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Updating the approach to the mediatization of info-communicational actions

2. Considerações preliminares

Para muitos, autores como atores sociais, o proces- so de mediatização tem estado, há muito tempo, no cen- tro das interrogações sem que se tenha, no entanto, uma definição precisa nem mesmo quanto ao seu uso. Quando aproximamos o olhar desse processo, percebemos sen- tidos desconexos e justapostos: esperanças, assim como medos, dúvidas, utopias e promessas (por exemplo, as mudanças radicais, de natureza antropológica, das moda- lidades de comunicação e a passagem da palavra escrita à do cálculo); advertências e apreciações depreciativas (devido ao reino da velocidade, da fragmentação e da es- petacularização do pensamento, e agora cada vez mais a facilidade na difusão de rumores, notícias falsas, etc.); jul- gamentos morais (visando, por exemplo, às possibilidades de abertura ao mundo deixadas para as crianças); preven- ções relacionadas à técnica e seus males reais ou supostos e, paradoxalmente, as previsões sobre as vantagens tecno- lógicas (principalmente aquelas que põem em evidência todas as facetas possíveis da interatividade e criatividade multimídia); assim como dúvidas sobre as superioridades dos dispositivos técnicos e suas pretensões quanto à subs- tituição daqueles ainda disponíveis, tais como os meios de comunicação de massa.

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e o que se diz e o que se pensa: onde está a midiatização?

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Sobre os temas aqui lembrados, poderíamos ques- tionar um por um os discursos proferidos e as concepções expressas, e nada indica que isso teria um fim, por cau- sa da imposição dos interesses de todo tipo que estão em jogo e estão se tornando cada vez mais importantes – não apenas nos países avançados –, tanto socioculturais quan- to políticos ou econômicos. E tudo acontece como se as principais tendências da esfera da Informação-Comunica- ção sempre nos trouxessem de volta à questão da mediati- zação, que constituiria um processo central.

Como é previsível, essa superabundância de ques- tões relativas à mediatização não facilitou a formulação de raciocínios bem argumentados e pertinentes; na maio- ria das vezes, procedemos por oposições: antes/depois, tradicional/moderno, material/imaterial, real/virtual, analógico/digital, presente/à distância, direcionado/in- terativo, monomidiático/multimídia, molar/molecular, centralizado/descentralizado, concentrado/compartilha- do, oligopolista/distribuído, etc. E essas oposições per- sistem, mesmo quando as estratégias de mediatização se espalham e se diversificam, e mesmo se dúvidas apare- cem, cada vez mais, quanto à possibilidade de uma ver- dadeira substituição do modo de comunicação que nós conhecemos há vários milênios por um novo modo. É por isso que, contrariamente às visões substitutivas ou substi- tuintes que são o fundamento das oposições precedentes, podemos nos perguntar se a perspectiva mais verosímil não é aquela da junção de novas modalidades direciona- das para a mediatização a um modo de comunicação que é essencialmente mantido (para além da diversidade das formas nas quais ele se revela para nós, através do plane- ta). A partir de então, a perspectiva seria societal1 e histó-

rica e não mais antropológico-cultural; ela destacaria as continuidades, complementações e miscigenação, e não

1 Para uma distinção entre os termos “societal” e “social”, ver: MIEGE, Bernard. L’espace public contemporain. Grenoble: PUG, 2010.

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exclusivamente rupturas e mutações radicais; mais preci- samente, ela tentaria distinguir entre o que diz respeito à ordem histórica, mesmo que essa distinção se inscreva em um longo prazo, e a uma ordem trans-histórica que ainda precisa ser esclarecida. Essa heurística, deve-se dizer, não está fechada, precisa ser completada; mas sua vantagem se- ria encorajar observadores, especialistas e pesquisadores a distinguir claramente os horizontes e a situar as questões. E convém acrescentar, sem a possibilidade de discutir isso aqui, que essa perspectiva é fundamentalmente diferente da visão desencantada de um filósofo da técnica como Ber- nard Stiegler, para quem a inovação, levando à conexão ge- neralizada, opõe-se à civilização (STIEGLER, 2016), assim como, em um sentido diferente, às consequências da ins- tabilidade do conceito de Natureza na era do Antropoceno, conforme anunciada pelo sociólogo Bruno Latour.

Trata-se, portanto, de uma operação de reenqua- dramento que pretendemos abordar antes de tratar do processo de mediatização em si e de sua atualidade; caso contrário, a abordagem desse processo ficaria contami- nada por toda uma série de confusões, que estão relacio- nadas não apenas às projeções criadas pelo imaginário técnico aplicado à comunicação (como descrito acima), mas também à pluralidade pouco clara dos tratamentos “acadêmicos”, que também contribui para embaralhar as percepções: mistura dos níveis micro e macro, modalida- des mediadas e não mediadas, ou do que está relacionado com o social e o linguístico.

Ainda assim, devemos concordar sobre o significa- do a ser atrelado ao termo mediatização. Em um primeiro sentido, a mediatização opõe-se à mediação e visa identifi- car os fenômenos mediados por intermédio não de nume- rosas instâncias de mediação social, mas por meio das mí- dias, no sentido específico do conceito, ou cada vez mais por meio das Tic, formando uma categoria indevidamen- te chamada não mídias. Em um segundo sentido, o que é

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levado em conta é a ação de mediatização de conteúdo, isto é, o fato de que conteúdos (por exemplo, cursos su- periores, ofertas culturais ou informações esportivas) são colocados on-line ou inscritos em suportes, geralmente depois da intervenção de especialistas (designers, direto- res multimídia, etc.); e, ao contrário de uma representação comum do pensamento oriundo da informática, a media- tização não tem nada a ver com uma transposição ligada ao uso de ferramentas e softwares agora disponíveis. Em um terceiro sentido, tentamos levar em conta tudo o que, nas relações interindividuais e até intergrupais ou inte- rorganizacionais, ocorre quando uma Tic, ou melhor, um dispositivo sociotécnico intervém entre eu e eu, eu e nós, nós e nós mesmos; a abordagem aqui é acima de tudo psi- cossociológica ou microssociológica e procura identificar as mudanças nos atos de comunicação em si, quer eles se apoiem ou não na linguagem. Em um quarto sentido, o que estamos tentando avaliar é a importância da infor- mação difundida e compartilhada (quantitativa e qualita- tivamente); a mediatização se refere aqui ao fenômeno da informacionalização, para o qual já chamamos atenção em diversas ocasiões, mas com a preocupação de entender a recepção e a relação com os receptores.

Essa pluralidade semântica é objeto de confusões e más interpretações permanentes, e seus diferentes signi- ficados dificilmente são percebidos com clareza; mas essa pluralidade deve ser interpretada também como indica- dora da riqueza de um processo que, embora longe de ser o único a intervir no desenvolvimento das Tic, predomi- nantemente digital na atualidade, continua sendo o pro- cesso central.

Por fim, se não levarmos em consideração o pro- cesso de mediatização e seu desenvolvimento gradual na maioria das sociedades modernas como um processo in- timamente ligado à questão do espaço público, político e societal, deixamos de perceber o quanto esses fenômenos

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mantêm relações de proximidade, na medida em que as sociedades marcadas por uma fragmentação e diversifica- ção do seu espaço público são, geralmente, aquelas em que a mediatização é a mais avançada e a mais complexa. Mas, por um lado, uma mediatização avançada da comunicação não contribui necessariamente para o fomento de debates e discussões públicas (este é particularmente o caso das sociedades autoritárias em desenvolvimento). Por outro lado, os dois processos devem ser distinguidos porque, dentro da esfera da informação-comunicação, eles não possuem as mesmas finalidades e as práticas sociais rela- cionadas a eles não podem ser colocadas no mesmo nível.

3. Concordâncias e divergências nas