• Nenhum resultado encontrado

5. ESTUDO II: PLANO DE SANEAMENTO AMBIENTAL DE

5.6 Considerações sobre o PMSAP

A Política Municipal de Saneamento Ambiental de Penápolis define que as ações de saneamento devem ser direcionadas por princípios como a prevalência do interesse público sobre o privado, assim como por questões sociais sobre as econômicas, além de focar a universalização e a integralidade dos serviços. São declarados também como princípios direcionadores do PMSAP: a busca pela máxima produtividade, a excelência de gestão, a eficácia ambiental, a transparência e a participação dos atores sociais nos processos de planejamento, gestão e controle dos serviços. Esses princípios, em tese, deveriam estar presentes no Plano. A constatação desse fato torna-se importante na avaliação do planejamento elaborado.

Observa-se que a metodologia é estruturada de forma a privilegiar o fator político, respeitando-se o princípio da totalidade e reconhecendo-se a relação entre os fatos sociais e econômicos. O papel dos atores sociais, por meio dos Fóruns de Saneamento, ocupa o eixo central desta metodologia. Além disso, o método prevê a prospecção do saber dos especialistas, envolvendo tanto uma visão técnica quanto outras na perspectiva social. Assim, a construção metodológica facilitou a incorporação dos princípios assumidos na fundamentação declarada, apresentando coerência nesta categoria de análise.

O modelo utilizado para a construção do diagnóstico incorporou a visão dos atores sociais, por intermédio dos Fóruns de Saneamento, do Conselho Gestor, dos técnicos do DAEP e dos consultores externos. A análise situacional facilitou a investigação da realidade em uma perspectiva política, guiada pelos princípios explicitados na fundamentação declarada. O diagnóstico realizado é coerente com a metodologia proposta.

O Plano apresenta apenas uma única possibilidade para o futuro, baseada em projeções estatísticas e na visão dos planejadores, seguindo os preceitos do Planejamento Tradicional. Distancia-se, assim, da visão situacional, presente na metodologia escolhida e no diagnóstico realizado, não ficando claro também qual seria o horizonte de longo prazo vislumbrado. O modelo utilizado para a construção da visão de futuro contrapõe-se ao princípio participativo assumido na fundamentação declarada, prejudicando, nesse aspecto a coerência do planejamento.

A Política Municipal de Saneamento Ambiental oferece como instrumentos para a participação dos atores sociais nos processos de elaboração e gestão do planejamento os Fóruns de Saneamento e o Conselho Gestor do Saneamento Ambiental. Esse sistema permitiu a prospecção e a apropriação dos diagnósticos e das soluções propostas pela sociedade. A significativa participação da sociedade no PMSAP permitiu a incorporação dos princípios assumidos na fundamentação declarada, apresentado coerência. O processo participativo utilizado na elaboração PMSAP está em perfeita harmonia com a metodologia escolhida para a elaboração do Plano.

A Política Municipal de Saneamento Ambiental de Penápolis determina que:

[...] haja a prevalência das questões sociais sobre as econômicas na sua gestão; a melhoria contínua da qualidade ambiental; o combate à miséria e seus efeitos prejudiciais à saúde individual e à salubridade ambiental; a participação social nos processos de planificação, gestão e controle dos serviços; a universalização, a equidade e a integralidade dos serviços de saneamento ambiental (PENÁPOLIS, 2008b:2).

Nesse instrumento legal, afirma-se, ainda, que ―a salubridade ambiental é direito e dever de todos e obrigação do município‖, devendo prevalecer o interesse público e coletivo sobre o privado, devendo, dessa forma, o interesse social sobrepor-se às visões técnicas ou hegemonicamente econômicas. Além disso, define-se que a universalização do acesso aos serviços de saneamento vincula-se aos princípios de equidade e de integralidade. Também estipula que é papel dessa politica pública o ―combate à miséria e seus efeitos prejudiciais à saúde individual e à salubridade ambiental‖ (PENÁPOLIS, 2008b:2).

As diretrizes assumidas no Plano, como a prevalência do interesse público sobre o privado e a participação dos atores sociais no planejamento e na gestão dos serviços, restringem

que o prestador dos serviços obedeça exclusivamente às leis de mercado. Assim, seguem o pensamento de Leff (2005), para quem nova racionalidade social apresenta valores e critérios que não podem ser avaliados em termos do modelo de racionalidade de mercado.

Em harmonia com Leff, a educação ambiental busca criar vínculos técnicos, funcionais e operacionais entre os objetivos sociais e as bases materiais do desenvolvimento sustentável. Isso porque são oferecidos às crianças ensinamentos que vão desde o plantio utilizando tecnologias compatíveis com o ambiente até técnicas produtivas naturais como a compostagem, gerando a consciência do desenvolvimento, aliado ao meio ambiente. Tais ações pretendem fomentar o desenvolvimento das capacidades produtivas e intelectuais do ser humano ou, ainda, satisfazer suas necessidades básicas e melhorar sua qualidade de vida em um contexto de respeito ao ambiente.

Observa-se que o direcionamento das ações propostas no Plano evidencia um olhar para as necessidades de toda a população, sem qualquer discriminação, não assumindo em momento algum o conceito custo-benefício. Assim, os usuários não são tratados como um acessório do sistema econômico, introjetando no planejamento, nesse aspecto, uma visão harmônica com a de Polanyi.

Nos Fóruns, foram formuladas diretrizes como a participação da sociedade nas decisões sobre a recuperação de córregos e no direcionamento da política municipal de educação ambiental, além da ampliação da participação dos atores sociais nos processos de planejamento, gestão e controle dos serviços. A implementação de propostas como essas permite que o cidadão passe a exercer o papel de ator e criador de sua vida, bem como de ser capaz de interferir em seu meio, viabilizando algumas das condições necessárias para que o indivíduo se transforme em Sujeito, como defende Touraine (1996).

Todos os serviços de saneamento prestados são pagos pelo usuário, muito embora existam tarifas sociais. Uma das diretrizes geradas em um Fórum é que se garantam formas próprias de financiamento à comunidade para os investimentos necessários à efetivação do PMSAP. Além disso, em outra diretriz estabelece-se que haja a ampliação das parcerias com empresários e com o comércio em relação à Cooperativa de Trabalho dos Recicladores de Lixo de Penápolis.

Aparentemente, conseguiu-se em Penápolis construir uma política de saneamento norteadora do planejamento que respondesse à clássica assertiva de Cardoso (1975:163):

―Em um planejamento democrático, como conciliar a liberdade individual, a

representatividade legítima dos grupos de interesse, a multiplicidade dos objetivos, com o planejamento?‖ A participação dos atores sociais, determinando as diretrizes do planejamento do saneamento local, seja por meio dos Fóruns ou do Conselho Gestor do Saneamento, ainda que haja imperfeições nesses instrumentos, tem propiciado a construção de consensos sobre a prestação dos serviços de saneamento que são colocados acima das convicções ideológicas ou partidárias dos atores sociais.

Verificou-se durante as entrevistas que nenhum dos princípios assumidos no Plano foi questionado. Esse consenso que norteou sua elaboração, obviamente, não é neutro, como deixa claro Werneck Vianna (apud Acero 2011), para quem não existe neutralidade na esfera da política nem nas intervenções governamentais.