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Do objetivo de conferir ao processo uma duração razoável

No documento Súmula impeditiva de recurso (páginas 68-72)

4.3 DA SÚMULA IMPEDITIVA DE RECURSO E SUA ANÁLISE CRÍTICA

4.3.3 Do objetivo de conferir ao processo uma duração razoável

Além de tentar conferir maior força à jurisprudência dos tribunais superiores, outro objetivo primordial da Lei 11.276/2006 é agilizar a prestação jurisdicional, evitando a interposição de recursos, que, em tese, não teriam êxito quando analisados pelo STJ ou STF.

O propósito que procura o novel instituto é consagrado na própria exposição de motivos da Lei 11.276/2006, quando o então Ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos aduziu:

Sob a perspectiva das diretrizes estabelecidas para a reforma da Justiça, faz-se necessária a alteração do sistema processual brasileiro com o escopo de conferir racionalidade e celeridade ao serviço de prestação jurisdicional [...].

Trata-se, portanto, de uma adequação salutar que contribuirá para a redução do número excessivo de impugnações sem possibilidades de êxito (BRASIL, 2006).

Corroborando, Tesheiner (2006, p. 214) confirma o animus da regra, questionando, contudo, sua efetividade prática: “a intenção do legislador com a modificação ora em exame foi impedir interposição de recursos meramente protelatórios, valorizando, como se disse, a jurisprudência sumulada. Resta saber se terá êxito seu propósito”.

Isso ocorre, pois, em que pese o intuito inibir o seguimento do recurso de apelação, da decisão que aplica o art. 518, § 1°, do CPC, conforme elucidado alhures, caberá interposição de agravo de instrumento, que, por sua vez, se não admitido, poderá ser objeto de agravo do art. 557, § 1°2, do CPC em face da decisão do relator.

Sobre isso, Nunes (2006, p. 180) adverte:

Caso o juiz inadmita o recurso de apelação ainda restará, como já dito, a possibilidade de interposição de agravo de instrumento que gerará o dispêndio de tempo e trabalho similar ao que se expenderia com a análise da apelação, de forma que na prática não se vislumbrará uma diminuição considerável no aspecto temporal que recomenda a aplicação do dispositivo, a não ser que se cogite da hipótese remota (quase inexistente) da parte sucumbente não interpor o agravo ou do relator do recurso se valer do disposto no art. 557 do CPC. Talvez seja melhor o julgamento da apelação até mesmo pela potencialidade de provimento do agravo.

Dessa maneira, a reforma teria sentido inverso daquele que a motivou, haja vista a probabilidade do recorrente não se conformar com a negativa de

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Art. 557. O relator negará seguimento a recurso manifestamente inadmissível, improcedente, prejudicado ou em confronto com súmula ou com jurisprudência dominante do respectivo tribunal, do Supremo Tribunal Federal, ou de Tribunal Superior. § 1o Da decisão caberá agravo, no prazo de cinco dias, ao órgão competente para o julgamento do recurso, e, se não houver retratação, o relator apresentará o processo em mesa, proferindo voto; provido o agravo, o recurso terá seguimento (BRASIL, 1973).

seguimento ao recurso de apelação. Assim, seriam agora três recursos ao invés de um para chegar-se ao deslinde do caso.

Parece-nos, em princípio, que a parte que apelou contra a sentença dificilmente deixará de interpor agravo contra a decisão a que se refere o art. 518, §1° - agravo que, no caso, será de instrumento, obrigatoriamente, cf. nova redação do art. 522 do CPC, de acordo com a Lei 11.187/2005. É que, quando se interpõe apelação, revela-se que a parte não se contenta com a sentença proferida, e tal descontentamento não cessará, se a apelação não for admitida pelo mesmo juiz que proferiu a sentença apelada. Ora, quem apela, o faz não apenas porque discorda de uma determinada decisão, mas porque espera ouvir, também de outro órgão jurisdicional, uma resposta à sua prestação.

Se, de fato, isto vier a ocorrer, com a referida Reforma se estará, tão somente, a criar mais uma nova “instância” entre a sentença e o acórdão. Para percorrer o caminho até o pronunciamento do órgão colegiado do tribunal, deverá a parte apelar contra a sentença, agravar contra a decisão proferida pelo juiz com base no art. 518, §1°, e interpor agravo interno contra a decisão monocrática proferida pelo relator do recurso. Substitui-se assim, um recurso (a apelação) por três (a apelação e dois agravos) para se chegar a um mesmo destino, o que onera a parte com mais custas processuais, o que contraria o princípio econômico [...] (WAMBIER; ALVIM WAMBIER; MEDINA, 2006, p. 236-237).

Todavia, não há como negar que, de fato, ao obstar a interposição de uma enorme quantidade de recursos, confira ao processo uma maior celeridade até seu deslinde final.

A questão relativa ao crescente número de processos, poderá de fato ser minimizada com a adoção da súmula vinculante ou impeditiva, que certamente se constituirá em importante instrumento de descongestionamento dos Tribunais, por não permitir que questões exaustivamente discutidas, com decisão pacificada e muitas vezes uniformizada, cheguem até os Tribunais Superiores, não sem antes percorrer um longo caminho em um mesmo longo período, que chega às vezes ultrapassar a barreira dos dez anos (DAIDONE, 2006, p. 75).

Outros doutrinadores incentivam a adoção de institutos como as súmulas impeditivas de recurso, sob o argumento de que morosidade do judiciário deve ser combatida, conferindo a todos os jurisdicionados uma efetiva e razoável duração do processo.

Se a morosidade não deixa de ser uma forma de injustiça [...] é incompreensível que cada juiz, espalhados pelos recantos do Brasil, continue a julgar questões idênticas, sobre fatos e teses jurídicas já analisadas repetidamente pela Corte Suprema. [...] A uniformidade de entendimento jurisprudencial fortalece a autoridade do Judiciário [...], onde o STF estaria cumprindo seu papel [...] a vinculação às súmulas leva à solução mais rápida dos litígios, poupando as partes de ônus injustificáveis,

evitando o desperdício de tempo, custo e energia dos que militam no foro. [...] estimula ainda a mediação ou acordo, se as partes já antevirem a resposta jurisdicional sobre determinado caso repetitivo. [...] Além disso, não está havendo invasão de competência pelo simples fato de o Poder Judiciário em última instância, proceder à interpretação da norma legal,uniformizando os diversos entendimentos, que é exatamente sua função (SHIMURA, [s/d] apud ALVIM WAMBIER et al, 2005, p. 762).

Ainda sobre o prolongamento dos processos durante anos a fio em decorrência das subseqüentes interposições de recursos, Daidone (2006, p. 89) aduz tratar-se de grave prejuízo para a parte, pois os fundamentos recursais que contrariam a súmula de Tribunal superior criam somente uma falsa expectativa ao recorrente, haja vista que seu direito será, mais cedo ou mais tarde, fulminado quando analisado pelo STJ ou STF:

Assim, o longo percurso a ser percorrido até a confirmação ou não da pretensão deduzida em juízo, desestimula o jurisdicinado e desacredita o judiciário. Uma decisão proferida em primeiro grau contrariando a jurisprudência dominante sumulada ou não, cria uma falsa expectativa à parte e que a vê ruir após longos anos de espera até ser julgado em definitivo pelas instâncias recursais, ante a excessiva possibilidade de recursos previstos no nosso sistema adjetivo do direito, mesmo que seja em nome do não cerceamento de defesa. O melhor, sem dúvida, seria de pronto, uma decisão eficaz, rapidamente confirmada ou com poucas possibilidade de modificação posteriores pelos Tribunais recursais.

Contudo, Lopes, citado por Alvim Wambier et al (2005, p. 327), adverte que não se pode resumir as reformas do Judiciário ao combate da morosidade processual, devendo-se discutir os outros problemas que atingem diretamente a qualidade da prestação jurisdicional proporcionada pelo Estado.

Os aspectos postos em relevo pelo Executivo e pelos congressistas, com amplo apoio da mídia, praticamente circunscrevem-se ao chamado controle externo do Judiciário e à súmula vinculante como se todos os problemas relacionados com a chamada morosidade da justiça (g.n.) pudessem ser resolvidos num passe de mágica, por acordos de lideranças, à luz dos holofotes. [...] De outro lado, ao que parece, procurou-se apresentar a solução antes de formular o problema, o que somente seria possível com a participação de amplos segmentos do mundo jurídico e após conhecer a realidade da justiça nos vários rincões do País por meio de pesquisas cientificamente elaboradas.

Dessa forma, como se percebe até mesmo pela motivação que ensejou a nova norma, uma crescente preocupação com a celeridade processual, mormente no que diz respeito à limitação da interposição de recursos.

No documento Súmula impeditiva de recurso (páginas 68-72)