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Das súmulas vinculantes

No documento Súmula impeditiva de recurso (páginas 47-52)

3.2 DAS SÚMULAS

3.2.1 Das súmulas vinculantes

No que tange às súmulas vinculantes, estas possuem rito próprio para sua edição, designado em lei específica e no Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal. Ainda mais importante: é prevista constitucionalmente.

A Lei Maior, em seu art. 103-A, dispõe acerca da súmula vinculante, determinando sua adoção pelos outros órgãos do Poder Judiciário e da Administração Pública direta e indireta em todos os entes federativos:

Art. 103-A. O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por provocação, mediante decisão de dois terços dos seus membros, após reiteradas decisões sobre matéria constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua publicação na imprensa oficial, terá efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, bem como proceder à sua revisão ou cancelamento, na forma estabelecida em lei (BRASIL, 1988).

De forma sucinta, Daidone (2006, p. 78) assevera:

Por “súmula vinculante”, compreende-se a manifestação de Tribunal Superior a respeito de sua jurisprudência sumulada, com efeito erga omnes, impedindo que se decida ou se proceda em qualquer segmento civil ou pública da sociedade, contra súmula devidamente catalogada e posta como tal.

Muito embora o conceito do instituto seja extraído do próprio texto constitucional, complementando o sentido conferido pela norma, traz-se à baila a lição de Moraes (2005, p. 510):

As súmulas vinculantes surgem a partir da necessidade de reforço da idéia de uma única interpretação jurídica para o mesmo texto constitucional ou legal, de maneira a assegurar-se a segurança jurídica e o princípio da igualdade, pois os órgãos do Poder Judiciário não devem aplicar as leis e atos normativos aos casos concretos de forma a criar ou aumentar desigualdades arbitrárias, devendo, pois, utilizar-se de todos os mecanismos constitucionais no sentido de conceder às normas jurídicas uma interpretação única e igualitária.

Sobre o objeto e delimitação da matéria que trata a súmula vinculante, Theodoro Junior (2007, p. 709), fazendo alusão à Lei 11.417/06, leciona:

A súmula vinculante será extraída de decisões do STF sobre matéria constitucional, (art. 2º, caput) e terá por objeto “a validade, a interpretação e a eficácia de normas determinadas, acerca das quais haja, entre órgãos judiciários ou entre esses e a administração pública, controvérsia atual que acarrete grave insegurança jurídica e relevante multiplicação de processos sobre idêntica questão” (art. 2º, § 1º).

Da análise do conceito posto alhures, temos, portanto, três pressupostos básicos, quais sejam: a existência de reiteradas decisões sobre a matéria dentro do próprio Pretório Excelso, que esta matéria seja constitucional e objeto de divergência entre outros tribunais e no âmbito da Administração Pública e, cumulativamente, a existência de vários processos sobre igual assunto que gere uma verdadeira insegurança jurídica sobre os jurisdicionados.

Mencionando a natureza jurídica das súmulas vinculantes e sua repercussão sobre os demais órgãos do Poder Judiciário e da Administração Pública, Muscari (1999, p. 53), mesmo antes da implementação do instituto já advertia:

A obrigatoriedade a que estarão submetidos os demais órgãos do Judiciário e da Administração significa que não lhes será lícito, após a emissão da súmula, deixar de acolher a interpretação feita pelo Supremo Tribunal Federal.

É evidente que a súmula vinculante representa bem mais do que a mera jurisprudência, uma vez que a inobservância deste nada tem de ilegal e a afronta àquela configura ato violador da própria Constituição.

Não se pode dizer, entretanto, que o preceito sumular esteja equiparado à lei ou à Carta Maior.

Correlacionando as súmulas vinculantes com a lei positivada, Calmon dos Passos, citado por Daidone (2006, p. 48) aduz:

Ficam por analisar as conseqüências que decorrem, para os postulantes e para os julgadores, desse efeito vinculante. Guardando coerência com nossa posição, deve-se aproximar a súmula, ou jurisprudência com força vinculante, da norma de caráter geral editada pelo legislado. Nem pode valer mais, nem deve valer menos. Assim, sua violação acarreta o mesmo que deve acarretar toda violação da lei pelo magistrado, não sendo aceitável se dê àquela violação um tratamento privilegiado.

Entretanto, não se deve confundir essa “força de lei” com a própria norma jurídica editada por meio de processo legislativo, sob pena de violar o princípio da separação dos poderes. É o que adverte Theodoro Junior (2007, p. 709):

O teor da súmula obriga como lei, mas só atua em campo de interpretação de norma legal já existente. O STF não está autorizado a proceder como órgão legislativo originário. Não pode criar, pelo mecanismo sumular, norma que não tenha sido instituída pelo poder legislativo, nem mesmo a pretexto de suprir lacuna do direito positivo. Na verdade, o que obriga é a lei interpretada pelo STF em súmula de seus julgados. A súmula apenas revela o sentido que tem a norma traçada pelo legislador. Como a Constituição confere autoridade ao STF para tanto, descumprir o enunciado de uma súmula equivale a violar a lei que o inspirou.

Asseverando acerca da subordinação das súmulas (seja ela persuasiva ou vinculante) à norma positivada, Wambier, Alvim Wambier e Medina (2006, p. 229) ensinam:

A lei e a súmula não se encontram num mesmo plano. Na verdade, a súmula deve se subordinar à lei, já que é interpretação desta. O que ocorre é que a norma jurídica, geral e abstrata, pode dar ensejo ao surgimento de duas ou mais interpretações diversas, sobre um mesmo assunto. A súmula, assim, desempenha função importantíssima, pois registra qual interpretação da norma seria a correta, que uma vez revelada, deve prevalecer em julgamentos posteriores sobre o mesmo tema.

Sobre a edição, revisão ou cancelamento, os procedimentos a serem observados para sua realização estão dispostos na Lei 11.417/06, que, por sua vez, traz uma série de regras gerais e, em seu art. 10, determina a aplicação subsidiária do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal (BRASIL, 2006).

Diante disso, o STF publicou a Resolução n.º 388, que disciplina o procedimento, no qual, resumidamente, consiste no recebimento da proposta, registro e autuação pela Secretaria Judiciária, publicação de edital, posterior manifestação dos interessados em 05 (cinco) dias e remessa à Comissão de Jurisprudência para a apreciação em 05 (cinco) dias, com prazos sucessivos (art. 1º) (BRASIL, 2008).

Ato contínuo, após as manifestações, serão enviadas cópias da proposta de edição, revisão ou cancelamento e das manifestações da Comissão aos demais Ministros e ao Procurador-Geral da República. Após, os autos irão conclusos ao Ministro Presidente que designará pauta para julgamento. (art. 2º) (BRASIL, 2008).

Cumpre salientar a necessidade de quorum qualificado para que à súmula seja conferido o efeito vinculante, devendo ser aprovada por 2/3 (dois terços) dos membros do Pretório Excelso.

Veja-se o teor da Resolução 388 do Supremo Tribunal Federal:

Art. 1º Recebendo proposta de edição, revisão ou cancelamento de súmula, vinculante ou não, a Secretaria Judiciária a registrará e autuará, publicando edital no sítio do Tribunal e no Diário da Justiça Eletrônico, para ciência e manifestação de interessados no prazo de 5 (cinco) dias, encaminhando a seguir os autos à Comissão de Jurisprudência, para apreciação dos integrantes, no prazo sucessivo de 5 (cinco) dias, quanto à adequação formal da proposta.

Art. 2º Devolvidos os autos com a manifestação da Comissão de Jurisprudência, a Secretaria Judiciária encaminhará cópias desta manifestação e da proposta de edição, revisão ou cancelamento de súmula aos demais Ministros e ao Procurador-Geral da República, e fará os autos conclusos ao Ministro Presidente, que submeterá a proposta à deliberação do Tribunal Pleno, mediante inclusão em pauta.

Art. 3º A manifestação de eventuais interessados e do Procurador-Geral da República dar-se-á em sessão plenária, quando for o caso.

Art. 4º A proposta de edição, revisão ou cancelamento de súmula tramitará sob a forma eletrônica e as informações correspondentes ficarão disponíveis aos interessados no sítio do STF.

Art. 5º Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação(BRASIL, 2008).

Importante destacar aqui a possibilidade de revisão e cancelamento das súmulas, não somente das vinculantes, mas como de qualquer precedente jurisprudencial uniformizado na forma de enunciado.

Para evitar a imutabilidade das súmulas, o que provocaria uma petrificação de suas decisões, com a perda de eficácia das normas em virtude da distância entre os fatos e o mundo jurídico, há possibilidade de sua revisão ou cancelamento, em consonância com o estipulado em lei específica. Revisão é a modificação parcial do conteúdo sumulado, enquanto que o cancelamento significa sua supressão total (AGRA, [s/d] apud HERTEL, 2007, p. 135).

Essas considerações acerca das súmulas vinculantes e seus efeitos fazem-se necessárias, pois se trata de instituto que, embora diverso da súmula impeditiva de recurso, possui a mesma finalidade, qual seja, uniformizar

entendimentos em prol da segurança jurídica, conferir maior celeridade ao processo e evitar recursos cujo entendimento esteja pacificado nos tribunais superiores, consoante o que dispõe Bueno (2006, p. 32):

É importante fixar, desde logo, a idéia de que as chamadas “súmulas vinculantes” e as “súmulas impeditivas de recursos” são, na verdade, as duas faces de uma mesma moeda, quando menos, que são institutos com finalidades irremediavelmente complementares. Se, para todos os fins, os efeitos vinculantes de uma decisão de um dado Tribunal querem impedir que sobre uma mesma questão jurídica o juízo inferior decida diferentemente, qual seria o sentido de admitir recursos interpostos de decisões que se fundamentam naquelas mesmas súmulas? É esta perspectiva que não pode ser perdida de vista para a escorreita compreensão do disposto no § 1º do art. 518 do Código de Processo Civil

Seguindo a mesma vereda, Daidone (2006, p. 83) compartilha do mesmo entendimento. Veja-se:

A leitura dos artigos retromencionados permite a conclusão de que a súmula com efeito impeditivo, estará sujeita aos mesmos cuidados relativos àquela de caráter vinculante [...].

As súmulas impeditivas pouco diferem das vinculantes de competência do Supremo Tribunal Federal, quanto aos seus efeitos finais dentro do processo desenvolvido, pois como se deduz das próprias denominações, umas “impedem” o seguimento de recurso contra decisões que forem prolatadas com base em matéria sumulada, enquanto que outras, “vinculam” o próprio juiz e, portanto na origem, de proferir decisões contrariando súmula.

Nesta senda, muitos dos argumentos a serem apresentados no próximo capítulo, que trata exclusivamente sobre a súmula impeditiva de recurso, defendendo ou repudiando sua aplicação, são os mesmos argüidos quando se trata de súmulas vinculantes, eis que de salutar importância entender este instituto.

4 DA SÚMULA IMPEDITIVA DE RECURSO

No documento Súmula impeditiva de recurso (páginas 47-52)