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2. TEORIA DO PLANEJAMENTO

2.4 Planejamento Prospectivo

2.4.1 Introdução à prospectiva

Os Future Studies chegaram ao domínio público na década de 1960. Entretanto, no início do século XX já se viam seus primeiros esboços, que foram se consolidando à medida que se aproximava a Segunda Guerra Mundial. A partir do final da década de 1940 e durante toda a década seguinte, identificavam-se no mundo ocidental duas preocupações distintas: a Europa estava focada em sua reconstrução e na eliminação das feridas deixadas pelo nazismo e pelo fascismo; e nos Estados Unidos buscava-se uma forma de vencer a Guerra‒Fria. Desses dois diferentes objetivos derivaram os principais enfoques dos estudos contemporâneos. Nos Estados Unidos, o estudo do futuro surgiu a partir de um problema concreto: como dominar a tecnologia para vencer a Guerra Fria. As primeiras metodologias e as principais aplicações foram empreendidas pelo governo americano na pesquisa para o desenvolvimento tecnológico e nas aplicações militares. Adotavam instrumentos formais, com características quantitativas e fundamentos matemáticos (LEMPERT; POPPER; BANKES, 2003). A partir de outra perspectiva, entre a segunda metade da década de 1940 e os anos de 1950, surgiram na Europa estudos preocupados com a construção do futuro coletivo, no qual fosse possível impedir o aparecimento de um novo Holocausto. Focavam em questões como a de educar as futuras gerações, de modo que pudessem evitar opções

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por regimes que restringissem a liberdade. Do ponto de vista político e institucional, estava sendo pensado o significado do bem comum europeu. As tentativas por estabelecer uma visão de futuro já estavam presentes durante a Segunda Guerra Mundial. Por volta de 1943, o alemão Flechteim Ossip propôs na Europa a futurologia como uma ciência do futuro, mas não obteve sucesso. No pós-guerra, em 1957, o francês Gaston Berger cunhou o termo Prospective para indicar a necessidade de uma atitude orientada para o futuro, entendendo que não seria uma mera extrapolação do passado. Em 1967, o francês Bertrand de Jouvenel propôs a Prospectiva como arte da conjectura, defendendo a necessidade de que fossem investigados os diferentes futuros possíveis, não se limitando apenas a uma das possibilidades (ORTEGÓN; VÁSQUEZ, 2006; ALVARENGA; SOEIRO DE CARVALHO, 2007).

A partir de então, a Prospectiva ganhou visibilidade e importância, dividindo-se em duas vertentes. A primeira ficou conhecida como Prospectiva Estratégica, liderada por Michel Godet e outros autores. A segunda, liderada por Eleonora Masini e outros autores de países em desenvolvimento, buscava uma visão humanista, envolvendo áreas e temas de caráter ético-cultural. Outras correntes de pensamento também foram se consolidando, como a Technological Forecasting, a Scenarios Planning e a Technological Foresight, destacando-se, na atualidade, o Foresight (COATES, 2000; ORTEGÓN; VÁSQUEZ, 2006).

Entre os autores que contribuíram para o desenvolvimento dos instrumentos que objetivam dar suporte ao processo de planejamento, destacam-se Daniel Bell e Herman Kahn.15 Eles defendiam a importância de se proceder à identificação das alterações estruturais na sociedade que teriam impactos potenciais significativos no longo prazo, bem como a importância da decisão de levar em conta futuros alternativos. Pierre Wack, Peter Schwartz e Kees van der Heijden direcionaram o planejamento por cenários, para a interpretação das tendências e dos processos. Michael Porter apresentou um método para a construção de cenários industriais e para a definição de

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Herman Kahn iniciou sua carreira como físico e matemático na Rand Corporation, sendo considerado um dos

fundadores dos Futures Studies. Destaca-se, entre outros trabalhos, The year 2000 – A framework for speculation

on the next thirty-three years (1967), obra editada pelo Hudson Institute (fundado por Kahn em 1961, depois de sair da Rand), cuja introdução foi escrita por Daniel Bell.

estratégias competitivas em condições de incerteza (ALVARENGA; SOEIRO DE CARVALHO, 2007).

Erich Jantsch, Ben Martin, Ian Miles e Michael Keenan, participando do movimento Foresight, entenderam-no como instrumento de visão no longo prazo para o futuro, com o objetivo de identificar áreas de investigação e tecnologias capazes de trazer maiores benefícios. Trata-se de um movimento em grande expansão e importância na atualidade. O Foresight originou-se do Technological Foresight, expandindo-se para outras áreas que privilegiam questões que envolvem a sociedade e o território

(ALVARENGA; SOEIRO DE CARVALHO, 2007).

Gaston Berger é considerado por muitos autores como o criador da Prospectiva francesa. Bertrand de Jouvenel escreveu L’Art de la conjecture (1972), fundou o Projet Futuribles e tornou-se o primeiro presidente da World Futures Studies Federation. Michel Godet é tido como a principal referência da Escola Prospectiva Estratégica na atualidade. Essa escola entende que cenários são configurações de imagens de futuro condicionadas e fundamentadas em jogos coerentes de hipóteses sobre os prováveis comportamentos das variáveis determinantes do objeto de planejamento (ALVARENGA; SOEIRO DE CARVALHO, 2007).

Para HUSS e HONTON (1987), os diversos métodos que envolvem a construção de cenários podem ser classificados, segundo sua lógica interna, em três categorias:

a) Lógica Intuitiva ‒ utilizada inicialmente pela Shell e adotada pelo Stanford Research Institute (SRI) e pela Global Business Network (GBN), pretende estimular a intuição dos gestores a respeito das incertezas e possibilidades futuras.

b) Análise do Impacto Cruzado ‒ utilizada pela Escola Francesa, pelo Center for Futures Research e pelo Battelle Memorial Institute e desenvolvida pela RAND Corporation, utiliza uma forte base matemática que solicita a construção de modelos formais de estudo.

c) Análise do Impacto das Tendências ‒ utilizada pelo Futures Group, procura isolar as tendências importantes, com foco naqueles que poderiam contrariá-las (no inesperado), resultando em possíveis futuros.

Embora existam semelhanças entre os conceitos e as metodologias adotadas pelas escolas de planejamento, a Prospectiva Estratégica, a GBN e o Foresight, alguns autores procuram distingui-las com base nas características do instrumental que utilizam:

a) as escolas que se utilizam de instrumentos e métodos considerados formais, analíticos e pesados, a exemplo da Escola Francesa;

b) as escolas que empregam métodos mais flexíveis, intuitivos e leves, tais como a lógica intuitiva (ALVARENGA; SOEIRO DE CARVALHO, 2007; SOEIRO DE CARVALHO, 2007).

Godet; Durance (2009) argumentam que a filosofia e as etapas metodológicas criadas tanto pelo LIPSOR16 quanto pela GBN são próximas, mas a técnica desta última não seria apropriável e tampouco reprodutível. Essa classificação se torna controversa quanto ao Foresight, já que alguns de seus autores, como Keenan e Miles (2002), defendem a utilização dos instrumentais intuitivos e formais segundo a necessidade de cada projeto.