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Nesta fase do estudo, serão apresentados alguns dos fatos que bem caracterizaram a história do ensino superior brasileiro, desde a constituição de 1988 até os dias atuais.

Silva (2005), observa que a Carta Magna de 1988 estabeleceu que o governo federal deveria investir um mínimo de 18% da receita anual da União, na manutenção e desenvolvimento da Educação Brasileira. Outros pontos de impacto na Educação advindos com a nova constituição foram à gratuidade do ensino público em todos os níveis e a implantação do regime jurídico único para o funcionalismo público.

De acordo com Corbucci (2002), o início da década de 90 foi singular pela abertura de mercado defendida pelo então presidente Fernando Collor de Mello e, levou às instituições de ensino superior a envidar esforços para formação dos recursos humanos necessários as empresas nacionais diante da globalização dos mercados. Neste contexto, o autor observa também que foram definidas cinco linhas de ação:

1) ampliação do acesso;

2) respeito à autonomia universitária;

3) maior estímulo ao desenvolvimento de pesquisas entre universidades e empresas; 4) ampliação dos programas de pós- graduação; e

No entanto, o resultado alcançado mostra que as linhas de ação não foram cumpridas, pois no período entre 1990 e 1992 constatou-se a redução do número de matrículas nos cursos de graduação e a continuidade da política de baixa remuneração dos profissionais da educação.

Para Corbucci (2002, p.12),

o governo Itamar Franco, por intermédio do MEC, propunha-se a realizar ‘verdadeira revolução’ na educação. No entanto, as medidas apresentadas nas Diretrizes de Ação Governamental guardavam estreita sintonia com os discursos liberalizantes que marcaram o governo Collor, cuja tônica era a ampliação/qualificação da formação de mão-de-obra para atender ao crescimento econômico. Nas diretrizes governamentais foram explicitadas as intenções de investir a curto e a médio prazo na formação de recursos humanos para atender as expectativas de crescimento econômico, atendendo aos preceitos constitucionais de erradicação da pobreza e universalização da cidadania. Portanto, a educação assume a condição de poderoso instrumento de promoção social, tendo como objetivo a preparação do país para um novo paradigma de desenvolvimento.

Conforme Pereira (2003), o Ministério da Educação do governo Itamar Franco identificou que o ensino superior vinha apresentando várias distorções desde os anos 60, principalmente decorrentes da rápida expansão que não teve como contrapartida a qualidade. Observa ainda que o problema era mais grave no setor privado, onde se constatava uma frágil qualificação do corpo docente que impedia o oferecimento de uma educação de qualidade para as massas.

Silva (2005) constata que a pressão por vagas no ensino superior teve considerável aumento na década de 90, onde ressalta que em 1980 o excesso de inscritos no vestibular em relação ao número de vagas alcançou 1500.684, em 1990, 1.402.714 e, em 1999, 2.449.883, o que representou um significativo aumento de 74,65% apenas na década de 90. O autor registra ainda com relação ao número de inscritos no vestibular que a procura alcançou em 1990 e 1999, respectivamente, 1.905.498 e 3.334.273, o que representou um expressivo aumento de 74,99%.

Importa ressaltar ainda, contrapondo o crescente aumento na procura por vagas no ensino superior, que o setor privado respondeu as políticas de incentivo do governo e as

demandas existentes, crescendo 77,9% na década de 90. Silva (2005) frisa que das 894.390 vagas ofertadas em 1999, apenas 24,4% eram ofertadas pelas instituições públicas com 1.806.208 candidatos inscritos nos seus vestibulares, o que representava 8,26 candidatos/vaga. Em contrapartida, as 675.821 vagas ofertadas pelas instituições privadas foram alvo de 1.538.086 candidatos, o que representa apenas 2,76 candidatos/vaga.

Corbucci (2002) afirma que, apesar da expansão ter se verificado mais acentuada no setor privado no período entre 1995 e 1999, 59% contra os 23% alcançados no setor público, o crescimento da procura por vagas no ensino superior foi maior entre as instituições públicas, 29% contra os 23% verificados no setor privado. Por outro lado, constatou-se que o aproveitamento das vagas ofertadas foi maior no setor público do que no privado, que registraram, respectivamente, 96,3% e 78,9%.

Outro ponto destacado pelo autor foi a eficácia do sistema de educação superior, medido pelo número de concluintes ano pelos setores público e privado. Neste caso, observou que o desaquecimento verificado na economia incidiu mais incisivamente sobre o setor privado, o que decorre da característica financeira que lhe é peculiar. Tais dados sugerem que a expansão do ensino superior centrada na iniciativa privada tem seus limites estruturais baseados no poder aquisitivo do seu público potencial.

O autor observa ainda que concomitantemente ao processo de expansão, o MEC implantou diversos mecanismos para avaliação dos serviços educacionais prestados pelas instituições de ensino superior, onde se destacou o Exame Nacional de Cursos, o famoso provão, e a Avaliação das Condições de Oferta dos Cursos de Graduação.

O último CENSO divulgado pelo MEC em 2003 registra 3,9 milhões de matrículas em cursos de graduação, um aumento de 11,7% nas matrículas em relação a 2002, principalmente no setor privado que conta com 2.750.652 estudantes, o que alcança 13,3% de crescimento contrapondo os 8,1% do setor público. Configura-se preocupante o padrão de crescimento

apresentado pelo sistema de ensino superior privado, pois pela primeira vez o número de vagas oferecidas pelas Instituições de Ensino Superior foi maior do que o número de concluintes do ensino médio, o que se contrapõe a ociosidade de 42,2% registrada nas vagas oferecidas pelo setor privado.

Matrículas

Ano Pública Privada Total

1998 804.729 1.321.229 2.125.958 1999 832.022 1.537.923 2.369.945 2000 887.026 1.807.219 2.694.245 2001 939.225 2.091.529 3.030.754 2002 1.051.655 2.428.258 3.479.913 2003 1.137.119 2.750.652 3.887.771

Figura 6: Número de matrículas por categoria administrativa – Brasil 1998-2003. Fonte: INEP/MEC. 0 500.000 1.000.000 1.500.000 2.000.000 2.500.000 3.000.000 3.500.000 4.000.000 1998 1999 2000 2001 2002 2003 PÚBLICAS PRIVADAS TOTAL

Figura 7: Gráfico da Evolução das matrículas no período entre 1998 e 2003. Fonte: INEP/MEC.

Ainda com base no CENSO (2003), evidenciou-se a existência de 16.453 cursos de graduação, o que registra um aumento de 14,3% em relação a 2002. Os dados demonstram um crescimento de 18% somente nas instituições privadas, alcançando 10.791 cursos de graduação, o que representa 65,6% do total levantado.

Cursos

Ano Pública Privada Total

1998 2.970 3.980 6.950 1999 3.494 5.384 8.878 2000 4.021 6.564 10.585 2001 4.401 7.754 12.155 2002 5.252 9.147 14.399 2003 5.662 10.791 16.453

Figura 8: Quadro do número de matrículas por categoria administrativa Fonte: INEP/MEC

Com relação às instituições de educação superior, percebe-se uma concentração ainda maior no setor privado. Das 1859 instituições levantadas em 2003, têm-se 207 públicas, representando 11,1%, e 1.652 privadas, representando 88,9%. Os registros apontam para um crescimento de 13,6% com relação aos totais levantados em 2002, sendo computados 14,6% e 6,2%, respectivamente, nos setores privado e público.

Figura 9: Quadro do número de matrículas por categoria administrativa. Fonte: INEP/MEC.

O CENSO (2003) evidenciou que a evolução da relação candidato/vaga nos processos seletivos teve um considerável aumento nas instituições públicas, passando de 6,6 para 8,4, respectivamente, em 1993 e 2003. No que se refere às instituições privadas, registrou-se uma preocupante queda no mesmo período passando de 2,4 em 1993 para 1,5 em 2003.

Ano Pública Privada

1993 6,6 2,4 1994 7,3 2,4 1995 7,9 2,9 1996 7,5 2,6 1997 7,4 2,6 1998 7,5 2,2 1999 8,0 2,2 2000 8,9 1,9 2001 8,7 1,8 2002 8,9 1,6 2003 8,4 1,5

Figura 10: Quadro da Evolução da Relação de Candidatos/Vaga nos Pro cessos Seletivos, por Categoria Administrativa – Brasil 1993 – 2003.

Fonte: INEP/MEC.

Instituições

Ano Pública Privada Total

1998 209 764 973 1999 192 905 1.097 2000 176 1.004 1.180 2001 183 1.208 1.391 2002 195 1.442 1.637 2003 207 1.652 1. 859

Com base no crescimento médio das matrículas nos últimos anos, o CENSO (2003) permite projetar o crescimento para os próximos anos conforme segue.

Ano Matrícula 1998 2.125.958 2002 3.479.913 2003 3.887.771 2007 6.400.000 2008 7.232.000 2009 8.172.160 2010 9.234.548

Figura 11: Quadro da Projeção de Matrículas Fonte: INEP/MEC 0 1.000.000 2.000.000 3.000.000 4.000.000 5.000.000 6.000.000 7.000.000 8.000.000 9.000.000 10.000.000 1998 2002 2003 2007 2008 2009 2010

Figura 12: Gráfico de Projeção das matrículas no período entre 1998 e 2010. Fonte: INEP/MEC

A projeção considera um crescimento inercial de 13% ao ano e permite verificar a possibilidade do país atingir a meta estabelecida pelo Plano Nacional de Educação. Além disto, os seguintes fatores devem ser considerados: a capacidade de pagamento da população

potencial, que buscará educação superior nos próximos anos; os atuais índices de inadimplência na educação superior privada, o crescente número de vagas ociosas, o excesso de oferta em certas áreas do conhecimento e em certas regiões, e a demanda crescente por educação diferenciada e de boa qualidade.

Portanto, constata-se a acentuada expansão ocorrida a partir dos anos 90, principalmente através do setor privado, começa a enfrentar os desafios das instituições de sobreviver num mercado educacional extremamente competitivo, onde precisarão maximizar os recursos humanos e físicos disponíveis para obter diferenciais que as distingam positivamente diante da sociedade a que servem.

Finalmente, o contexto delineado pelo excesso de vagas ociosas, capacidade de pagamento do público alvo, qualificação do corpo docente, excesso de oferta em determinadas áreas do conhecimento, entre outros, somente poderão ser vencidos pelas organizações que oferecerem a qualidade requerida pelo mercado educacional. Neste cenário, é imprescindível que os gestores acadêmicos possam avaliar o desempenho docente nas estratégias delineadas para a melhor formação do egresso, principalmente por este ser considerado como principal responsável pela qualidade e sucesso do curso. Logo, as organizações deverão proporcionar novas ferramentas de apoio à tomada de decisão para os coordenadores de curso, pois do contrário poderão sucumbir diante das suas próprias ineficiências.

Portanto, pode-se afirmar que o período em análise caracteriza-se por uma expansão acelerada, pela implantação da política de avaliação e diminuição da demanda reprimida, bem como por um mercado altamente competitivo. Tais características delineiam um ambiente altamente competitivo e complexo, onde novas ferramentas de gestão serão vitais para a sobrevivência e sucesso das Instituições de Ensino Superior.

3 A CULTURA DA AVALIAÇÃO

Neste capítulo pretende-se proporcionar um entendimento da formação da cultura da avaliação no Brasil, principalmente como ferramenta de apoio ao estabelecimento de políticas e diretrizes de governo na área da Educação, bem como para subsidiar o gestor acadêmico com informações adequadas ao processo de tomada de decisão. Da mesma forma, buscar-se-á aprofundar o conhecimento acerca dos modelos de avaliação aplicados no Brasil.