• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.3 Modelos mentais, proposições e imagens

As representações simbólicas citadas neste trabalho anteriormente são subdivididas em dois grupos: as do tipo analógicas e as do tipo proposicionais. Para Moreira (1996) existe ainda um terceiro construto representacional que são os modelos mentais que podem ser uma representação tanto analógica e proposicional ou somente analógica, distintas da imagem. A Psicologia Cognitiva entende que este último constructo, os modelos mentais, trabalha com um código específico como relatado anteriormente que são os “mentalês”. O autor ainda indica que os indivíduos pensam fazendo uso de modelos mentais, entendidos como representações de alto nível. Moreira (1996, p. 195) define os modelos mentais como sendo “blocos de construção cognitivos que podem ser combinados e recombinados conforme necessário”.

Ainda segundo o autor (op. cit.) esses modelos mentais representam uma situação, objeto ou fenômeno apresentando como principal característica a captação da essência dessa situação, objeto ou fenômeno. Hampson e Morris (1996, p. 243) definem modelo mental como “uma representação interna de informações que corresponde analogicamente com aquilo que está sendo representado”.

O tipo de analogia feita pelo indivíduo pode ser integral ou não, ou seja, um modelo mental pode conter elementos proposicionais que não estejam ligados ou façam parte necessariamente dos modelos mentais do indivíduo, porém, esses elementos proposicionais serão interpretados de acordo com os modelos mentais já criados ou existentes. Deste modo Moreira (1996) diferencia modelos, representações e imagens: “as representações proposicionais são cadeias de símbolos que correspondem à linguagem natural, modelos mentais são análogos estruturais do mundo e imagens são modelos vistos de um determinado ponto de vista” (grifo nosso, p. 195). Um aluno na sala de aula é um exemplo de uma representação proposicional, que pode ser verbal ou escrita, qualquer aluno sem especificação do indivíduo ou ação dentro de uma sala de aula é um exemplo de modelo mental e uma imagem de um aluno em uma sala de aula em um determinado momento, é uma imagem.

Assim sendo, os modelos mentais apresentam como característica principal a funcionalidade, sendo composto por elementos que, quando relacionados, apresentam uma situação ou de coisa específica, essas relações se dão de modo a satisfazer o objetivo para o qual esses modelos foram criados (LAGRECA, 1997). Cada modelo mental é único, por sua formulação depender das estruturas cognitivas e dos interesses do indivíduo, tornando-se único para cada situação.

A seguir abordaremos individualmente cada um dos construtos apresentados por Johnson-Laird e suas relações bem como a Teoria dos Modelos Mentais de Johnson-Laird (1983), interpretada e abordada por Moreira (1999).

2.3.1 Representações Mentais

A conceituação do que vem a ser uma representação mental é essencial para as pesquisas em ensino de Ciências. Segundo Moreira (1999) uma representação é qualquer notação, signo ou conjunto de símbolos que representa alguma coisa, na ausência dessa coisa que é, tipicamente, algum aspecto do mundo externo ou do nosso mundo interno ou de nosso mundo interior (da imaginação). As representações podem ser de dois tipos internas ou externas.

As representações externas estão ligadas a elementos do mundo externo como, por exemplo, manuais, textos, objetos. E se subdividem ainda em dois grupos que são as pictóricas ou diagramáticas e as que fazem uso da linguística. Já as representações internas também conhecidas como representações mentais são maneiras de representar mentalmente o mundo externo, ou as representações externas. Normalmente os indivíduos não detêm o mundo externo precisamente, eles constroem uma representação do que viram ou do que capturam num primeiro momento (MOREIRA, 1996).

A compreensão do sistema cognitivo humano e o estudo das representações tornam-se, portanto, um dos principais desafios para a Psicologia Cognitiva, visto que a compreensão desses sistemas e representações passa pelo pensamento humano que é complexo. Os processos pelos quais buscamos compreender uma situação ou fenômeno vêm sendo objeto de estudos em diversas áreas, devido à aceitação de que só se adquire um novo conhecimento baseado no que já conhecemos (BORGES, 1997).

Sendo o sistema cognitivo, um ponto central para entendermos como se processa e funcionam as concepções e como se dão os novos conhecimentos, daremos ênfase a seguir a compreender como se dão e como se processam as representações mentais.

As representações internas como o próprio nome já diz são representações que ocorrem internamente na mente humana, que representam o mundo externo. As representações internas podem se dividir em analógicas e proposicionais. Dentro do grupo das analógicas temos as imagens ligadas aos sentidos sejam elas visuais, tácteis, auditivas ou olfativas e os modelos mentais. São representações organizadas livremente sem regras, são

coletivas e representam entidades do mundo externo, portanto, são concretas e específicas (MOREIRA, 1999).

Já as representações proposicionais são captações mais abstratas e detêm conceitos que estão por trás de uma dada situação, conceitos esses que a mente julga ideais, como se fossem um tipo de linguagem específica de mente que não necessariamente precisa ser composta de palavras, mas trata-se de uma linguagem individual que varia de indivíduo para indivíduo. Moreira (1996) chama esta linguagem de “mentalês”, termo que tem origem no idioma Latim Tardio, surgiu no século XV provem da palavra mentalis que significa “do espírito; mental”, e o radical mens, mentis que está relacionado à “atividade do espírito; intenção; memória; pensamento; inteligência; razão, sabedoria; juízo; discernimento” e o sufixo ês que é formador de adjetivos e substantivos.

As representações do tipo proporcionais são representações individuais que seguem regras rígidas sem importar o modo como essa informação foi apresentada como, por exemplo, as fórmulas químicas, que são um conjunto muitas vezes de símbolos que representam um conceito e por trás desse conceito existe uma série de conhecimentos relacionados à significado de outros símbolos que representam outros conceitos e estão carregados de outros conhecimentos que darão sentido à fórmula.

As representações mentais ainda podem ser divididas em localizadas, também conhecidas por simbólicas que se subdividem em analógicas, proposicionais e distribuídas. Independente da perspectiva abordada, concordamos com Moreira (1999) quando o mesmo diz que a cognição humana depende do manuseio das representações simbólicas por meio de regras criadas pelo cognitivo humano, independente dessas representações serem do tipo analógicas ou proposicionais, as informações serão representadas e armazenadas em entidades simbólicas podendo ser proposicionais ou não e estas fundamentarão a cognição humana que depende do manuseio dessas entidades que se dá pelo que Moreira (1999) chama de processos tipo-regras.