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Considerações preliminares

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As abordagens deste capítulo nos levam à compreensão que desde o período colonial a exigência de submissão, recato e docilidade foi imposta às mulheres. Essas exigências levaram à formação de um estereótipo de mulher que devia submeter-se ao ambiente doméstico, onde sua tarefa seria de cuidar da casa, dos filhos e do marido, sendo totalmente submissa a ele. Já as mulheres empobrecidas precisavam trabalhar, portanto, adentravam ao espaço público, que era reservado aos homens, pois o sustento de sua família em muitos casos dependia só delas. Mas fora do trabalho não podiam sair desacompanhadas e seu único lazer estava ligado às atividades relacionadas à igreja.

Já o século XX trouxe mudanças, que, na verdade, não se estenderam a todas as mulheres, pois as mais beneficiadas foram as mulheres ligadas à elite. As mudanças se concentraram no fato de as mulheres terem maior liberdade para frequentar espaços públicos e maior acesso à educação. Para as mulheres das camadas pobres, pouca coisa mudou nesse

século. Continuavam a ser encaradas, na sua maioria, como mulheres desonrosas, decorrentes, em muitos casos, dos meios que utilizavam para sobreviver.

Foi exatamente no início do século XX que as vozes de protesto começaram a aparecer, o inconformismo que as mulheres sentiam por causa das restrições que lhes eram impostas por aqueles que governavam o país, ou seja, os homens. Elas desejavam uma maior participação na economia, na política e, principalmente, desejavam ser reconhecidas como cidadãs, sendo livres e tendo os mesmos direitos que aqueles que séculos antes se declaravam donos e senhores de suas vidas.

As feministas americanas foram as pioneiras a defenderem a importância dos sexos, dos grupos de gênero no passado histórico. A partir da década de 1980 a contribuição feminina para a construção da história da humanidade passou a ser destaque nas pesquisas acadêmicas. O conceito de gênero tornou-se amplamente utilizado para caracterizar as relações entre homens e mulheres. As pesquisadoras acreditavam que este novo olhar sobre a categoria de gênero abriria as portas não só para uma nova história das mulheres, mas para uma nova história. O que, de fato, aconteceu, pois a inclusão da categoria gênero enquanto categoria analítica colaborou e continua colaborando para se repensar o domínio da religião sobre a sociedade, e mais especificamente, sobre a mulher, identificando que a religião sempre foi reconhecida como fonte de poder ou enfraquecimento pessoal e coletivo, e muitas pesquisas têm sido produzidas para questionar a própria estrutura do pensamento teológico e demonstrar o quanto a teologia é masculina.

Com o tempo, as mulheres passaram a utilizar o espaço religioso como parte integrante de um processo modernizador que algumas usam como facilitador de entrada em novos espaços sociais, mas é importante dizer que o entrecruzamento entre religião e gênero ainda possui muitos desafios, como nos afirma Souza (2004, ON-LINE, p.5) “[...] o que produzimos ainda é consumido por um público muito específico. Gênero é considerado “problema de mulher”. E quanto às publicações nesta área:

[...] Religião vende, mas religião e feminismo ou religião e estudos de gênero é heresia, portanto, não vende. É uma equação não vendável e, portanto, não publicável. O que se tem publicado a esse respeito no Brasil tende a ser majoritariamente por editoras religiosas, o que nos submete a cortes nem sempre bem-vindos e o que nos condena a algumas prateleiras empoeiradas que são visitadas por um público muito restrito. Por outro lado, as editoras não religiosas raramente têm interesse em publicar textos sobre religião (SOUZA, 2004, ON-LINE, p.5).

Portanto, há muito para pesquisar e, principalmente, há muito que refletir sobre o papel da mulher nas igrejas pentecostais, pois o homem ainda procura no seu inconsciente a mulher submissa, a abnegada: “[...] a afirmação sociocultural da masculinidade passa pelo exercício do poder do homem sobre a mulher e os filhos, e a religião tem colaborado com a reprodução dessa representação social da masculinidade” (SOUZA, 2004, ON-LINE, p.6).

A mulher desenvolveu o seu potencial, mas continua sendo a companheira do homem e a mãe, dotada da sensibilidade e da força que Deus lhe concedeu. Muito essa geração de mulheres guerreiras tem a ensinar, e ainda mais a aprender com o movimento da vida, que sempre vence a morte e transforma mulheres frágeis em exemplos de superação e vitória frente a um mundo adverso.

A partir destas considerações, debruçaremo-nos sobre o tema Pentecostalismo e mídia: R.R Soares e o Show da Fé, que será abordado no segundo capítulo. Trataremos da presença pentecostal na mídia, buscando compreender o processo histórico e as principais características daquilo que hoje são consideradas igrejas eletrônicas.

CAPÍTULO 2

PENTECOSTALISMO E MÍDIA: R.R. SOARES E O SHOW DA FÉ

Sabe-se, hoje, que as pesquisas sobre religião no meio acadêmico encontram-se em plena expansão, devido ao potencial crescimento que a religião protestante vem ganhando nas últimas décadas; em especial as igrejas pentecostais e, mais especificamente, as igrejas denominadas como eletrônicas ou midiáticas, fator que mudou e continua mudando de forma exponencial o cenário religioso.

Neste capítulo, abordaremos - de forma panorâmica, diante das distintas concepções sobre o que seja ou represente a igreja eletrônica - as principais características deste fenômeno que se relaciona aos meios eletrônicos, especialmente à TV. Enfatizaremos a Igreja Internacional da Graça de Deus e a figura carismática do seu líder religioso, missionário R.R Soares, por se tratar de uma igreja que veicula seus programas religiosos na mídia eletrônica e que é objeto do nosso estudo.

Quem nos traz um dado relevante sobre os estudos de mídia e religião é a pesquisadora Priscila Souza (2012, p.2). Em seu trabalho, ela discute a proposta de pesquisa histórica sobre mídia e religião, apresenta e analisa dados sobre as pesquisas existentes no Banco de Teses e Dissertações da Capes dos anos 1990 a 2010.

O ano de 1994 inaugurou o campo de pesquisas em mídia e religião no Brasil, conforme os dados do Banco de Teses e Dissertações da Capes. As duas primeiras pesquisas foram abrigadas por programas de pós-graduação em Comunicação e em Sociologia, respectivamente, na Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ e na Universidade Federal do Ceará – UFCE. Uma delas focava as transformações religiosas a partir das tecnologias da comunicação em grupos evangélicos pentecostais e a outra discutia religião no contexto pós-secular a partir da Renovação Carismática. Até os dias atuais, esses são os dois principais grupos motivadores de pesquisas sobre as relações entre mídia e religião no país. Tema que prosseguiu atraindo pesquisadores durante a década de 1990, que fechou com 11 trabalhos defendidos e estourou na primeira década do século XXI: até 2010, o banco da Capes registra 78 teses e dissertações que apresentam as palavras “religião” e “mídia” no assunto.

Entendendo que estamos falando de um movimento que está em constante expansão, nosso interesse para este capítulo será compreender o processo de mutação na história, seus principais personagens e idealizadores.

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