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5 ANÁLISE DOS RESULTADOS

5.4 Considerações sobre os resultados obtidos

De forma geral, as estatísticas descritivas da pesquisa apontam que os bancos brasileiros componentes da amostra têm adotado uma estrutura de governança corporativa condizente com as recomendações da CVM e do IBGC para as empresas em geral. Sobretudo no que diz respeito às características do Conselho de Administração, os bancos brasileiros apresentam-se alinhados com as recomendações sobre a necessidade de independência e sobre o tamanho ideal desses órgãos. A separação entre as funções executivas e as do Conselho também foi observadas com frequência na maioria dos bancos analisados.

Por outro lado, em relação à estrutura de propriedade, os bancos brasileiros ainda apresentam uma alta concentração, com a maior parte dos acionistas controladores detendo um percentual superior a 70% de seu capital votante. A existência de ações de classes diferenciadas ainda aparece como um padrão nos bancos analisados, uma vez que a grande maioria dessas instituições conta com ações sem direito a voto, do tipo preferenciais. Os acordos de acionistas, por sua vez, se mostraram raros.

A ausência de uma literatura consolidada sobre a governança corporativa bancária no Brasil torna restrita a possibilidade de comparação dos resultados obtidos neste estudo com pesquisas prévias. Nesse sentido, o trabalho desenvolvido por Andrade (2005) torna-se a única referência nacional passível de utilização para tal fim. Os resultados da autora no tocante à relação existente entre os mecanismos internos de governança corporativa e o valor de mercado dos bancos brasileiros foram considerados tímidos e desalinhados com a crença que a adoção das recomendações sobre as melhores práticas de governança corporativa para

as empresas em geral exerça impacto importante sobre o valor de mercado e o desempenho financeiro dos bancos brasileiros.

Neste trabalho, a quase totalidade das variáveis relativas ao Conselho de Administração e à estrutura de propriedade não se mostrou relacionada com o valor de mercado dos bancos analisados. Esse resultado difere de certa forma do obtido por Andrade (2005) que relatou uma relação não prevista pela teoria no que diz respeito à influência da concentração de ações sobre o Q de Tobin dos bancos brasileiros. Nas observações em que o controlador do banco detinha um percentual inferior a 70% do capital votante do banco, observou-se uma diminuição de 7% em média no valor de mercado dos bancos. No presente estudo, essa relação não foi identificada. Nenhuma das variáveis relacionadas à estrutura de propriedade revelou-se significativamente relacionada com o valor de mercado dos bancos analisados. Outra relação apontada por Andrade diz respeito à ocorrência de acordo de acionistas, que de acordo com a autora, reduziria em média 12% do Q de Tobin dos Bancos. O acordo de acionistas não foi significativo em quaisquer das configurações testadas na presente pesquisa, contudo.

Ao analisar a relação entre governança corporativa e desempenho financeiro medido pelo retorno sobre o ativo (ROA), Andrade (2005) não encontrou qualquer tipo de relação significativa. Neste trabalho, optou-se pela utilização do retorno sobre o patrimônio líquido (ROE) como medida de desempenho financeiro pela sua popularidade em estudos sobre o tema e, sobretudo, pela sua ampla utilização como indicador de desempenho do setor bancário.

Em conformidade com o princípio basilar da governança corporativa que prevê a segregação entre as funções do Conselho de Administração e executivas nas empresas, os resultados da presente pesquisa indicaram que a ocupação dos cargos de Presidente do Conselho e de Diretor Presidente do banco pela mesma pessoa (PC) tende a acarretar uma diminuição de cerca de 10% no retorno sobre o patrimônio líquido (ROE). No trabalho de Andrade (2005), essa relação não se mostrou significativa. Contudo, de acordo com o Relatório Cadbury (1992), a separação entre os papéis de Conselho e gerenciamento da empresa deve se traduzir pelo impedimento do acúmulo, na mesma pessoa, das funções de presidente do Conselho e executivo-chefe (CADBURY REPORT, 1992).

À exceção da variável PC, nenhuma das outras variáveis relativas à independência e ao tamanho do Conselho de Administração apresentou-se relevante na determinação do valor de mercado e do desempenho financeira dos bancos nesta pesquisa. A independência e tamanho do Conselho já haviam sido reportados como insignificantes Hermalin e Weisbach (1991), Klein (1998), Bhagat e Black (1999) e Silveira (2002).

Em relação ao setor bancário, o estudo de Adams e Mehran (2008) revelou resultados semelhantes ao da presente pesquisa, demonstrando a inexistência de uma relação significativa entre uma maior presença de membros externos no Conselho e o desempenho dos bancos medido pelo Q de Tobin e pelos retornos sobre o ativo (ROA) e sobre o patrimônio líquido (ROE). Assim como o estudo de Adams e Mehran (2008), as pesquisas desenvolvidas por Staikouras, Staikouras e Agoraki (2007), Anthony e Nicholas (2006), de Pathan, Skully e Wickramanayake (2007) e Belkhir (2009) não relataram quaisquer evidências de que o tamanho ou a independência dos Conselhos de Administração afetem o desempenho dessas empresas.

A ausência de relação entre a estrutura de propriedade e o desempenho dos bancos, por sua vez, constitui um resultado da presente pesquisa que se alinha com o obtido por Fernández e Gómez-Ansón (2005-2006), que analisaram a influência da estrutura de propriedade de empresas sobre o desempenho de empresas espanholas, medido pelo retorno sobre o ativo. Note-se que um problema associado à análise dos efeitos da estrutura de propriedade das empresas sobre o seu desempenho diz respeito a uma possível endogeneidade dessa relação. Demsetz e Lehn (1985) afirmam que a relação de causalidade entre a estrutura de propriedade e o desempenho da empresa é espúria na medida em que a estrutura de propriedade se caracterizaria como uma variável endógena.

A despeito da ausência de um referencial teórico robusto sobre a governança bancária, os resultados da presente pesquisa corroboram a perspectiva de autores estrangeiros como Adams e Mehran (2003), Macey e O’Hara (2003) e Arun e Turner (2004), para os quais os mecanismos de governança corporativa dirigidos às empresas em geral não são suficientes como forma de obtenção de melhor valor de mercado e rentabilidade pelos bancos nem como garantia de sua solidez. Diante disso, é razoável supor que a estrutura de governança corporativa dos bancos tenha diferenças significativas em relação a das demais empresas,

sobretudo em função da opacidade e da intensiva regulação a que esse setor é submetido. Essa pode ser uma das razões pelas quais os mecanismos internos de governança corporativa não apresentem no setor bancário um comportamento similar ao verificado em outros setores da economia.