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PARTICIPAÇÃO DE ARTISTAS PARAENSES E DE OUTRAS REGIÕES NA MOSTRA COMPETITIVA

3.3. Os artistas no Salão

3.3.2. Salão e Artistas: sistema de trocas

Anteriormente apresentamos alguns artistas e suas respectivas atuações no Salão Arte Pará, tanto na mostra competitiva como na sala especial e coordenação (curadoria e júri). Sob essas perspectivas, é evidente que esses artistas construíram sua trajetória através do Salão. A seguir, apresentaremos três tabelas feitas a partir de levantamentos desenvolvidos sobre a atuação de muitos outros artistas além dos que apresentamos aqui, para nos ajudar a visualizar ainda mais como se deu a construção do currículo de muitos personagens do cená- rio artístico da região. Esta mostra foi extraída por meio das listagens que o jornal O Libe- ral e os catálogos divulgaram durante cada uma das edições do Arte Pará e, através delas, tivemos acesso a informações sobre quais artistas participaram na mostra, suas premiações, que tipo de obras apresentaram e procedência regional. As tabelas não apresentam todos os artistas, buscamos elencar os que identificamos com participação histórica no Salão, ou seja, alguns nomes na tabela apresentam apenas uma ou duas vezes participando dentro do recorte, porém resolvemos coloca-los por serem artistas que tiveram atuação significativa em edições anteriores.

A tabela 04 apresenta uma listagem com o nome de vários artistas, distribuídos alea- toriamente no que tange a suas categorias artísticas (fotógrafo, artista plástico, artista concei- tual, etc.). Também, ela dispõe dos respectivos anos de atuação de cada um deles segundo o recorte de 1982 até 2001, período que não nos atemos estudar especificamente nesta pesquisa.

Diante desta tabela, ela nos mostra que grande parte desses artistas tiveram atuação durante anos e, alguns, alternaram a participação. Ainda nesse sentido, temos alguns artistas que quase completaram a tabela participando em boa parte das edições, como no caso do artista plástico Jocatos que, segundo a tabela, participou em treze vezes, bem como Jair Junior com a mesma quantidade que Jocatos. Também, o fotógrafo Luiz Braga que já apare- ce desde a primeira edição, atuando em nove mostras do Salão.

ARTISTAS 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 00 01 Jocatos X X X X X X X X X X X X X Ruma X X X Luiz Braga X X X X X X X X X P.P Condurú X X X X X Jair Jr. X X X X X X X X X X X X X Alexandre Sequeira X X X X Mariano Klautau X X Flavya Mutran X X X X X X X X Armando Sobral X Guy Veloso X X X X X X X Nina Matos X X X X X Claudia Leão X X X X Miguel Chikoca X X Alberto Bitar X X X X X X Dirceu Maués X X X X X Orlando Manesky X X X X X X X Paula Sampaio X X X X Walda Marques X X X X Berna Reale X X X Daniele Fonseca X X Arthur Leandro X X X X

Tabela 04 – Artistas no salão 1982-2001.

Fonte: Catálogo (1982; 1983; 1984; 1985; 1986; 1987; 1988; 1989; 1990; 1991; 1992; 1993; 1994; 1995; 1996; 1997; 1998; 1999; 2000 e 2001)

Por outro lado, podemos observar ainda na tabela que, parte desses artistas surgem na década de 1980, como no caso de Jocatos, Ruma, Luiz Braga, P.P.Condurú, Jair Junior e Alexandre Sequeira. Também, fora da tabela, que discutimos suas trajetórias em particular, temos Jorge Eiró, Dina Oliveira, Emmanuel Nassar e Emanuel Franco. Outra parte, dá início a sua carreira no evento a partir da década de 1990, como por exemplo, o Fotógrafo Guy Veloso, Alberto Bitar, Nina Matos e Dirceu Maués, bem como, fora da tabela, Armando Queiroz, que dá seus primeiros passos na década de 1990.

Por essa perspectiva, como vimos no segundo capítulo, na década de 1980, quando o Salão Arte Pará abre pela primeira vez, existia uma efervescência em todas as estân- cias sociais e grandes transformações sociais e políticas, das quais abriam caminho propício para que esses artistas buscassem se firmar na agenda cultural. Nesse sentido, o Salão Arte Pará não deixava de ser uma dessas oportunidades, em que artistas que estavam inici- ando suas carreiras tivessem algo que os ajudasse a permanecer no cenário artístico. Muitos na época estavam buscando isso, como Geraldo Teixeira, que já se organiza por meio de as- sociações como a COARTE que lhe permitia atuar de forma mais significativa nas ativida- des culturais da região. Mesmo atuando anos antes da primeira edição do Salão, sua partici- pação frequente no Arte Pará, com premiações e atuação em outras atividades, ajudaram na construção do seu currículo artístico e projetá-lo para fora da região. O artista paralelamente nas atividades do Salão também apresentava suas obras em outras regiões, quando participou no Arte Pará na primeira mostra, por exemplo, ao mesmo tempo estava atuando em outros

eventos, como na Coletiva Visuais Verde, em Campina Grande, Pernambuco e, em 1985, ano que também atuou no Salão, é selecionado no VII Fórum Nacional de Secretá- rios da Cultura, em Belém, bem como em 1987, ano que também atua no Arte Pará, é seleci- onado no 44ª Salão Paranaense, em Curitiba (CULTURA PARÁ, 2016).

Ainda nesse contexto, outro exemplo pode ser Emmanuel Nassar, que já vinha de uma premiação no Arte Pará em 1983, no ano seguinte, participa de vários eventos como uma exposição individual no Rio de janeiro, na galeria Macunaíma e, em coletivo, na cidade de Fortaleza, participando como convidado no 7º Salão Nacional de Artes Plásticas e no 7º Salão Nacional de Artes Plásticas, no MAM/RJ – prêmio viagem ao país, bem como 1984 – São Paulo SP – Arte na Rua 2 (ESCRITÓRIO DA ARTE, 2016).

Também Emanuel Franco, que dá início a sua vida artística em 1979, encontra-se no início de carreira quando o Salão Arte Pará surge. Em 1986, ano que Teixeira participa do Salão, também é selecionado no Salão Paranaense, bem como em 1992, ano que participou do Salão alcançando premiação, participa do Projeto Amazônia, pelo Instituto Goethi Be- lém/Alemanha, bem como no ano seguinte é premiado no Salão Arte Pará e no Mac/SP (CULTURA PARÁ, 2016).

Nesse enredo, Acácio Sobral, falecido em 2009, construiu um currículo notável, com exposições individuais e coletivas em várias partes do país e fora. Em 1993, uma das edi- ções que atua no Arte Pará, participa também do Painel Arte Brasileira MAB/FAAP (Sp), também em 1994 é selecionado no Salão do MAM da Bahia (Ba), no ano seguinte é premiado no Salão Arte Pará. Também, em 1996, participa do “Pará Hoje” Belém, Fortaleza, Macapá, Brasília e São Luiz, bem como em 1998 participa da ”Trilogia” – Museu do Esta- do do Pará; “A Arte Contemporânea da Gravura – Brasil Reflexão 97 “Museu Metropolitano de Arte de Curitiba (MUMA), sendo reconhecido com o Prêmio Aquisição no Salão de Artes Plásticas da Amazônia, 1998 e em 2000 é premiado no Arte Pará (CULTURA PARÁ, 2016).

Dina oliveira, que teve atuação intensa no Arte Pará, participou de diversos eventos expositivos individuais e coletivos em diferentes regiões do Brasil. Em 1980, é premiada no 38º Salão Paranaense, em Curitiba e, em 1983, é novamente neste salão e no Arte Pará. Também, em 1982 e 1983, é selecionada e premiada no 35º e 36º Salão de Artes Plásticas de Pernambuco, em Recife. Em 1986, quando é premiada no Arte Pará, também recebe o Prêmio Revelação – Pintura, concedido pela Associação Paulista dos Críticos de Arte – APCA, pela exposição individual realizada na Galeria Paulo Prado (ENCICLOPÉDIA, 2016).

A década de 1990 representa, a nosso ver, um símbolo de continuidade do Salão Arte Pará, que chega a sua 9ª edição. Nessa época, muitos artistas já passaram pelo evento e fixaram sua trajetória, de modo que, alcançaram sua estabilidade no cenário artístico como foi o exemplo dos artistas que apresentamos nos parágrafos anteriores. Este momento repre- sentou uma espécie de ajuda mútua, onde salão e artistas se apoiavam para que ambos se concretizassem na agenda cultural da região, de forma que, não somente contribuiu para a construção de suas próprias carreiras, mas também ajudou na manutenção da permanência do Salão, quando artistas alcançando renome apostavam no Salão para apresentar seus trabalhos. Diante desse contexto, outros artistas, de certa forma, sentiram-se incentivados a tam- bém participar do evento em busca de se firmarem na agenda cultural da região por meio de reconhecimentos. O artista plástico Acácio Sobral participou ativamente de várias edições do Salão Arte Pará, sendo convidado, premiado e homenageado. Paralelo a isso, Acácio foi construindo seu repertório artístico participando de diversas mostras nacionais e internacio- nais. Em 2000, participa da 3ª Trienal de Gravura ‘Colour inGraphic Art, na Polônia, tam- bém participa do Instituto Itaú Cultural ‘Investigações: A Gravura Brasileira, assim co- mo participa como artista convidado na ‘XII Bienal Iberoamericana de Arte ‘Estampas de fin de siglo y hacia um nuevo 139 ilênio’, no México e da mostra individual na Galeria do CCBEU, em Belém. Em 2002, quando atua no Salão Arte Pará, paralelamente participa da mostra individual ‘Mantas: xilogravuras’, no Museu de Arte Sacra de Belém e da mos- tra ‘Entre el Gesto y la Repetición, em Buenos Aires. Também, em 2003, também atuando no Salão Arte Pará, compõe a curadoria da coletiva de gravura ‘Múltiplos’, na Galeria Graça Landeira, em Belém, bem como na mostra ‘Traços e Formas na Gravura Contemporânea Brasileira na VII Bienal de Havana. Por fim, em 2004, quando também participa do Arte Pará, Sobral atua na mostra ‘Panorama da Xilogravvura Brasileira, pelo Santander Cultural, no Rio Grande do Sul. Dentre essas e muitas outras atuações, Acácio Sobral é reconhecido pelo Prêmio Nacional de Arte Contemporânea Marcantônio Vilaça e o Prêmio de Arte Contemporânea, Ocupação dos espaços FUNARTE’ (CULTURA PARÁ, 2016).

Outro exemplo pode ser Armando Queiroz que, diferentemente dos outros apresenta- dos aqui, alcançou grande reconhecimento dentro da região, porque boa parte da sua trajetó- ria ele constrói nela. O artista busca enriquecer seu repertório atuando em vários eventos, inclusive no Salão Arte Pará. Em 1997, por exemplo, o artista faz parte da Coletiva do Pro- jeto Macunaíma, Gal. Macunaíma (RJ) e, em 1998, é convidado do Arte Pará, expondo no Museu do Estado do Pará – MEP (PA). Em 2000, participa do IX SAMP – Salão Municipal de Artes Plásticas, em João Pessoa e do 26º Salão Nacional de Arte de Belo Horizonte, no

Museu de Arte da Pampulha, bem como do Projeto Prima Obra/FUNARTE, Brasília – DF. Neste mesmo ano, Queiroz é premiado no Salão Arte Pará. (CULTURA PARÁ, 2016).

Nessa busca, dentre os artistas que elencamos aqui, Armando foi ainda mais longe. Em 2014, ele é convidado para compor a mostra da 31ª Bienal de São Paulo com a instalação intitulada ‘Antigamente fomos muitos’, figura 62 (BIENAL, 2014, p. 111).

Figura 61 – ‘Antigamente fomos muitos’, Armando Queiroz Fonte: Bienal (2014, P. 111).

Essa projeção no cenário artístico dentro e fora da região depende muito do próprio artista e envolve muitos fatores, como por exemplo, a originalidade do trabalho, poética, téc- nica, técnica, dentre outros. Fatores como estes são fundamentais para que, ao submeter um trabalho em um Salão, convença o júri da relevância de ter sua obra exposta nele. Nesse sen- tido, entra em questão também o Currículo Artístico, ou seja, o que determinado artista tem desenvolvido de trabalhos no cenário artístico que lhe trouxe aceitação no sistema da arte. No edital do Salão Arte Pará, lançado a cada ano de sua edição, encontram-se todas as disposições necessárias para que o artista se condicione às normas para estar apto a concor- rer a uma vaga, uma dessas exigências é a apresentação do currículo artístico. Isto se mostra evidente em todos os editais do Salão Arte Pará. Nas normas de 2006, por exemplo, o item 2.3 solicita ao artista que apresenta o dossiê com formato específico: “deverá conter currícu- lo resumido, fotos (recomendamos formato 20x25 cm) ou fotocópias de três trabalhos a se- rem apresentados” (EDITAL ARTE PARA, 2006). Também, na dição de 2012, mostra a mesma exigência, no item 2.3 pontua que: “O dossiê, com formato máximo de 21x33cm (tamanho oficio), deverá conter currículo resumido [...]” (EDITAL ARTE PARÁ, 2012).

lhantemente aos demais salões de arte de outras regiões. Analisando alguns destes podemos identificar claramente a preocupação com o repertório artístico de quem deseja submeter seus trabalhos: O Salão Nacional de Belo Horizonte, na sua 28ª edição, apresenta no edital, mais precisamente no item 5.2, exigência do “Curriculum vitae do artista, resumido em até duas páginas em formato A4” (EDITAL, 2004); O 29º Salão de Arte de Ribeirão Preto, também sugere no item 2.2.5 que “Todos os dossiês deverão conter dados curriculares com a identificação do artista, formação artística e atividades culturais [...]” (EDITAL SARP, 2004); O 40º Salão de Arte Contemporânea de Piracicaba, nas suas disposições para a mos- tra exige no item 2.4 que a “inscrição será feita mediante o preenchimento completo da ficha, original ou fotocopiada, devidamente assinada, anexando resumo do currículo artístico [...]” (EDITAL SAC, 2008) e, por fim; O 65º Salão Paranaense, solicita no item 4.1, subtítu- lo c, que o artista apresente “currículo resumido constando a formação artística, atuação na área, nome artístico” (EDITAL MAC/PR.).

A preocupação com o currículo artístico pode estar relacionada a qualidade dos artis- tas que participam do Salão, quanto melhor o currículo, ou seja, sua aceitação no sistema, mais valida o próprio Salão. Isto também pode se encaixar no que se refere ao tipo de curador do evento, que sempre foi escolhido segundo sua atuação no cenário artístico regional e naci- onal.

Ainda no contexto de análise das participações dos artistas, temos também a tabela 05, a seguir, que apresenta um levantamento específico dos nomes e respectivas frequências dos principais artistas que participaram na Mostra Competitiva do Arte Pará no recorte 2002 a 2012. A tabela, assim como a anterior, nos possibilita contabilizar as edições em que cada artista atuou de maneira mais frequente e nos dá margem para discutir a questão de um tipo de revezamento de artistas no Salão.

ARTISTAS 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012