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CAPÍTULO 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.4 Considerações sobre o tema Equilíbrio Químico

Dentre os diversos conteúdos químicos, o tema Equilíbrio Químico vem a ser um dos mais importantes para o desenvolvimento do conhecimento científico, uma vez que engloba uma grande quantidade de outros conceitos, além de possuir uma grande riqueza conceitual que possibilita a interação entre diversas áreas do conhecimento, assumindo assim um papel central, seja no âmbito disciplinar, seja no âmbito interdisciplinar, tornando-se um tema

fundamental na compreensão e interpretação de diversos fenômenos do mundo no qual estamos inseridos (Figura 2).

Figura 3: Mapa conceitual que evidencia as relações do tema EQ com os diversos conceitos químicos. (JÙNIOR, J. G. J. 2007, pg. 41)

Em função disto, o tema Equilíbrio Químico se apresenta como um dos temas mais complicados e difíceis de ensinar e aprender, sendo apontados por muitos professores como um dos mais problemáticos de se trabalhar na sala de aula (MASKILL e CACHAPUZ, 1989).

Portanto faz-se necessário trabalhar e usar da imaginação, para visualizar e interiorizar diferentes situações envolvendo a temática, a fim de que os professores possam promover situações que favoreçam uma aprendizagem significativa.

O tema Equilíbrio Químico engloba uma série de outros conceitos, como transformações químicas, reações, soluções, cinética, estequiometria, entre outros, como observado na figura 3. Essa quantidade de conceitos e consequentemente de suas inter- relações faz com que o tema equilíbrio químico se apresente mais complexo perante professores e estudantes. Segundo Lindauer (1962) o conceito de equilíbrio químico perante a ciência e a tecnologia tem papel fundamental no seu desenvolvimento, grande parte da evolução da ciência se deu graças às contribuições trazidas pela compreensão do tema e suas inúmeras relações e combinações. Daí a importância do tema na construção do conhecimento e sua evolução.

A compreensão de tal conceito é, portanto, complexa devido a sua dependência com outros conceitos, muitas vezes não compreendidos e incorporados pelo futuro professor. Diversas pesquisas têm sido realizadas com o objetivo de entender os problemas de aprendizagem desse conteúdo e propor estratégias que reduzam os problemas encontrados no e durante o processo de construção do conhecimento, criando alternativas que possibilite o professor auxiliar seus alunos na compreensão do conceito. As pesquisa realizadas por JOHNSTONE et al., (1977); FURIÓ, ORTIZ (1983) se preocupam em levantar os erros conceituais cometidos pelos estudantes durante a aprendizagem do conceito, outras já buscam explicar o porquê de se cometer esses erros como é o caso de HEIKKINEN (1990); BANERJEE (1991); GARNETT et al. (1995). Pesquisas realizadas nas duas últimas décadas (GARNETT et al., 1995; STAVRIDOU, SOLOMONIDOU, 1998) avalia que a falta de compreensão sobre a temática se deve ao alto nível de abstração que o conceito exige do aprendiz.

Pesquisas como as de Pereira (1989), Machado (1996), Milagres e Justi (2001) e Souza (2007) abordam o tema voltado para a promoção de estratégias ou o entendimento de algumas situações que geram dificuldades na aprendizagem do conceito de Equilíbrio Químico.

Pereira (1989) pontua alguns tópicos que dificultam a aprendizagem da Teoria de Equilíbrio Químico, são eles:

 Um sistema em equilíbrio é visto compartimentalizado, de um lado os reagentes e do outro os produtos;

 A linguagem trazida nos livros e utilizada em geral pelos professores apresenta expressões que podem se tornar um obstáculo na aprendizagem como: “em determinada situação, o equilíbrio se desloca para...”;

 Os resultados e a complexidade de fatores envolvidos em uma reação em EQ dificulta a interpretação do fenômeno;

 O uso excessivo da Matemática, com a utilização de fórmulas e equações, no lugar que deveria ser para o entendimento e compreensão do significado das variáveis, fenômenos e conceitos envolvidos;

 O uso de fórmula sem ter apresentado seu significado, ou seja, a discussão quantitativa se sobrepõe à qualitativa.

Por envolver diferentes conceitos como reações químicas, transformações químicas, cinética, é preciso levar em consideração alguns pontos. A abordagem dada à temática de Equilíbrio Químico nos livros didáticos dão ênfase aos aspectos quantitativos quando comparados aos aspectos qualitativos, proporcionando aos alunos um desenvolvimento cognitivo referente a cálculos e fórmulas, porém não ocorre o mesmo quando se trata dos aspectos microscópicos e de compreensão do sistema. Segundo Machado e Aragão (1996):

“a mera execução mecânica de cálculos, sem o estabelecimento de relação com os aspectos observáveis mensuráveis, bem como com aqueles aspectos relacionados aos modelos para a constituição das substâncias dificulta e, em alguns casos, pode impossibilitar a compreensão dos aspectos fundamentais do conhecimento sobre o estado de equilíbrio químico” (p. 18).

Para os autores (op. cit.) a excessiva prática de atividades envolvendo cálculos e fórmulas, pode vir a ser um obstáculo para a aprendizagem, devido a não importância dada à compreensão e ao significado do fenômeno e das fórmulas respectivamente.

Outro fator importante são as distorções conceituais que ocorrem por parte da maioria dos alunos, que estão relacionadas à maneira como se dá a organização dos conteúdos durante o processo de aprendizagem, bem como o papel do professor mediante este processo.

A organização das ideias favorece o desenvolvimento cognitivo, sendo que as estruturas formadas auxiliam na construção de modelos, possibilitando a construção e desenvolvimento de novos conhecimentos. Vale ressaltar que algumas das dificuldades de aprendizagem apresentadas pelos alunos são de responsabilidade somente dos aprendizes, sem qualquer relação com o como ensinar (MACHADO E ARAGÃO, 1996).

No processo de ensino e aprendizagem o professor é parte importante na construção do conhecimento, segundo Machado e Aragão (1996), os professores devem dar oportunidade para que os alunos possam expressar suas ideias e discutir sobre o assunto, a fim de criar hipóteses e chegarem a conclusões estando elas corretas ou não, mas para isto é preciso que professor esteja em constante reflexão sobre suas dificuldades e incertezas sobre um determinado conteúdo e sempre consciente do que se quer ensinar, a falta de clareza e objetivo pode ser um fator prejudicial ao processo de ensino e aprendizagem.

A seguir discutiremos algumas concepções alternativas encontradas nos alunos, bem como o conteúdo e a forma de ensino do tema EQ.