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Súmula impeditiva de recurso

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA LEANDRO DE MELO PELEGRINI

SÚMULA IMPEDITIVA DE RECURSO:

ASPECTOS CONTROVERTIDOS ACERCA DA EFETIVIDADE PRÁTICA

Palhoça 2009

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SÚMULA IMPEDITIVA DE RECURSO:

ASPECTOS CONTROVERTIDOS ACERCA DA EFETIVIDADE PRÁTICA

Monografia apresentada ao Curso de graduação em Direito da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel.

Orientador: Prof. Zênio Ventura, Esp.

Palhoça 2009

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SÚMULA IMPEDITIVA DE RECURSO:

ASPECTOS CONTROVERTIDOS ACERCA DA EFETIVIDADE PRÁTICA

Esta Monografia foi julgada adequada à obtenção do título de Bacharel em Direito e aprovado em sua forma final pelo Curso de Graduação de Direito da Universidade do Sul de Santa Catarina.

Palhoça, 08 de junho de 2009.

__________________________________ Prof. e Orientador Zênio Ventura, Esp. Universidade do Sul de Santa Catarina __________________________________

Prof. Examinador Alexandre Russi Universidade do Sul de Santa Catarina __________________________________

Prof. Examinadora Taís Rosa Universidade do Sul de Santa Catarina

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SÚMULA IMPEDITIVA DE RECURSO:

ASPECTOS CONTROVERTIDOS ACERCA DA EFETIVIDADE PRÁTICA

Declaro, para todos os fins de direitos e que se fizerem necessários, que assumo total responsabilidade pelo aporte ideológico e referencial conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Sul de Santa Catarina, a Coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o Orientador de todo e qualquer reflexo acerca desta monografia.

Estou ciente de que poderei responder administrativa, civil e criminalmente em caso de plágio comprovado do trabalho monográfico.

Palhoça, 08 de junho de 2009.

_______________________________ LEANDRO DE MELO PELEGRINI

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Dedico este trabalho aos meus pais, que muitas vezes se privaram de desejos pessoais para, com muita luta, fé e amor possibilitar este momento. Mesmo passando-se uma eternidade eu não conseguiria agradecer na mesma proporção. Tento, singelamente, oferecendo meu amor incondicional de filho, hoje e sempre.

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Primeiramente, agradeço a Deus pela possibilidade de estudar o Direito e enriquecer a alma com conhecimento. Espero fazer por merecer.

Sou grato também a toda minha família pela confiança depositada e pelo auxílio nos momentos difíceis. Com certeza vocês contribuíram e fazem parte da minha história. Obrigado por existirem.

Para minha avó, Nina, mando um beijo com amor fraterno por todos os conselhos de vida que somente a experiência é capaz de proporcionar.

Um muito obrigado para minha irmã, Juliana, por conseguir entender um formando mal-humorado e sem paciência.

Àqueles entes que partiram no caminhar dessa jornada mas, com certeza, de alguma forma, compartilham minha alegria nesse momento.

Aos amigos de faculdade, obrigado por entender a teimosia em brigar pelo que acredito e defender o que penso. É a paixão pelo Direito.

A meu parceiro de faculdade, Róbson, que há cinco anos e meio atrás era um simples colega e no decorrer do curso mostrou-se um irmão.

Aos amigos que não participaram diretamente de minha vida acadêmica, mas pelos quais possuo enorme carinho. Diego, Júnior, Edmilson, Neto, Tiago e Marcos. Parceiros de longa data que saberei agradecer eternamente o estender de mão quando precisei.

Aos Drs. Márcio Keine e Giana de Souza, por acolher um inexperiente estagiário e auxiliar em minha formação.

Aos amigos da Antunes & Rosset Advogados Associados, Dr. Rodrigo e Dr. Marcelo, obrigado pela oportunidade, confiança e por todos os ensinamentos.

Agradeço ao meu Orientador, Professor Zênio Ventura, pela dedicação, lições valiosas e precisas críticas que contribuíram não somente para a realização deste trabalho mas também para minha formação acadêmica.

A todos os professores que, neste longo caminho, além de mestres foram verdadeiros amigos.

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"É difícil melhorar nossa condição material com leis boas, mas é muito fácil arruiná-la com leis ruins” (Theodore Roosevelt).

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O estudo apresentado faz uma abordagem sobre a súmula impeditiva de recurso (art. 518, §1º, do Código de Processo Civil) sob a luz dos princípios do duplo grau de jurisdição, independência e livre convencimento do juiz, duração razoável ao processo e segurança jurídica. Para tanto, ao decorrer do trabalho é apresentada a teoria geral dos recursos e analisados os princípios em comento de uma forma abrangente. Também são analisados os institutos da jurisprudência e da súmula, sua natureza jurídica e papel no direito pátrio. Por fim, antes de colher os resultados, ainda é abordado especificamente a súmula impeditiva de recurso, suas implicações em nosso ordenamento jurídico, mormente com os princípios especificados. Este trabalho foi desenvolvido utilizando uma pesquisa exploratória, por meio da técnica bibliográfica, a partir de livros e periódicos jurídicos que já enfrentaram anteriormente o tema para, ao final, chegar aos resultados que respondem os principais questionamentos acerca do aludido dispositivo, qual seja, se existe efetividade prática em sua aplicação, conferindo prestígio aos argumentos que a legitimam ou se além de não alcançar seu objetivo, ofende outros princípios estampados em nosso ordenamento jurídico.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 9

2 DOS RECURSOS NO PROCESSO CIVIL BRASILEIRO ... 12

2.1 DO CONCEITO DE RECURSO... 12

2.2 DA NATUREZA JURÍDICA DOS RECURSOS ... 13

2.3 DAS CARACTERÍSTICAS GERAIS E DOS PRESSUPOSTOS RECURSAIS .. 14

2.4 DOS PRINCÍPIOS APLICÁVEIS ... 20

2.4.1 Do princípio do duplo grau de jurisdição ... 21

2.4.2 Do princípio do livre convencimento motivado do juiz ... 25

2.4.3 Do princípio da razoável duração do processo ... 27

2.4.4 Do princípio da segurança jurídica ... 30

3 DO INSTITUTO SUMULAR ... 34

3.1 DA JURISPRUDENCIA ... 34

3.1.1 Mecanismos para uniformização da jurisprudência ... 38

3.2 DAS SÚMULAS ... 43

3.2.1 Das súmulas vinculantes ... 46

4 DA SÚMULA IMPEDITIVA DE RECURSO ... 51

4.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE AS RECENTES REFORMAS RECURSAIS ... 51

4.2 DO CONCEITO E DAS CARACTERÍSTICAS GERAIS ... 54

4.3 DA SÚMULA IMPEDITIVA DE RECURSO E SUA ANÁLISE CRÍTICA ... 59

4.3.1 Da ofensa ao princípio do duplo grau de jurisdição ... 60

4.3.2 Da violação à independência dos juízes e do princípio do livre convencimento motivado ... 64

4.3.3 Do objetivo de conferir ao processo uma duração razoável ... 67

4.3.4 Da garantia à segurança jurídica e igualdade na aplicação do direito ... 71

5 CONCLUSÃO ... 76

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1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho aborda o instituto da súmula impeditiva de recurso, instituída no ordenamento jurídico brasileiro pela Lei 11.276/2006 que, entre outras reformas, modificou a redação do art. 518, §1º, do Código de Processo Civil.

A referida alteração faz parte de uma série de leis que alteraram o direito processual civil, das quais muitas possuem por escopo conferir uma maior celeridade ao trâmite dos feitos submetidos à apreciação do Poder Judiciário, bem como aumentar a força e aplicação das decisões dos tribunais superiores.

Isso, segundo a corrente defensora da aplicação da súmula impeditiva de recurso, além de garantir a razoável duração ao processo, ofereceria a todos os jurisdicionados uma maior segurança jurídica ante a uniformização da aplicação do direito.

Entretanto, parte da doutrina não acolheu positivamente a aludida modificação, postulando argumentos contrários a sua adoção e questionando se, efetivamente, no campo prático, tais objetivos são alcançados.

Outro forte questionamento existente acerca da sua utilização é a suposta violação do princípio do duplo grau de jurisdição, uma vez que impede a apreciação da matéria por Tribunal hierarquicamente superior, ocasionando também, pela falta de reconhecimento de novos argumentos, o engessamento de entendimentos.

Igualmente, críticas são tecidas em face da vinculação das decisões dos juízes de primeiro grau aos enunciados do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça, ferindo a independência e o livre convencimento dos juízes.

Dessa feita, o estudo inicia com o objetivo de realizar uma breve explanação acerca da teoria geral dos recursos e a análise de cada um dos princípios que possuem direta ligação com a súmula impeditiva de recurso.

Após, tem por desígnio fazer uma abordagem dos precedentes jurisprudenciais e às súmulas, sua natureza jurídica, aplicação e classificação no direito pátrio.

Por fim, o instituto da súmula impeditiva de recurso é objeto de estudo específico, verificando-se as posições doutrinárias sobre as controvérsias existentes, principalmente sob a égide dos princípios anteriormente citados.

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Necessário se faz percorrer esse caminho, pois, ao final, tenta-se responder se a súmula impeditiva de recurso, de fato, prestigia os princípios que fundamentam sua implantação no direito brasileiro, ou se, além de não ter efetividade prática, ainda viola outros princípios.

Trata-se de tema com extrema relevância jurídica, visto que o principal motivo para a elaboração da norma que instituiu a súmula impeditiva de recurso no ordenamento jurídico brasileiro é a celeridade processual, tema hodiernamente debatido não somente no universo jurídico, mas em todos os meios de comunicação.

Contudo, justifica-se o estudo na medida em que há de se fazer ressalvas quanto aos métodos utilizados para promover a reforma processual, visto que o legislador, não raras vezes, no afã de realizar alterações, não analisa todas as conseqüências do novo instituto. No caso em comento, especificamente, conforme será demonstrado, existe grande resistência à aplicação do art. 518, §1º, do CPC, sendo necessária sua análise.

Importante salientar que as publicações científicas que tratam exclusivamente sobre o referido tema são limitadas, das quais muitas exploram o assunto apenas sob um enfoque, sendo extremamente salutar um estudo sobre todos os prismas abordados pela doutrina, tanto dos argumentos favoráveis quanto daqueles contrários.

Além disso, a súmula impeditiva de recurso foi adotada no sistema processual brasileiro a pouco mais de três anos, de sorte que a atualidade do novel instituto é mais um motivo que justifica a sua análise.

Dessa forma, fica claro que o presente trabalho tem como intuito estabelecer uma pesquisa para promover uma discussão mais profunda do tema, utilizando-se de um levantamento bibliográfico, constituído de livros, artigos e periódicos jurídicos que já trataram da matéria anteriormente, motivo pelo qual se adota o tipo de pesquisa exploratória.

Ao iniciar o estudo pela teoria geral dos recursos e princípios concernentes à súmula impeditiva de recurso, progredindo para o instituto da jurisprudência de da súmula para, somente ao final, abordar especificamente o tema, resta clara a aplicação do método de abordagem dedutivo.

Em decorrência da relevância do tema e a freqüente utilização prática do instituto em testilha no dia-a-dia do aplicador do direito, demonstrando-se assunto

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que requer análise sob a ótica crítica, mister se faz a abordagem de todos seus aspectos, motivo pelo qual se utiliza neste trabalho o método de procedimento monográfico.

Para melhor elucidação do tema, ainda, este estudo está estruturado em três capítulos de desenvolvimento do tema.

A organização do primeiro capítulo, que trata sobre os recursos no processo civil brasileiro, inicia com a digressão sobre o seu conceito, passando a analisar a natureza jurídica e também os pressupostos e características gerais.

Nesse mesmo tópico ainda são apresentados os princípios do duplo grau de jurisdição, da independência e do livre convencimento motivado do magistrado, da razoável duração do processo e da segurança jurídica, que são relacionados diretamente com o tema específico e com o sistema recursal.

Após, no próximo capítulo, a análise do instituto sumular se inicia com o estudo dos precedentes jurisprudenciais e seus mecanismos para uniformização, passando então para as súmulas, sua natureza jurídica, classificação e papel no direito brasileiro.

Por fim, apresenta-se a súmula impeditiva de recurso, sua origem e suas controvérsias de ordem geral e sob a luz dos princípios mencionados acima.

Ao final, a conclusão remete a análise de todos os conceitos e posições apresentadas para responder as perguntas supracitadas.

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2 DOS RECURSOS NO PROCESSO CIVIL BRASILEIRO

2.1 DO CONCEITO DE RECURSO

Na lição de Barbosa Moreira (1998, p. 231), recurso é o “remédio voluntário idôneo a ensejar dentro do mesmo processo, a reforma, a invalidação, o esclarecimento ou a integração da decisão judicial impugnada”.

Complementando o conceito acima apresentado, Nery Junior (2000, p. 177) entende os recursos como:

O remédio processual que a lei coloca à disposição das partes, do Ministério Público ou de um terceiro, a fim de que a decisão judicial possa ser submetida a um novo julgamento, por órgão de jurisdição hierarquicamente superior, em regra, àquele que a proferiu.

Na maioria dos casos de interposição de recurso busca-se o efeito de reformar ou invalidar a decisão proferida, sob dois fundamentos: o primeiro psicológico, visto que é “uma irresistível tendência humana” (Theodoro Junior, 2007, p. 629) não se conformar com as decisões contrárias aos objetivos buscados na lide; o segundo fundamento é jurídico, residindo o direito recursal na hipótese de falha do órgão judicante de primeiro grau e na possibilidade de apreciação por magistrado, em tese, mais experiente e com maior conhecimento:

Diante da falibilidade humana e do natural inconformismo com situações adversas ou desfavoráveis, os ordenamentos jurídicos têm contemplado meios de impugnação às decisões judiciais. No campo da axiologia jurídica ou deontologia, há o entendimento segundo o qual o espírito humano não permanece passivo diante do direito positivo, da decisão judicial ou administrativa; tende a não aceitar pacificamente o fato consumado, como se ele fosse um limite insuperável, uma vez que o homem sente em si a faculdade de julgar e avaliar o direito existente na sociedade (OLIVEIRA, [s/d] apud MANCUSO, 2006, p. 22).

Cumpre salientar que muitos doutrinadores criticam a forma como os recursos estão disciplinados no ordenamento jurídico brasileiro, não admitindo os fundamentos acima suscitados como legitimadores para atacar toda e qualquer decisão judicial. Silva (2004, p. 239-240) aponta os recursos como causa de

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morosidade processual e a diminuição da legitimidade e prestígio das decisões dos juízes de primeiro grau:

O recurso constitui necessariamente a expressão de uma desconfiança nos julgados. Desconfiança no magistrado que decidira, porém confiança nos estratos mais elevados da burocracia judicial. [...] A medida que descemos a escala hierárquica reduz-se a legitimidade dos magistrados e avolumam-se os recursos, até atingirmos a jurisdição de primeiro grau que o sistema literalmente destruiu, sufocando-a com uma infernal cadeia recursal que lhe retira a própria ilusão de que ela poderia alimentar-se, de dispor de algum poder decisório. A legitimidade da jurisdição de grau inferior diminui na medida em que se aumentam os recursos.

Além disso, apresenta-se como um dos fundamentos jurídicos dos recursos o princípio do duplo grau de jurisdição, que será tratado em tópico específico adiante.

2.2 DA NATUREZA JURÍDICA DOS RECURSOS

No tocante à natureza jurídica dos recursos, duas correntes divergem acerca de sua autonomia.

De um lado, a doutrina minoritária no direito pátrio, com adeptos principalmente na legislação alienígena, defende o recurso como ação autônoma com caráter constitutivo negativo, diversa daquela que originou a decisão impugnada.

Mesmo não sendo um dos adeptos deste entendimento, para ilustrar essa corrente, Barbosa Moreira (1998, p. 234) elucida:

A favor dessa tese, tem-se invocado a circunstância de que a ação originária se funda em fato extraprocessual, isto é, ocorrido fora do processo, antes de sua instauração, ao passo que o recurso se origina de fato verificado dentro do processo: a decisão recorrida, justamente. Argumenta-se ainda com a circunstância de serem legitimadas à interposição de recurso, por vezes, pessoas diversas daquelas que detinham a legitimação para a causa.

Entretanto, o entendimento dominante entre os juristas brasileiros define o recurso como um prolongamento do direito de ação, conforme se colhe do entendimento de Didier Jr. e Cunha (2008, p. 22), afirmando que “o direito de

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recorrer é conteúdo do direito de ação (e também do direito de exceção), e o seu exercício revela-se como desenvolvimento do direito de acesso aos tribunais”. O mesmo Autor, ainda, complementa:

O recurso prolonga o estado de litispendência, não instaura processo novo. É por isso que estão fora do conceito de recurso as ações autônomas de impugnação, que dão origem a processo novo para impugnar uma decisão judicial (ação rescisória, mandado de segurança contra ato judicial, reclamação constitucional, embargos de terceiro, etc.) (DIDIER JR.; CUNHA, 2008, p. 22).

Essa idéia é reforçada por Marinoni e Arenhart (2007, p. 499) que, fazendo menção aos recursos, lecionam que “ao contrário do que se sucede com outras vias de impugnação de decisão judicial, essa finalidade é obtida dentro da mesma relação processual e se insere a decisão judicial atacada”.

Isso posto, passa-se agora ao estudo dos aspectos gerais da teoria dos recursos.

2.3 DAS CARACTERÍSTICAS GERAIS E DOS PRESSUPOSTOS RECURSAIS

O primeiro aspecto relevante, que merece breve explanação, são os atos passíveis de recursos, trazendo-se à baila o art. 162 do Código de Processo Civil Brasileiro, que define quais são os atos praticados pelo juiz, com o seguinte teor: “Os atos do juiz consistirão em sentenças, decisões interlocutórias e despacho” (BRASIL, 1973).

Cumpre dizer que os atos dos serventuários e auxiliares da justiça não podem ser atacados pela via recursal, pois somente os atos dos magistrados podem ser objetos de recurso, excluindo-se destes, ainda, os despachos, eis que desprovidos de carga decisória:

As sentenças e decisões são sempre recorríveis, qualquer que seja o valor da causa (arts. 513 e 522). Dos despachos, isto é, dos atos judiciais que apenas impulsionam a marcha processual, sem prejudicar ou favorecer qualquer das partes, não cabe recurso algum (art. 504) (THEODORO JÚNIOR, 2007, p. 629).

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Da mesma forma que as ações requerem certas condições para sua propositura, os recursos também exigem a existência de legitimidade das partes e interesse em recorrer, este último também entendido também como sucumbência do recorrente.

A legitimidade para interposição de recurso está prevista no art. 499 do Código de Processo Civil, podendo ser manejado pela parte vencida, terceiro prejudicado ou pelo Ministério Público, nas causas em que possuir competência como custus legis.

A legitimidade para recorrer decorre ordinariamente da posição que o inconformado já ocupava como sujeito da relação processual em que se proferiu o julgamento a impugnar. A lei, no entanto, prevê em determinadas circunstâncias, legitimação recursal extraordinária para quem não seja parte, como o Ministério Público e o terceiro prejudicado (art. 499) (THEODORO JÚNIOR, 2007, p. 636).

De outro lado, o interesse recursal decorre da sucumbência da parte, ou seja, de um efetivo prejuízo advindo da decisão guerreada. Em verdade, percebe-se que as duas condições (interesse e legitimidade) se confundem, visto que essa nasce em decorrência daquela. Na lição de Pontes de Miranda (2000, p. 51) “a legitimação ativa ao recurso funda-se no interesse em recorrer. Têm pretensão a usar de recurso todos aqueles que sofrem com a resolução judicial”.

Esse posicionamento é compartilhado por outros doutrinadores, ao afirmar que a legitimidade pressupõe um prejuízo:

A titularidade de um interesse instrumental à formação de nova decisão diversa da recorrida, ou pelo menos à eliminação desta, interesse que se comprova através da sucumbência, que é a situação daquele que vê repelidas – mediante decisão impugnada – as próprias conclusões com a consequente negação dos interesses que defendeu em juízo (JAEGER apud MARQUES apud, 1999, p. 13).

Existem ainda outros elementos concernentes aos recursos, postos como requisitos e pressupostos para sua interposição, dentre os quais se incluem a previsão legal e regularidade formal, da qual decorre a taxatividade, a unicidade e a dialeticidade recursal, bem como a tempestividade, o preparo e a inexistência de fato extintivo ou impeditivo do poder de recorrer, como será demonstrado nas explanações subsequentes.

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Os recursos que podem ser utilizados pelos litigantes em processo judicial são apenas aqueles previstos em lei. Sobre o princípio da taxatividade, Didier Jr. e Cunha (2008, p. 48) ensinam que “o rol legal dos recursos é numerus clausus. É o princípio segundo o qual recurso é somente aquele previsto em lei, não se podendo criar recurso por interpretação analógica ou extensiva, nem por norma estadual ou regimental”.

O Código de Processo Civil (BRASIL, 1973) também é imperativo ao definir um número determinado de recursos, dispondo que são cabíveis somente os meios de impugnação enumerados no art. 496.

A unicidade, também chamada de unirrecorribilidade ou singularidade recursal, é definida na lição de Marinoni e Arenhart (2007, p. 502):

Ao estipular a lei processual quais são os recursos cabíveis, evidentemente há de indicar, para cada um dos recursos, uma função determinada e uma hipótese específica de cabimento. Dessa forma, o princípio da unirrecorribilidade (ou também chamado de unicidade) indica que, para cada espécie de ato judicial a ser recorrido, deve ser cabível um único recurso.

Contudo, como abrandamento à determinação imposta pelo princípio da singularidade recursal, em alguns casos é admitida a interposição de mais de um recurso em face da mesma decisão, ou até mesmo tomar como adequado aquele interposto erroneamente, aplicando-se a fungibilidade recursal.

Sobre a fungibilidade recursal, afirmam Didier Jr. e Cunha (2008, p. 46) ser o princípio “pelo qual se permite a conversão de um recurso em outro, no caso de equívoco da parte, desde que não houvesse erro grosseiro ou não tenha precluído o prazo para a interposição”. Portanto, para sua aplicação, há de ser razoável a dúvida acerca do recurso cabível.

Em exceção à regra, o Código de Processo Civil prevê, em seu art. 498, a possibilidade de cumulação de Recurso Especial e Extraordinário atacando a mesma decisão.

Art. 498. Quando o dispositivo do acórdão contiver julgamento por maioria de votos e julgamento unânime, e forem interpostos embargos infringentes, o prazo para recurso extraordinário ou recurso especial, relativamente ao julgamento unânime, ficará sobrestado até a intimação da decisão nos embargos (BRASIL, 1973).

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Em comentário ao referido dispositivo legal, Nery Junior e Andrade Nery (2006, p. 715) ensinam que “havendo decisão sobre questão constitucional e federal no acórdão, a parte deverá, desde logo, interpor simultaneamente o RE e o REsp”.

Acerca da dialeticidade, exigi-se que todo recurso preencha determinados requisitos presentes na legislação processual.

De acordo com este princípio, exigi-se que todo recurso seja formulado por meio de petição na qual a parte não apenas manifeste sua inconformidade com o ato judicial impugnado, mas, também e necessariamente, indique os motivos de fato e de direito pelos quais requer o novo julgamento da questão nele cogitada (NERY JUNIOR apud DIDIER JR.; CUNHA, 2008, p. 59).

Outro pressuposto processual é a tempestividade, sob pena de não ser conhecido, como ensina Marques (1999, p. 57): “o recurso deve ser interposto dentro do prazo legal. Se tal prazo já houver decorrido, da impugnação se não conhece, e ocorre preclusão absoluta do direito de recorrer”.

Também é exigido, para a admissibilidade do recurso, o pagamento do preparo, que consiste nas custas do processo “[...] correspondentes ao processamento do recurso interposto, que compreenderão, além das custas quando exigíveis), os gastos do porte de remessa e de retorno se se fizer necessário o deslocamento dos autos (art. 511, caput)” (THEODORO JÚNIOR, 2007, p. 644).

A lei atribui gratuidade ou dispensa de preparo para alguns recursos, como por exemplo, os embargos de declaração e o agravo retido, bem como para aqueles interpostos pelas pessoas jurídicas de direito público direto e respectivas autarquias (art. 511, §1º, do CPC) e aqueles contemplados pelo benefício previsto na Lei 1.060/50.

Por fim, Nery Junior e Andrade Nery (2006, p. 706) definem os fatos extintivos do direito de recorrer como a “renúncia ao recurso e a aquiescência à decisão” enquanto os impeditivos são “a desistência do recurso ou da ação, o reconhecimento jurídico do pedido e a renúncia do direito sobre o qual se funda a ação”. Existindo qualquer desses institutos, será negado seguimento ao pleito recursal.

Todos esses pressupostos são verificados no juízo de admissibilidade do recurso – cuja competência é conferida tanto ao juízo a quo quanto ao ad quem – antecedendo a apreciação do meritum causae.

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Todo ato postulatório sujeita-se a exame por dois ângulos distintos: uma primeira operação destina-se a verificar se estão satisfeitas as condições impostas pela lei para que o órgão possa apreciar o conteúdo da postulação; outra, subseqüente, a perscrutar-lhe o fundamento, para acolhê-la, se fundada, ou rejeitá-la, no caso contrário. Embora a segunda se revista, em perspectiva global, de maior importância, constituindo o alvo normal a que tende a atividade do órgão, a primeira tem prioridade lógica, pois tal atividade só se há de desenvolver plenamente se concorrer os requisitos indispensáveis para tornar legítimo o seu exercício.

Chama-se juízo de admissibilidade àquele em que se declara a presença ou a ausência de semelhantes requisitos; juízo de mérito àquele em que se apura a existência ou inexistência de fundamento para o que se postula, tirando-se daí as conseqüências cabíveis, isto é, acolhendo-se ou rejeitando-se a postulação (BARBOSA MOREIRA, 1998, p. 258).

Sobre o juízo de admissibilidade, Barbosa Moreira (1998, p. 262) continua sua explanação, asseverando que a análise neste momento fica restrita somente aos requisitos do recurso, sendo vedada a apreciação das questões concernentes ao mérito:

O juízo sobre a admissibilidade condiciona, por seu teor, o ser ou não-ser do julgamento do mérito. Por outro lado, nenhuma influência tem sobre o eventual conteúdo deste [...]. Essa relação entre as duas questões caracteriza a primeira como preliminar à segunda.

De outra banda, discorrendo sobre o juízo de mérito, Didier Jr. e Cunha (2008, p. 68) dizem tratar-se da apreciação da “pretensão recursal, que pode ser de invalidação, reforma, integração ou esclarecimento”, afirmando adiante que “o mérito do recurso é, em regra, sujeito a uma única apreciação (órgão ad quem)”.

Sobre essa distinção da competência, ensina Assis (2007, p. 114): “O juízo de admissibilidade incumbe, em regra, tanto ao órgão a quo quanto ao órgão ad quem” enquanto “o juízo de mérito cabe, em princípio, exclusivamente ao órgão ad quem”.

Dessa forma, o juízo de admissibilidade e a análise do mérito são fases totalmente distintas, sendo, inclusive, da competência de órgãos diferentes: “a regra geral é a de que o juízo de admissibilidade seja exercido pelo juízo a quo e pelo juízo ad quem e que o juízo de mérito seja exercido uma única vez pelo órgão ad quem” (WAMBIER; ALMEIDA; TALAMINI, 2005, p. 564).

A última questão a ser analisada acerca das características gerais dos recursos, aqui apresentadas brevemente, são os efeitos de sua interposição no processo.

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Consoante os apontamentos realizados alhures, o recurso é um prolongamento do direito de ação, tendo, como primeiro efeito, portanto, “obstar a incidência da preclusão ou da coisa julgada sobre a decisão recorrida” (MARINONI; ARENHART, 2007, p. 513).

Além disso, outros três efeitos são os mais difundidos na doutrina, quais sejam: devolutivo, suspensivo e translativo.

O efeito devolutivo é inerente a todo e qualquer processo, visto que devolve a matéria atacada à apreciação do Poder Judiciário.

Todo recurso tem efeito devolutivo, porquanto entrega e leva à instancia de grau superior (ou ao mesmo Juízo a quo quando para ele próprio se recorre) o conhecimento da questão decidida, que é objeto do pedido de reexame. E isso tanto em relação às sentenças definitivas, como no tocante às decisões terminativas e aos despachos interlocutórios (MARQUES, 1999, p. 75).

O efeito suspensivo, embora presente em grande parte dos recursos, apresenta exceções, consistindo no óbice em executar os resultados práticos da decisão objeto do feito recursal. Pontes de Miranda (2000, p. 194), fazendo alusão ao efeito em comento no recurso de apelação, ensina que “suspensivo é o efeito que priva a sentença de sua eficácia (força e efeitos)”, afirmando adiante que “os processualistas costumam defini-lo como a falta normal de exeqüibilidade da sentença de primeira instância, durante a apelação”.

Por fim, o efeito translativo confere ao órgão competente para julgar o recurso o poder de apreciar de ofício as questões de ordem pública, mesmo quando não levantadas na causa de origem, visto que em decorrência da natureza da matéria podem ser apreciada a qualquer tempo e grau de jurisdição, não ocasionando julgamentos que ultrapassem ou extrapolem o pedido e não configurando também supressão de instâncias.

Dá-se o efeito translativo quando o sistema autoriza o tribunal a julgar fora do que consta das razões ou contra-razões do recurso, ocasião em que não se pode falar em julgamento ultra, extra ou infra petita. Isto corre normalmente com as questões de ordem pública, que devem ser conhecidas de ofício pelo juiz e a cujo respeito não se opera a preclusão (NERY JUNIOR; ANDRADE NERY, 2006, p. 707).

Após essa breve explanação das principais características dos recursos, em seguida, destaca-se alguns dos princípios aplicáveis ao processo civil brasileiro,

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sendo de extrema relevância seu estudo para desenvolver plenamente os conceitos apresentados no terceiro capítulo deste trabalho.

2.4 DOS PRINCÍPIOS APLICÁVEIS

Dentro do sistema recursal brasileiro, além dos princípios já mencionados alhures (taxatividade, unirrecorribilidade e fungibilidade), outros possuem plena aplicação.

Entretanto, para melhor elucidação, cabe uma breve explanação sobre o conceito de princípio e sua função.

Wambier, Almeida e Talamini, (2005, p. 71) ensinam resumidamente:

São os princípios que fazem com que exista um sistema. Os princípios jurídicos são também normas jurídicas. Mesmo quando implícitos, não expressos, os princípios jurídicos são obrigatórios, vinculam, impõe deveres, tanto qualquer regra jurídica.

Da mesma forma, Mello (1996, p. 545-546) traduz em seu ensinamento toda a importância da aplicação dos princípios no ordenamento jurídico, servindo como verdadeira diretriz para aplicação e interpretação de qualquer norma:

Princípio – já averbamos alhures – é, por definição, mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce dele, disposição fundamental que se irradia sobre diferentes normas compondo-lhes o espírito e servindo de critério para sua exata compreensão e inteligência, exatamente por definir a lógica e a racionalidade do sistema normativo, no que lhe confere a tônica e lhe dá sentido harmônico. É o conhecimento dos princípios que preside a intelecção das diferentes partes componentes do todo unitário que há por nome sistema jurídico positivo. Violar um princípio é muito mais grave que transgredir uma norma qualquer. A desatenção ao princípio implica ofensa não apenas a um específico mandamento obrigatório mas a todo o sistema de comandos. É a mais grave forma de ilegalidade ou inconstitucionalidade, conforme o escalão do princípio atingido, porque representa insurgência contra o sistema, subversão de seus valores fundamentais, contumélia irremissível a seu arcabouço lógico e corrosão de sua estrutura mestra.

Com efeito, os recursos também respeitam os princípios que regem o processo civil, dentre os quais podemos destacar: devido processo legal, contraditório, ampla defesa, publicidade e da isonomia.

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Outros ainda, que serão tratados mais detalhadamente adiante, pela relevância com a discussão acerca da súmula impeditiva de recurso, da mesma forma imperam sobre o procedimento recursal.

O primeiro deles é o principal fundamento jurídico dos recursos, qual seja, o princípio do duplo grau de jurisdição.

Também se consagra o princípio do livre convencimento do magistrado, a razoável duração do processo e celeridade processual, bem como a segurança jurídica (mormente no que tange à uniformização das decisões).

2.4.1 Do princípio do duplo grau de jurisdição

Ao traçar o conceito do referido princípio, Barbosa Moreira (1998, p. 235) assegura ser tradicional a “correlação que se estabelece entre o instituto do recurso e o duplo grau de jurisdição, segundo o qual as lides ajuizadas devem submeter-se a exames sucessivos, como garantia de boa solução”.

Este princípio está intimamente ligado àqueles fundamentos justificadores do direito de recorrer (anteriormente mencionados), sendo eles: a maior experiência e conhecimento jurídico, em tese, dos órgãos responsáveis pela análise do recurso, concedendo uma maior segurança ao deslinde dos feitos sub judice, a falibilidade humana e a natureza do homem em não se conformar com a sucumbência.

Dessa forma, a idéia de recurso é acompanhada, via de regra, da análise do caso por outro órgão de grau hierarquicamente superior, conferindo mais segurança ao pronunciamento jurisdicional do Estado.

Não basta, porém, assegurar o direito ao recurso, se outro órgão não se encarregasse da revisão do decisório impugnado. Assim, para completar o princípio da recorribilidade existe, também, o princípio da dualidade de instâncias ou do duplo grau de jurisdição (THEODORO JUNIOR, 2007, p. 32)

Contudo, a doutrina diverge sobre a necessidade da duplicidade de instância em todos os casos de recursos, criticando principalmente os argumentos utilizados para sua aplicação. Nesta senda, Assis (2007, p. 71) ensina:

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É flagrante a falácia do argumento: em primeiro lugar, o atributo da experiência e o da sabedoria acumulada por força de numerosos julgamentos não se estende a todos os magistrados integrantes do segundo grau, e, simultaneamente, não socorre a todos os do primeiro grau; ademais, verdadeira que seja a generalização, a favor de qual inexiste evidência concreta, então as causas deveriam começar diretamente no segundo grau, abolindo a inútil primeira etapa. Em outras palavras, residiria numa composição do órgão, e não no hipotético duplo exame acometido a dois órgãos diferentes.

O mesmo autor continua aduzindo, ainda, que a possibilidade de reexame por órgão superior causa uma certa “acomodação” nos magistrados de primeiro grau.

A presença de tribunal logo acima decerto tranqüilizadora quanto aos erros cometidos, frequentemente enseja a atitude oposta no juiz de primeiro grau, encorajando-o a concentrar-se na quantidade dos feitos julgados e despreocupando-o com a qualidade de suas decisões, sempre passíveis de reexame (ASSIS, 2007, p. 72).

Contudo, em oposição ao entendimento supra, Bermudes, citado por Oliveira (2005, p. 235), assevera:

Há, ainda, que se atentar para a temeridade que seria o conceder-se a um único juiz, ou mesmo a um só colegiado, podêres [sic] para julgar, em única instância. Por certo, êsse [sic] poder absoluto ocasionaria, sentenças de má qualidade, ora porque o julgador se deixaria vergar ao pêso [sic] de paixões e temores, ora porque a ausência de fiscalização das suas decisões acarretaria sentenças viciadas pela negligência no estudo do direito e na apreciação da hipótese dos autos.

Outro tema de discussão na doutrina é a previsão constitucional do princípio em testilha.

A corrente favorável à constitucionalidade do duplo grau de jurisdição afirma que, embora implícito, está contido no bojo do art. 5º, LV, da Lei Maior, dispondo: “aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes” (BRASIL, 1988).

Sem embargo de não vir expresso no texto constitucional, o princípio do duplo grau de jurisdição é considerado de caráter constitucional em virtude de estar umbilicalmente ligado à moderna noção de Estado de Direito, que, por sua vez, exige o controle, em sentido duplo, das atividades do Estado pela sociedade. [...] o duplo grau desempenha controle nos dois planos: a sociedade que em cada processo está “figurada” pelas partes, exerce o

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controle da atividade estatal por meio do manejo de recursos; e, no plano interno do Poder Judiciário, os órgãos hierarquicamente superiores “controlam” as decisões promanadas dos inferiores (WAMBIER, [s/d] apud DIDIER JR.; CUNHA, 2008, p. 23).

Em sentido contrário, Marinoni e Arenhart (2007, p. 494) ensinam:

Quando a Constituição Federal afirma que estão assegurados o contraditório e a ampla defesa, com os recursos a ela inerentes, ela não está dizendo que toda e qualquer demanda em que é assegurada a ampla defesa deva sujeitar-se a uma revisão ou um duplo juízo. Os recursos nem sempre são inerentes à ampla defesa. Nos casos em que não é razoável a precisão de um duplo juízo sobre o mérito, como nas hipóteses de causas de “menor complexidade” – que sofrem os efeitos benéficos da oralidade – ou em outras, assim não definidas, mas que também possam justificar, racionalmente, uma única decisão, não há inconstitucionalidade na dispensa do duplo juízo

De fato, embora acolhido pela maioria dos sistemas processuais ao redor do mundo, bem como admitido pela grande parte dos doutrinadores, não há previsão expressa e garantia de duplo grau de jurisdição na Constituição Federal.

O que existe, em verdade, é a atribuição de diferentes hierarquias aos órgãos judiciários, deixando para o legislador infraconstitucional a regulamentação acerca da matéria recursal. Nesse sentido, Cintra, Grinover e Dinamarco (1997, p. 75) ensinam:

O duplo grau de jurisdição é, assim, acolhido pela generalidade dos sistemas processuais contemporâneos, inclusive pelo brasileiro. O princípio não é garantido constitucionalmente de modo expresso, entre nós, desde a República, mas a própria Constituição incumbe-se de atribuir a competência recursal a vários órgão da jurisdição (art. 102, inc. II; art. 105, inc. II; art. 108, inc. II), prevendo expressamente, sob a denominação de tribunais, órgãos judiciários de segundo grau. Ademais, o Código de Processo Penal, o Código de Processo Civil, a Consolidação das Leis do Trabalho, leis extravagantes e as leis de organização judiciária prevêem e disciplinam o duplo grau de jurisdição.

As divergências sobre a aplicação do referido princípio continuam. Além de não existir posição concreta e pacífica sobre sua constitucionalidade, a doutrina discute acerca dos benefícios e prejuízos dele decorrentes.

Diversos argumentos desfavoráveis ao duplo grau de jurisdição são arrolados pela doutrina, tais como a dificuldade de acesso à justiça e o desprestígio da primeira instância.

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O acesso efetivo à tutela jurisdicional pleiteada é seriamente comprometido pelos recursos meramente protelatórios, ocasionando uma morosidade excessiva até a parte vencedora obter um resultado prático. Nesse sentido, Marinoni e Arenhart (2007, p. 491) lecionam que:

[...] a demora na prestação jurisdicional, que é um dos grandes problemas do processo civil moderno, recomenda que o duplo grau de jurisdição não seja exigido, ao menos naquelas causas de maior simplicidade [...]. Como é sabido, o recurso transformou-se em boa desculpa para o réu sem razão protelar a definição da causa.

Compartilhando do mesmo entendimento, pela celeridade processual, Rosas (1999, p. 21) aduz que “ao lado da perfeição é necessário dar-se celeridade e mobilidade ao processo, evitando-se a perpetuação das demandas, em desprestígio ou desinteresse pelas soluções afinal dadas”.

Também há crítica sobre o papel dos magistrados das instâncias inferiores, que passariam a ser meros organizadores das provas colhidas na instrução processual. Laspro, apud Didier Jr. e Cunha (2008, p. 25), afirma que:

Dada a ampla possibilidade de submeter a decisão proferida pela primeira instância à apreciação do órgão de segundo grau, a atividade processual viria a reduzir-se apenas à presidência da atividade instrutória e “opiniões” quanto a questões de mérito, as quais só seriam definitivamente resolvidas em segundo grau.

Contudo, advertem certos doutrinadores sobre a necessidade de um duplo grau de jurisdição para conceder uma maior segurança no controle e organização judicial, efetivando o alcance da pacificação social (que é o objetivo do processo). Corroborando com esta corrente, Cintra, Grinover e Dinamarco (1997, p. 75) afirmam:

Mas o principal fundamento para a manutenção do princípio do duplo grau de jurisdição é de natureza política: nenhum ato estatal pode ficar imune aos necessários controles. O Poder Judiciário, principalmente onde seus membros não são sufragados pelo povo, é, dentre todos, o de menor representatividade. Não o legitimaram as urnas, sendo o controle popular sobre o exercício da função jurisdicional ainda incipiente em muitos ordenamentos, como o nosso. É preciso, portanto, que se exerça ao menos o controle interno sobre a legalidade e a justiça das decisões judiciárias. Eis a conotação política do princípio do duplo grau de jurisdição.

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Dessa forma, após a abordagem dos assuntos inerentes ao aludido princípio, é flagrante a divergência doutrinária acerca da constitucionalidade, bem como dos benefícios de sua aplicação, tendo expoentes em ambas as correntes com argumentos relevantes para defender os posicionamentos apresentados.

2.4.2. Do princípio do livre convencimento motivado do juiz

No desempenho da função jurisdicional e na conseqüente aplicação do Direito, os magistrados necessitam fundamentar suas decisões, expressando os motivos que criaram o seu convencimento em um determinado sentido. Tal princípio está previsto expressamente na Constituição Federal, em seu art. 93, IX, dispondo:

Todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação (BRASIL, 1988).

Durante a formação desse juízo, expressado por meio da fundamentação das decisões, o juiz deve realizar a subsunção do fato à norma levando em consideração as provas colhidas, além de seu entendimento íntimo sobre a matéria ventilada, observando apenas as disposições impostas pela Lei.

A subordinação apenas à lei é essencial ao exercício da função jurisdicional, revelando a independência que gozam os magistrados, não estando sujeitos às determinações de outros Poderes bem como órgãos hierarquicamente superiores na formação de seu convencimento.

Sobre a necessidade da independência e de outras garantias dos juízes para imparcialidade dos julgados, Cintra, Grinover e Dinamarco (1997, p. 162) ensinam:

Por isso é de primordial importância, no estudo desse Poder do Estado, a análise das garantias que a Constituição institui para salvaguardar aquela imparcialidade e independência.

[...].

Além dessa independência política e estribada nela, existe ainda a denominada independência jurídica dos juízes, a qual retira o magistrado de

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qualquer subordinação hierárquica no desempenho de suas atividades funcionais; o juiz subordina-se somente à lei, sendo inteiramente livre na formação de seu convencimento e na observância dos ditames de sua consciência.

Discorrendo sobre a independência dos magistrados para coibir pressões externas, Moraes (2005, p. 459) adverte:

As garantias conferidas aos membros do Poder Judiciário têm assim como condão conferir à instituição a necessária independência para o exercício da Jurisdição, resguardando-a das pressões do Legislativo e do Executivo, não se caracterizando, pois, os predicamentos da magistratura como privilégio dos magistrados, mas sim como meio de assegurar seu livre desempenho, de molde a revelar a independência e autonomia do Judiciário.

Nem mesmo em casos de uniformidade de jurisprudência acerca de determinada matéria o juiz fica subordinado ao entendimento majoritário. Veja-se:

A Independência, sem qual não se concebe a função de julgar, faz que o juiz – seja de que instância – no exercício desta função, deva obediência, apenas à lei, interpretando livremente. A jurisprudência dos tribunais – é a doutrina dominante – tem, pois mera força persuasiva [...] (MARANHÃO; CARVALHO, 1993, p. 25).

Demonstrada a garantia de independência que detém o magistrado ao proferir suas decisões, cabe conceituar o princípio do livre convencimento do magistrado, que é corolário daquela.

Consiste o princípio em comento na ampla liberdade de apreciar as provas e alegações contidas nos autos e formar sua convicção. Fidélis dos Santos (1997, p. 413) argumenta:

Na pesquisa dos fatos não há regra preestabelecida, para se ter este ou aquele fato por verdadeiro, de acordo com as circunstâncias particulares que o qualifiquem.

Não há também, em matéria probatória, em razão do princípio do livre convencimento, prevalência deste ou daquele meio de prova.

Entretanto, como se extrai do posicionamento acima colecionado, o juiz não possui amplos poderes para decidir de qualquer forma o processo. Na formação de seu livre convencimento, deverá atentar-se para as provas e fatos constantes nos autos, abstendo-se daqueles que não fazem parte da lide.

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Adotou o CPC [e o sistema jurídico processual brasileiro], no que se refere à avaliação da prova, o princípio da livre convicção motivada, ou persuasão racional. Embora tenha o juiz plena liberdade para aceitar ou não o resultado da prova, que não tem valor pré-fixado, necessário que a decisão a respeito seja acompanhada de fundamentação. Não têm aplicação, portanto, os princípios da prova legal ou tarifada, segundo os quais o valor encontra-se previamente determinado em lei, e da íntima convicção, que dispensa motivação do julgador (BEDAQUE, [s/d] apud MARCATO, 2004, p. 365).

Nesse sentido, o Código de Processo Civil determina, em seu art. 131, que “o juiz apreciará livremente a prova, atendendo aos fatos e circunstâncias constantes dos autos, ainda que não alegados pelas partes; mas deverá indicar, na sentença, os motivos que Ihe formaram o convencimento” (BRASIL, 1973).

A chamada persuasão racional do juiz determina que seu convencimento seja livre, devendo, contudo, ater-se aos elementos constantes nos autos e sempre fundamentar sua decisão. Esse sistema é adotado pelo direito brasileiro. Cintra, Grinover e Dinamarco (1997, p. 68) asseveram:

O Brasil também adota o princípio da persuasão racional: o juiz não é desvinculado da prova e dos elementos existentes nos autos (quod non est

in actis non est in mundo), mas a sua apreciação não depende de critérios

legais determinados a priori. O juiz só decide com base nos elementos existentes no processo, mas os avalia segundo critérios críticos e racionais (CPC, art. 131 e 436).

Isso posto, verifica-se que, dentro do bojo do processo, o juiz é soberano em seus critérios de interpretação dos fatos e da norma jurídica, não se submetendo a qualquer decisão hierarquicamente superior ou de outras searas, até mesmo por força da garantia de independência que gozam os magistrados.

2.4.3 Do princípio da razoável duração do processo

A Emenda Constitucional n.º 45 trouxe significativas modificações ao Poder Judiciário, introduzindo, no rol das garantias e direitos fundamentais, a celeridade da prestação jurisdicional, de forma que passou a assegurar, em seu art. 5º, LXXVIII, “a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável

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duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação” (BRASIL, 1988).

Acerca da vontade política e legislativa em conferir ao processo uma maior agilidade, Dinamarco (2005, p. 32) salienta:

Desde o início a Reforma do Poder Judiciário trazia em si uma proposta de renovação não somente da estrutura anatômica do Poder Judiciário, mas também das linhas-mestras de sua atuação. Importava acima de tudo, como todos sentiam, gerar instrumentos ágeis para uma atuação mais pronta e eficaz na oferta do acesso à Justiça, além de meios para coibir certas mazelas da Instituição. De um lado, eliminar ou ao menos atenuar as lastimáveis demoras, que são fonte de corrosão dos direitos e alimento ao tempo inimigo, do qual com sabedoria falava Francesco Carnelutti.

A Convenção Americana sobre Direitos Humanos, conhecida também por Pacto de São José da Costa Rica, ratificado pelo Brasil em 1992 pelo Decreto Legislativo n. º 27, já previa algumas garantias processuais inerentes à duração razoável do processo. Veja-se:

Art. 8º, 1. Toda pessoa terá o direito de ser ouvida, com as devidas garantias e dentro de um prazo razoável, por um juiz ou Tribunal competente, independente e imparcial, estabelecido anteriormente por lei, na apuração de qualquer acusação penal formulada contra ela, ou na determinação de seus direitos e obrigações de caráter civil, trabalhista, fiscal ou de qualquer outra natureza (BRASIL, 1992).

O mesmo diploma internacional continua:

Art. 25, 1. Toda pessoa tem direito a um recurso simples e rápido ou a qualquer outro recurso efetivo, perante os juízos ou Tribunais competentes, que a projeta contra atos que violem seus direitos fundamentais reconhecidos pela Constituição, pela lei ou pela presente Convenção, mesmo quando tal violação seja cometida por pessoas que estejam atuando no exercício de suas funções oficiais (BRASIL, 1992).

Dessa forma, a EC n.º 45 atendeu a uma antiga tendência do direito, de fornecer uma prestação jurisdicional eficazmente tempestiva. Nesse sentido, já antecipava Ruy Barbosa (1997, p. 40) ao dizer que “justiça tardia nada mais é do que injustiça qualificada e manifesta”.

Contudo, não se deve buscar a todo custo uma celeridade processual em detrimento das outras garantias fundamentais inerentes ao processo. Há de se respeitar o chamado “tempo do processo”. Câmara (2006, p. 58-59) aduz:

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É preciso, evidentemente, combater essas demoras patológicas. Não se pode, porém, querer que o processo dê respostas imediatas a quem postula tutela jurisdicional. Algum tempo, perdoe-se a insistência, o processo tem de demorar. Merece registro a célebre afirmação de Carnelutti, que ensina: “O processo dura; não se pode fazer tudo de uma vez. É necessário ter paciência. Semeia-se, como faz o camponês, e se há de esperar para colher. Junto à atenção há de se colocar paciência entre as virtudes necessárias ao juiz e às partes. Desgraçadamente, estas são impacientes por definição; impacientes com os enfermos, pois sofrem também elas. Uma das funções dos defensores é inspirar-lhes a paciência. O slogan da justiça rápida e segura, que se encontra nas bocas dos políticos inexpertos, contém, desgraçadamente, uma contradição in adiecto; se a justiça é segura não é rápida, se é rápida não é segura. Algumas vezes a semente da verdade leva anos, até mesmo séculos para converter-se em espiga (veritas filia temporis”).

Complementando o entendimento, há que se prestar uma resposta jurisdicional em tempo hábil, contudo, a busca desenfreada para tanto pode acarretar em uma insegurança jurídica frente às decisões judiciais proferidas.

[...] o juiz deve zelar a celeridade do processo, mas sempre cuidando que não se mutilem as garantias, quer de observância do Direito objetivo, quer de respeito aos direitos subjetivos das partes ou de terceiros. O acerto da decisão prima sobre a sua presteza. É preciso que a ligeireza não se converta em leviandade, que a pressa não acarrete a irreflexão. O juiz deve buscar a rápida solução do litígio, mas tem de evitar o açodamento, o afogadilho, a sofreguidão. Deve ser destro, sem ser precipitado; pontual, sem imprudência. O juiz inconsiderado é ainda pior que o vagaroso. A observância rigorosa das formas e prazos legais é a melhor receita para conciliar a rapidez e a segurança (TORNAGHI, [s/d] apud MALAQUINI, 2008).

Contudo, parte da doutrina acolheu com aplausos a elevação deste princípio à garantia constitucional. Nesse sentido, Dinamarco (2005, p. 44) afirma que “os reformadores estiveram conscientes de que a maior debilidade do Poder Judiciário brasileiro em sua realidade atual reside em sua inaptidão a oferecer uma justiça em tempo razoável”.

Na mesma banda, outros doutrinadores entendem que a demora na prestação jurisdicional pode representar um risco ao próprio acesso à justiça, tendo conseqüências devastadoras.

[...] se o tempo é a dimensão fundamental na vida humana, no processo desempenha ele idêntico papel, não somente porque, como já dizia Carnelutti, processo é vida, mas também porquanto, tendente o processo a atingir seu fim moral com a máxima presteza, a demora na sua conclusão é sempre detrimental, principalmente às partes mais pobres ou fracas, que constituem a imensa maioria da nossa população, para as quais a demora em receber a restituição de suas pequenas economias pode representar

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angústias psicológicas e econômicas, problemas familiares e, em não poucas vezes, fome e miséria (MARINONI, [s/d] apud BARRUFFINI, 2008).

A razoável duração do processo, por ser garantia fundamental, por força do § 1º do art. 5º da Constituição Federal, tem aplicação imediata. Contudo, não há norma específica definindo qual a duração razoável de um processo, que pode variar consoante os detalhes do caso em concreto, tampouco uma sanção por seu descumprimento.

Entretanto, alguns mecanismos de desburocratização, visando conferir maior agilidade, já foram implementados em nosso Poder Judiciário:

A vedação de férias coletivas nos juízos e tribunais de segundo grau, a proporcionalidade do número de juízes à efetiva demanda judicial e à respectiva população, a distribuição imediata dos processos, em todos os graus de jurisdição, a possibilidade de delegação aos servidores do Judiciário, para a prática de atos de administração e atos de mero expediente sem caráter decisório, a necessidade de demonstração de repercussão geral das questões constitucionais discutidas no caso para fins de conhecimento do recurso extraordinário, a instalação da justiça itinerante, as súmulas vinculantes do Supremo Tribunal Federal (MORAES, 2005, p. 94).

Dessa forma, a doutrina tende no sentido de promoverem-se todas as ações válidas para uma prestação jurisdicional mais célere e eficaz, sempre, contudo, atentando-se para as outras garantias processuais não menos importantes, resultando em eficiência aliada à segurança.

2.4.4 Do princípio da segurança jurídica

As relações vivenciadas diariamente pelos indivíduos que integram uma sociedade, sejam de cunho pessoal, econômico, financeiro ou político requerem, por vezes, uma previsão no ordenamento jurídico vigente para limitar a área de atuação de cada um deles. Disso decorre uma previsibilidade das atitudes entre as pessoas que interagem nos mais diversos ramos de atividade.

Essa antevisão do resultado confere estabilidade e segurança nas relações efetuadas. Seguindo a mesma vereda, Pessôa (2007, p. 41) assegura:

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Garantir segurança jurídica às relações sempre foi função do direito. À medida que os agentes econômicos podem saber, com antecedência, que direito regula as relações entre eles, é possível calcular as conseqüências jurídicas das possíveis interações. Dessa possibilidade de cálculo sobre o funcionamento da administração da justiça, dependem a segurança jurídica e certeza do direito, necessárias à vida econômica.

O mesmo autor continua, asseverando que, num primeiro contexto, agregou-se ao conceito de segurança jurídica a previsão das relações nas normas jurídicas positivadas.

As relações, à medida que o direito objetivo está fixado previamente em normas, passam a se estabelecer com base em um cálculo sobre as conseqüências jurídicas dos possíveis comportamentos e, com isso, a vida social ganha a segurança jurídica, fundamentalmente ao desenvolvimento econômico (PESSÔA, 2007, p. 43).

Complementando a idéia, em aspecto mais abrangente, Reale, citado por Chacon (2003), relaciona a segurança jurídica à obrigatoriedade da aplicação do Direito. Veja-se:

A segurança jurídica depende da aplicação, ou melhor, da obrigatoriedade do Direito. Miguel Reale, discorrendo acerca da obrigatoriedade ou a vigência do Direito, afirma que a idéia de justiça liga-se intimamente à idéia de ordem. No próprio conceito de justiça é inerente uma ordem, que não pode deixar de ser reconhecida como valor mais urgente, o que está na raiz da escala axiológica, mas é degrau indispensável a qualquer aperfeiçoamento ético.

Reportando-se à efetividade do princípio em comento enquanto garantidor de diversos outros direitos previstos na Constituição Federal e na legislação infraconstitucional, especificamente no âmbito processual, Gonçalves (2004) leciona:

Toma-se aqui a jurisdição efetiva, específica, eficaz, da qual resulta a segurança jurídica, em sua concepção mais abrangente, ou seja, no sentido de garantir os direito do cidadão no processo, a começar do direito de acesso ao tribunal, direito a um tribunal imparcial e independente, direito ao juiz natural, direito ao tratamento paritário, direito à publicidade dos atos do processo e direito à não-publicidade dos atos do processo, direito ao cumprimento dos prazos legais, direito aos trâmites prévios do processo, direito às fianças, depósitos e consignações, direito ao antiformalismo, direito à sanação dos defeitos processuais, direito à justiça gratuita, direito à comunicação dos atos processuais nos termos da legislação processual, direito ao contraditório, direito à ampla defesa, direito a uma sentença substancialmente fundada na congruência, direito aos recursos, bem como especificidade e eficácia, no sentido mais estrito, ou seja, de garantir o cumprimento, na práxis, do comando jurisdicional. É o Processo Justo. É a

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tutela jurisdicional no seu vero sentido. A insegurança jurídica se instala quando tal não se dá.

Realizando uma correlação entre segurança, certeza e estabilidade, Sifuentes (2005, p. 291) adverte:

Na acepção corrente, a certeza consiste na previsibilidade das conseqüências jurídicas das ações humanas. Os homens têm necessidade de saber como serão qualificadas objetivamente suas ações e o resultado delas.

A certeza vem ainda considerada em relação à outra necessidade fundamental da experiência jurídica, a Justiça, princípio ao mesmo tempo imanente e transcendente do direito. Se a justiça pressupõe certa ordem, a certeza é condição para sua realização, de modo que, sob esse prisma, esses valores se integram, como aspectos complementares da mesma realidade. Sendo a certeza um elemento essencial à norma jurídica, uma lei ou ato normativo incerto conduz a uma situação contrária ao direito, que impõe todo esforço no sentido de sua superação.

Entretanto, não é somente em decorrência das normas positivadas que se alcança a efetiva segurança jurídica. As leis, não raras vezes, possuem uma série de possíveis significados, susceptíveis a diversas interpretações, cabendo ao Poder Judiciário definir qual a forma de aplicação mais pertinente à realidade social vivenciada.

Dessa maneira, a jurisprudência constitui também uma forma de pacificar os entendimentos, de sorte que as interpretações reiteradas, tendentes a um mesmo caminho, conferem aos indivíduos uma maior garantia e previsibilidade nas conseqüências da conduta de terceiros. Cruz e Tucci (2004, p. 17) ressalta que “[...] realmente, ao assegurar certa estabilidade, a observância do precedente, em análogo caso posterior, contribui a um só tempo para a certeza jurídica e para a proteção de credibilidade na tomada de decisões judiciais”.

O ex-Ministro Buzaid, citado por Sifuentes (2005, p. 293) entende que pronunciamentos judiciais distintos, sobre a mesma matéria, gera uma incerteza que conduz à instabilidade jurídica.

O dissídio é um mal que precisa ser reparado, porque, havendo na apreciação da mesma norma legal duas interpretações contraditórias, se uma é verdadeira, a outra por certo não é. A uniformização da jurisprudência impõe-se, portanto, como necessidade social, a fim de assegurar a estabilidade da ordem jurídica. O direito perde em força e autoridade se as suas disposições não obrigarem de modo regular e permanente.

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No entanto, nem sempre as divergentes interpretações são motivos para criar uma insegurança jurídica. Ao juiz, pelo art. 126 da Lei Adjetiva Civil e art. 4ª da Lei de Introdução ao Código Civil, é conferida a utilização da analogia, costumes, princípios gerais do direito e equidade para integração da norma, bem como abordado alhures, o juiz possui livre convencimento.

Dessa maneira, Gonçalves (2004, p. 76-77) pondera:

Não se diga que as divergências, as dissímeis posições existentes no direito sejam fatores que desaconselham a sua credibilidade e daqueles que com ele operam. Não se diga que tais desencontros denotam imperfeição e os tornam imprestáveis, como pretendem os idealizadores da sociedade utópica. As divergências que se dão no direito são inerentes às próprias condutas humanas que ele busca regular e das quais emerge. São inerentes, por conseqüência da própria ciência do direito, tanto que é nos conflitos ideológicos que o direito se explica por razões específicas.

O mesmo doutrinador continua, afirmando que além de não constituir uma insegurança jurídica, nesses casos o magistrado deve observar a interpretação que mais se acomode ao princípio ora debatido:

Nesse universo reflexivo é que o juiz eqüitativo é levado prontamente a agasalhar a posição ideológica que melhor atenda aos anseios da segurança jurídica e, por conseqüência, do bem comum, não só do ângulo dos sujeitos da relação processual, mas também da sociedade que eles integram (GONÇALVES, 2004, p. 77).

Desse modo, consiste a segurança jurídica, além da observância de preceitos e garantias constitucionais e legais, dos princípios e costumes e da atuação do judiciário frente aos casos concretos que lhe são impostos a decidir.

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3 DO INSTITUTO SUMULAR

3.1 DA JURISPRUDÊNCIA

Para entender o significado e o papel das súmulas no direito pátrio, mister se faz uma breve explanação sobre o instituto da jurisprudência, eis que aquelas decorrem destas.

O verbete jurisprudência, no dicionário jurídico de Silva (1997, p. 34), é definido da seguinte maneira:

Assim é que se entende por jurisprudência como a sábia interpretação e aplicação das leis a todos os casos concretos que se submetam a julgamento da justiça. Ou seja, o hábito de interpretar e aplicar as leis aos fatos concretos, para que assim, se decidam as causas. Desse modo, a jurisprudência não se forma isoladamente, isto é, pelas decisões isoladas. É necessário que se firme por sucessivas e uniformes decisões, constituindo-se em fonte criadora do Direito e produzindo um verdadeiro jus novum. Jurisprudência. Extensivamente assim se diz para designar o conjunto de decisões acerca de um mesmo assunto ou coleção de decisões de um tribunal.

No mesmo sentido, entende-se por jurisprudência “o conjunto de pronunciamentos do Poder Judiciário, num determinado sentido, a respeito de certo objeto, de modo constante, reiterado e pacífico” (LIMONGI FRANÇA, [s/d] apud FEDERIGHI, 1999, p. 05).

Importante frisar que, muito embora representem o posicionamento dominante dentro de um órgão judicial, não representam unanimidade de entendimento, mas somente uma tendência, podendo sofrer alterações com o tempo, de acordo com as mudanças legislativas e sociais ocorridas.

Vai se formando a partir das soluções adotadas pelos órgãos judiciais ao julgar casos semelhantes. Ao longo do tempo, o sentido dos julgados varia, adequando o direito às mudanças histórico-sociais. Além disso, conforme a situação, não há um consenso dos julgados, mas apenas uma tendência que vai formando uma jurisprudência dominante (COTRIM, 1997, p. 17).

Nesta senda, cumpre estabelecer o papel dessas decisões reiteradamente confirmadas pelos tribunais no cenário jurídico brasileiro.

Referências

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