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Barra da Tijuca, 1969.

4.3.6. Considerações sobre o atual processo de expansão da Barra da Tijuca

Os fins dos anos 80 e toda a década em curso vêm demonstrando que os impasses presentes no processo de urbanização da Barra da Tijuca estão longe de ser resolvidos. Ao contrário, o recrudescimento da ocupação da Barra vem, dia-a-dia, pondo a nu as contradições relacionadas à gestão do local. Cada vez mais, a região contrapõe-se ao protótipo vislumbrado, em fins dos anos 60, por Lúcio Costa.

O Grande Capital Imobiliário parece dominar na área, conforme demonstra a figura 68, construindo condomínios e shopping centers.

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Estado, ainda que com maior

"moderação" que em décadas

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Figura 73 - M?tpa com a distribuição da produção empresarial de unidades

residenciais, por tipo de incorporadores, nos bairros do município do Rio de

Janeiro (1990/1998). Fonte: [Ribeiro, em Segregação, Desigualdade e

O caso das Subzonas A-2 e A-1 8 da Barra da Tijuca no Período de 1 960 a 2004.

passadas, continua investindo vultuosas quantias em obras de urbanização, só em termos de rodovias,

pode mencionar a duplicação da Avenida das Américas, Ayrton Senna, Scrnambetiba, sem falar na

recente construção da Linha Amarela, ligando a Barra a Zona Norte.

Em relação às obras supramencionadas, valem algumas considerações. A urbanização da Semambetiba, expandida recentemente até o Recreio (2003), fere, "mortalmente", o disposto no plano piloto pensado por Lúcio Costa. Sua duplicação, seus calçadões e traillers a tornam muito mais próxima do que, em fins dos anos 60 se queria evitar (a Barra como uma nova Copacabana) que de uma estrada rústica, integrada à paisagem natural proposta pelo urbanista.

A Avenida das Américas, embora iniciando na Barra e ultrapassando a Grota Funda, seguindo em

direção a outros bairros da Zona Oeste (Guaratiba, Campo Grande, Santa Cruz) só mereceu devida

"atenção" do governo até o limite com o Recreio, até o momento. Embora haja discussões quanto à construção de um túnel que realizaria essa ligação.

A construção da Linha amarela, sem dúvida, a maior obra pública do Rio já empreendida desde que o

sistema de água da cidade foi expandido há 30 anos, vista do alto, domina a cidade, uma via expressa

com seis pistas que liga o sudoeste desta metrópole congestionada à zona norte e ao aeroporto internacional. Essa construção, que foi inaugurada em outubro de 1997, ao tentar encurtar distância

entre dois lados, da cidade (sem dúvida, marcados por visíveis contrastes) acabou por dividir os

moradores da Barra, um grande número deles sentindo-se "invadidos em seu território" em razão de tal obra ter, para além de facilitar seu deslocamento pela cidade, favorecido o acesso de "suburbanos"

às praias da região e distendendo a tão desejada assepsia por parte dos grupos privilegiados.

A Barra vem, cada vez mais, tentando afirmar sua face exclusivista, com a ampliação do número de

condomínios e shopping centers e, mais recentemente, de seus inúmeros centros empresariais. Parece

que a "Previsão de Costa" de que o bairro poderia vir a se constituir num novo núcleo urbano de Costa começa a se concretizar. Empresários, profissionais liberais moradores ou não do local vêm

investindo em negócios na região, o que atrai consumidores e usuários de serviços os mais diversos

de várias partes da cidade, demandando, também, maior número de mão de obra.

Os grandes shoppings centers ( como o Barra Shopping, o maior da América Latina), para além de

"templos de consumo", tomaram-se referências de lazer e outros serviços para a população em geral,

embora entre os moradores da Barra, sejam vistos como a extensão de seus condomínios.

A vivência condominial, agora também desejada por setores menos privilegiados da população do

Rio de Janeiro (classe média baixa, sobretudo) suscita uma prática curiosa: empreendedores

imobiliários, ancorados neste anseio pela exclusividade observado entre este segmento, vêm construindo condomínios de menor custo em áreas situadas na periferia da Barra, ou mesmo na

Baixada de Jacarepaguá, anunciando-os, contudo, como que localizados naquele Bairro. Ainda que,

objetivamente, os limites entre os bairros estejam bem demarcados, ao nível do imaginário poderíamos supor que está em processo de construção uma "Nova Barra", conforme o nome desses

A influência da evolução dos Códigos Edilícios na qualidade ambiental dos projetos residenciais multifamiliares:

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O caso das Subzonas A-2 e A-1 8 da Barra da Tijuca no Período de 1 960 a 2004.

para viabilizar sua venda comprometendo as questões de Conforto Ambiental dos mesmos, ver capítulos 5 e 6.

Finalizando a análise, em 2004 apesar das profundas modificações do plano piloto original, mesmo

tendo uma arquitetura característica que a assemelha mais à cidade de Miami, nos Estados Unidos do

que ao restante do Rio de Janeiro, com shopping centers que são verdadeiras "catedrais de consumo", ainda é impressionante o crescimento da Região.

As maiores taxas demográficas da Cidade estão na Barra, que apresenta ainda os menores

adensamentos, e se comparado aos demais bairros destinados à classe média e alta da cidade, ainda

possui bons padrões de ocupação e excelente qualidade de vida, apesar do trânsito cada vez mais problemático e da crescente poluição de suas lagoas e praias, por falta de um eficiente sistema de

saneamento básico. O encontro entre uma zona até recentemente rural e a pujança urbana moderna

resultou num espaço bastante diversificado socialmente, com interações entre forças do Estado, o mercado capitalista, os setores de comércio e serviços e uma população bastante heterogênea;

formada por diversos grupos sociais emergentes, estabelecidos seja de modo formal ou

informalmente. Em suma, a Região Barra da Tijuca é hoje um espaço dinâmico e mutante, um paradigma de desenvolvimento intrigante e discutível e, por isso mesmo, constitui um fenômeno

novo na Cidade.

Manter essa posição privilegiada, ou quem sabe até mesmo melhorar as características da mesma

através da inserção de novos índices restritivos adicionados ao Código de Obras Municipal,

relacionados ao Conforto Ambiental das unidades residenciais multifamiliares, não permitindo que uma região tão estudada, comentada, e até mesmo discutida nos diversos meios acadêmicos e

coletivos da população, se transforme em mais um "desastre" de qualidade de vida como ocorreram

em outros bairros da zona sul também valorizado pela classe médio-alta da população, com posição geografia privilegiada e litorânea é um dos objetivos desse estudo. Uma vez que essa, ou seja, a Barra

da Tijuca, ainda dispõe de inúmeras áreas de construção livres.

4.4.ASPECTOS FÍSICOS DA BARRA DA TIJUCA