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Lucas (1977) define o fenômeno do ciclo econômico como as flutuações recorrentes da produção, revelando uma tendência, e os comovimentos verificados em outras séries temporais agregadas. Flutuações são, por definição, desvios verificados em uma trilha que costuma variar lentamente no tempo. Como a variação dessa trilha revela-se repetitiva ao longo de períodos específicos, costuma-se dar a ela o nome de “tendência”. A tendência não é uma medida nem uma estimativa da média incondicional de algum processo estocástico (aleatório). Ela é definida como um procedimento computacional utilizado para traçar uma curva fina através dos dados.

Para Schumpeter (1939), uma série exibirá uma tendência se for possível dividir o intervalo de tempo completo coberto pela série em subintervalos, de tal forma que os valores médios das partes importantes desse período de tempo, durante esses subintervalos, aumentem ou diminuam monotonicamente em função do tempo ou então apresentem uma repetição dos mesmos valores uma única vez.

Uma definição clássica para o termo “ciclo econômico” foi apresentada por Burns e Mitchell (1946):

“Business cycles are a type of fluctuation found in the aggregate economic activity of nations that organize their work mainly in business enterprises: a cycle consists of expansions occurring at about the same time in many economic activities, followed by similarly general recessions, contractions, and revivals which merge into the expansion phase of the next cycle; in duration, business cycles vary from more than one year to ten or twelve years; they are not divisible into shorter cycles of similar characteristics with amplitudes approximating their own.”3

Desses conceitos, conclui-se que o termo ciclo econômico, também conhecido por ciclo de negócios, diz respeito a flutuações econômicas em sentido amplo, originárias de variações ocorridas na produção ou na atividade econômica durante vários meses ou anos. Essas flutuações ocorrem em torno de uma tendência de crescimento de longo prazo e envolvem basicamente movimentos entre períodos de crescimento econômico relativamente rápido (períodos de expansão ou explosão) e períodos de relativa estagnação ou declínio (períodos de contração ou recessão).

Essas flutuações são geralmente mensuradas através da taxa de crescimento do produto interno bruto (PIB). O problema é que a maioria das flutuações verificadas na atividade econômica não segue um padrão previsível, sendo difícil também a definição do período de duração dos ciclos econômicos.

Stock e Watson (1999) enfatizam que as duas principais questões empíricas envolvendo os ciclos econômicos estão relacionadas à identificação dos ciclos

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Ciclos econômicos são espécies de flutuações verificadas na atividade econômica agregada de nações que organizam seu trabalho principalmente por meio de atividades empresariais: um ciclo consiste de expansões verificadas praticamente ao mesmo tempo em várias atividades econômicas, seguidas por recessões, contrações e revigoramentos de caráter também geral, que se mesclam à fase de expansão do próximo ciclo; em termos de duração, os ciclos econômicos variam de períodos superiores a 1 ano até dez ou doze anos; eles não são divisíveis em ciclos mais curtos de características similares com amplitudes aproximando-se das suas próprias. Tradução livre do autor.

econômicos históricos e à mensuração do comovimento de uma série temporal específica com o ciclo econômico agregado.

De acordo com Lima (2005), há duas correntes teóricas distintas que tratam da natureza dos ciclos econômicos: uma que acredita ser o processo econômico essencialmente não oscilatório e que as explicações para ciclos e flutuações devem ser creditadas às circunstâncias exógenas particulares que causam distúrbios no fluxo econômico; e outra que vê o processo econômico como algo essencialmente ondulatório, em que os ciclos são tidos como uma espécie de evolução natural da economia capitalista.

A primeira corrente está fundamentada nos modelos de propagação, em que cada ciclo é tido como único, tendo início no momento em que um estado de repouso sofre perturbações oriundas de choques exógenos. Para Schumpeter (1939), a perturbação exógena acontece a partir de uma inovação, que conceitualmente envolve uma expectativa incerta que impacta uma economia presumivelmente em estado de repouso ou de equilíbrio geral. Segundo o autor, qualquer perturbação é capaz de provocar oscilações. O ciclo econômico, portanto, estaria marcado pelo que se pode chamar de causação.

A segunda corrente defende que o estado normal da economia é esperar que, superada a fase de crise, cada ciclo venha a se renovar por meio de fases sucessivas de depressão, reanimação e auge, o que acabará provocando a crise seguinte, de onde se espera o início de um novo ciclo. Essa visão é representada por modelos conhecidos por acelerador/multiplicador, que consideram apenas os fatores reais como os elementos responsáveis pelas flutuações (entre eles a demanda agregada e a instabilidade dos investimentos privados).

Ainda segundo Lima (2005), existem alguns indicadores capazes de monitorar a atividade econômica. Esses indicadores são de três naturezas: os coincidentes, que se movem junto com a atividade econômica, podendo indicar em que fase do ciclo a economia se encontra (contração ou expansão); os antecedentes, que se movem antecipadamente às flutuações cíclicas, sinalizando em que fase a economia se encontrará daqui a um período de tempo; e os defasados, que se movimentam com certo atraso em relação ao ciclo.

Em razão da influência dos ciclos econômicos na contabilidade, Chari, Kehoe e McGrattan (2007) criaram um procedimento contábil a ser utilizado na macroeconomia para decompor as flutuações do ciclo econômico em fatores de contribuição. A premissa que norteia esse procedimento, denominado business cycle accounting, é que a economia apresenta uma trajetória de longo prazo que é afetada por vários atritos, que são forças originárias de variáveis como a produtividade (productivy wedge), o trabalho (labor wedge), o investimento (investment wedge) e o consumo do governo (government wedge). O business cycle accounting decompõe as flutuações verificadas nas variáveis macroeconômicas, como o PIB e o nível de emprego, em flutuações de cada uma dessas forças e suas combinações. Esse procedimento contábil já havia sido utilizado por vários países em diferentes períodos de tempo, tendo identificado, por exemplo, que a maioria das flutuações no PIB dos Estados Unidos após a Segunda Guerra Mundial pode ser creditada às flutuações ocorridas na produtividade e no nível de emprego.

Os ciclos econômicos podem apresentar quatro estágios distintos: os períodos de expansão ou explosão econômica, os períodos de desaceleração da economia, os períodos de recessão e os períodos de recuperação econômica.

Os períodos de expansão ou explosão (economic boom) representam a fase em que o PIB está crescendo fortemente, a uma velocidade bem mais rápida do que costuma apresentar a taxa de crescimento de longo prazo (sugere-se que a diferença entre a taxa de crescimento do PIB e a taxa de crescimento normal no longo prazo situe- se em torno de 2,5% ao ano). Em momentos de explosão econômica, tanto a produção como o emprego estão em processo de expansão e o nível de demanda agregada por bens e serviços é consideravelmente alto. Geralmente as empresas aproveitam a oportunidade de um boom para fazer crescer as vendas e aumentar as suas margens de lucro.

São características de um período de explosão econômica:

a) Forte e crescente nível de demanda agregada, geralmente conduzida pelo rápido crescimento do consumo;

b) Crescimento do nível de emprego e dos salários reais; c) Alta demanda por produtos e serviços importados;

e) Lucros e investimentos crescentes por parte das empresas; f) Taxas crescentes de utilização dos recursos existentes; e

g) Risco de inflação por superaquecimento da demanda ou pressão dos custos. Os períodos de desaceleração da economia ocorrem quando a taxa de crescimento desacelera, mas o PIB continua crescendo.

Os períodos de recessão econômica são caracterizados por uma queda no produto interno bruto, representando aqueles períodos em que a taxa de crescimento da economia é negativa. Essa queda do PIB tem por consequência a contração no nível de emprego, bem como na renda e no lucro dos agentes econômicos. A depressão econômica é uma recessão prolongada e profunda que provoca uma significativa queda na produção e nos padrões médios de qualidade de vida.

São características dos períodos de recessão econômica: a) Demanda agregada por produtos em fase declinante; b) Desemprego crescente;

c) Nível de confiança decrescente no desempenho das empresas; d) Lucros decrescentes das atividades econômicas;

e) Redução dos investimentos feitos pelas empresas;

f) Aumento dos níveis de estoques dos produtos e adoção de políticas pesadas de desconto;

g) Redução de pressões inflacionárias e queda da demanda por produtos importados;

h) Aumento da concessão de empréstimos por parte do Governo; e

i) Taxas de juros básicas da economia em níveis mais baixos por decisão dos bancos centrais.

Os períodos de recuperação econômica ocorrem quando o PIB começa a subir a partir do nível mais baixo alcançado na época da recessão. O ritmo da recuperação depende em parte da velocidade na qual a demanda agregada começa a crescer após a queda nos níveis de atividade econômica e da maneira como as empresas conseguem

acelerar o seu processo produtivo, de modo a repor os seus níveis de estoque em antecipação ao aumento que será observado na demanda.