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CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE AS RECENTES REFORMAS RECURSAIS

No documento Súmula impeditiva de recurso (páginas 52-55)

Iniciadas no ano de 2005, diversas reformas no Código de Processo Civil começaram a ser implementadas com o objetivo primordial de desafogar o Poder Judiciário, conferindo ao processo uma maior celeridade na prestação jurisdicional.

Dentre todas as leis editadas nesse pacote de reformas, destacam-se duas que alteraram diretamente o nosso sistema recursal: a primeira sob o número 11.187/2005, atribuindo ao agravo de instrumento caráter excepcional, além da Lei 11.276/2006, que institui, entre outras inovações, a súmula impeditiva de recurso.

Estas alterações são oriundas de um pensamento dos juristas brasileiros iniciado na década de 90, com o animus de reformar o Código de Processo Civil, promovendo uma maior agilidade na resolução das lides, conforme se percebe na lição de Dinamarco (1996, p. 4):

[...] o processualista moderno deixou de ser mero teórico das normas e princípios diretores da vida interior do sistema processual, como tradicionalmente fora. Foi-se o tempo em que o direito processual mesmo era visto e afirmado como mera técnica despojada de ideologias ou valores próprios, sendo uma exclusiva função a atuação do direito substancial. A consciência dos modos como o exercício da jurisdição interfere na vida das pessoas levou os estudiosos do processo a renegar essa pouca honrosa missão ancilar e assim inseri-lo no contexto das instituições sociais e políticas da nação, reconhecida sua missão relativa à felicidade das pessoas (bem-comum) [...] consciente dessas verdades que hoje temos por patentes, o processualista das últimas décadas tornou-se um crítico [...] a fase instrumentalista do direito processual ia exaurindo seu potencial de teorização e propostas doutrinárias e os processualistas tinham a consciência de que pouco valeriam os novos conceitos enquanto não traduzidos em resultados práticos [...].

Em um momento mais recente, Bottini e Renault (2006, p. 10) ressaltam a vontade política do país em ter um Poder Judiciário mais célere, reportando-se à Emenda Constitucional n.º 45, além de uma série de projetos legislativos apresentados, todos visando a reforma processual:

Diante de tudo isso, em Dezembro de 2004, o Presidente da República, o Presidente do Supremo Tribunal Federal, o Presidente da Câmara dos

Deputados e do Senado Federal, em demonstração histórica da harmonia entre os Poderes, firmaram um Pacto por um Judiciário mais Rápido e Republicano, que apontou vinte e seis projetos de lei importantes para o aprimoramento da prestação jurisdicional, referentes ao processo civil, penal e trabalhista.

Importante frisar que a motivação da reforma restou estampada com a inserção do princípio da razoável duração do processo e da celeridade processual no rol dos direitos e garantias fundamentais pela EC n.° 45. Esta garantia está prevista no art. 5º, LXXVIII, da Constituição Federal de 1988, já citada acima.

Nesse contexto, os recursos, que sempre foram objeto de caloroso debate na doutrina, por muitos considerados a causa principal da morosidade no Judiciário, não poderiam deixar de receber alterações que conferissem a sua tramitação uma maior agilidade.

Contudo, parte da comunidade jurídica não recepcionou as normas modificadoras com aplausos, pelo contrário, a sua aplicação gera polêmica:

O grande problema é que dentre essas reformas surgem duas novas possibilidades técnicas no sistema processual sobre o argumento de maior celeridade, que suscitam questões de constitucionalidade e de sua eficácia que ultrapassam a normal preocupação que assola os aplicadores nesse período (NUNES, 2006, p. 172).

A primeira tentativa de introduzir a súmula impeditiva de recurso no ordenamento jurídico brasileiro foi por meio da Proposta de Emenda à Constituição – PEC n.º 29/2000 que, futuramente, tornou-se a Emenda Constitucional n. º 45. Nessa oportunidade, não houve aprovação do art. 105-A ao texto constitucional, que possuía a seguinte redação:

Art. 105-A. O Superior Tribunal de Justiça poderá, de ofício ou por provocação, mediante decisão de dois terços dos seus membros, após reiteradas decisões sobre a matéria, aprovar súmula que, a partir de sua publicação, constituir-se-á em impedimento à interposição de quaisquer recursos contra decisão que houver aplicado, bem como proceder à sua revisão ou cancelamento, na forma estabelecida em lei (BRASIL, 2000).

Percebe-se que, nesse primeiro momento, o instituto seria concebido com natureza constitucional, existindo trâmite próprio para a edição da súmula, que deveria ser aprovada por quorum qualificado, legitimando somente o Superior Tribunal de Justiça para fazê-la.

Mesmo com a vedação, a Câmara dos Deputados insistiu na inserção do instituto em nosso ordenamento jurídico, editando o Projeto de Lei 4.724/04 (que no Senado Federal tramitou como Projeto de Lei Complementar 90/05).

Estes projetos resultaram na lei 11.276/06, trazendo ao plano infraconstitucional a súmula impeditiva de recurso, prevista no art. 518, § 1°, do CPC, que será tratada detalhadamente adiante.

Sem embargo, tramita ainda no Congresso Nacional a PEC 358/05, que pretende inserir na Constituição Federal o referido dispositivo, com o mesmo teor do art. 105-A supracitado.

Contudo, mesmo antes da alteração da Lei supracitada, as súmulas impeditivas já estavam de certa maneira presentes em nossa legislação processual:

Mesmo antes da edição da Emenda Constitucional n.° 45/2004, no entanto, as alterações legislativas ocorridas já vinham intensificando a influencia das súmulas, que, além de simplesmente orientarem a aplicação de determinada norma jurídica, passaram a servir para justificar, por si só, o provimento do recurso (cf. art. 557 do CPC) (WAMBIER; ALVIM WAMBIER; MEDINA, 2006, p. 227).

O art. 557 do CPC permite ao relator do recurso, quando a decisão impugnada estiver em confronto com a súmula do respectivo tribunal ou de tribunal superior, negar seguimento de ofício, dispensando a apreciação pelo colegiado.

No entanto, vale ressaltar que o objeto deste trabalho é a alteração introduzida no art. 518, § 1°, do CPC, que não somente tenta conferir ao processo uma maior celeridade, mas também fez parte das reformas processuais que buscam o fortalecimento da jurisprudência e das súmulas editadas pelos tribunais superiores.

A implementação da súmula impeditiva de recursos, mediante a substituição do parágrafo único pelos §§ 1° e 2° do art. 518 do CPC, confirmou a tendência nas fases anteriores das reformas processuais infraconstitucionais e na reforma constitucional do Poder Judiciário: a valorização da jurisprudência dos Tribunais Superiores (FREIRE et al, 2006, p. 353-354).

Traçado um breve esboço evolutivo do instituto, cumpre agora analisar algumas questões gerais sobre o tema.

No documento Súmula impeditiva de recurso (páginas 52-55)