalmente em virtude da irresponsabilidade dos dirigentes dos clubes que não procederam com as reformas necessárias à época para garantir a segurança dos espetáculos desportivos.

Nesse sentido, um dos acontecimentos mais lamentáveis da história do esporte na Inglaterra foi a tragédia de Hillsborough, quando, no ano de “1989, durante uma

63 LIBANIO, João Pedro Marchiore; PRONI, Marcelo Weishaupt. O futebol brasileiro na Bolsa de Valores?. Texto para Discussão. Unicamp. IE, Campinas, n. 274, jun. 2016.

64 COSTA JUNIOR, Benedito Villela Alves. A Viabilidade e Tipificação Jurídica do Clube Empresa no Brasil: A Comoditização da Paixão. 1ª Edição. 2017. E-book Kindle. Posição 774.

das semifinais da Taça da Inglaterra, 96 torcedores do Liverpool morreram pisoteados e outros 766 ficaram feridos”65 no estádio da cidade.

Após a reestruturação que culminou na fundação da Premier League, o espetáculo tornou-se valorizado, com maiores obtenções de renda advindos da bilheteria nos dias de jogos (ou match day) em virtude da melhoria das condições dos estádios e o reforço na segurança, que reduziu a incidência dos hooligans e trouxe para o espetáculo desportivo a presença também das famílias em um ambiente menos hostil.

Ainda, os clubes passaram a firmar contratos melhores com as emissoras de televisão para a venda dos direitos de transmissão da liga, inclusive para países além da Inglaterra.

A Premier League se tornou a liga de futebol mais rica do mundo. Em 2015, seus 20 clubes faturavam anualmente, em média, £ 155 milhões. Estava em vigor um contrato doméstico com as empresas de televisão Sky e BT avaliado em £ 1 bilhão, além de contratos internacionais com 212 países que rendiam

£ 733 milhões. Assim, os clubes recebiam entre £ 62 milhões e £ 100 milhões, permitindo contratar jogadores que valorizam o espetáculo.66

A reestruturação que deu ensejo ao sucesso do futebol inglês se deu de forma complexa. Em primeiro plano, os clubes do chamado big five romperam com a liga inglesa de futebol e, consequentemente, com os demais clubes que a ela integravam.

Este processo de ruptura se deu em razão das divergências entre os clubes que almejavam a mudança e a liga, que adotava posicionamento relativamente

“conservador” às inovações. De todo modo, com o passar dos anos foi impossível resistir ao projeto inovador, que tomou conta dos clubes ingleses por uma perspectiva real de sucesso.67

65 LIBANIO, João Pedro Marchiore; PRONI, Marcelo Weishaupt. O futebol brasileiro na Bolsa de Valores?. Texto para Discussão. Unicamp. IE, Campinas, n. 274, jun. 2016.

66 Idem. p.45.

67 Dinheiro em Jogo: #69 – A Liga: os bastidores da fundação da Premier League contados em um novo livro. Rodrigo Capelo. Entrevistados: Flávio Zveiter e Carlos Eduardo Mansur. Globoesporte, 2020.

Podcast. Disponível em: www.spotify.com/episode/3fEuNXi8vC9NR5l2jNBtJw?si=aa897ad641ed4498.

Acesso em: 22/05/2021.

Então, como parte da reestruturação, os clubes foram adquiridos por novos investidores, com mentalidades diferentes, trazidas preponderantemente do modelo de negócio do futebol americano na NFL (National Football League), que tratava o esporte para além da mera prática desportiva, transformando-o em um produto destinado à indústria do entretenimento.

Por fim, cumpre apontar que antes da revolução no modo de enxergar o futebol em solo bretão, os clubes se encontravam em situação grave muito embora fossem constituídos enquanto sociedades empresárias. Este apontamento é necessário para desmitificar a transformação dos clubes em empresa como único meio para a salvação do futebol. Isto é, o que efetivamente trouxe ao futebol inglês o sucesso que é percebido nos dias de hoje foi a mudança de pensamento quanto ao esporte, que adotou um caráter eminentemente mercantilista para se firmar no mercado econômico do entretenimento.

3.2 Espanha.

Assim como na Inglaterra, o futebol espanhol passava por dificuldades na década de 90. Ao Estado cumpriu a função de promover a reestruturação do esporte, determinando que os clubes de futebol, naquela época organizados enquanto associações civis sem fins lucrativos, assim como no Brasil, fossem transformados em sociedades empresárias para continuarem a exercer suas atividades de prática desportiva profissional.68

No entanto, aos clubes que apresentaram um balanço financeiro positivo nos quatro anos anteriores à determinação do Estado foi concedida a prerrogativa da manutenção de sua organização enquanto associações, posto que a atuação se dava em virtude dos clubes endividados e, assim, não faria sentido a intervenção nos

68 Dinheiro em Jogo: #65 – Como funcionam os modelos de clube-empresa na Espanha. Rodrigo Capelo.

Entrevistado: Oliver Seitz. Globoesporte, 2020. Podcast. Disponível em:

https://open.spotify.com/episode/3yXKqowFhkYDRxK999ezfF?si=HugG1dduT0ymou7m6kdPwQ&dl_bran ch=1. Acesso em: 22/05/2021.

modelos superavitários de Real Madrid Fútbol Club, Futbol Club Barcelona, Club Atlético Osasuna e Athletic Club (também conhecido como Athletic Bilbao).69

Importa destacar que, dentre os quatros clubes superavitários citado acima, dois deles estão na “prateleira” dos melhores/maiores clubes do mundo em termos de patrimônio e títulos, tanto nacionais quanto internacionais.

Quanto aos clubes que não puderam continuar organizados enquanto associações, foi determinado pelo Governo espanhol que se transformassem em uma Sociedad Anónima Deportiva, instituída pela Ley 10/90 (Ley del deporte).

Ademais, supunha, não apenas a determinação de um princípio de responsabilidade dos administradores e dirigentes desportivos, mas, além disso, e o mais importante, a criação de mecanismos que facilitassem a percepção da situação da entidade, podendo trazer maior garantia aos terceiros que se relacionam economicamente e juridicamente com os clubes.70

O Barcelona e o Real Madrid, rivais na Espanha, são duas potencias desportivas e econômicas notórias, sendo conhecidos inclusive por aqueles que não acompanham o esporte com afinco. Ambos os clubes ainda nos dias de hoje são constituídos enquanto associações civis sem fins lucrativos, o que reforça a tese de que o clube-empresa não está vinculado ao sucesso, tanto desportivo quanto econômico.

Com relação ao modelo de “supporter trust”, Hamil & Chadwick (2010) classificam-no como uma organização independente, sem fins lucrativos, democrática, que procura influenciar a governança de um clube de futebol através de uma melhor representação dos torcedores. Os modelos associativos, como são comumente conhecidos, predominam principalmente no futebol espanhol, português, alemão e brasileiro.71

69 Idem. Acesso em: 22/05/2021.

70 PERRUCI, Felipe Falcone. Clube-empresa: modelo brasileiro para transformação dos clubes de futebol em sociedades empresárias. 1 reimp. Belo Horizonte: Ed. D’Plácido, 2021.p. 74 a 75.

71 Marioni, Rodrigo Mendes Ribeiro; Pinto Junior, Hélder Queiroz. Modelo de Negócio e Evolução Institucional do Futebol Europeu. Revista Intercontinental de Gestão Desportiva. Rio de Janeiro, vol. 10,

e10022, outubro de 2020. Disponível em:

http://www.revista.universo.edu.br/index.php?journal=gestaoesportiva&page=article&op=viewArticle&path

%5B%5D=8422. Acesso em: 07/10/2021.

Estes clubes adotaram dentro de suas gestões ao longo dos anos uma política moderna de administração, responsável pela contratação dos melhores atletas e profissionais vinculados ao desporto que, indubitavelmente, contribuíram para o histórico de conquistas desportivas durante os anos. As dívidas, sempre presentes, eram controladas pelas gestões dos clubes, nunca superiores ao patrimônio líquido.

De todo modo, o Barcelona agora passa por um momento delicado, no qual os passivos já não estão mais estáveis, afetando drasticamente o desempenho esportivo do clube nas competições nacionais e internacionais que disputa.

De acordo com os números obtidos pela auditoria, o Barcelona teve prejuízo de 481 milhões de euros (R$ 3 bilhões) na última temporada, quando o previsto era um lucro de 1 milhão de euros (R$ 6,3 milhões). Fora isso, o balanço aponta que o clube sofreu uma grande queda nas receitas, de 855 milhões de euros (R$ 5,4 bilhões) para 631 milhões de euros (R$ 4 bilhões).

Já as despesas, essa só aumentou, atingindo o maior número já registrado na história da instituição, aproximadamente 1,1 bilhão de euros (R$ 7 bilhões).72

Os analistas reputam a crise do Barcelona à irresponsabilidade dos dirigentes e gestores do clube, que passaram a realizar transações envolvendo a contratação de novos atletas de renome de modo quase que amador, com gastos muito acima do esperado.

As dívidas foram se acumulando de tal modo que os efeitos foram devastadores no interno do clube, levando, inclusive, à transferência do ídolo Lionel Messi para um novo clube (Paris Saint German, da França) em virtude da impossibilidade de arcar com o seu salário, ainda que reduzido em torno de 50%.73

72 Coccetrone, Gabriel. Saiba com o Barcelona afundou em crise histórica e o que deve acontecer. UOL, 2021. Disponível em: https://www.uol.com.br/esporte/colunas/lei-em-campo/2021/10/07/saiba-como-barcelona-afundou-em-crise-historica-e-o-que-deve-acontecer.htm. Acesso em: 07/10/2021.

73 Entenda o motivo de Messi ter saído do Barcelona e se transferido para o PSG. CNN, 2021. Esporte.

Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/esporte/entenda-o-motivo-de-messi-ter-saido-do-barcelona-e-se-transferido-para-o-psg/. Acesso em: 07/10/2021.

Em verdade, o que impressiona é a crise do clube mesmo em meio à maior arrecadação de receitas do mundo junto ao rival Real Madrid (US$ 792 milhões) e o valor de mercado do clube, avaliado pela Forbes em US$4,76 bilhões.74

Quanto ao Real Madrid, também organizado em um modelo associativo, em tese sem fins lucrativos, a grande crítica que pode ser tecida é quanto ao seu estatuto, que tem como resultado prático a criação de uma norma que perpetua no poder a figura de um presidente há mais de 40 anos. Assim, a crítica surge na medida em que o clube se mantém em um modelo associativo para evitar a aquisição de seus ativos por algum investidor, mas, na prática, o clube já possui uma figura autoritária de um

“dono”.75

Os clubes constituídos como associações civis sem fins lucrativos na Espanha justificam a ausência de transformação em clubes-empresa por diversos motivos, sendo um deles a manutenção do poder dos associados no clube, efetivando uma espécie de democracia na tomada de decisões.

De todo modo, tanto no Real Madrid quanto no Barcelona o que se percebe é a mitigação de um processo democrático de escolha em favor de um regime aristocrático de poder, com a eleição de pessoas de um mesmo grupo/classe sucessivamente, sem admitir o ingresso de novos players neste comando diretivo por razões exclusivamente políticas. Assim, podemos traçar um paralelo com o que acontece nas associações de prática desportiva do Brasil, que, se não aristocráticos, muito próximo disso, em um modelo eminentemente oligárquico na escolha dos dirigentes dos clubes.

3.3 Alemanha.

74 Ozanian, Mike. Os 20 times de futebol mais valiosos do mundo em 2021. Forbes, 2021. Money.

Disponível em: https://forbes.com.br/forbes-money/2021/04/os-20-times-de-futebol-mais-valiosos-do-mundo-em-2021/#foto20. Acesso em 07/10/2021.

75 Dinheiro em Jogo: #65 – Como funcionam os modelos de clube-empresa na Espanha. Rodrigo Capelo.

Entrevistado: Oliver Seitz. Globoesporte, 2020. Podcast. Disponível em:

https://open.spotify.com/episode/3yXKqowFhkYDRxK999ezfF?si=HugG1dduT0ymou7m6kdPwQ&dl_bran ch=1. Acesso em: 22/05/2021.

O futebol na Alemanha é tratado como patrimônio cultural. Inclusive, a maior ascensão do esporte no País foi em meio ao regime nazista, quando tentou se demonstrar uma superioridade da raça ariana também na prática desportiva. Aliás, o esporte, além de representar aos olhos do movimento mais um fator de supremacia às demais raças, também serviu como palanque político do movimento liderado por Adolf Hitler.

Um dos casos mais conhecidos foi a propaganda nazista durante os Jogos de Berlim em 1936. Hitler usou um evento mundial e de cunho não-político para mostrar a nova Alemanha que nascia depois da Primeira Guerra Mundial. A força do Estado, a capacidade de organização e, principalmente, a tentativa de demonstrar a superioridade da raça ariana foram amplamente divulgadas pela propaganda do partido nazista através dos jornais, rádio e cinema.76

Ao passar dos anos, construiu-se na Alemanha o futebol com um aspecto social, que valoriza o futebol amador como ideal. Nesse sentido, há uma atuação tanto do Estado quanto da liga responsável pelo esporte no País para impedir que o futebol venha a se tornar mera atividade empresarial, ou, em outras palavras, que o esporte na Alemanha venha a seguir os mesmos caminhos da tendência mundial, como, por exemplo, na Inglaterra.

Para tanto, em 1998 foi criada a “Lei dos 50+1” pela Bundesliga, responsável pela organização do futebol. A referida regulamentação reconheceu a necessidade de modernização do esporte na Alemanha, admitindo que investidores passassem a atuar com mais intensidade neste meio, mas, em contraponto, definiu limites para esta atuação.77

76 MOSTARO, Filipe Fernandes Ribeiro. Jogos Olímpicos de Berlim 1936: o uso do esporte para fins nada esportivos. Comunicação e Entretenimento: Práticas Sociais, Indústrias e Linguagens, Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Vol.19, Nº 01, 1º semestre 2012. Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/logos/article/viewFile/3283/2904. Acesso em: 22/05/2021.

77 Dinheiro em Jogo: #21 – Como funciona o modelo de clube-empresa na Europa (Parte 1: Alemanha e Itália). Rodrigo Capelo. Entrevistado: Oliver Seitz. Globoesporte, 2019. Podcast. Disponível em:

https://open.spotify.com/episode/49JECDtAGmGRDqux41cuul?si=nax3maoOTPiOj9bHbiiGTQ&dl_branch

=1. Acesso em: 22/05/2021.

Isto é, por “50+1” deve ser entendido que os clubes organizados enquanto associações civis que optassem pela transformação em sociedade empresária para potencializar investimentos de particulares, tanto nacionais quanto estrangeiros, deveriam manter a associação original como a maior detentora das ações da empresa criada.

A tradição centenária dos clubes de futebol fez que o modelo associativo fosse difícil de ser abandona completamente. Qual foi então a solução adotada? “Dividir em dois” o clube de futebol: de um lado fica mantido o modelo associativo, geralmente a parte social, e o futebol profissional é transferido para uma empresa, cujos proprietários são o próprio clube juntamente com os investidores e acionistas privados.78

Diversos clubes decidiram adotar o referido modelo, inclusive os gigantes Bayern de Munique e Borussia Dortmund, protagonistas da liga alemã há mais de 10 anos na disputa do campeonato nacional, ambos criados em um modelo originalmente associativo.

Quanto ao “Gigante da Baviera”79, após a criação de uma empresa para gerir o futebol profissional, a associação original passou a deter 75% das ações, restando os outros 25% divididos igualitariamente pela Audi, Adidas e Allianz, que ingressaram na sociedade em 2002, 2003 e 2014, respectivamente.

Talvez o caso mais interessante seja o modelo adotado pelo Bayern de Munique, que também pratica essa divisão, no qual entre seus acionistas figuram a fornecedora de material esportivo Adidas, a montadora de carros Audi e a seguradora Allianz, que juntas somam aproximadamente 25% do Capital Social (8,33% cada uma), deixando 75% com a empresa do Clube, FC Bayern Munchen EV, da qual participam os sócios, obedecendo a regra associativa do país na qual cada clube precisa necessariamente deixas 50%+1 ação na mão de seus sócios, impedindo o controle absoluto de magnatas, como ocorre em outros países.80

78 COSTA JUNIOR, Benedito Villela Alves. A Viabilidade e Tipificação Jurídica do Clube Empresa no Brasil: A Comoditização da Paixão. 1ª Edição. 2017. E-book Kindle. Posição 697.

78 COSTA JUNIOR, Benedito Villela Alves. A Viabilidade e Tipificação Jurídica do Clube Empresa no Brasil: A Comoditização da Paixão. 1ª Edição. 2017. E-book Kindle. Posição 697.

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