• Nenhum resultado encontrado

Nesta etapa da pesquisa, serão apresentados alguns dos fatos que bem caracterizaram a história do ensino superior brasileiro, desde o golpe militar de 1964 até a constituição de 1988.

Para Silva (1991), o período posterior ao golpe de 64 caracterizou-se pela adequação da política à economia, pelo desejo de industrialização e modernização através da internacionalização da economia que pouco condizia com a política nacional-populista vigente até então, e que acabou por determinar o golpe militar que levou ao fechamento de partidos políticos, exílio de numerosos intelectuais que participavam de movimentos populares e a proibição de quaisquer manifestações populares.

Para Romanelli (1991), o governo parecia teoricamente conhecer o significado da educação para o desenvolvimento, contudo, na prática demonstrou sua importância somente a partir de 1968. Tal preocupação coincidiu com a retomada acelerada do desenvolvimento econômico. Com a implantação do regime imposto pelo golpe de 64, traçaram-se planos para recuperação econômica do país e teve início um novo crescimento da demanda social por educação, culminando, posteriormente, no agravamento do sistema educacional. A Reforma do Ensino Superior praticada em 1968 coincidiu com a tomada de consciência, por parte do governo, da premente necessidade de buscar responder a demanda crescente por ensino superior e adequar o sistema educacional ao modelo de desenvolvimento que então se intensificava.

Canuto (1987) constata que as novas condições econômicas da sociedade brasileira caracterizada pela acumulação de capital com crescente internacionalização e, concomitantemente, um rápido processo de sofisticação tecnológica das atividades relacionadas à produção, tornam necessário responder a demanda do processo de assimilação

da tecnologia importada. Ressalte-se que nossa mão-de-obra teve que readequar-se para os padrões de produtividade exigidos pela tecnologia antes inexistente no país, forçando, assim, a elevação dos níveis educacionais exigidos pelo sistema produtivo.

O planejamento educacional do após golpe, segundo Canuto (1987), objetivou um aumento quantitativo de vagas para atendimento à demanda de ensino superior existente e sua reestruturação com vistas a formação técnico-profissional requerida pelo projeto desenvolvimentista traçado. Além disso, o substancial aumento de egressos do nível médio no período 1947 – 1964 em pouco mais de 4 (quatro) vezes pressionou por demais a demanda por ensino superior.

O autor destaca também que diferentemente da década anterior, aparece a ascensão social, numa forma simplista, como resultante de um processo que busca adaptar a mão-de- obra as exigências do sistema produtivo em constante transformação. Tal demanda é facilmente notada ao verificarmo s que, de 1960 a 1964, o número de inscritos no vestibular aumentou 50% enquanto as vagas aumentaram 64%, curiosamente no período 1964 – 1968 contabilizou-se um excedente que ultrapassou os 212%.

A Lei de Diretrizes e Bases de 1961 não se preocupou com a criação de uma estrutura adequada ao projeto de desenvolvimento nacional, sendo que até a fase aguda da crise entre demanda e oferta de vagas, em 1968, nenhuma resposta havia sido dada a crescente demanda por ensino superior e, portanto, urgia uma resposta do governo com relação à necessidade de recursos humanos qualificados, decorrentes da expansão econômica que se verificava. (ROMANELLI, 1991).

Para Canuto (1987), diante dos excedentes que se avolumavam as portas das instituições e da visível insatisfação social pelo número insuficiente de vagas oferecidas pelo ensino público, entre outras pressões, surgiu a necessidade de reformulação do sistema de ensino superior vigente. Para tanto, editou-se a Lei 5.540, em 1968, que introduziu um novo

sistema de ensino superior. Os interesses da sociedade que o Estado procura responder através da educação voltar-se-iam, particularmente, para o desenvolvimento econômico e, assim, permitiriam a requerida expansão da indústria brasileira. Desta forma, tomavam-se iniciativas que doravante promoveriam uma ampliação da participação da iniciativa privada no ensino superior.

Observa Canuto (1987) que, apesar do caráter excepcional dos estabelecimentos isolados, o Conselho Federal de Educação, órgão responsável pelas autorizações para funcionamento de novas instituições de nível superior, embora não respaldado de forma unânime por seus integrantes, passou a autorizar a criação de novos cursos em áreas não saturadas, buscando, assim, atender a crescente demanda por ensino superior e as necessidades do sistema produtivo.

Desta forma, a reforma viabiliza e institucionaliza a interferência de interesses privados nas Instituições de Ensino Superior, determinando o papel assumido por estas na formação de mão-de-obra para a expansão do parque industrial, em detrimento de outras de caráter essencialmente social. Assim, a reforma facilitou a interferência política no funcionamento das universidades, obrigando a sua subordinação aos fins do modelo econômico a que serve, sendo, portanto, todas as medidas tomadas para o controle da sua expansão pautadas, tanto em qualidade quanto em quantidade pelo sistema produtivo.

Segundo Vahl (1980), ocorreu a partir de 1968, considerando-se a pressão exercida pela crescente demanda e a decisão governamental por uma política de maior participação da iniciativa privada neste nível de ensino, uma explosão das instituições isoladas de ensino superior. Esta explosão foi em muito facilitada pela diminuição, determinada pelo governo federal, do rigor nos processos para autorização do funcionamento de novos cursos. Nesta época, o sistema de ensino superior como um todo englobava aproximadamente 280 mil alunos, o que constituía cerca de 5 % da população entre 20 e 24 anos. Deste montante, quase

metade em instituições de ensino superior isoladas privadas que sequer possuíam status de universidade. Se considerarmos que naquele ano havia aproximadamente 14 milhões e 800 mil, respectivamente, no 1º grau e colegial, podemos concluir no mínimo pela existência de uma demanda reprimida.

Para Durham (1998), o governo em resposta às pressões da sociedade por aumento de vagas, crise dos excedentes, acarretou na criação de 17 novas universidades públicas entre 1968 e 1971, sendo nove federais, seis estaduais e duas municipais. No período entre 1968 e 1975, 10 novas universidades privadas foram criadas, onde se sobressaí à falta de docentes qualificados para atender as exigências da demanda gerada. Em 1980, havia 882 instituições de ensino superior onde 200 eram públicas, sendo 45 universidades, uma federação de escolas integradas e 154 estabelecimentos isolados, e 689 privadas constituídas por 20 universidades, 19 federações integradas e 643 estabelecimentos isolados.

O autor ressalta ainda que em 1964 e 1980 tinham-se, respectiva mente, 142.386 e 1.346.000 matrículas no ensino superior, o que evidencia tanto uma acentuada expansão neste nível de ensino, como também a importância das instituições privadas que já eram responsáveis por 63% do total de matrículas.

O sistema educacional que precedeu a reforma de 1968 caracterizou-se, segundo Schwartzman (2005), pela federalização das universidades estaduais criadas a partir dos anos 30, com exceção da Universidade de São Paulo, pela existência de uma rede de universidades católicas e pela existência de um grande número de instituições isoladas de ensino superior, em sua maioria privadas.

Para Schwartzman (2005), a reforma educacional de 1968 buscou atender a diversos anseios que, em última instância, exigiam o fim da universidade tradicional. Entre eles pode- se citar: o fim do sistema de cátedra; a criação do regime docente de tempo integral; a implantação de programas permanentes de ensino e pesquisa nas universidades e a

oportunização desta modalidade de ensino para outros grupos sociais. Esta última relacionava-se diretamente com as aspirações crescentes das novas camadas sociais, que buscavam na universidade novas possibilidades ocupacionais de prestígio e reconhecimento público, que, aparentemente, somente um diploma universitário poderia oferecer. Além disso, muitos eram, entre os que defendiam a reforma, aqueles que acreditavam que a universidade brasileira poderia se transformar num verdadeiro centro de reflexão e conhecimento sobre os problemas sócio-econômicos do país.

Para o autor, a maior dificuldade enfrentada pela reforma de 1968, foi subestimar a grande expansão do ensino superior brasileiro nos anos que a precederam. Tal expansão caracterizou-se como um fenômeno de âmbito mundial, sendo praticamente impossível contê- lo no despretensioso limite da universidade tradicional. Em 1960, menos de 2 % da população de brasileiros, entre 20 e 24 anos achava-se matriculada no ensino superior; em 1970, tal índice passou para 5,2 % e, em 1975, alcançou 11 %. Houve, pois, uma expansão rápida que, contudo, ainda representava aproximadamente metade da média encontrada em países europeus neste mesmo ano.

Schwartzman (2005) constata, ainda, que persiste na Reforma de 1968 a determinação, consagrada, pelo ministro Capanema, 30 anos antes, de pautar o sistema universitário num modelo único. A reforma conseguiu, mesmo sem uma avaliação anterior sobre a efetiva capacidade de absorção do sistema, dobrar sua capacidade. Contudo, acabou por afrouxar as amarras da expansão ao facilitar a autorização para o funcionamento de novas instituições de ensino superior privadas.

Segundo Vahl (1980), importa ressaltar que a rede privada teve essencial participação na solução provisória de um dos grandes problemas educacionais do país, absorvendo em suas instituições de ensino superior uma população ávida por ascender socialmente através do ensino superior. Porém, nesta fase, denominada por Vahl (1980) de oportunismo, muitos

foram os interessados em aproveitar as facilidades propiciadas pelo governo e pela crescente demanda, ingressando no campo da comercialização do ensino superior investindo na abertura de novas escolas.

A citada expansão se deu de forma quantitativa e seguiu critérios de mercado, havendo interesse maciço em cursos de baixo investimento inicial e baixo custo operacional que, via de regra, não estavam voltados para fatores de desenvolvimento regional ou nacional. Normalmente, ocorreram em regiões sócio-economicamente mais desenvolvidas, que davam maiores garantias ao investimento, mas, em contrapartida, aumentavam as disparidades regionais de desenvolvimento.

Para Pereira (2003), a crise econômica que caracterizou os anos 80 determinou a chamada década perdida, onde se verificou no país um elevado endividamento externo e um clima acentuado de incertezas gerado pelos elevados índices de inflação, que acabaram por influenciar negativamente o ensino superior. Neste contexto, verificou-se uma queda no número de inscritos em exames vestibulares que era de 1,8 milhões em 1980, baixou para 1,5 milhões em 1985, retornando para 1,8 milhões somente em 1989.

Conforme o CENSO da Educação Superior de responsabilidade do INEP/MEC de 2000, o número total de vagas no ensino superior aumentou de 404.814 para 466.794, no período entre 1980 e 1989, o que representou uma resposta pouco significativa frente às demandas existentes. No que se refere ao sistema privado, o número de matrículas aumentou apenas 11,81% na década de 80, passando de 1.377.286 em 1980 para 1.540.080 em 1990. Conforme Pereira (2003), a partir do final dos anos 80 muitas foram às escolas isoladas que buscaram a transformação em universidades particulares, tanto que passaram de 20 em 1985 para 85 em 2000.

Logo, pode-se concluir que neste período o governo reconhece a importância do ensino superior para o desenvolvimento nacional, tem-se uma expansão sem critérios como suporte

ao processo de industrialização, bem como a educação superior é pressionada pelo excesso de concluintes em nível médio.