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Capítulo 2 – O Salão Arte Pará: processos de legitimação na agenda cultu ral paraense a partir da imprensa (marketing de difusão)

2.1 O SALÃO ARTE PARÁ: HISTÓRIA

2.1.2 Considerações iniciais: a atual imprensa paraense

Não é de agora que a mídia impressa paraense mostra a sua força nas questões de opinião pública e política da sociedade. Segundo Thiago Almeida Barros (2009), entre o séc. XVIII e início do séc. XIX mais de 300 jornais, e folhetins circulavam em Belém e nas regiões do Estado do Grão Pará e Maranhão (como era chamado no período). Esta enorme circulação de informativos era devido, segundo o autor, às “mudanças políticas e sociais que fundamentaram o marco da contemporaneidade no Estado: o debate das ideias iluminis- tas de liberdade contra o despotismo desenfreado da metrópole” (BARROS, 2009, p.1). A imprensa paraense surge como instrumento para ações políticas, direcionando a socie- dade para a questão da independência do império, já que a região, diferentemente de outras províncias, tinha ligação direta com Lisboa e não com a Corte do Rio de janeiro. Assim, nas mudanças sociais e políticas a imprensa esteve presente, a Revolução Cabana é um exemplo disso. O jornal O Paraense, criado por Felipe Patroni, nesse momento surge como afronta ao poder político vigente, o qual vigiava qualquer atividade do povo que consideras- se agitada, como por exemplo, a abolição do escravismo, dentre outras. Qualquer pan- fletagem e discursos contra o governo era repreendido com rigor, o ambiente era de grande censura, mas de alguma forma a imprensa encontrava seus meios de difusão

(BARROS, 2009, p. 2-3).

Atualmente, no Estado do Pará existem três principais jornais impressos em circula- ção e que disputam a preferência do leitorado paraense: Diário do Pará, O Liberal e Amazônia (estes dois últimos pertencem ao mesmo dono). Em especial, sobre o jornal O Liberal e Diário do Pará, convém falar das disputas que existem entre eles e que são im- portantes de observarmos aqui, pois pode nos dar uma visão sobre como se constitui a atual impressa paraense e a relação com o Salão Arte Pará nisso tudo.

No que se refere ao O Liberal, sua primeira edição, segundo Castro e Seixas (2014), ocorreu em 1946, o que faz dele o mais antigo diário impresso do Estado do Pará, com mais de 60 anos de existência. O jornal foi criando por Moura Carvalho juntamente com ou- tros profissionais (SEIXAS; CASTRO, 2014, p. 103). O objetivo de sua criação era para servir de órgão de propaganda dos membros do Partido Social Democrático (CASTO e SEIXAS, 2013, p. 2). Anos depois, em 1966, o jornal muda de proprietário, o colunista e comerciante Romulo Maiorana, dono da Delta Publicidade na época, assume a direção do jornal implementando o slogan “Vespertino Independente”. Dentre as medidas tomadas pe- lo jornalista estão as mudanças no que concerne à política. Assim, o jornal adquiriu novas páginas e discursos voltados mais para a cobertura jornalística do que partidária, co- mo era na administração anterior. Romulo Maiorana permanece na direção do jornal até 1986, quando falece, sendo passada a direção para seu filho Romulo Maiorana Junior. Du- rante mais de três décadas o jornal Liberal se manteve em primeiro lugar em circulação e venda no Estado do Pará, sendo as duas primeiras com Romulo Maiorana à frente (CASTRO e SEIXAS, 2013, p. 8), isto é quebrado após o crescimento na disputa do leito- rado com o jornal Diário do Pará.

Atualmente, segundo Castro e Seixas (2014, p. 103), o jornal O Liberal foi incor- porado às Organizações Romulo Maiorana (ORM) que é um conglomerado de rádios AM e FM (Liberal FM, LIBMusic FM e O Liberal CBN AM), televisão aberta (TV Liberal, filia- da à Rede Globo), além de operadora de tevê a cabo (ORM Cabo) e portal de notícias.

Com relação ao jornal Diário do Pará, este é mais jovem, foi criando em 1982, pelo atual senador da República Jáder Barbalho, o senador é afiliado ao Partido do Movi- mento Democrático Brasileiro (PMDB-PA). O jornal tinha como objetivo alavancar seu iní- cio de carreira política. Assim como o jornal Liberal, o Diário do Pará também foi integrado a uma organização, o Grupo Rede Brasil Amazônia (RBA), o qual possui uma rede de tele- visão aberta, a TVRBA (a filiada à Rede Bandeirante), e emissoras de rádio AM e FM (Di- ário FM) e um portal de notícias, o Diário online (CASTRO e SEIXAS, 2014, p. 103-104).

Portanto, a atual imprensa paraense é pautada por disputas entre duas famílias: o jor- nal O Liberal, vinculado às Organizações Romulo Maiorana – um monopólio que pertence à família Maiorana – e o jornal Diário do Pará, que é vinculado ao Grupo Rede Brasil Ama- zônia, que também é um monopólio pertencente outra família, os Barbalhos. Ambos dispu- tam o status de veículos que publicam de modo imparcial a notícia para o leitor. Entretanto o fazem desqualificando um ou outro, porque, segundo Castro e Seixas, os noticiários de ambos os jornais sempre apresentam ofensas aos seus dirigentes, são notícias incriminando e difamando um ao outro (CASTRO; SEIXAS, 2014, p. 111-114). Além disso, no que diz respeito às afinidades partidárias de ambos os jornais, o Diário do Pará, como vimos, per- tence ao senador Jáder Barbalho, filiado ao PMDB, já o partido de afinidade do O Liberal atualmente corresponde ao PSDB.

Assim, quando ponderamos essas questões no contexto do Salão Arte Pará, enten- demos que sua idealização não parte somente da ideia de privilegiar a arte local e projetá-la para na agenda cultural e artística da região, mas, a partir disso, as ORM buscam manter sua influência nos acontecimentos dentro do Estado do Pará, sejam elas po- líticas, sociais e/ou culturais, como no caso deste Salão. Nesse sentido, o interesse em- presarial por traz disso é notório, tendo um Salão de arte consolidado no contexto social pa- raense, poderia representar também a própria legitimação das ORM e as demais empresas relacionadas a ela. Veremos no tópico seguinte que quando analisamos os métodos de difu- são do evento pelos meios de comunicação, estes interesses são evidentes.

Ainda nas questões de disputas entre jornal O Liberal e Diário do Pará e suas respec- tivas organizações, enquanto as ORM colocam em pauta nos seus veículos de informação o Salão Arte Pará, o grupo RBA busca amenizar essa repercussão não o colocando em pauta nas suas mídias, como se ele não existisse na agenda cultural da região. Ainda nessa ques- tão, tentando enfraquecer ainda mais essa influência que as ORM têm sobre a agenda cultu- ral por meio do Salão Arte Pará, em 2010, o grupo Rede Brasil Amazona lança, através do jornal Diário do Pará, o mais novo evento artístico em Belém semelhante ao Arte Pará, o Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia. O evento surge visando valorizar a fotografia contemporânea paraense, englobando várias tendências e técnicas artísticas que dela se uti- liza (CATÁLOGO, 2010, p. 3-9). Para conseguir a continuidade deste evento na agen- da cultural paraense, o grupo RBA se vale dos mesmos recursos adotados pelas ORM, ou seja, veiculando nos seus meios de comunicação notas visando atrair o interesse do público e de artistas, bem como estabelecendo parceria com a iniciativa privada. Hoje, o Prêmio Di- ário encontra-se na sua quinta edição, sob a curadoria do fotógrafo Mariano Klautau, um

artista paraense que já participou de várias edições do Salão Arte Pará, sendo premiado em algumas delas.