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4. ESTUDO I: PLANO NACIONAL DE SANEAMENTO BÁSICO

4.4 Visão de futuro

algumas práticas do Foresight que admitem períodos para o planejamento tanto de cinco anos, comuns na Inglaterra, quanto de até vinte anos, mais usual na França, refletindo as diferenças culturais e de objetivos. No Plansab, partiu-se do princípio de que o futuro não seria simplesmente uma realidade desenhada pelos planejadores. Segundo Brasil (2010), na visualização dos futuros possíveis foram consideradas as incertezas com base na análise das situações atual e pregressa, admitindo-se que não

seria razoável predizer o futuro, mas apenas vislumbrar as diversas possibilidades (BRASIL, 2011d). Apesar de não negar a importância das ações dirigidas ao momento atual, o Plansab é apresentado como um planejamento de longo prazo que pretende transcender os mandatos governamentais, incorporando em seus programas ações previstas para o curto, o médio e o longo prazo, em harmonia com a Prospectiva Estratégica.

Observa-se no Plansab a preocupação em desenvolver uma visão pré-ativa, com o objetivo de prepará-lo para as possibilidades do futuro, utilizando-se para tanto a técnica de cenários. Verifica-se, também, um comportamento pró-ativo, visando influenciar a construção do futuro, por meio de seus programas, seguindo-se a proposta da Prospectiva Estratégica. Esse entendimento contrapõe-se ao modelo tradicional, em que a visão de futuro se baseia na análise do comportamento histórico do objeto ou, ainda, seguindo a percepção do planejador de como seria o futuro. A visão de futuro adotada no Plano diverge, ainda que parcialmente, do entendimento de Planejamento não Euclidiano, que dá maior importância às ações pró-ativas, na linha temporal, ou, ainda, do pensamento de Matus (2000:146), para quem devem-se ―planejar situações, não para predizer o futuro, mas para criá-lo. O homem de ação necessita planejar as

situações‖.

Diferentemente do Planejamento Tradicional, que admite existir uma única trajetória plausível para o planejamento, e seguindo o pensamento de Godet, assumiu-se no Plansab que existem diferentes futuros potenciais e que a descrição dessas possibilidades deve instrumentar a elaboração das estratégias do planejamento. No processo de elaboração dos cenários no Plansab, constata-se que foram incorporados alguns dos princípios prescritos pela GBN, visando a possibilitar essa construção com maior rapidez, sem, contudo, comprometer a qualidade.

Dessa forma, na etapa prospectiva do Plansab, o número de combinações matemáticas possíveis entre os condicionantes críticos resultaram em aproximadamente 36 mil cenários futuros potenciais. Com a utilização de um instrumental técnico apropriado, como a análise morfológica, mencionada no item 2.4.2, esse número foi sendo reduzido. Ao final, restaram seis cenários, que vislumbravam desde futuros que apontavam para a expansão das políticas governamentais sociais, em que o Estado

assumiria o papel de supridor dos serviços urbanos essenciais, até, em outro extremo, em que haveria a redução do tamanho do Estado, prevalecendo os valores de mercado sobre os sociais.

Um grupo de especialistas e autoridades públicas convidadas para escolher dentre os seis cenários possíveis elegeu os três mais plausíveis, sendo aqueles que mais privilegiam os valores sociais. São eles, segundo Brasil (2011d:131):

a) (No primeiro cenário, projeta-se o Brasil em 2030 como um) país saudável e sustentável, com elevada taxa de crescimento econômico (5,5%) [...] com forte integração externa e mercado interno em expansão; com significativos avanços do Estado na gestão de suas políticas e ações; com crescimento do patamar dos investimentos do setor público e do setor privado; com expressiva melhoria dos indicadores sociais; com redução das desigualdades urbanas e regionais e recuperação da qualidade do meio ambiente.

b) (No segundo cenário) [...] o Estado se consolida com avanços na capacidade de gestão de suas políticas e ações, favorecendo políticas de Estado com continuidade entre mandatos governamentais [...] Observa- se o fortalecimento da participação social [...] com maior influência na formulação e implementação das políticas públicas [...] (Esse cenário) prevê a redução da intervenção do Estado, com a privatização na prestação de serviços de funções essenciais e a pouca aplicação de marcos regulatórios, além de considerar cooperação de baixa efetividade e fraca coordenação na esfera interfederativa.

c) (No terceiro cenário), a redução da intervenção do Estado, com a privatização na prestação de serviços de funções essenciais e a pouca aplicação de marcos regulatórios, além de considerar cooperação de baixa efetividade e fraca coordenação na esfera interfederativa. Como os recursos não são significativos e ainda persistem desperdícios gerenciais, a alocação de recursos para redução das desigualdades e da pobreza termina por diminuir a disponibilidade financeira e, portanto, o impacto da política social. Da mesma forma serão limitados os investimentos nos fatores determinantes das desigualdades regionais. Mesmo assim, serão executados importantes projetos de integração da infraestrutura regional, que integram as regiões e melhoram a competitividade da economia brasileira.

Observou-se que as reuniões destinadas às escolhas dos cenários, das quais participaram cientistas políticos, sociólogos, economistas e engenheiros, técnicos e autoridades do Governo Federal, terminaram em consenso, ainda que o mundo viva em uma fase conturbada, sobre a qual está estabelecido um intenso debate com relação ao

papel do Estado e ao formato das políticas sociais e econômicas. Verificou-se, também, que essas visões foram apropriadas pelo Plansab.

O método adotado para a construção dos cenários no Plansab não levou em conta a experiência de Pierre Wack27, a qual é mostrada a importância de estudar as possibilidades futuras, ainda que aparentemente improváveis no entendimento dos planejadores. Assim, ao desconsiderar uma possibilidade futura, em que os valores econômicos poderiam vir a ter maior peso que os sociais, limitando as políticas governamentais a serem implementadas. O Plansab poderia, em tese, se tornar vulnerável no futuro caso essa hipótese viesse se tornar realidade, já que não haveria estratégias previstas para lidar com essa situação. Matus (1984:216) chama a atenção a esse respeito ao afirmar que ―nossa obrigação é ter um plano e uma estratégia para

vários cenários envolvendo os extremos aparentemente possíveis‖.

No Plansab, apesar de terem sido identificados três cenários possíveis, elegeu-se apenas um como referência, para o qual foram desenhadas as estratégias, as metas e os programas. Segundo Godet; Durance (2007), um cenário não constitui um fim em si e seu estudo somente teria sentido se viesse a apresentar consequências para a ação. Esse pensamento justificaria, em princípio, a opção metodológica adotada no Plansab. Já Schwartz (2006) defende que deve ser escolhido um número de cenários factível de serem trabalhados, o que usualmente gira em torno de três. Argumenta que a escolha dentre os cenários possíveis de apenas uma das alternativas faz desaparecer as vantagens da metodologia de cenários múltiplos.