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Indicações conclusivas

No documento Download/Open (páginas 125-158)

A partir da leitura e interpretação destas cartas transmitidas pelo programa Show da Fé, pudemos compreender um pouco da intenção discursiva e ideológica de seus idealizadores. Reconhecemos que estas intenções são direcionadas a um grupo de pessoas, especificamente, um grupo de mulheres religiosas, que buscam uma autoafirmação na sua postura e na sua identidade religiosa. Sobre esta análise não houve, neste processo de interpretação da analista, a pretensão a uma verdade intrínseca.

Pelo que pudemos compreender, a ideologia é que estrutura o processo de significação que se dá ao discurso, assim como a língua e a história também se dão pela ideologia. Não há na linguagem, em suas condições de produção e ideologia nenhuma evidência, mas um lugar de muitas descobertas, entre elas o fato de que, no que diz respeito a gênero e pentecostalismo na mídia, sendo o programa Show da Fé um significativo espaço, qualquer questão que seja colocada em torno da realidade da vida das mulheres, ainda que por elas próprias, a resposta já está dada. Essa resposta pode variar em torno da temática, mas nunca deixará de fora as referências da aceitação/resignação, da submissão, da renúncia/concessão e da responsabilidade/culpabilidade que caracterizam o lugar das mulheres no imaginário religioso, mais fortemente no pentecostalismo.

CONCLUSÃO

É apenas quando esquecemos tudo o que aprendemos que

começamos a saber.

(Henry David Thoreau)

Procuramos demonstrar, nesta pesquisa, como a construção social do papel da mulher no discurso religioso neopentecostal, reconhecidamente patriarcal e conservador, é representada e apresentada no programa Show da Fé. Para isso, partimos de uma hipótese com base na premissa de que o papel mediador dos meios de comunicação, com suas diferentes linguagens, gêneros e suportes, tem uma responsabilidade social muito grande na formação do repertório cultural do indivíduo, e que sua presença cotidiana, bem como seus respectivos processos de produção ajudam a construir o imaginário deste público. Nesse sentido, o Programa Show da Fé revelar-se-ia um mediador que reproduz e contribui para a manutenção do discurso religioso neopentecostal de minoração do lugar da mulher na sociedade e na igreja.

Para a demonstração e verificação desta hipótese percorremos os caminhos da revisão conceitual bibliográfica e da formulação de um protocolo de leitura sob o respaldo do campo da análise de discurso de tradição francesa (que dispusesse das formações discursivas necessárias para a análise), para, então, com base nesse referencial teórico e dispositivos de análise, pensarmos as tensões existentes neste discurso religioso direcionado à mulher cristã.

Dessa forma, optamos pelo método dialético, que aborda a dinâmica da realidade que está sempre em transformação, utilizando também a pesquisa qualitativa – calcada na Análise de Discurso - por meio de um protocolo de leitura que fez uso de nove formações discursivas que caracterizam a seleção das cartas do quadro “Abrindo o Coração”. Dissertamos acerca das principais formações discursivas que dessem conta de analisar a presença de elementos que justificassem a hipótese de que o discurso religioso midiático pentecostal caracteriza-se como conservador e patriarcal.

O referencial teórico do primeiro capítulo contou com autores importantes nessa linha de pesquisa dos processos comunicacionais, como: Joan Scott (1989), cujo trabalho, inicialmente dedicado à história francesa, foi direcionado na década de 1980 para a história das mulheres a partir da perspectiva de gênero. Entre suas publicações mais notáveis está o artigo “Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Este artigo foi essencial na formação

de um campo de história de gênero dentro dos estudos históricos anglo-americanos. Eni de Mesquita Samara (1997), historiadora e professora da USP, também considerada pioneira nesta abordagem, pesquisou muito sobre a história das mulheres e da família. Uma fala que a marcou na sua promissora carreira: “Ser feminista é fazer a história das mulheres comprometida com as questões voltadas para as suas políticas. Então, acho que uma professora, que está na universidade, que trabalha com um tema como o da história das mulheres e das famílias, não pode deixar de ser feminista. Ela tem que estar, na verdade, compromissada com as políticas voltadas para as mulheres, com as questões relativas às mulheres. Isso é ser feminista” (SAMARA, 2011, ON-LINE). Bem como, historiadoras como Andréa Lisly Gonçalves (2006) que também trabalhou gênero como categoria analítica, enfatizando a abordagem de caráter estritamente relacional das construções sociais do feminino e do masculino ao longo dos processos históricos, no intuito de que fosse superada a ideia de uma suposta "condição feminina". Relacionamos a temática de gênero à ênfase desta pesquisa - a comunicação - e, particularmente, a comunicação midiática, e destacamos a sua conexão com a abordagem das culturas. Sobre gênero e mídia, os Estudos Culturais foram pioneiros nas pesquisas, em especial no campo dos estudos feministas, investigando a relação entre cultura contemporânea e sociedade, suas instituições, práticas e mudanças sociais; concluímos que as pesquisas que cruzam comunicação/gênero/mídia mostraram que este é um campo fértil de estudos, sobretudo no contexto atual.

Quando tratamos da categoria gênero relacionada às igrejas, entendemos que ainda há muitos relacionamentos baseados em mandos e desmandos, naturalmente aceitos e justificados, como nos comprova o enunciado “[...] Paulo disse que as mulheres mais velhas, deveriam ensinar as mais novas a amar seus maridos [...]” (anexo I); “[...] É preferível até deixar o emprego, arranjar um outro que ganhe até menos, mas que não destrua a sua felicidade. Marido e mulher têm que ficar juntos [...]” (Cf. Anexo II). A história nos prova que as religiões não têm protagonizado mudanças sociais no que tange à subordinação das mulheres, o que se vê, é o poder de intervenção que as igrejas têm no seio familiar e, consequentemente, na vida da mulher, que é o tempo todo ensinada a ser “boa mãe” e “esposa zelosa”.

Estas leituras e reflexões nos levaram à conclusão de que a inclusão da categoria gênero enquanto categoria analítica colaborou e continua colaborando para se repensar o domínio da religião sobre a sociedade, e mais especificamente, sobre a mulher, identificando que a religião sempre foi reconhecida como fonte de poder sobre homens e mulheres.

O segundo capítulo compreendeu que a história da evolução da mídia - no Brasil e no mundo - está intimamente ligada à história e à evolução do comportamento humano, que possui o anseio inerente de se comunicar, de construir sua identidade na relação com o outro. A mídia atravessou vários estágios de desenvolvimento e contribuiu de maneira fundamental para as mudanças na nossa sociedade, tanto na esfera pública, como na cultura do povo, incluindo a religião; com a história dos evangélicos não foi diferente, também esteve ligada às novas tecnologias de informação e comunicação. As estratégias para se ganhar novos adeptos fizeram com que a circulação massiva de textos impressos fosse um dos fatores que mais contribuíram para as grandes mudanças políticas e sociais.

Ademais, o processo de crescimento da presença dos evangélicos nas mídias se deu da seguinte forma: em um primeiro momento foi utilizado o evangelismo por meio de literatura, de reuniões ao ar livre, para tornar o evangelho acessível; no segundo, utilizou-se dos métodos anteriores, mas com o acréscimo dos rádios; agora numa fase mais promissora, encontramos todos estes veículos juntos e também a ajuda agressiva da televisão.

A expansão das igrejas envolve um alto investimento midiático e construção de megatemplos, bem como o uso intensivo das mídias; por isso, as igrejas pentecostais possuem hoje a maior visibilidade. Os donos de redes de TV e rádio 100% religiosos são pentecostais e a maior parte dos que mais pagam espaço na grade das emissoras de alcance nacional são pentecostais. Uma das igrejas com maior destaque é justamente a IIGD – Igreja Internacional da Graça de Deus - porque se apropria do espaço midiático como forma de disseminar suas doutrinas.

Por ser um tema em estado de transformação, vivendo uma espécie de metamorfose, o campo religioso tem sido recentemente objeto de vários estudos e pesquisas. Com o aporte teórico de pesquisadores como Leonildo Campos (1996) que analisou a origem e o desenvolvimento de um empreendimento religioso que se utilizou de estratégias de marketing e comunicação de massa e Ricardo Mariano (1995) que enfatizou as mudanças que o próprio pentecostalismo tem experimentado, entendemos o processo histórico e as principais características daquilo que hoje são consideradas igrejas eletrônicas. Diante dessas transformações, encontramos na pós-modernidade um discurso religioso adaptado para um discurso mais midiático, com mais visualidade, mais coloquialidade e menos aprofundamento.

No terceiro e último capítulo, relacionamos a parte teórica com os discursos e as diferentes vozes presentes nas cartas enviadas para o quadro “Abrindo o Coração”, do Programa Show da Fé, veiculado pela IIGD em rede nacional, e chegamos às seguintes

considerações (lembrando que foram selecionadas: seis cartas para a temática do casamento, três para questões relacionadas aos filhos, duas para saúde e uma para a vida financeira, seguindo a hierarquia apresentada na seleção das cartas, conforme capítulo três):

1. Quanto às formações discursivas relacionadas à mulher x casamento, fizemos alguns apontamentos: como se preservar em um casamento na esperança de uma transformação divina? Esta é a pergunta chave, é isso que as mulheres desejam saber. Mulher cristã, que mulher é essa? Como ela se reconhece? Essas mulheres se mostraram pessoas inseguras e abnegadas, incapazes de tomar decisões que as coloquem fora dos padrões impostos pela sociedade, o que transita nas formações ideológicas presentes nos discursos de escolas e nas igrejas. Vão sem consciência (porque não se reconhecem em outro lugar) colocando-se limites, controles e aceitações, carregando o fardo de uma vida com base na resignação e na impotência. 2. As remetentes de cartas ao Programa Show da Fé identificam-se como possuidoras do comportamento que toda mulher cristã deve ter e se culpam por não darem certo: “[...] Não entendo por que ele desconfia tanto do meu caráter sincero de esposa” (Anexo III). A autopunição é algo recorrente, elas não se reconhecem como alguém livre, com poder de tomar suas próprias decisões, de assumirem o seu lugar no mundo, mesmo que isso traga dores e mudanças em seu estilo de vida. Temem por suas escolhas e nas primeiras crises, sentem-se como se Deus as tivesse castigando: “[...] O senhor acha que Deus está me punindo por que eu não fui fiel?” (Anexo I). E isso por quê? Porque o tempo todo são doutrinadas a acreditar que se não seguirem a “vontade de Deus” serão punidas: “[...] Separação segundo a Bíblia, só pode haver em caso de adultério. E coitado do responsável pelo adultério. Essa pessoa vai pagar caro, por não ter mantido o voto” (R. R, Soares, Anexo I). As que se aventuram por uma vida mais independente precisam saber que esta decisão terá um preço, que é nada mais nada menos do que a felicidade. Conviver com este conflito, certamente, levará a mulher a precisar de um especialista, que posssa sarar a sua depressão, conforme pudemos observar pelos dados trazidos no Capítulo 3, em que muitas mulheres estão sofrendo dessa doença pela sobrecarga no trabalho, tentando de todas as formas fazer tudo, caso contrário “[...] é preferível até deixar o emprego, arranjar um outro que ganhe até menos, mas que não destrua a sua felicidade” (R. R. Soares, Anexo II).

3. Nas situações de violência, sejam elas simbólicas ou físicas, notamos um silenciamento por parte do enunciador que deixou evidente que estas questões não

devem vir à tona, ou que devem ser tratadas com o comportamento que se espera de uma mulher virtuosa: “[...] e quando for provocada não revide” (R. R. Soares, Anexo IV). Aqui tornamos provadas as palavras de Souza (2009) de que a religião é, sim, um sistema de sentidos que dá significado aos sujeitos que compartilham deste sistema. Estas são algumas tentativas de respostas às questões acima mencionadas; dessa maneira, concluimos que preservar-se em um casamento falido é um “desafio de fé”, é abster-se de suas vontades, aceitar com resignação o seu papel de mãe e esposa, de mulher virtuosa que sabe, ou deveria saber, o seu lugar: “far-lhe-ei uma auxiliadora que lhe seja idônea” (GÊNESIS 2.8), “mulher seja submissa ao seu próprio marido” (EFÉSIOS 5.22). O discurso religioso acentua a representação da mulher como sofredora e submissa e cria a identidade da mulher cristã, dando ao sujeito- representante de Deus - o missionário - a possibilidade de instaurar formas de controle e de manipulação.

4. Quanto às formações discursivas relacionadas aos filhos concluímos que a representação social da mãe perfeita, carinhosa e generosa ensina que o amor de mãe é, de fato, algo inato, e esta representação é reforçada no campo religioso quando perpetua o discurso que a mulher deve ser boa mãe e boa dona de casa, exemplo da mulher cristã. As desigualdades de gênero se mostram de forma clara se observarmos a maneira como muitas mulheres vivenciam a maternidade, culpando-se por não passarem tempo “suficiente” com seus filhos, culpa esta que acarreta outros problemas relacionados à sua própria individualidade e identidade. Muitas mulheres vivem em dedicação absoluta aos filhos, porque o fantasma da mãe ideal as persegue, e esta situação pode gerar não só a rejeição dos próprios filhos, como também, um esgotamento físico e psicológico. Pelas análises percebemos que a mãe é a principal responsável pela vida e pela salvação de seus filhos; esta mulher deve, inclusive, saber orar, pois pedindo com entendimento Deus ouvirá: “[...] procure saber como é que Deus salva a família” (R. R. Soares, Anexo VII), mostrando que o que move o fiel para a salvação é a fé que é condição primeira para alcançar o que foi prometido por Deus e ratificado pelos seus porta-vozes aqui na Terra.

5. As mulheres assumem o papel de vítimas diante de situações que não dependem delas resolverem, como a decisão por seguir ou não determinada religião, pela cura de uma doença grave, ou porque sufocaram tanto o filho que hoje se sentem repudiadas por eles, na convicção de que eles devem reconhecer o amor incondicional e inato a eles dispensado: “[...] Missionário, eu não mereço todas as ofensas que o meu filho me

fez, é muito triste para uma mãe passar por isso” (Anexo IX). Essas são algumas estratégias apontadas como forma de expulsar de si o peso que carregam por não terem sido exemplares neste papel (de mãe) que lhes dá algum poder, lembrando as palavras de Scott (1989, p.11): “[...] as mulheres não podem mais ser vistas como vítimas ou abnegadas à sua condição de sujeito em favor das relações de poder”. 6. A sociedade, por fim, investe muito na naturalização deste processo, fazendo com que a mulher se sinta privilegiada, decorrente da sua capacidade de ser mãe; assim, é natural que a mulher se dedique aos filhos, como é natural a sua capacidade de conceber e dar à luz. De uma forma ou de outra, a mulher se reconhece responsável pela educação e felicidade de seus filhos, por isso, estas cartas mostram que a distância é imensa entre o ideal descrito e sonhado da mãe exemplar e aquilo que as mulheres que aparecem na cena enunciativa são capazes de oferecer.

7. Quanto às formações discursivas relacionadas à saúde, identificamos que se relacionam as práticas ligadas à cura divina muito frequentes nos cultos da IIGD, já que o missionário R. R. Soares é adepto desta teologia. O discurso recorrente ensina que a aceitação da doença é falta de fé, e de acreditar que Deus é capaz de curar e libertar de todo mal. Por meio da análise de duas cartas, consideramos que a natureza do problema destas mulheres não está na invalidez ou na perda da mãe que ocasionou a depressão, mas sim na falta de objetivos de quem se sente em desvantagem: se rebelar contra o que lhe parece responsável por sua situação, afinal, entender o que Deus quer para ela é a cura, e essa cura pode não ser física, mas espiritual: “[...] Quando a pessoa vai pra Palavra e aprende o que Deus quer para ela, essa pessoa é muito abençoada” (R. R. Soares, Anexo X). Neste processo de aceitação e cura, muitas mulheres buscam ajuda de analistas, sendo necessária muita força de vontade para romper com este sentimento de autocomiseração pela condição em que se encontram.

8. O discurso apresenta uma sequência de palavras de incentivo e motivação, pois não há nada, racionalmente falando, que o porta-voz de Deus possa fazer em casos de doença, sejam elas irreversíveis ou doenças emocionais, a não ser motivar a pessoa a sair do seu lugar de vítima e ser, pela fé, transportada a um lugar de vitória, de saúde. A mulher emocionalmente atormentada pelos problemas se sente encorajada e muito disposta para por em prática as doutrinas pregadas pelo enunciador. Estas práticas discursivas tão frequentemente utilizadas nos cultos da IIGD ganharam uma dimensão

tão grande, que hoje as igrejas estão lotadas de pessoas que buscam principalmente a cura para doenças físicas e emocionais.

9. Quanto às formações discursivas relacionadas à vida financeira, estas dizem respeito à mulher que se coloca como vítima de uma situação da qual ela não foi responsável. Conclusões como esta só foram possíveis quando analisamos o cerne do problema, seja qual: o falecimento do pai e a venda do comércio que sustentava a família. Mais uma vez confirmamos que a mulher, quando não está sob os cuidados do marido, está sob os cuidados do pai e, na ausência dele, a família, incluindo a mãe não sabe o que fazer. Comportamentos aprendidos e transferidos de geração em geração podem causar um mal muito grande na vida das pessoas, e isso inclui também a culpabilização por questões externas, seja obra do sobrenatural (ou "de feitiçaria", como comumente avaliado nos ambientes pentecostais) ou problemas na infância, que não tiveram, neste caso, uma explicação: “[...] desde a infância, minha vida foi muito difícil, porque minha família foi vítima de obra de feitiçaria” (Anexo XII). O que há de concreto, neste caso, é uma situação de insatisfação pessoal e financeira que recai sobre a vida de uma mulher que se vê sem a figura paterna para cuidar dela, há sempre que existir um protetor, alguém que defenda, proteja, quiça sustente, a fim de que essa vida encontre um sentido para existir.

10. Desta forma, concluímos que o medo inconsciente do fracasso introjetado na vida dessas mulheres reduz suas aspirações e diminui seu ímpeto de realizar coisas, isso porque nossa sociedade ainda valoriza a mulher mãe/esposa/dona-de-casa. Nessa direção, todas as cartas, independente do conteúdo, tratam de mulheres que carregam no seu consciente o imaginário religioso, marcado pela submissão e renúncia à sua condição de mulher, sendo ela mais esposa+mãe+dona de casa+serva fiel. No caso estudado o Programa Show da Fé não só reafirma este imaginário como ajuda mantê- lo por meio das palavras de aconselhamento da autoridade religiosa, o missionário líder da IIGD R. R. Soares

Neste trabalho teórico-empírico sobre a representação da mulher cristã nas mídias, muitas outras questões poderiam ter sido levantadas, afinal, estamos falando de um ser de muitas faces, muitas vontades, desejos, sonhos e necessidades. Pensar o discurso religioso midiático com ênfase no lugar que a mulher ocupa na vida cristã nos apontou muitos desafios para a reflexão e futuras pesquisas, a saber:

(1) perceber que a maneira como a pessoa se reconhece, faz toda a diferença nas suas atitudes e decisões, ou seja, reconhecendo-se fracas e doentes, condicionadas a uma vida de miséria e violência, se perpetua tanto uma relação de dependência com o outro (sendo esta figura o pai, o marido ou o próprio filho) quanto a falta de motivação pela vida.

(2) As igrejas evangélicas criaram um espaço muito importante para estas mulheres que realizam o processo de adesão, permitindo que elas se sintam acolhidas e amadas por compartilharem das mesmas dores e angústias, ensinando aos homens que eles não podem viver como desejam, pois estes também devem seguir os ensinamentos religiosos e andar corretamente.

(3) as igrejas midiáticas estão mais interessadas no mercado, trabalhando de forma pesada para que seus produtos sejam vendidos, e isso inclui os sermões e as pregações, considerando-se o contexto atual, marcado pela liquidez das relações e das identidades, numa sociedade altamente consumista (inclusive no contexto religioso), a tendência à espetacularização da vida, dos milagres e da fé. Os movimentos atuais – no caso o da IIGD - além de diminuírem e estereotiparem a imagem da mulher constroem uma forma de “ver

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