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CAPÍTULO 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.2 Modelos Mentais

Na teoria de modelos mentais proposta por Johnson-Laird, estudada e interpretada na visão de Moreira (1996), os indivíduos transformam as representações externas em representações internas e utilizam estas representações para raciocinar. A formulação moderna do conceito envolvendo os modelos mentais é creditada a Craik (1943), quando observa que a manipulação dos modelos mentais, as representações internas, resultam na tradução de símbolos uma espécie de avaliação das ações do mundo externo.

De acordo com MOREIRA, (1996) a mente humana é um sistema formado por símbolos, sendo mais importante a maneira como funciona do que o fundamento, definindo modelo como qualquer sistema físico ou químico com uma estrutura similar à do processo imitado, ou seja, um modelo de trabalho que funciona da mesma maneira que funciona o sistema que ele paraleliza. Modelo mental é a representação dinâmica ou simulação feita pelo mente humana das ações do mundo externo.

A definição de modelo mental como “formas de representação analógicas do conhecimento: existe uma correspondência direta entre entidades e relações presentes na estrutura dessa representação e as entidades e relações que se busca representar”. Em resumo os modelos mentais são análogos estruturais do mundo (MOREIRA, 1996; p. 196).

Quando se quer explicar algo, o indivíduo se utiliza de um esquema estrutural que lhe proporcione a compreensão de um determinado conceito ou situação, como se fosse uma espécie de roteiro, que será seguido no processo de construção do modelo mental, capaz de explicar o conceito ou uma situação. O entendimento depende de outros fatores, como a capacidade de cognição do indivíduo, o grau de conhecimento do indivíduo e a habilidade de compreensão.

Para Moreira (1996) esta compreensão está relacionada à existência de um “modelo de trabalho” que tem como objetivo predizer e/ou explicar fenômenos ou situações específicas. Criar um modelo mental para a compreensão de uma determinada situação é tentar saber como ele funciona, como é causado, o que resulta dessa situação, como fazer interferências.

Os modelos mentais são constituídos de elementos denominados por Moreira (1996) de “tokens” e pelas relações entre as representações internas do mundo externo, o que provoca a construção de modelos diferentes pelos indivíduos, muitas vezes descritos por meio de conceitos. É importante ressaltar que existem diferenças em modelos conceituais e modelos mentais, que será abordada posteriormente.

Segundo Moreira (1996) em na sua teoria de Modelos Mentais, Johnson-Laird ainda faz uma ressalva sobre as relações entre modelos e representações proposicionais que se faz importante neste contexto, visto a dificuldade em acessar, conhecer os modelos mentais e distingui-lo de outras formas de representação.

Para tanto, faz-se necessário observar três condições fundamentais para o reconhecimento de um modelo mental que segundo sua teoria, pode ser definido como uma representação do conhecimento. A primeira é quanto a sua estruturação que um modelo mental representa, ou seja, o modelo mental passa a ser um equivalente estrutural de uma determinada situação.

A segunda condição diz respeito à constituição de um modelo mental constituído de elementos que são ligados a imagens reais, compreensíveis ou abstrações da mente, que terão um significado específico de acordo com a manipulação do modelo mental feita pelo indivíduo. Já a terceira aborda as não variáveis dos modelos mentais, diferentemente dos outros tipos de representações que podem ser mudáveis, os modelos mentais não apresentam variantes, já que são individuais, ou seja, cada pessoa apresenta um modelo mentais para uma determinada situação, o que varia são os caminhos ou processos de construção desses modelos mentais.

A exata compreensão ou composição dos modelos mentais tornou-se uma das indagações das pesquisas dos últimos anos, Moreira (1996) aponta alguns princípios que estabelecem relações entre os modelos e sua origem. Estas relações existem pela dificuldade em conhecer ou compreender o processo de construção dos modelos mentais e como se diferenciam de outros tipos de representais mentais. Quando falamos em outros tipos de representações estamos nos referindo às representações por outros teóricos, como os subsunçores da Teoria de Aprendizagem Significativa de Ausubel, dos esquemas cognitivos de Piaget e os signos de Vygotsky.

Os princípios abordados por Johnson-Laird são:

I. O Princípio da computabilidade: os modelos mentais devem ser computáveis, ou seja, calculáveis ou contáveis, descritos sobre a forma de métodos eficazes sem a influência de decisões tendo por base a instituição.

II. O princípio da finitude: que propõe que o cérebro é uma entidade que tem fim, sendo os modelos mentais delimitados em termos de tamanho, não podem representar diretamente um campo infinito.

III. O princípio do construtivismo: com uma infinidade de representações mentais sobre diferentes estados de coisas, faz-se necessário criar um modelo que leve em conta os constituintes básicos comuns a todos os estados de coisa. Esses constituintes chamados por Johnson-Laird de “tokens” são organizados e combinados de forma a representar um estado de coisa, sendo esta a função principal dos modelos mentais que é representar uma situação ou fenômeno.

IV. O princípio da economia: um modelo mental é a representação de um estado de coisa específico, mesmo que este seja incompleto ou incoerente, apesar deste modelo mental ter sido criado para uma situação em específico, pode representar uma quantidade ilimitada de estado de coisas, uma vez que este é reprocessado mentalmente inúmeras vezes. Para Moreira (1996) é importante ponderar outro aspecto durante a construção do modelo mental que é o conceitual. O conteúdo conceitual é limitado e depende do grau de instrução e da cognição do indivíduo, essa limitação é explicada por outros princípios.

V. O princípio da não indeterminação: Este princípio trata da acomodação das indeterminações resultantes das representações dos modelos mentais não tratadas, quanto mais informações incoerentes e indeterminadas forem sendo acomodadas no cognitivo humano sem, contudo, haver um desenvolvimento ou potencialização do conhecimento, teremos como consequência dessas sucessivas acomodações intratáveis no cognitivo humano a fato dessa representações mentais deixarem de ser um modelo mental.

VI. O princípio da predicabilidade: um predicado pode ser aplicado a inúmeros termos, assim como um outro predicado também pode ser aplicado aos mesmos termos, entretanto a aplicação de diferentes predicados podem não servir para um mesmo termo. Johnson-Laird exemplifica este princípio utilizando os predicados “humano” e “animado”, que são aplicáveis a termos em comum, porém “humano” se aplica a termo que o predicado “aminado” não se aplica, “a virtude desse vínculo é que ele permite identificar um conceito artificial ou não natural. Um conceito que fosse definido por predicados que não tivessem nada em comum

violaria o vínculo da predicabilidade e não estaria, normalmente, representado em modelos mentais” (MOREIRA, 1999, p. 190).

VII. O princípio do inatismo: todos os conceitos primitivos que estão por trás da nossa experiência, das nossas habilidades cognitivas são inatos. Segundo Moreira (1999) o inatismo interfere na nossa forma de representar o mundo, a indefinibilidade, porém não necessária é suficientemente capaz de identificar os conceitos os conceitos primitivos.

Johnson-Laird (apud MOREIRA, 1999) apesar de propor o inatismo como um dos princípios que limitam os modelos mentais, não concorda que todos os conceitos sejam inativos, pelo contrário o autor (op. cit.) acredita na aprendizagem a partir de conceitos primitivos ou de conceitos antecipadamente contraídos, “além de primitivos conceituais inativos, admite também a existência de primitivos procedimentais, que são acionados automaticamente quando um indivíduo constrói um modelo mental” (Moreira, 1996, pg. 190).

Estes primitivos procedimentais não são adquiridos com a experiência, pois as representações mentais advindas dessas experiências requerem a capacidade por parte do indivíduo de construir modelos mentais da realidade a partir da percepção.

VIII. Princípio do número finito de primitivos conceituais: Segundo o autor existe uma quantidade específica de primitivos conceituais, esses primitivos dão origem a um grupo de correspondentes semânticos e outro grupo que são os conceitos, denominados pelo autor (op. cit.) de “operadores semânticos” que tem como função servir para a construção de conceitos mais complexos. Para Moreira (1999, p. 203) “um campo semântico se reflete no léxico por um grande número de palavras que compartilham no núcleo dos seus significados um conceito comum”.

IX. O princípio da identidade estrutural: este princípio aborda as estruturas que são formadas pelos modelos mentais, considerando que as mesmas são idênticas às estruturas dos estados de coisa. Segundo Moreira (1999) esse vínculo surge em decorrência das ideias de que as representações mentais devem ser econômicas, deste ponto de vista podemos concluir então que os modelos mentais, suas estruturas bem como suas relações devem ser simbólicos. Os modelos mentais podem ainda, ser formados a partir do discurso que descreve um fenômeno. Segundo Moreira (1996) se um modelo mental pode ser resultado de um discurso este pode ser incompleto, invariável e indeterminado, podendo representa diferentes estados de coisas, porém se o modelo mental for resultado do que percebemos este será uma entidade única que corresponde a um estado de coisa.